Capítulo 8

Amanhecer — Pablo

Eu não sei exatamente se eu tive a noção do que eu fiz, mas eu precisa de um motivo pra Alexia confiar em mim, e não conseguia achar outro que não fosse mostrar parte da minha vida normal, a vida que eu levo além da Mansão.

Eu não sei explicar, eu sentia um tesão enorme por ela, aquela vontade de levar ela pra qualquer lugar e transar até não me aguentar mais em pé, mas naquela noite, conversando com ela, eu não quis isso, pelo menos por algumas horas com ela eu só queria escutá-la, embora ela não tenha me contado muito da sua vida, mas eu vou ter tempo pra descobrir.

Acabei me lembrando que, as amigas da Graziela estávamos falando dela, era ela que iria se casar com o cara rico que estava viajando a trabalho, e uma delas disse que não era só isso que ele estava fazendo lá, me intrigou, mas eu não podia dizer nada, eu não sei de nada.

Pela primeira vez, em muito tempo, eu senti uma coisa estranha, uma coisa boa dentro de mim, uma coisa que eu deixei de sentir quando me vi na rua, sozinho, tendo que comer restos nos lixos pra sobreviver.

Mas não vou me queixar e muito menos me fazer de vítima, eu consegui sobreviver graças a pessoas muito boas, que me acolheram e encontrei uma forma de ganhar a vida, e acabei gostando disso, eu gosto do que faço, eu estou bem assim.

Mas, de vez enquanto, como agora, é bom se sentir uma pessoa “normal”, como me senti com Alexia.

O telefone toca, é Kathe, atendo.

— Onde você se meteu Pablo? Estou esperando a horas… disse ela com raiva.

— Calma gata, eu só vim visitar o passado, lembra? Já estou indo… eu disse.

— Você tem 10 minutos pra chegar aqui, entendeu? Disse ela firme.

— Relaxa aí garota, eu já chego… digo e desligo.

Alexia

Cheguei bem de fininho em casa pra que minha mãe não percebesse que eu havia passado a noite fora, subi pro meu quarto, tomei um banho e me deitei, pra ver se dava tempo de dormir pelo menos um pouco.

Meu Deus, que loucura que eu fiz… mas, pelo menos pude comprovar que as aparências enganam, que muitas pessoas não são o que parecem ser.

No caso do Pablo, ele é um cara com sentimentos, só não reconhece isso porque se acha muito machão.

Eu não posso mentir, eu gostei dessa noite, eu gostei de conhecer a sua história, eu passado, as pessoas daquele lugar, elas riem das coisas ruins que acontecem, elas não tem medo de enfrentá-las, elas passam muitas necessidades, mas estão brincando, se divertindo, fazendo pouco caso, como se deixassem os problemas pra depois é só por aquele momento, ser feliz, pra mim era isso e eu nunca tinha visto isso na vida, essa simplicidade, essa alegria em meio a tanta miséria, tanta dor, e eu reclamando dos meus problemas pequenos, que não são nada comparados aos deles. 

Que bom que existem pessoas que ajudam umas as outras como ele se ajudam, como o Pablo os ajuda, e eu também quero poder fazer isso, de qualquer forma.

Fecho os olhos tentando relaxar, mas a imagem dele não são da minha cabeça, o sorriso sincero quando falava das coisas que ele fazia na adolescência pra sobreviver, do olhar que prende a gente mesmo sem ele querer, do jeito de falar… eu sorria sozinha quando lembrava dessas coisas.

Porque? Eu não posso sentir isso, eu não posso aceitar que ele me causa essas sensações bobas de uma adolescente.

Meu telefone vibra, era uma mensagem.

“— Embora eu tenha ficado a noite inteira com vontade de te pegar nos meus braços e encher você e o seu corpo inteiro de beijos… valeu a pena só conversar baby.”

Eu ri sozinha, era uma mensagem do Pablo, que safado!

Eu vou apagar essa mensagem, já pensou que alguém ler? Eu pensei.

Huuuum, não, eu vou guardar numa pasta com senha.

“— Combinamos que você não me falaria essas coisas, lembra? Mas tudo bem, eu gostei da noite também, me admirei com tudo que você faz por aquelas pessoas e quero, com certeza, poder fazer algo também.

Você me disse que não sabia se tinha um coração, mas eu sei que tem, só precisa aceitar os sentimentos que vem dele.”

Enviei uma resposta.

“— Foi mal, eu só falei o que eu não paro de pensar, em te beijar… e esse lance de sentimentos, não, eu não tenho tempo pra isso, eu quero sim sentir uma coisa, e não são sentimentos, é seu corpo, no meu, ardendo, se soubesse o que eu tô imaginando agora e como eu estou explodindo de tesão só em falar isso, mas enfim, desculpe, eu sou seu amigo e não posso dizer essas coisas… (risos)”

Eu rio de novo, mas também sinto como se meu sangue ficasse quente quando li essas palavras, e sem querer eu imagino tudo aquilo e mordo os lábios.

O que é isso Alexia? Está maluca!

“— Tchau Pablo, e chega disso.” 

Respondo e jogo o celular pro lado da cama, respiro fundo passando as mãos pelos cabelos e fico encarando o teto com as mãos na cabeça, que loucura, isso não pode estar acontecendo comigo, eu não posso estar sentindo essas coisas, eu penso que não devo levar isso adiante, essa "amizade" adiante, isso pode acabar com o meu futuro e eu não quero isso, eu tenho que esquecer tudo isso, embora eu tente, eu tentei, mas foi envolvente demais, ele é envolvente, ele sabe como prender a atenção de uma mulher, ele faz isso muito bem, é o trabalho dele, e eu não posso cair nesse joguinho, não posso.

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