Quando o rosto de Helena se transforma como se ela estivesse vendo um fantasma, eu não preciso seguir o seu olhar para saber que Jake está atrás de mim, na porta que conecta nossas salas ─ Samanta? – Eu me viro pra ele, tentando manter a calma. Será que ele ouviu alguma coisa? Será que ele a reconheceu – Desculpe-me. Eu não sabia que você estava em reunião – então ele olha pra Helena – Olá – ele diz em inglês, enquanto caminha em nossa direção. Ele fica ao meu lado e estende a mão para Helena – Eu sou Jake Grenn.Helena se recupera momentaneamente do seu choque e segura a mão de Jake com a sua voz trêmula – Olá. É um prazer conhecê-lo, Sr. Grenn.─ Esse sotaque...─ Eu sou brasileira – ela explica.Seu rosto se ilumina – É sua amiga, amor?Eu não sei o que dizer, mas Helena vem eu meu socorro – Eu me chamo Maria. Nós temos um amigo em comum. Então, eu vim passar uns dias aqui e pensei em procurá-la. É bom ter pessoas conhecidas por perto – ela olha pra ele em adoração.─ Claro. Onde v
─ Eu sou mesmo um filho da puta de sorte.Eu estou na varanda olhando as luzes de Manhattan quando ouço a voz de Jake. Eu me viro para o encontrar segurando um buquê de rosas cor de rosa e brancas.– Sim. Você é. Mas eu tenho ainda mais sorte do que você. – Ele me entrega as rosas e eu fecho os olhos e sinto o aroma inconfundível – Obrigada, marido. São lindas e você é tão romântico.Ele segura meu rosto entre as mãos e está tão perto dos meus lábios – Esposa – ele sussurra – Eu a amo muito.─ Eu amo você também – Eu elimino a pequena distância entre os nossos lábios. Nós ficamos nos provando nossos lábios se tocando suavemente. Então eu me afasto – Assim não vamos conseguir sair daqui, marido. Deixe-me colocá-las em um lindo vaso.Eu caminho até a nossa cozinha e encontro um vaso lindo de cristal em uma prateleira. Eu encho de água e arrumo as flores nele – Podemos ir. ─ Sim. Vamos.Jake me trouxe ao restaurante giratório. Eu já estive aqui antes e, na ocasião, fiquei impressionada c
Quinta-feira, 14 de novembro de 2013─ A senhora está louca? – Eu sussurro para Dona Helena – aceitar vir jantar aqui como Maria, Jake vai me odiar quando ele descobrir.─ Eu sinto muito. Foi uma coincidência. Eu estava passando pelo saguão do hotel quando ele me reconheceu e perguntou como eu estava sendo atendida, se eu precisava de alguma coisa. Ele foi tão gentil. Parecia preocupado comigo e isso foi... foi tudo que eu sempre sonhei. Então ele me convidou para jantar aqui e eu não pude dizer não. ─ Eu sei. Eu sinto muito. Nós apenas brigamos há duas noites porque eu insisti em falar sobre você e eu estou morrendo de medo que ele me odeie se souber.─ Eu entendo. Eu sempre posso dar uma desculpa e ir embora...─ Não. Não faça isso. Desculpe-me. Venha, eu estou sendo uma péssima anfitriã – eu a conduzo até o grande sofá ─ Gostaria de um pouco de vinho?─ Seria ótimo.─ Eu também posso ter um? – Jake pergunta entrando na sala ─ Maria, desculpe-me por fazê-la esperar. Eu estava resol
Sexta-feira, 15 de novembro de 2013 ─ Onde ele está? – Helena me perguntou quando eu a recebi na sala de estar da nossa cobertura. Eu tinha pedido a ela para vir e falar a verdade para Jake de uma vez por todas. Eu me senti muito mal no jantar de ontem, por permitir que ele a recebesse, jantasse com ela, sem saber quem ela era. Desde que Helena apareceu na minha sala há três dias eu estava em um estado de nervos indescritível. Eu sabia que devia ter contado a Jake quem ela era no momento que ele entrou no meu escritório três dias atrás. Mas eu não fiz isso e agora eu temia pelo que iria acontecer quando ele soubesse. De qualquer maneira, isso tinha que ser feito logo. Eu não iria aguentar mais um minuto sequer de mentiras. ─ Ele está em uma reunião de negócios. Eu pedi que viesse mais cedo apenas para combinarmos como vai ser isso. ─ Honestamente eu não sei. Eu pensei tanto sobre esse momento, minha querida, mas agora que eu cheguei aqui, não sei mais o que fazer. ─ Helena, nós n
Sexta-feira, 15 de novembro de 2013 Passava das duas horas da manhã e nem Jake havia retornado, nem eu conseguia dormir. Eu começo a entrar em desespero. Ele me deixou. Acabou. Meu casamento acabou em apenas um mês. Eu ando de um lado para o outro do quarto como se andar fosse trazer Jake de volta. Eu torço para que os ponteiros se movam mais rápido. Eu choro e sinto raiva, eu me desespero e perco o controle. Eu saio do quarto, porque se eu continuar andando em círculos nesse espaço, eu vou apenas enlouquecer.O piso inferior está silencioso nenhum sinal de Jake. Eu olho para o meu telefone, nenhuma chamada perdida, nenhuma mensagem, nada. Só o silêncio e a escuridão. Eu caminho até a geladeira e pego uma cerveja. Eu não chego a fechar a porta, porque eu tomo tudo em um só gole, como água. Mas a dor ainda está aqui. Eu só quero a dormência. Eu pego outra e dessa vez eu me sento no chão da sala e choro mais um pouco.Passam das três da manhã e nenhum sinal de Jake, eu decido tomar alg
Sábado, 16 de novembro de 2013Eu acordo às quatro horas da manhã, sem sono e sem nada pra fazer. Se Jake estivesse aqui e estivesse tudo bem entre nós, ele perceberia minha inquietação e me tomaria em seus braços como ele sempre faz quando eu tenho um pesadelo, ou quando simplesmente eu não consigo dormir. Ele me amaria e faria meu mundo entrar nos eixos novamente, mas ele não está. E ele é a razão para eu estar assim. Não saber onde ele está, nem com quem ou fazendo o que está me levando a loucura.Eu sei que ele está em Vegas, mas isso é muito amplo. Ele está na mansão sozinho? Ele está no hotel? Ele está com alguém? Será que está na boate? Ou no cassino? Não saber está me matando. Eu me vejo abrindo o notebook e não pensando sobre isso. Eu sei que, se houve algum evento importante esta noite e Jake esteve presente, isso já deve ter sido noticiado.Eu abro o site de busca e digito seu nome, querendo saber se ele participou de algum evento de caridade, querendo apenas uma imagem del
Jake─ Eu quebrei os nossos votos? E fiz isso em público? O que ela quis dizer com isso? Espero que não seja o que eu estou pensando. Eu olho na tela do meu celular e abro o navegador. Na busca eu coloco o meu nome. O sangue deixa o meu corpo quando eu vejo a primeira coisa que apareceu. Há uma foto minha e de July abraçados. Embora eu saiba em que momento essa foto foi tirada, de fato ela deixa muito evidente, para quem vê, que nós estamos nos beijando. Quando na verdade, não estávamos. Eu havia acabado de chegar ao hotel quando July apareceu em prantos e se jogou nos meus braços em volta do meu pescoço. Eu a segurei e disse que sentia muito pelo seu pai, disse algumas palavras de encorajamento e conforto, porque apesar de toda merda que ela fez pra mim e pra Sam, ela havia acabado de perder o seu pai. E ele era um homem honrado, um bom amigo que me ensinou muita coisa. Aliás, foi por isso que eu embarquei às pressas para Las Vegas. Eu estava cego de raiva por Samanta ter mentido pr
Samanta Eu pensei muito no que eu deveria fazer. Pegar o primeiro avião com destino ao Brasil foi a minha primeira opção. Mas também, a mais difícil. Deus, como as coisas se tornaram tão caóticas? Eu penso muito sobre o que eu fiz em relação à Helena e vejo que, por mais que ele tenha se aborrecido com o que aconteceu, o seu comportamento não pode ser justificado. Jake me trair já seria imperdoável, mas com July é o fim da linha. Eu me sinto duplamente traída.O táxi para em frente ao hotel e eu penso na ironia disso. Eu estou fugindo de Jake no seu próprio hotel? Como é isso? Mas, honestamente, eu só queria sair daquela casa. Eu só queria não estar lá quando ele chegasse. Embora eu não duvide de que, se ele quiser, ele me encontra aqui num piscar de olhos. A pergunta que não quer calar é: ele quer me encontrar? Parece contraditório pra mim que o cara que foi embora para Las Vegas sem me dizer “até logo” e que me acusou de traição apenas porque eu fiz algo que o aborreceu queira me e