LAIKAAcordei quando a água foi jogada no meu rosto. Inalei e tossi, pois a água entrou nas minhas narinas. Pararam de me bater, mas eu estava amarrada com correntes. Os guerreiros e os anciãos chegaram e chamaram a decência, e eu não vi Madame Zora no chão, onde ela estava antes de eu desmaiar. Apenas o sangue dela espalhado preenchia o local, um lembrete subliminar de que eu só causava problemas.Não havia mais nada para me convencer de que eu não estava amaldiçoada. Toda a minha vida foi preenchida com miséria, dor e tristeza, e tudo o que me seguia era problema. Talvez fosse Sekani que não estivesse entendendo os fatos. Eu era uma Ômega amaldiçoada, a única viva, e minha morte faria o mundo um bem maior.Alfa Karim me advertiu para ficar fora de encrenca, mas a encrenca parecia minha irmã mais nova, sempre me acompanhando onde quer que eu fosse. Desta vez, eu sabia que morreria, pois não havia Alfa Karim para me salvar.Ele estava em uma terra distante, alheio ao que acontecia em s
LAIKAAcordei com o barulho lá fora. As pessoas corriam, empurrando tudo que estava no caminho. Gritos, choros e lamentos de crianças enchiam o ar. Levantei-me do chão, confusa, com o corpo inteiro dolorido, como se tivesse sido perfurado por agulhas. Era o resultado da tortura que meu companheiro, o Alfa Khalid, havia me dado mais cedo. Ele me chicoteou por eu me recusar de o agradar. Eu tinha chorado até adormecer no chão frio.Saí do quarto e vi as pessoas correndo em várias direções, mas o Alfa Khalid não estava em lugar nenhum. Eu estava completamente perdida, e ninguém se importava em me dizer o que estava acontecendo. Todos me odiavam de qualquer jeito. Mas, ao prestar atenção, ouvi o que diziam:— Os Titãs estão aqui!Meu coração afundou no peito. O bando Titã era o mais temido de todo o reino dos lobos. Eram licantropos, guerreiros poderosos, aprimorados de todas as formas e completamente brutais. Eles geralmente invadiam outros bandos e levavam escravos para si. Eu já tinha o
LAIKACinco anos depois...— Esfregue o chão! Sua cadela preguiçosa! — Gritou Madame Theresa, minha supervisora, jogando uma toalha em mim. A toalha bateu no meu rosto e caiu no chão. — Quero o chão brilhando! Você não fez nada até agora, e o Alfa e seu grupo vão chegar a qualquer momento. Mexa essa bunda preguiçosa de volta ao trabalho!Ela pisou no chão que eu já havia esfregado, deixando marcas enquanto saía pisoteando forte.Peguei no esfregão e voltei ao trabalho. Cinco anos atrás, eu teria chorado se ela me jogasse a toalha e me chamasse por aqueles nomes horríveis. Mas eu havia sobrevivido a aquilo. Já, não doía tanto. Na verdade, quase nada doía mais.Minha supervisora nunca tinha gostado de mim desde o primeiro dia. Ela não me via como uma rival, mas como alguém indigno de estar na mesma sala que ela. Eu não passava de uma Ômega fraca. Ela sempre me dizia que eu era feia, que a filha era muito mais bonita do que eu e que ela seria a escolhida para ser companheira do Alfa que e
LAIKAA festa estava animada quando o Alfa e seu grupo chegaram e se instalaram em suas tendas. Mesas estavam dispostas ao redor do centro do acampamento e as refeições estavam expostas. Os lobos e as lobas se reuniam, todos parecendo alegres. A Madame Theresa me proibiu de ir à cerimônia porque eu não era digna de estar lá. Ajudava a Erika a filha dela, a vestir e a maquiar. Fui deixada com uma pilha de roupas por lavar e, finalmente, fui até a tenda do meu novo mestre para descobrir o que ele precisaria para a noite.A festa seguiu sem mim e eu não me importava. Não era digna de nenhum daqueles mestres. Limpei o chão da tenda da Madame Theresa. Eu poderia ter feito aquilo pela manhã, mas a Madame Theresa me pediu para limpar o chão, para me manter longe do festival de chegada do Alfa e seu grupo.Quando terminei de trabalhar na tenda da Madame Theresa, a noite já estava bem avançada. A cerimônia de boas-vindas estava quase terminando e eu corri até a tenda do meu novo mestre para faz
LAIKAA Madame finalmente me tirou de trabalhar para o Alfa Karim. Não me designaram a outro guerreiro, ao invés disso, me pediram para servir no bar onde os homens se reuniam e bebiam para afogar as mágoas. As pessoas no bar eram mais gentis do que a Madame Theresa e a filha dela, e eu preferia ficar o dia todo no bar do que voltar para a tenda do meu guardião. Mas foi infeliz para mim, pois a Madame Lena, a dona do bar, fechava à noite, e eu não tinha outra opção a não ser voltar para o meu inferno.Eu estava feliz por não ver mais o Alfa Karim, pelo menos, eu não o encontrava cara a cara, embora ele estivesse por todo lado. Já se passavam alguns dias desde que tinha sido retirada e a Erika havia assumido o meu trabalho, mas quando via o Alfa Karim, ele não parecia ter notado que eu tinha ido. Outro dia, até o vi conversando com a Erika. Ele não sorriu para ela, mas pelo menos estava falando com ela, e isso já era um começo. Ele nem sequer se importava comigo. Sabendo como a Erika é
LAIKAComecei a correr pela floresta. Se eu fosse morrer, não morreria sem lutar. Enquanto corria, o som das folhas farfalhando virou para passos pesados atrás de mim. Lágrimas escorriam pelas minhas bochechas, e eu arfava enquanto corria. Olhava para trás de vez em quando para ver se conseguia avistar o que quer que fosse, mas estava escuro e eu não conseguia. A visão de loba estava prejudicada por toda a tortura que eu passava. Joy, minha loba, estava exausta e se trancava de mim na maior parte do tempo.Apertei a carta com força na palma da mão enquanto corria. Mesmo que fosse morrer, eu não deveria perder aquela carta. Quando virei novamente para olhar meu perseguidor, meu pé esquerdo pegou um galho e se enroscou, me desequilibrando. Caí, incapaz de me segurar, bati a cabeça no tronco de uma árvore. O impacto foi tão forte que vi estrelas. Caí para a minha morte. Era a parte em que eu morreria, porque parecia que minha cabeça tinha sido arrancada e, assim que caí no chão, seria de
LAIKA— Onde você estava, vira-lata?! — Madame Theresa gritou.— Onde você dormiu? — Erika perguntou.Parece que elas ainda não sabiam que o Alfa me tinha carregado até sua tenda, mas eu não sabia onde dizer que fui.— Eu... — Madame Theresa agarrou minha orelha e torceu. Doeu, mas eu aguentei.— Você andou abrindo as pernas para os guerreiros?— Não, não, eu juro que não! — Falei gemendo.— Então, onde você passou a noite? Claramente não foi no bar da senhora Lena. Ouvi dizer que o Alfa Lycan e seu grupo estavam lá ontem à noite, e você deve ter seguido algum guerreiro até a casa dele, não? — Erika perguntou.Elas não me queriam, mas ao mesmo tempo me queriam. Madame Theresa sempre me fez sentir que eu era feia demais para ser uma ameaça à sua filha, mas sempre não queria que eu fosse vista ou apreciada pelos homens da matilha. Ela queria que eu permanecesse invisível, o que eu até estava contente em ser, mas sempre me torturar por nada era demais. Meu corpo ainda doía por toda a tort
Ela só parou quando alguém veio procurar por Erika e eu.— A Madame convocou todas as lobas de cada lar, incluindo as escravas e livres, — Disse o mensageiro.— Por que? Erika pode ir, mas ainda não terminei com esta escrava.— É uma ordem do Alfa. — Respondeu o mensageiro e saiu.Madame Theresa pediu que Erika fosse imediatamente, e ela saiu. Fiquei lá, me contorcendo de dor. Madame Theresa veio até mim e se abaixou.— Agora ouça, coisa amaldiçoada. Você não mostrará seu rosto ao Alfa novamente, está me ouvindo? — Acenei a cabeça freneticamente. Eu nunca planejei fazer isso. Mas ainda precisava enfrentar o castigo dele por o desobedecer. — Fique longe dele até que ele declare Erika a escolhida dele. Eles pertencem um ao outro, está me ouvindo? — Acenei a cabeça.Assim que terminou de falar, ela usou o elo mental para ordenar que seus homens me desamarrassem. Eles o fizeram, e fui mandada para a tenda da Madame. Percebi que tinha quebrado um membro com todo o empurra-empurra. Mancando,