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Capítulo 5 “A garota dos sonhos”

O CAPITÃO, COMO SEMPRE, tomou a dianteira e seguiu prancha acima para o navio.

— Acho que não há ninguém a bordo, as lendas têm o poder de afastar as pessoas.

— Não sei porque, Cap, mas sinto que desta vez o senhor está enganado.

Deus queira que sim...

Rhett fechou os olhos e sentiu um sentimento de saudades invadir o peito.

Faz tanto tempo, velho companheiro...

— Viram – começou ele com o velho e carismático sorriso – não é tão assustador assim.

O movimento foi tão rápido que o Capitão Rhett se surpreendeu por ainda estar vivo, mas ele tinha certeza absoluta que tinha ganhado mais uma cicatriz em seu rosto.

— Rápido e cheio de vidas como um gato sortudo – disse uma voz feminina que fez o capitão voltar ao passado imediatamente – vejo que ainda não perdeu o jeito, mon amour...

O capitão reconheceria aquela voz mesmo que vivesse mil vidas nas profundezas do inferno.

— Kyra... – sussurrou ele – mon amour...

O vento que soprou do leste se encarregou de tirar o véu de seu rosto e desvendar a efígie mais bela que todos eles já haviam visto em suas vidas.

— Estava com saudades, mon amour...

— Quem é essa mulher, Cap?

— Minha noiva, velho amigo...

FRANCIS JEGUE–DE–AÇO serviu o jantar e Kyra comeu mais que todos eles juntos.

— Há tempos não comia tão bem assim. – Disse ela completamente satisfeita – muito obrigado.

Frncis assentiu.

— O que há com ele?

— Ele não fala.

— É melhor ser mudo do que viver falando bobagens, não acha, Rhett?

— Como diria Shakespeare... O homem é senhor do seu silêncio e escravo das consequências das suas palavras...

— E desde quando se interessa por teatro?

— Você sabe que não me interesso...

— Como um barco desse tamanho não tem mais ninguém dentro dele? – Perguntou Caolho.

— Porque é um barco amaldiçoado.

Rhett chegou perto de Kyra, se ajoelhou diante dele e disse:

— Nenhum lugar do mundo pode ser chamado de amaldiçoado quando sua presença é tão indispensável.

Rhett só foi acordar duas horas depois com o soco que levou de Kyra.

— CAP, QUE BOM que você acordou – disse Caolho visivelmente aliviado por seu capitão não ter tido um traumatismo craniano com uma porrada daquelas.

— Parece que uma boiada passou por cima de mim, mon ami.

— Não é para menos, a porrada que o senhor levou, Deus me livre de mexer com essa mulher.

O capitão fez uma expressão de urgência.

— Que barulho é esse?

Os dois subiram correndo até o convés e viram um navio da marinha.

— Que droga, Caolho, porque não ficou à postos?

— Porque ele não precisa – disse Kyra – todos sabem que esse navio fica aqui ancorado.

— É... mas isso foi antes de Fundilhos–sujos nos trair... vejam só aquele desgraçado.

Eles ouviram o barulho de um disparo de canhão que por pouco não acertou o Black–jack.

— Com certeza é Charles, Cap – disse Caolho ao subir no ponto mais alto do mastro.

Charles exibia alegremente seu espólio de guerra – as espadas do Capitão Rhett – simultaneamente fazendo o sinal claro para que os atacassem.

Rhett sorriu e fez um sinal com ambas as mãos e juntou os anéis dos dedos indicadores e surgiu como num passe de mágica dois bucamartes em suas mãos.

— Que magia negra é essa, Rhett? – Disse Kyra.

— Presente de um amigo, mon amour.

Capitão Rhett deu um tiro certeiro na corda que prendia o navio ao cais.

Mon amour, quer ter a honra de conduzir o barco.

Kyra foi até o Timon e Caolho liberou as velas, que fez o navio começar a pegar velocidade de forma assustadora.

Mon capitaine – gritou Charles –, vou te matar com suas próprias espadas.

Rhett riu e guardou seus bucamartes.

Mon ami, olhe só essas brincadeiras... Rhett juntou os anéis dos dedos médios e um passe de mágica aconteceu no mesmo instante as duas espadas que estavam nas mãos de Charles apareceram nas mãos de Rhett.

— Sentiram saudades do papai, mês amis?

Ele beijou as duas espadas e em seguida deu uma piscadinha para Kyra.

— Cap, não podemos vencer se eles nos invadirem.

— Ainda tenho uma carta na manga, mon ami, hoje é noite de lua cheia.

Mas o barco de Charles estava perto demais.

Cherry, você ainda tem o presente que te dei na noite de nosso noivado?

Mesmo com um olhar raivoso, Kyra mostrou a joia presa em uma corrente.

— Essa joia foi presente de seu pai – mentiu ele –, ele me confiou entregar para você, ele é mágico, disse que se fosse noite de lua cheia e estivéssemos em apuros no Black–jack teríamos apoio.

Kyra levantou a joia contra a lua e disse:

— Papai, se for verdade, por favor, nos ajude.

De repente, seres das sombras surgiram e criaram vida.

Kyra estava tão hipnotizada pelo acontecimento que nem percebeu que alguém muito especial estava tomando conta de seu posto.

— Espero que não ligue se guiar o barco que construí com minhas próprias mãos?

Aquela voz... a voz dos meus sonhos...

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