Capítulo 3

As portas do elevador se abrem à minha frente e fico paralisada. Ele rapidamente laça minha cintura com um de seus braços fortes e me puxa próximo ao seu corpo em um gesto protetor. Poderia ficar irritada e me recusar a segui-lo, mas estou tão atônita que mal consigo controlar minhas pernas que parecem feitas de gelatina, então por um momento, agradeço estar envolvida em seus braços fortes e acolhedores.

Caminhamos em direção a porta e avistamos um aglomerado de repórteres à nossa espera, ele me segura firmemente fazendo com que eu sinta o cheiro amadeirado de seu perfume sensual, as batidas frenéticas do meu coração parece não querer colaborar com minha sanidade mental.

Os repórteres se juntam ao nosso redor como animais famintos quando atravessamos as portas de entrada do hotel, agradeço pelos seguranças à nossa espera, que abrem passagem para atravessarmos o mar de pessoas ali presentes.

Assustada, passo meus braços em volta da sua cintura apoiando o rosto em seu ombro constrangida com os flashes e perguntas um tanto maldosas que os repórteres nos dirigem. Nunca imaginei que ficaria exposta desta forma algum dia.

Sempre fui muito cuidadosa com minhas escolhas e ações, nunca me expus a nada comprometedor e sempre mantive minha vida bem organizada e longe de problemas, evitando confusões e, de repente, o mundo que enfrentei com dificuldade durante vinte e quatro anos caí aos pedaços em menos de 24 horas. Luto com meus pensamentos em meio ao medo e desespero que me consomem lentamente.

Até que estar ao lado de Airon não é ruim, um homem influente, bem-sucedido e extremamente lindo como esse são poucas as mulheres que conseguem, mas somente poderia me vangloriar desse feito magnífico se ao menos me lembrasse do que realmente aconteceu ontem à noite.

Me casei com um completo estranho, isso não pode ser mais absurdo e surreal do que parece.

Chegamos ao carro estacionado em frente ao hotel, Airon abre a porta e me dá passagem, entrando logo atrás de mim, dando ordens ao motorista para seguir adiante. Observo todo caminho calada e meus pensamentos vagam inquietos.

Não ouso me virar para ele, eu nem mesmo sei o que falar ou como agir neste momento. A vista da esplendida Las Vegas passa por meus olhos como um borrão até que a curiosidade me domina.

— Para onde está me levando? — pergunto rudemente, me virando para ele após parte do choque ter passado.

Ele me analisa silenciosamente e volta sua atenção para a janela observando Las Vegas passar pelo vidro escuro.

— Para o seu hotel, senhorita — o motorista responde minha pergunta, me fitando pelo retrovisor com um simpático sorriso no rosto.

Lhe dou um sorriso contido como forma de agradecimento e resolvo não puxar mais assunto com esse homem bipolar ao meu lado.

O percurso até o hotel em que estou hospedada é feito em silêncio e com isso me perco novamente em pensamentos. Às vezes vejo o reflexo dos seus olhos azuis refletidos no vidro escuro da janela, mas procuro me manter em silêncio, ignorando sua presença sufocante ao meu lado.

Ao estacionarmos em frente ao hotel, saio do veículo antes mesmo do motorista deixar o volante e abrir minha porta. Agradeço a Deus por não ter nenhum repórter à minha espera na portaria do hotel, sigo para a entrada de cabeça baixa sem olhar para os lados, entrando no elevador rapidamente.

O caminho que o elevador faz até o andar em que eu e Katy estamos hospedas parece ser eterno, como se aquela caixa metálica não fosse parar e abrir suas portas tão cedo. Passo o curto período de tempo me martirizando por falta de sorte até ver as portas se abrirem revelando o corredor do nosso andar.

Apressada, entro no quarto fechando a porta atrás de mim com rapidez. Quero apenas me jogar na cama macia e esquecer tudo o que aconteceu, mas Katy se levanta num salto e vem em minha direção como uma fera.

— Megan Park, me explique agora o que está acontecendo! — ordena com as mãos na cintura.

— É uma longa história, suponho que pode ser um pesadelo, então espero em breve acordar. — Me jogo sobre o colchão, agarrando um travesseiro fofinho para espantar meus receios.

— Eu vi você em todos os noticiários do país, você é notícia e está sendo o centro das atenções. — Ela ri sem achar graça alguma.

— Obrigada por colaborar com minha culpa e por me lembrar que me casei sem pelo menos conhecer o cretino. — Bufo irritada e afundo o rosto no travesseiro.

— Você me deixou sozinha, preocupada e desesperada. Me conte logo o que aconteceu. E outra, ele pode até ser cretino, mas também é totalmente lindo e gostoso. — Katy se deita ao meu lado se acalmando.

— Isso eu não posso negar — digo com a voz abafada, por estar com o rosto escondido. — Deus, eu estava apenas brincando quando disse que voltaria de Las Vegas milionária.

— Sua safada, aproveita o gato. Eu gostaria de estar no seu lugar. — Ela dá um tapa em minha bunda.

— Ei... — Viro de barriga para cima para olhá-la e faço bico.

Não posso negar que ele é lindo, mas isso não diminui minha culpa e meu desespero.

— Anda, garota, me conta tudo! — ela insiste com ansiedade.

Acabo contando a ela o que consigo me lembrar, Katy parece estar um pouco espantada e aturdida assim como eu, mas ela não se deixa abalar pela minha história.

— Meg, fique calma, eu sei que essa história está mais do que estranha e que precisamos ir atrás de um advogado para resolvermos isso, mas agora temos que manter a calma. Estamos em Las Vegas e só podemos resolver isso tudo quando chegarmos em Londres. Vá tomar um banho, deite e descanse. Trate de sair dessa fossa — diz enquanto acaricia meus cabelos, esboçando um leve sorriso.

Aquele sorriso e sua gentileza só faz com que a culpa dentro de mim aflore, Katy sempre foi a pessoa que cuidou de mim como uma verdadeira irmã.

— Vou visitar alguns pontos turísticos da cidade, queria muito que fosse comigo, mas acho melhor você descansar agora. Não saia do hotel com esses repórteres fanáticos que estão por aí. Mas não vá achando que vou deixar essa mulher linda — ela aponta um dedo em minha direção —, trancada dentro do quarto, porque isso não vai acontecer. — Dá uma piscadela me fazendo rir.

Só Katy para me fazer rir em uma situação dessas.

— A vida é feita de momentos bons e ruins, e mais tarde você vai rir deste momento, Meg. Talvez, se fosse de uma maneira mais simples, não teria graça alguma. Deixa rolar, quem sabe ele não acaba sendo mesmo o homem da sua vida?! —Ela sorri, me abraçando.

— Te amo. Obrigada por estar aqui comigo, porque acho que se não fosse por você, já teria surtado. — Aperto meus braços ao seu redor.

— Você veio aqui para curtir suas férias e um casamento não vai mudar isso — Katy faz uma pausa e uma careta —, bom... não totalmente. — Ela gargalha, me soltando do abraço.

— Sua tonta, está rindo porque não é com você. — Bato a mão em seu ombro.

Ela me puxa da cama a força, me arrastando pelo braço em direção ao banheiro.

— Está expressamente proibida de sair daí até que esteja cem por cento bem, Meg.

— Acho que vou morar aqui então. — Apoio as mãos na cabeça sentindo a dor e o cansaço da noite anterior.

— Isso não me importa, apenas entre nesse banheiro e saia com um sorriso nesse rosto lindo antes que eu lhe dê uns tapas — seu tom de voz muda para irritação. — Vou deixar alguns comprimidos sobre a escrivaninha. Acho bom você tomar, pois hoje nós iremos sair, você estando casada ou não.

Para não despertar a ira de Katy, me tranco no banheiro, apoiando as mãos sobre o balcão de mármore. Ainda posso ouvir Katy expressar sua indignação em diversos xingamentos até finalmente sair batendo a porta.

Retiro meu novo e indesejado vestido do corpo, deixando-o dobrado ao lado do vaso de orquídeas, para devolvê-lo depois ao seu devido dono. Preparo a banheira e me deito, tentando relaxar toda a tensão existente em meu corpo, mas nem mesmo a banheiro de hidromassagem e a estonteante visão de Vegas consegue dissipar meus pensamentos relacionados ao que ocorreu mais cedo e a terrível dor de cabeça que me consome.

Olho o balde de champanhe disposto para os hóspedes ao meu lado e prometo a mim mesma não consumir álcool por um período indeterminado. Ao pensar em álcool, uma grande raiva domina os meus pensamentos. Como pude chegar a esse ponto catastrófico da minha vida?

Por mais que me martirize ou tente voltar no tempo, nada mudaria o fato de que estou casada até que provem o contrário. Katy estava certa, vim a Vegas para me divertir e não vou ficar trancada nesse quarto afogada em depressão.

Com a decisão tomada, me seco e vou para o quarto, a fim de me libertar de todas as minhas frustrações, mas ao ver a cama macia, não resisto e visto um pijama de tecido leve, me deitando em seguida.

O passeio e a liberdade podem esperar, preciso dormir por apenas alguns minutos para libertar meus pensamentos daquele homem impactante. Sei que Katy irá me arrastar para qualquer lugar em que possamos dançar à noite toda, pois conhecendo bem aquela maluca, ela nunca nega uma balada.

Rolo de um lado para o outro, tentando dormir e, por fim, acabo ficando em posição fetal, assim, me sinto mais segura e protegida e finalmente consigo dormir.

***

Acordo assustada com flashes do que aconteceu noite passada. Olho para o relógio e vejo que ainda é muito cedo e não dormi quase nada.

Eu só queria entrar em coma profundo e acordar apenas quando tudo o que aconteceu fosse desfeito. Esfrego os olhos, magoada.

Como pude me casar com um desconhecido, bêbada e ainda não me lembrar de nada? Nunca pensei que me casaria tão cedo e ainda dessa forma.

Se fosse para realmente acontecer, gostaria de preparar todos os detalhes e enfeites, dando atenção a cada etapa do casamento e fazer deste dia um dos mais felizes da minha vida.

Espreguiço-me na cama, desanimada e sem vontade de me levantar.

— Qual é? Quem tem pique de ir a algum lugar quando sabe que vai ter que encarar um ricaço dono da razão e de quase o mundo? — grito para mim mesma, tapando os olhos com as mãos. — Onde fui me enfiar? — pergunto a mim mesma.

Jogo-me na cama, bufando irritada e com uma vontade imensa de chorar novamente, parece que voltei no tempo e tenho 15 anos com os meus hormônios à flor da pele. Sabe quando os adolescentes acham que o mundo todo está se rebelando contra eles? Esta situação agonizante resume minha vida no momento.

Para ajudar, meu passado conturbado tenta invadir meus pensamentos me causando aflição e dor.

Será que não bastam os problemas do presente?

Esforço-me para afastar todos os pensamentos ruins e procuro relaxar meu corpo e mente, aos poucos pego no sono novamente.

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