Capítulo 0002

— Como conseguiu fazer isso? – O rugido furioso de Henrico fez Antonela se encolher.

Ela mal havia colocado os pés em casa e o seu pai já descontava toda a sua frustração.

— Olhe para você – os olhos furiosos dele, passeou por cada centímetro do corpo dela – está uma maltrapilha, desfilando pela cidade com esse vestido de noiva rejeitada. Você é uma vergonha para nossa família.

Francesca se aproximou com rosto vermelho de vergonha, mas Antonela não se deixou abater. Deveria estar acostumada com o modo arrogante que o próprio pai a tratava, mas ela ainda tinha esperança de amolecer aquele coração tão duro, isso se esvaziou quando ela foi abandonada no altar.

— Não fale uma coisa dessa Henrico – Francesca recriminou o marido, com um olhar severo e depois se virou para olhar para Antonela – que culpa a menina tem de ter sido abandonada?

Do outro lado da sala, Alessia, a irmã mais nova, ria baixinho, mas não o suficiente para que todos ouvissem. No fundo, ela vibrava por Antonela não ter se casado com o bilionário da cidade. Antonela, sabendo o quanto a irmã a detestava, abriu finalmente a boca para se defender.

— Você não deveria estar bravo comigo pai – Antonela ficou tão decepcionada que a raiva foi a sua única defesa – eu fui obrigada a me casar com um homem que eu não conhecia e abandonada por ele logo em seguida. Por que não experimenta ir perguntar a ele os motivos de ter te envergonhado?

Henrico ficou sem palavras por alguns segundos, quando se aproximou de Antonela e desferiu um tapa em seu rosto. Aquela era a primeira vez que ele batia nela, embora as palavras que ele dissesse constantemente desse a Antonela a mesma sensação que ela sentia agora. Com o rosto queimando, ela se virou lentamente para olhá-lo e só encontrou ódio no rosto do pai.

— Não deve se esquecer de que ainda mora na minha casa – apontou o dedo tremulo em direção a ela – e esse casamento era a nossa salvação. Se não consegue conquistar um bom marido, a partir de hoje vai trabalhar e ajudar a sustentar a casa.

Aquilo parecia inacreditável. Henrico só visava o dinheiro e conseguia magoar a própria filha para conseguir o que tanto almejava. Antonela sentiu um nó sufocando sua garganta quando se lembrou de que a sua família estava falindo aos poucos, e que se casar com Benjamim Dylon era a única esperança de seu pai.

Ela não via nenhum problema em trabalhar, mas estava cansada do seu pai determinar os seus passos.

— Não é justo! – gritou desconfortavelmente – por que eu tenho que trabalhar e a Alessia não?

— Está querendo me comparar a você, Antonela? – resmungou, dando risos satisfatórios.

— Não sei que diabos você está rindo – instalou os lábios, ficando cada vez mais aborrecida – você acha que tudo o que estou passando é engraçado? Enquanto eu tenho que carregar a família nas costas, você faz o quê? Pinta as unhas?

Alessia deu de ombros, mas o sorriso provocador não saiu dos seus lábios em momento nenhuma.

— Já chega dessa conversa frívola – Henrico interrompeu as duas – Eu não preciso explicar que a Alessia estuda em tempo integral, não pode trabalhar. Por favor, Antonela suba para o seu quarto, antes que eu cometa uma loucura com você.

Antonela apertou a boca em uma linha tênue, porque ela também não foi criada para responder ao seu pai, mas havia coisas pelas quais ela não podia ficar quieta. Ainda assim, se calou porque sabia que aquela conversa não a levaria para outro lugar a não ser o olho da rua.

Girou os calcanhares e começou a subir as escadas quando ouviu Alessia mais uma vez.

— Aproveite e jogue esse vestido de noiva fora – riu mais uma vez – duvido que alguém nessa cidade queira se casar com você, depois de ter sido abandonada no altar.

Antonela engoliu a seco e correu para o quarto. Chorou silenciosamente.

No dia seguinte acreditou que o clima na casa estaria mais tranquilo, mas assim que se sentou para tomar o seu café foi bombardeada com as exigências do pai. Ele jogou um papel na mesa e disse sem pestanejar.

— Você tem uma entrevista de emprego na mesma empresa em que seu tio trabalha – arrancou das mãos dela a xícara de café – se apresse porque você já está atrasada.

Antonela assentiu um pouco perdida, enquanto Francesca parecia inconsolável. Apenas para não deixar a mãe mais aflita, ela decidiu não desobedecer ao pai.

— Posso saber ao menos para qual cargo estou me candidatando? – ela indagou com um tom irônico.

— Vai ser a secretaria particular do dono da empresa – disse ele, já puxando pelo braço dela e a obrigando se levantar.

Antonela estava se esforçando para não desmoronar ali mesmo, mas as palavras de Henrico simplesmente a irritavam. Caminhou até Francesca e a beijou, tentando acalmá-la. Voltou para o quarto e trocou de roupa. Em seguida, ligou para Dominique, para que ela pudesse ajudá-la a ir à entrevista de emprego.

O caminho foi silencioso, como se ela estivesse de luto. Era difícil até pensar naquilo: não poder tomar suas próprias decisões e viver a vida que desejou um dia. Quando o carro parou em frente a empresa, Dominique prontamente se ofereceu a ficar ali com ela.

— Não quero atrapalhar o seu dia – disse demasiadamente desanimada.

— Eu não tenho nada de importante para fazer pela manhã – disse, tentando consolá-la – ter um apoio é importante nesse momento.

Dominique era uma excelente amiga, mas não conseguiria evitar o impacto que as decisões de Henrico estavam causando em sua vida. Ela sorriu, engolindo toda a vontade de chorar. Entraram no elevador e assim que chegaram na recepção, as pernas de Antonela travaram imediatamente. Dominique até achou que ela estava passando mal.

O rosto pálido e os olhos arregalados davam a impressão de que Antonela estava vendo um fantasma.

Ela se agachou e se escondeu por detrás do balcão. O rosto de Dominique ficou vermelho de vergonha.

— O que você está fazendo, Antonela? – se esgueirou para junto dela, segurando em seu braço e tentando colocá-la de pé novamente – parece que viu um fantasma.

— Pior do que isso, amiga – disse e olhou para o homem que estava parando alguns metros de distância – aquele homem é o mesmo que eu encontrei no bar ontem à noite.

Dominique olhou para onde Antonela apontava e ficou imediatamente paralisada com a beleza do homem. Em seguida, se ergueu, olhando nos olhos da secretaria, perguntando.

— Pode me informar como é o nome daquele homem?

— Ah, claro! – ela olhou para o rapaz que Dominique indicava e sorriu, respondendo – é o senhor Benjamim Dylon, o futuro dono dessa empresa.

Antonela fechou os olhos com força ao ouvir essas palavras. Aquilo não podia ser verdade.

Benjamim Dylon, o noivo que a abandonou no altar, era o mesmo homem com quem ela havia ficado na noite passada.

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