A noite caía sobre Sant’Elisa, e Valentina sentia seu mundo se despedaçando. O convento já não lhe parecia um refúgio, e Gabriel… Gabriel despertava nela algo que ia além do desejo — um abismo perigoso e viciante. Mas ela não era a única a sentir o cheiro de sua hesitação. Leonardo sabia. E ele estava pronto para agir. ••• Valentina caminhava pelas ruas silenciosas, os pensamentos um turbilhão. Quando ouviu passos atrás de si, instintivamente acelerou, mas era tarde demais. — Irmã Valentina. A voz a fez estremecer. Leonardo estava ali, encostado contra um poste, com um sorriso que nunca chegava aos olhos. — O que você quer? — perguntou, mantendo-se firme. — Apenas conversar. Ele se aproximou, e Valentina sentiu um arrepio de alerta percorrer seu corpo. — Você parece… diferente. Um pouco menos santa do que antes. O tom zombeteiro fez seu sangue ferver. — Vá direto ao ponto, Leonardo. Ele riu. — Está brincando com fogo, Valentina. E Gabriel… Bem, ele não
A noite caía sobre Sant’Elisa com um peso sufocante. O vento frio uivava entre os prédios antigos, trazendo consigo promessas de segredos prestes a serem desenterrados. Valentina sentia o gosto amargo da dúvida na boca. As paredes de sua mente se estreitavam a cada pensamento, esmagando as certezas que antes sustentavam seu coração. Ela se recusava a acreditar que Gabriel pudesse ser desleal. Mas então por que havia um buraco crescendo dentro dela, um instinto sussurrando que algo estava errado? Leonardo. Ele se aproximara como uma serpente no meio do caos, deslizando suas palavras venenosas em seu ouvido. — Você acha que conhece Gabriel, mas todos escondemos algo, Valentina. Ela odiava a forma como sua voz ecoava dentro dela. Como conseguia plantar dúvidas tão facilmente? Não. Gabriel não era como Leonardo. Ele jamais mentiria para ela… mentiria? No silê
A noite em Sant’Elisa era um convite à perdição. O vento arrastava consigo murmúrios de segredos não ditos, e Valentina sentia o peso de um deles queimando sua pele. A dúvida ainda latejava em seu peito desde o encontro com Leonardo. As imagens de Gabriel e Isabella juntos não saíam de sua mente, mas agora não se tratava apenas de ciúmes. Se tratava da verdade. E Valentina estava determinada a encontrá-la, custasse o que custasse. A primeira pista veio de um descuido. Naquela manhã, Gabriel saiu apressado. Não a beijou, nem a olhou nos olhos como antes. Havia algo nele… uma tensão no maxilar, um receio mal disfarçado. Valentina esperou até a porta fechar e, pela primeira vez, fez algo que nunca havia feito: procurou por respostas nas coisas dele. Seu coração martelava enquanto revirava gavetas, pastas, bolsos de casacos. Até que encontrou. Uma chave. Pequena, prateada, com uma inscrição no metal: C.V. 267. Seu estômago revirou. Aquilo parecia a chave de um cofre.
O vidro do copo tilintou contra o mármore quando Valentina o pousou na mesa. Seu olhar perdido se fixava na escuridão além da grande janela, onde a cidade se estendia abaixo dela, iluminada por milhares de luzes que pareciam tão distantes quanto sua própria sanidade. A pasta de couro preta ainda estava sobre a mesa. As palavras escritas nela queimavam seus olhos como chamas invisíveis. Gabriel era culpado. Mas culpado de quê exatamente? As palavras nos documentos eram claras. Conexões com Rodrigo De La Vega. Transferências de dinheiro. Nomes riscados em vermelho. Mas onde estava a prova de que ele realmente participou do crime? A dúvida corroía sua mente como um veneno lento. E então, como um predador sentindo o cheiro do sangue, Leonardo apareceu. — Você está diferente, Valentina. A voz dele era suave, perigosa, como um veneno revestido de mel.
A noite estava densa e silenciosa nos jardins do convento. Valentina sentia a pressão de suas próprias escolhas pesando sobre seus ombros. O cheiro das flores misturava-se ao frio da madrugada, mas nada acalmava a tempestade dentro dela. Foi quando a voz de Leonardo rompeu o silêncio. — Você está fugindo dele, Valentina? Ela se virou bruscamente, encontrando-o encostado contra uma das colunas de pedra. O sorriso arrogante estava estampado no rosto dele, como se soubesse exatamente o que ela sentia. — Não estou fugindo de nada, Leonardo. Ele se aproximou, os olhos brilhando sob a pouca luz. — Eu te conheço. Sei que está cheia de dúvidas. Você encontrou algo contra Gabriel, não encontrou? Ela não respondeu. — Você pode negar o quanto quiser, mas eu vejo nos seus olhos que não confia mais nele. E eu te avisei. Gabriel te
A noite caiu sobre a cidade, carregada de uma tensão cortante. Valentina tentava organizar os pensamentos enquanto olhava para o vazio. Gabriel se foi, Leonardo estava ferido, e seu coração batia como se estivesse prestes a explodir.No convento, as freiras cuidavam dos ferimentos de Leonardo. Seu rosto estava inchado, os lábios cortados e os olhos escurecidos pelos hematomas. Mas sua expressão era fria. Ele não dizia uma palavra, apenas olhava fixamente para o teto, tramando algo.Valentina sabia que Gabriel não voltaria para ela tão cedo. O ódio em seus olhos era mais do que mágoa. Era um aviso.Mas algo dentro dela gritava que aquele não podia ser o fim.Ela pegou o celular e ligou para Gabriel. Chamou até cair na caixa postal. Tentou de novo. Nada.— Droga! — ela murmurou, sentindo um nó apertar sua garganta.De repente, uma risada baixa cortou o silêncio.— Ele não vai te atender, Valentina.Ela se virou e encontrou Leonardo sentado, segurando um pano ensanguentado contra o lábio
O cheiro de incenso e velas queimadas impregnava as paredes frias do convento. O silêncio absoluto cortava como lâminas invisíveis. Valentina sentia-se presa, sufocada por uma dor que parecia maior que sua própria existência. Desde o acidente, sua rotina era sempre a mesma. Acordava antes do nascer do sol, participava das orações matinais, realizava pequenos trabalhos no convento e passava horas encarando o vazio, os dedos entrelaçados em um rosário que não lhe trazia paz. As freiras tentavam confortá-la, mas Valentina era um espectro de si mesma, um corpo presente sem alma. As visitas ao hospital eram um ritual macabro. Ela entrava no quarto branco e impessoal, sentava-se ao lado de Gabriel e segurava sua mão quente, mas imóvel. Seu rosto estava sereno, como se apenas dormisse, mas os monitores piscando e o som ritmado das máquinas a lembravam cruelmente da realidade. — Você me ouve? — ela sussurrava todas as noites. — Sei que pode me ou
O convento era um túmulo de memórias. Cada corredor, cada prece murmurada entre os vitrais contava a história de uma Valentina que não existia mais.Naquela manhã cinzenta, a mala de couro estava pronta ao lado da porta. O hábito simples que usara por meses parecia um fardo sobre sua pele. Quando as freiras tentaram convencê-la a ficar, ela apenas sorriu com tristeza.— Meu lugar não é mais aqui.O vento frio cortava seu rosto enquanto ela caminhava até o carro que a esperava. Entrou, fechou a porta e observou pelo retrovisor o convento ficando para trás.Quando chegou ao apartamento de Gabriel, sentiu o cheiro dele ainda impregnado nos móveis, nas roupas, no travesseiro. O luto apertou seu peito como garras afiadas, mas ela não chorou. Não mais.Passou os dedos pelos livros que ele deixara espalhados, pelos objetos na escrivaninha, pelo paletó esquecido no encosto do sofá. Sentou-se na cama e encarou o vazio, a mente trabalhando frenetic