Capítulo 02

ETHAN BORISLAV

— Vem Ethan — disse Luccas, que estava brincando no jardim com Clara e Ayla. Hoje não teve treinamento e o meu pai tinha uma reunião com os membros da máfia, por isso o meu amigo veio com a tia karen para almoçar conosco. Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi novamente me chamarem.

— Vem irmão — dessa vez foi Clara quem falou.

— Eu vou pegar o ipad no quarto para mostrar para vocês o jogo que criei ontem à noite.

Enquanto os três voltaram a correr, comecei a andar na direção da porta. Entrei dentro de casa e quando me aproximei da escada, ouvi a voz da minha mãe vindo da sala. Subi o primeiro degrau, mas, de repente, algo me fez parar, me puxando naquela direção, desci e com passos lentos, fui em direção das vozes. Meu coração bateu mais forte quando ouvi as palavras que foram ditas.

— Você contou que está grávida?

— Não, eu ia contar ontem, mais fiquei desnorteada depois que soube do ocorrido no treinamento.

— Eu também fiquei espantada quando Luccas chegou contando. Eu não gosto do meu filho no meio desse mundo cheio de sangue, mas será em vão ir contra, já que Boris disse que é o destino dele.

— Eu fico pensando e se forem dois meninos? Eles terão o mesmo destino do Ethan. Tão novo e já vive num mundo tão sombrio.

— Lú, eu sou testemunha de quanto você sofreu e dos obstáculos que enfrentou, mas sempre se mostrou muito forte.

— Se eu não fosse não teria chegado até aqui. A cada prova daquele treinamento, só Deus sabe o quanto eu estava prestes a chegar ao fundo do poço. Dusan quase me destruiu.

— No entanto, no jogo que o predador queria domar sua presa, vocês acabaram descobrindo o amor.

— O que não foi fácil, pois as paredes daquele bordel podem ser muito mais que um lugar marcado pela luxúria, pois, a cada prova, eu sempre buscava vencer os meus próprios limites. Ele me fez conhecer o meu próprio corpo, não precisou me quebrar fisicamente, mas, mentalmente, ele quase me levou até a beira do abismo. Como dizia o demônio, o anjo seria sua submissa, o seu brinquedinho, que ele poderia quebrar em mil pedaços.

Rapidamente me afastei e alcancei a escada. Sempre fiquei curioso para saber como uma pessoa tão boa e iluminada acabou amando um homem tão perverso quanto o meu pai. Luna Borislav, além de ser inteligente, é a melhor mãe do mundo e se tornou a melhor dama para um mafioso. Mas, ela disse que o meu pai fez muitas coisas dentro daquele bordel e será dessa forma que farei aquela fedelha pagar pelo que disse, se tornando a esposa perfeita para mim, a minha submissa.

****

A família toda ficou em festa quando ontem, a minha mãe contou sobre a gravidez. Sendo filhos de Luna e Dusan, e, tendo o mesmo sangue que eu, não teria como não me alegrar diante da situação. Só espero que sejam dois meninos, pois, já estou cansado de ter tantas mulheres ao meu redor.

— Ethan!

Aquele que vive atrapalhando os meus pensamentos, me trouxe de volta a realidade.

— Vamos comer!

Medroso e ainda por cima esfomeado. Sem alternativa, ao seu lado, segui pelo corredor indo em direção ao grande salão e ao chegar perto da porta, me detive ao ver que um novo carregamento de mercadorias havia chegado. O meu pai observava minuciosamente cada uma delas, porém, a ruiva que ficou olhando fixamente para ele, despertou minha total atenção.

A garota não fez questão de esconder o seu súbito interesse, pois, a malícia estava visível em seu olhar predador. Depois que ele já tinha proferido algumas palavras, disse aos soldados que estavam presentes para levar todas para o setor B, com a intervenção da minha mãe, muitas veteranas da casa, hoje já não tem o final trágico ao serem substituídas. Deixo os devaneios de lado quando em uma fileira, começaram a passar perto de mim e assim que a desconhecida se aproximou, vocifero num tom rude.

— Pare!

Assim que ganhei atenção de todos, disse:

— Se você quer continuar viva, mantenha seus olhos e o corpo inteiro longe do meu pai ou eu mesmo darei um jeito para que sua estadia aqui acabe antes de começar.

Todos ficaram olhando-me incrédulos, comecei a me mover e antes de sumir do campo de visão deles, voltei a falar.

— Vamos Luccas, à noite teremos uma festinha que será inesquecível.

Mais tarde...

— Ethan, por que você trouxe isso? — disse Luccas quando mostrei a arma que estava comigo.

— Não vou matar ninguém, seu medroso, mas aquela fedelha estava se achando porque ia fazer cinco anos, como se isso fosse mudar o fato de ela mal ter deixado de fazer xixi nas fraldas. Eu só vou animar a festinha dela.

— Isso vai dar confusão.

— Contanto que ela se lembre para sempre que comigo ninguém brinca, eu estou disposto a assumir as consequências.

Os adultos estão fazendo a festa dentro da mansão, todos os presentes estavam parabenizando o meu pai, pela notícia da gravidez da minha mãe. Parece que Dusan Borislav, se tornou uma máquina de fazer filhos e se não fosse pelos cuidados que minha mãe deve ter tido antes, era bem capaz de a nossa organização ser formada somente pela grande quantidade de herdeiros. Deixo os pensamentos de lado e minha atenção se volta para a pequena multidão a minha frente, além das minhas irmãs, da pirralha e o clone dela, havia mais quatro crianças que eram filhos de membros da máfia. Eu e Luccas começamos a caminhar até eles e assim que acabamos com a distância que havia entre nós, a primeira a se manifestar foi o clone, que tinha os lábios pintados de vermelho, um lanço na cabeça e mais parecia uma boneca de tão enfeitada. Muito diferente da irmã, que mantinha os cabelos longos, soltos, com pontas bem onduladas, seus olhos verdes que hora estavam num tom azulado, faziam um contraste perfeito com seu belo rosto. Mas, que diabos esta acontecendo comigo? Afasto os devaneios de lado.

— Ethan, vamos brincar? — olhei para Ana que tinha um largo sorriso no rosto, mas desta vez, eu saberia tirar proveito da situação.

— Que tal esconde-esconde?

— Oba! — todos disseram em uma só voz.

— Vocês podem ir se esconder que eu faço a contagem.

Nos instantes seguintes, já estava me aproximando do número 20.

— Quinze... Vinte. Aí vou eu...

Com um único alvo em mente, saí feito um caçador a procurar da sua presa, eu só vou da um susto naquela metida, pois, tenho certeza que assim que ouvir o barulho do tiro, vai entrar em pânico. Com passadas largas, saí na direção que a vi correndo e não demorou muito para ouvir o som de algumas vozes, dizendo.

— Um, dois, três, salve eu... — entre elas, nenhuma era de Cecília, muito menos de Ana, já que as duas falavam um inglês com sotaque albanês. Continuo caminhando e cada vez ouvia: um, dois, três, salve eu. Pela minha contagem, só faltavam as duas, o que era estranho. Quando me aproximei de um grande arbusto, eu ouvi o som de um choro abafado e em seguida, a voz da garota que é capaz de fazer o meu corpo ficar em chamas.

— Solte a minha irmã, socor...

A raiva percorreu cada centímetro da minha pele, meus pulmões pareciam estar queimando, quando o barulho da sua voz foi silenciada pelo ruído de um tapa que ecoou a minha volta e um choro dolorido, que a cada soluço, parecia sentir uma dor mais profunda se fez presente.

— Cale a boca infeliz — disse uma voz firme.

— Pegue logo as seringas e vamos acabar com isso — desta vez era outra pessoa que estava falando.

Dei mais alguns passos, tendo a visão de dois brutamontes que seguravam com força o clone, enquanto Cecília estava jogada no chão. No instante que um deles pegou o objeto, levando de encontro ao seu corpo indefeso, senti algo gritar dentro de mim e um alvoroço como se tivesse alguma coisa além dos meus órgãos internos e tinha vida própria, pois, senti meu rosto se contorcer. Minha respiração ficou acelerada e antes que ele alcançasse a pele dela, puxei a arma e o primeiro disparo dos três que atingiram o seu corpo dele, foi feito e, quando dei por mim, a arma já estava na direção do outro infeliz que parecia atordoado, parecia não saber de que direção ou quem havia dado os tiros e antes que ele fizesse de Ana seu escudo de proteção, o barulho de outro tiro reverberou no espaço. Saí do meu esconderijo e ao ver o rosto da fedelha todo vermelho, um ódio descomunal libertou aquilo que estava dentro de mim e já não conseguia mais parar de puxar o gatilho. Não tinha noção de quanto tempo havia se passado, só sei que as 16 balas da pistola, já haviam sido usadas e o corpo do homem, assim como do primeiro, estava esparramado no chão. Voltei ao meu estado de consciência quando uma grande movimentação aconteceu a minha volta e senti, além do toque da mão do meu pai, o seu hálito quente, assim que o som da sua voz ecoou próximo ao meu ouvido.

— Já acabou, filho.

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