Capítulo 05

Belgrado – Sérvia

CECÍLIA DEMISOVSKI

Assim que chegamos ao topo da escada, olhei para Ana que estava tão arrumada, como se o casamento fosse acontecer hoje. Saio dos meus devaneios quando escuto o som da sua voz.

— Até que fim vocês apareceram — sua expressão era de pura irritação.

Dei mais alguns passos e depois de me livrar do último degrau, o som da minha voz ecoou no espaço.

— Ana, quem deveria estar aqui empolgada era eu, o que não é bem o caso, não sei o motivo de tanta pressa se o jantar foi feito para os noivos .

— Mas o convite veio para toda família — disse como se sua preocupação não fosse só para ver logo Ethan.

Ela fingiu demência, o que já estava me irritando e quando estava prestes a me manifestar novamente, o som da voz dela se fez presente.

— Vamos pai, não é educado deixar as pessoas esperando.

Ela saiu puxando o nosso pai em direção à porta. E minha mãe, assim como o tio Hulk e minha avó fizeram o mesmo. Em passos largos, comecei a andar e só parei ao chegar perto do carro que estavam os meus pais e a minha irmã. Depois que o mesmo entrou em movimento, enquanto todos estavam entretidos, onde meu pai estava falando sobre a nomeação que Ethan receberá assim que acontecer o nosso casamento e Ana por sua vez não parava de elogiá-lo, vários pensamentos se fizeram presentes em minha mente. Desviei meu olhar em direção ao vidro da janela, procurando organizar os meus pensamentos.

Eu tinha a sensação que todos colocaram uma venda nos olhos para não enxergar que ela cresceu e que agora suas palavras eram proferidas por uma mulher e não uma fedelha. Passei toda infância tendo que vê-la querendo competir em tudo e por amor sempre fui a única a ceder e só espero não ter que entrar em uma competição com a minha própria irmã.

Eu cresci lendo sobre a história das mulheres no mundo da máfia, fiquei horrorizada perante tantos de maus tratos e sofrimento, algo que a minha avó passou por muitos anos nas mãos daquele que só trouxe desgraça e destruição na vida dos meus pais. Ao longo dos anos, as mulheres sempre foram vistas como alguém que devia ter fidelidade ao marido, cuidar da casa e dos filhos. Os homens podiam tudo, e até hoje, muitos vivem cercados de várias amantes e tratam as esposas como sua propriedade.

Eu fui preparada para ser a esposa de Ethan Borislav e respeitar o meu marido, mas não para ser um objeto que ele pode usar, pisar, quebrar e reconstruir para quebrar novamente. E muito menos para ter um marido que seja infiel, pois, assim como eu, ele teve um bom exemplo no casamento dos pais dele e embora entre nós dois nunca haja amor. Assim como um objeto que quebrou e então foi colado, a confiança refeita nunca volta a ter a sua estrutura inicial e jamais irei perdoar uma traição.

— Filha! — meus pensamentos se perdem quando ouço a voz da minha mãe. — Chegamos princesa.

Fiquei tão distraída que acabei perdendo a noção do tempo transcorrido. Ana por sua vez, foi a primeira a descer do veículo, estava tão afoita que se pudesse entrava sozinha dentro da casa. Com todos já fora dos dois carros, seguimos até a entrada principal e assim que as portas foram abertas, eu fiquei atordoada com o tamanho do imóvel. A mansão era imensa, com móveis luxuosos, dos lustres de cristal, ao mármore do chão e os tapetes.

— Sejam bem-vindos.

O som da voz da minha sogra, que ficou ainda mais linda com o passar dos anos, reverberou no espaço. Instantes depois, todos começamos a nos cumprimentar, dei um abraço bem apertado em Ayla e Clara e apesar de tê-las visto poucas vezes, tinha um carinho imenso pelas duas. Luana e Emilly estavam enormes, já que a última vez que nos encontramos elas só tinham seis anos.

Fiquei conversando com Clara, Ayla e Luccas, enquanto os demais foram para sala de estar. Não demorou muito para Ana aparecer e o som da sua voz ecoar a nossa volta.

— Cadê o irmão de vocês? — falou olhando para todos os lados a procura dele.

— Achei que Cecília era quem ia fazer essa pergunta— disse Ayla e nesta hora queria ser descendente de um avestruz, só para poder enfiar minha cabeça dentro de um buraco. A calmaria predominou por alguns segundos e foi interrompido por Luccas.

— Creio que ele já esteja vindo.

Assim que ele terminou de proferir suas palavras, o barulho de passos descendo pelos degraus da escada ganhou atenção de todos. Eu estava de costas, mas, pelo sorriso largo e estampado no rosto da minha irmã, eu sabia que era ele e quando suas passadas se tornaram mais próximas. Virei-me e meus olhos ficaram cravados no homem a minha frente, no mesmo instante que ele parou de se mover e suas orbitas azuis me encaravam intensamente.

De repente, meus batimentos cardíacos dispararam terrivelmente, como se meu coração fosse saltar para fora do meu peito. Minha garganta fechou-se como se tivesse um nó gigantesco que me impedia de respirar. Ethan tinha uma expressão totalmente indecifrável, seus olhos insondáveis, não piscavam e continuavam a me observar e eu podia sentir a vibração magnética que vinha dele, fazendo todo o meu corpo estremecer.

O demônio tinha um belo rosto e havia se transformado em um homem de beleza estonteante que poderia atrair várias mulheres a sua volta. Saí dos meus devaneios quando ninguém mais e ninguém menos que Ana, quebrou o silêncio que pairou ao nosso redor.

— Ethan, estava justamente procurando por você — disse ela num tom de voz irresistivelmente meloso, como se estivesse sussurrando versos de amor. Ele, que até então estava em silêncio, proferiu algumas palavras.

— Pelo tanto de maquiagem em seu rosto e as roupas chamativas, suponho que seja a Ana.

— Sim, sou eu mesma — acredito-me, que ela não estava no seu juízo normal, pois, achou que aquilo fosse um elogio, no entanto, meu coração deu um salto no peito quando ele deu dois passos se aproximando de mim. Minha respiração parou por um instante, mas quando ele voltou a falar, a raiva me dominou, pois o seu tom de voz era irônico.

— Os anos caíram bem a você, já que a pirralha se tornou uma bela mulher.

Eu sabia que devia me controlar, mas senti o sangue pulsar violentamente em minhas veias e o nó que antes estava preso se desfez e não consegui controlar as palavras que saíram pelos meus lábios.

— E você, apesar da bela aparência, acabou se tornando um velhote comparado com a bela mulher que a pirralha se transformou.

Ele me olhava com olhos mortais, sua face ficou completamente transformada e bastou um passo, para ele ficar a centímetros de distância de mim. Não consegui desviar meus olhos dos dele, o magnetismo que saia de lá me prendiam, como se ele tivesse lançado um feitiço. O cheiro do seu perfume amadeirado e cítrico me invadiu, ele estava tão próximo, que eu podia sentir sua respiração quente em meu rosto.

— Te mostrarei amanhã o que o velhote aqui pode fazer — disse com voz baixa e controlada, fazendo-me por pouco não perder o equilíbrio das minhas pernas, que de repente ficaram fracas e pesadas.

— Vejo que estão se dando muito bem.

Desvio o olhar para o dono daquela voz, que tinha um esboço de um sorriso no rosto. Meu sogro se aproximou do filho e colocou uma das mãos em cima do ombro dele e então disse:

— Além de ser muito inteligente, você terá uma esposa tão linda quanto um anjo.

Ethan, calado estava, calado ficou, mas, pelo olhar lançado em minha direção, eu sabia que ele estava possuído de raiva.

— O jantar ainda vai demorar a ser servido, podemos ir para sala de jogos — disse Clara, exibindo um sorriso contagiante. Nós seis caminhamos em direção ao corredor e depois de quase um minuto, chegamos ao ambiente que ela havia dito. Um cômodo bem luxuoso, que foi mobiliado com elementos decorativos como cartas de baralho, tinha uma mesa de sinuca, uma televisão enorme fixada na parede, uma mesa redonda com cadeiras e uma maquina de pinball.

— Vamos jogar em dupla — murmurou Ayla.

— Eu vou fazer par com o Ethan — Ana disse, se aproximando dele e se antes eu já estava morta de vergonha por ela ser tão inconveniente, ao ouvir a resposta do homem a minha frente, eu fiquei completamente sem reação.

— Sendo você e Clara as únicas que estão sobrando, que façam uma dupla às duas.

Ela parou de se mover no mesmo instante e o seu sorriso morreu. Enquanto os demais estavam colocado as bolas em cima da mesa, olhei para minha irmã e ela respirou ofegante, e a expressão que tomou seu rosto, eu conhecia muito bem, era uma fúria contida e seus olhos estavam cravados em minha direção. Desta vez a conversa entre nós duas será na frente dos nossos pais, pois, não terei como rival a minha própria irmã.

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