Salão Oval — Casa Branca — Washington D.C
19/08/2012 - 19h45min
O Salão Oval estava sendo iluminado por uma ofuscante luz de tarde que atravessava a histórica, mas moderna, janela central, fazendo com que a pele do presidente ficasse delicadamente morna.
Seus olhinhos minúsculos encaravam o céu com um aperto no coração. Aperto este que o estava incomodando desde o último encontro com os líderes mundiais na sede da ONU.
E eles precisavam fazer algo, tomar medidas drásticas, mas, infelizmente, aquele não foi o único tema da manhã.
Não era isso o que lhe incomodava. Não, não mesmo. Os atentados deixaram de ser o foco central da bancada.
Algo muito mais previsível estava se aproximando, e ele sabia que ninguém poderia fazer nada. Estavam de mãos atadas, todos os lideres estavam assim como ele: preocupados, ou melhor, desesperados.
Mas precisava manter a calma, pois, em tempos de crise, deveriam se manter unidos, mesmo tendo uma bomba ativa jogada em cada colo daquela reunião.
Ele se lembrou de estar conversando com a presidente do México sobre algo que não se recordava, quando, de repente, um dos telões de conferências que ficava ao fundo da sala — onde vários homens e mulheres se encontravam sentados e escorados a uma mesa meia lua — se ligou, e dele um rosto desconhecido surgiu como um fantasma, assustando a todos.
Ele se lembra da voz grossa do homem ecoar pelos alto-falantes do telão. Os rostos se viraram ao mesmo tempo e olharam, sem entender, para a mesma direção.
— Hoje, vocês foram convocados para essa reunião, pensando que iriam discutir: "como deter os ataques terroristas que temos sofrido nesses últimos meses", mas isso só foi o pretexto para uni-los e lhes mostrar o verdadeiro motivo de todos vocês estarem neste lugar. — Ele parecia olhar para cada pessoa ali presente, pois podia ser visto em suas expressões sérias a constatação de estar diante deles: os líderes.
— Fui designado a esta reunião, para informá-los de algo muito mais terrível que os atentados.
Os rostos atentos se perguntavam o que estava havendo, todos estavam ansiosos, e até mesmo o Comandante japonês se esforçava para se manter a calmo. Todos naquela sala sabiam que aquilo não era normal. Convocar todos os líderes mundiais para uma reunião para, de repente, serem interrompidos por um rosto desconhecido em um telão, deixou-os nervosos e contrariados.
— Antes que possa começar, eu não sou um terrorista. Meu nome e Ricardo Cooper, trabalho na NASA. — Seus olhos azuis encaravam a câmera que o filmava, com preocupação. Trajado com vestes de cientista e óculos de fundo de garrafa, ele falava tentando não perder o foco da conversa.
— Como Lider da minha nação, eu exijo saber o que está acontecendo. — Indagou o Comandante japonês, que parecia estar incomodado. Seus olhinhos se contraíram, ficando quase imperceptíveis, suas mãos entrelaçadas umas nas outras suavam, e ele, no fundo, sabia que aquilo não significava algo bom. — Que palhaçada é essa? — Perguntou com seu sotaque enrolado de um típico japonês aprendendo a falar inglês.
Os outros o encararam com a mesma expressão, como se tivessem a mesma dúvida, e querendo rapidamente as respostas.
— Irei direto ao assunto. — Ricardo Cooper respirou fundo, olhou para a câmera à sua frente e disse, com o coração acelerado: — Na semana que vem, ocorrerá um fenômeno mundial...
— Fenômeno mundial? — Interrompeu o Presidente dos Estados Unidos, que permanecia, até então, calado e focado no telão.
— Sim... — Continuou olhando a todos. — O fenômeno batizado como "Eclipsia" ocorrerá no mundo todo, ao dia, e até mesmo à noite. Todos irão presenciar este fenômeno. É inevitável.
Os rotos se entreolharam e ficaram indignados com a conversa incoerente de Ricardo.
— Olha aqui, garoto, quem deu autorização para entrar no nosso sistema, invadir nossa reunião e dizer estas bobagens? — Perguntou a presidente do México, que levou a mão aos cabelos grisalhos várias vezes, como se estivesse com tiques. — Exijo uma explicação imediatamente.
Um burburinho foi iniciado. Todos falavam ao mesmo tempo, alguns em suas línguas, outros em inglês. Até mesmo a presidente do Brasil não se contentou e começou a se perguntar que porcaria era aquela.
— Silêncio, por favor. — Pediu Ricardo batendo na tela da câmera. — Eu sei que peguei todos de surpresa, mas não há tempo para discussão. Sei que parece papo de maluco, mas esse fenômeno destruirá a terra.
A última frase foi o estopim para os convidados ali presentes. Uns se levantaram ameaçando ir embora, outros apenas ficaram quietos e imóveis, absorvendo as palavras de Ricardo. Mas nenhum estava tão inquieto quanto o Presidente dos Estados Unidos, que parecia acreditar em Ricardo, mas tinhas suas terríveis dúvidas. Ele parou, olhou para a mesa, e viu sobre ela um copo de água cristalina e gaseificada posicionada perto de vários papéis com anotações. Olhou nervosamente as pequenas bolhas subirem à superfície do copo, e tentou se acalmar, respirando fundo, e disse, deixando a sala em silêncio:
— Senhores, se acalmem. Sei que isso pode parecer brincadeira, mas creio que seja verdade, pois não juntariam todos aqui apenas para fazer uma pegadinha. Não mesmo. Vamos ouvir as explicações de Ricardo, e, se ele estiver sendo mesmo verdadeiro, irá mostrar provas concretas de que isto é mesmo real. — Ele para olha para o copo com água, e, com um leve movimento de mãos, pegou-o e bebeu um gole do líquido. Os gases fazem cócegas em sua garganta o deixando com um leve pigarro. — Vamos nos acalmar e escutar o que ele tem a nos dizer.
Todos ficaram em silêncio. O presidente da maior potência mundial estava certo, e todos o obedeceram. Não podiam se desesperar por uma notícia pouco provável. Não até terem provas concretas.
— Obrigado, senhor Presidente. — Agradeceu Ricardo, que olhava os rostos envergonhados de cada um. — Fui autorizado pela NASA a divulgar essas informações aos senhores e senhoras. Sei que parece loucura, mas o que estou dizendo é verdade, e tenho provas que irei mostrar a seguir. O propósito desta reunião é alertar cada membro de seu país ao que irá acontecer dentre uma semana. — Ele tomou fôlego e continuou lentamente. — Também não acreditei quando recebi a notícia, mas quando vi as provas, fiquei desesperado. Uma catástrofe ocorrerá e o desastre é inevitável.
— Senhor Ricardo. — Interrompeu o Presidente, que continuava com o copo na mão. — Não tem como você apressar a conversa? Os senhores desta sala estão inquietos e têm obrigações a cumprir...
O presidente sabia que os membros da bancada não iriam permanecer ali por mais tempo, escutando — o que para eles era — bobagens.
— Com certeza, senhor. — Ele arrumou seus óculos sobre o nariz e retirou do bolso de seu jaleco branco um pequeno controle. Ele apertou um botão qualquer, e uma imagem de uma bola gigante de fogo foi mostrada na tela que antes apresentava o rosto de Ricardo.
— Isso que vocês estão vendo, senhores, é uma imagem ao vivo do nosso querido Sol. — A voz parecia narrar a imagem, fazendo tudo aquilo parecer um documentário espacial chato de TV a cabo. — Gostaria que os senhores prestassem atenção ao Sol.
As imagens mostravam um globo extremamente brilhante. Labaredas de fogo eram jorradas, feito um gêiser de fogo liquido. A tonalidade reluzente tomava formas estranhas, muitas até geométricas, como círculos perfeitos.
— Esse é o Sol que vocês acham conhecer. Esses gêiseres de fogo são, na realidade, erupções solares que estão cada vez mais frequentes, e estão se intensificando a cada dia. Seus raios extremamente fortes podem prejudicar satélites e até mesmo aparelhos eletrônicos, levando até mesmo grandes cidades ao blecaute em poucos segundos. Esse fenômeno é causado por essa grande quantidade de radiação, que é empurrada direto para a terra...
— Mas o que isso tem a ver com a tal "Eclipsia"? — Perguntou a presidente do Brasil, que parecia chocada e encantada com as imagens.
— Tudo, senhora. Câmeras especiais nos mostraram um grande movimento no centro do Sol.
As imagens mudaram de um vermelho alaranjado intenso a um cinza quase preto que mostrava um estranho movimento de enormes veias no meio do Sol, elas pareciam irritadas e prestes a explodir. A radiação ficou mais clara naquela imagem. A câmera mostrava uma grande quantidade de uma massa negra indo a todas as direções, como fragmentos de uma recente explosão.
— Mas que merda. — Balbuciou a presidente brasileira, que parecia indignada com as imagens. — Isso que está dizendo é realmente verdade, filho?
Os rostos curiosos pareciam estar finalmente acreditando na história de Ricardo. E isso os assustava.
— Sim, mas o pior está por vir. Em uma semana, o alinhamento da lua com o sol ocorrerá, criando, assim, um eclipse. Esse eclipse será a ignição final para que o Sol possa disparar todo o seu poder sobre a terra e todo o nosso Sistema Solar.
Uma nova imagem apareceu na televisão, só que, desta vez, tratava-se de uma simulação computadorizada. Todos os planetas estavam alinhados, o Sol não aparecia nestas imagens, a lua o encobria como se fosse do mesmo tamanho. Tudo ficou escuro como se não houvesse luz, e, em seguida, uma faísca surgiu ao longe, como um fósforo sendo riscado, e, segundos depois, uma incrível explosão foi vista.
Os rostos encaram a cena assustados, seus corações a milhão quase saíam do peito ao verem a cena que surgiu a seguir a explosão.
Todos os planetas simplesmente sumiram, não restando nada, apenas escuridão e pedaços de pedras gigantes, que rodopiava e se chocavam entre si.
As imagens sumiram, e, novamente, o rosto de Ricardo apareceu. Uma fina lágrima descia por sua bochecha. Ele estava assustado, assim como os rostos a encarar.
— Não podemos fazer nada? — perguntou o Comandante Japonês, que, mesmo se esforçando, arregalou seus olhos minúsculos.
— Deve haver algo a se fazer. — Falou laconicamente uma mulher negra ao fundo.
Um novo burburinho foi iniciado, só que, dessa vez, de desespero. Eles sabiam que iriam morrer. Todos iriam morrer, virariam pó no espaço. Como se nunca houvessem existido.
— Não podemos nos desesperar. — Falou o Presidente dos Estados Unidos, que deixou seu copo de água cair. Suas mãos tremiam e suavam, estava nítida sua preocupação. — Temos que nos manter firmes ante a essa ameaça...
— Você só pode estar brincando, o mundo está prestes a ir para inferno e você pede para ficarmos calmos. — Disse o Comandantes Japonês, alterando levemente a voz.
— Eu só estou tentando manter a cabeça no lugar. Vocês acham que não estou preocupado, assim como vocês? Estou me borrando aqui, mas devemos nos manter firmes, pois uma pergunta me veio à cabeça no momento em que vi estas imagens. — Ele encarou cada um sentado à bancada e continuou com tristeza nas palavras. — Como avisaremos à população que uma catástrofe desta proporção ocorrerá?
As cabeças o encaram, tentando de alguma maneira buscar resposta para algo sem solução.
— Será um caos. — Disse a Presidente do Brasil, que quebrou o silêncio imposto à pergunta do Senhor Presidente.
— Sim, será. E é por isso que temos o dever de manter esse segredo guardado a sete chaves. Essas informações são sigilosas. Não podemos causar pânico na população. As ruas se tornariam... um caos. Mortes ocorreriam, e uma nova guerra se daria início...
— Disse bem, senhor, seria uma terceira guerra mundial. Todos contra todos, sem lei. Isso tem que se manter em segredo. — Concordou a presidente do Brasil.
— Não podemos simplesmente esconder isso de todos. — Contrapôs o Comandante japonês.
— Podemos sim. Se vamos morrer, que seja em paz, não aguento mais guerra, não suporto mais isso. — Mais um presidente demonstrou seu apoio ao presidente dos Estados Unidos.
— Sugiro uma votação.
— Votação? Para matar milhares e mentir. — O Comandante japonês não estava satisfeito com o rumo que aquilo estava tendo. Ele era contra e não concordaria tão facilmente. Não mentiria para seu povo, mesmo sabendo que, no fundo, era o certo a se fazer. Mas não daria o braço a torcer.
— Sim, é o certo a se fazer. — Concordou mais uma vez a Presidente do Brasil.
— Não, não é. Todos têm o direito de saber, não só nós. — O Comandante parecia inconformado com a decisão, não estando satisfeito com a votação. Para ele, tratava-se de um insulto à humanidade. E ele jamais concordaria com tal atrocidade. — Matar bilhões de pessoas sem que ao menos saibam o que as atingiu...
— NÃO VOU VER O MUNDO ACABAR MAIS CEDO POR IMPRUDÊNCIA DE OUTROS! — Gritou, interrompendo e olhando furioso para o Comandante, que pareceu se encolher em sua cadeira.
A sede ficou em silêncio. Todos ali estavam em dúvidas sobre o que deveriam fazer. Dizer a verdade e ver a Terra cair em guerras antes mesmo do eclipse ou mentir e fazer termos paz nos últimos segundos do mundo. A dúvida estava nítida em cada rosto.
— Que se inicie a votação.
— Mas que merda... — Praguejou, apertando os olhinhos minúsculos.
— Quem apoia o segredo absoluto desta reunião, sendo assim, proibido para um bem maior a informação de ser compartilhada com nosso povo? — Perguntou a Presidente do Brasil.
Metade dos convidados levantou a mão, fazendo com que a proposta contrária perdesse.
— Que seja. — Ironizou o Comandante japonês se levantando de sua cadeira e indo em direção à saída. — Bilhões de vidas estão em suas mãos... — Coaxou, olhando para o Presidente dos Estados unidos com desprezo em sua voz. Em seguida, olhou da mesma maneira para a do Brasil, que pareceu desaprovar o modo pouco educado do Comandante.
Todos se levantaram e caminharam até a saída. Não queriam ficar nem mais um segundo naquela sala, precisavam de ar puro. Ar esse que acabaria dentro de uma semana. Ricardo, por sua vez, ficou à espera, encarando os dois únicos seres que permaneceram na sala.
— Espero que isso seja realmente o certo a se fazer. — Disse a Presidente do Brasil, tentando conter a tremedeira que parecia ter se intensificado no braço esquerdo.
— Espero que sim.
Os dois se encararam por alguns segundos e saíram lentamente da sala. O presidente olhou pela última vês o gabinete, encarando Ricardo e dizendo antes de sair:
— Que Deus nos ajude.
****
— Sr. Presidente, a coletiva começa em três minutos.
Ele se virou e olhou pela última vez para o céu, abaixou a cabeça, olhando para o chão e caminhou, ensaiando o que diria para o povo.
Tudo foi extremante ensaiado, várias e várias vezes. Ele revisou o texto que criou em sua mente, mas, mesmo assim, estava se sentindo envergonhado em ter que mentir sobre algo tão importante.
Mas era o certo.
Não era?
Nova York — Central Park2020 Meados de março — Hora incertaA tênue luz alaranjada iluminava uma estrada deserta qualquer.A neve rodopiava lentamente seus minúsculos globos de gelo, que se acendiam ao contato com a luz. Árvores retorcidas, ressecadas e cobertas por neve, davam um ar assustador a quem as olhava.Mostrando indícios fantasmagóricos de um Central Park que há muito tempo não existia.Sobre uma estrada encoberta por gelo, um ser desafiava a densa tempestade de neve que caía sem parar. Ele cavalgava em cima de um cavalo marrom escuro.A tocha tremulava uma chama quase morta, que insistia em desafiar os ventos gelados do dia que se transformara em noite. Sobre o cavalo, um jovem rapaz com longos cabelos e barbas ralas olhava para frente, como se procura
Se pudesse descrever o Inferno, ele seria uma data: 22 de agosto de 2012. O dia em que mostrou seu verdadeiro rosto.Os gritos de pânico ainda me atormentam, o cheiro de morte ainda me acompanha como se fôssemos amigos inseparáveis. Naquele dia, minha vida mudou, milhares de humanos se transformaram em monstros, tiveram suas almas sugadas e transformadas em criaturas sedentas por carne humana. O Apocalipse era apenas o começo, e seus Cavaleiros se apresentaram um a um, até finalmente surgir a Morte em forma de uma bola de fogo destruidora e imbatível, que foi capaz de mudar para sempre o rumo natural da Terra. A sobrevivência se tornou minha principal meta, e foi o que fiz nesses oito últimos anos.Sobrevivi!As redes de comunicações globais simplesmente deixaram de existir. Celulares, Internet, jornais e rádios; pararam de transmitir seus noticiários. O Comunismo e a corrupção deram lugar à luta escassa pela sobrevivência, o
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Acordei com o frio e a dor latejante vir de minha nuca. Abri os olhos com dificuldade tentado me acostumar com a luz incessante acima de mim. O despertar instantâneo me deixou confuso. Estava deitado olhando para um teto repleto de teias de aranhas e com a uma luz fluorescente que ousava piscar a cada segundo como se em breve simplesmente de uma hora para outra nunca mais ficaria acesa me mergulhado de vez a escuridão sufocante do lado de fora daquelas paredes. Tentei levar a mão a nuca para averiguar de onde exatamente vinha a dor, mas para minha infame surpresa minhas duas mãos estavam algemadas. Me desesperei. De alguma maneira aquela situação acabou acarretando uma terrível sensação. Uma sensação claustrofóbica e pesada me fazendo perder o fôlego e ter palpitações constante em meu coração. O que tinha feito para ter sido algemado e largado em uma sala que parecia estar deserta a não ser por um Josef que se retorcia tentado sem sucesso se livrar das al