CAPITULO 04

No dia seguinte...

BARAN CELIKKOL

Sorrio ao me lembrar da expressão de Lisa, que não escapou de fazer o que eu havia dito ontem. Mel estava tão empolgada e conhecendo Elisabete, sabia que jamais deixaria de fazer algo que viesse a deixar a pequena triste. Acredito-me que ter que enfrentar uma semana dos treinamentos que Al Capone me infligia, ainda era muito melhor que ter que passar horas assistindo aquela porquinha insuportável e se não fosse o desenho favorito dela, eu juro que já teria dado um jeito para exterminar desde mundo algo tão irritante. 

Deixo a coisa irritante de lado e volto os pensamentos para minha mulher, ontem durante a madrugada, mais uma vez Lisa acordou sobressaltada, o rosto banhado pelo suor, sua respiração estava alterada e, o medo era predominante em suas feições, o que fez meu sangue borbulhar em cada veia pulsante do meu corpo ao lembrar que o motivo por ela estar daquele jeito, era o maldito desgraçado do Ricardo. 

Sempre fui um predador, mas alguns meses se passaram e, por mais que já tenha revirado todos os buracos mais obscuros, aquele rato imundo parece ter evaporado da face da terra, porém, algo no meu interior sempre se agita intensamente toda vez que lembro do que ele tentou fazer com ela e sobre seus planos em relação a pequena faladeira, o que me dá a confirmação de que o infeliz está vivo e cedo ou tarde, ele vai sair do seu esconderijo e virá direto para minhas garras. E quando isso acontecer, eu juro que Ricardo Evans vai desejar jamais ter nascido, porque o inferno ele vai conhecer em vida.

— Chefe, chegamos!

Meus pensamentos são interrompidos quando ouço Alex avisando que chegamos ao nosso destino. Com os olhos fixos na imagem à minha frente, observo o lugar que se tornou o meu segundo lar. Embora tendo agora uma vida que está dividida entre a máfia e ser o governante desse país, nada se compara com o submundo, o lugar que sempre será o meu verdadeiro lar. Aqui eu sou a lei e embora cercado de aliados, os traidores sempre surgem, porém, Baran Celikkol não precisa se esconder atrás de uma pele de cordeiro, aqui eu sou eu mesmo e o lobo não hesitará em devorar a sua presa. 

Afastei as lembranças e saí do veículo ao lado de Alex, segui para dentro da sede da nossa organização, mas para estar longe dos meus compromissos presidenciais, novamente Elliott foi acionado, assumindo assim o meu lugar e desta forma, tudo fica sob controle. Alguns minutos depois, já estávamos nos aproximando das portas duplas que davam acesso à sala de reunião, depois de algumas passadas, me detive assim que a porta foi aberta por Alex, todos que estavam sentados em volta da mesa desviraram o olhar em nossa direção. De repente, senti uma lufada de ar escaldante próximo ao meu pescoço e todos os órgãos dentro da minha caixa torácica começaram a funcionar num ritmo alucinante. Minha mandíbula tremeu e por alguns segundos, senti o ar sendo tragado dos meus pulmões. Quando o desconforto se dissipou um pouco, dei alguns passos e o meu olhar ficou cravado rumo ao lugar onde estava Estevão e Michael, novamente a sensação ruim se intensificou e meus pensamentos se misturaram até se tornaram um só, o tempo pareceu que havia parado ao meu redor e um silêncio constrangedor tomou conta do espaço, até que a temperatura do meu corpo voltou ao normal, tirando-me do momento de estupor que me encontrava. Dei uns cinco passos a frente, sentei-me em minha cadeira e em seguida o som da minha voz ressoou no ambiente.

— Vamos dar início à reunião.

Horas mais tarde...

MICHAEL CLARK

Cada palavra que saia da boca daquele desgraçado, causava-me um desconforto tão grande, que um nó se formou em minha garganta, sufocando-me. Horas torturantes, porém, depois de tanto tempo, apareceu o momento ideal para acabar com a corja de puxa saco e o maldito de uma só vez.

Durante a reunião, todo um esquema foi traçado, afinal, este era o maior carregamento que recebíamos no ano. Além dos milhares de quilos de heroína, cocaína e crack, cerca de 30 toneladas de armas e explosivos estavam dentro do navio que chegaria amanhã nas proximidades do Porto de Long Beach. Momento esse que pelas ordens do capeta, os próprios membros do conselho serão responsáveis, juntamente com Celikkol, em receber a mercadoria e dar a ela o destino que foi traçado durante a reunião. Com a alta quantidade de armamentos, utilizados somente pelo exército americano, o próximo passo será uma invasão ao território russo, tendo assim o controle da Bratva. Entretanto, algo que ficará somente nos planos dos infelizes, pois jamais engoli o fato de Al Capone ter nomeado o maldito como seu sucessor, um bastardo que o infeliz amava como um filho. Um miserável que passou a ser idolatrado como rei da máfia, o qual tem autoridade máxima em controlar tudo que fazemos.

Sabia desde o momento que Massimo queria destruí-lo, mas tinha ordens expressas de somente ficar de olho em tudo que acontecia, até o momento em que o meu verdadeiro líder, enfim, pudesse acabar com todos. Contudo, embora recebendo um alto valor durante todo esse tempo, eu jamais soube a sua verdadeira identidade, até aquela noite, que ao entrar no quarto com umas das prostitutas da casa de luxo, me deparei com ele dentro do recinto, antes que viesse a pegar a minha arma, soube que estava diante da "Coruja", o qual é o verdadeiro herdeiro da máfia mexicana e em breve, o dono de tudo que hoje pertence ao verme do Baran. Sendo assim, era chegado o momento de passar a ele todas as informações para que todos os abutres fizessem uma viagem sem volta.

Pego o meu celular e no terceiro toque o som da voz grave ecoou preenchendo meu ouvido.

— Alô!

— Tenho informações que serão de grande serventia para que você acabe de vez com a Cosa Nostra... — comecei a relatar tudo que havia acontecido e pelo tom de voz dele, sabia que assim como eu, ele estava ciente que este era o momento certo de fazer uma verdadeira chacina e dar um tom avermelhado nas águas azuladas da Baía de San Pedro. 

— Você sabe que nada poderá dar errado.

— Se o nosso pessoal não matar aquele traste, eu mesmo me encarrego de completar o serviço.

— Os meus homens estarão bem equipados e a ordem será reduzir todos a pó...

Trocamos mais algumas palavras e instantes depois a ligação foi encerrada. Meus olhos deslocam-se para a porta do meu escritório que foi aberta pela minha bela mulher, fico observando cada movimento seu enquanto ela, em passos apresados, caminha em minha direção, alcançando a mesa e movendo-se para trás dela, parando próximo a minha poltrona. Logo, sentou-se sobre as minhas pernas e seu cheiro inebriante me deixou alucinado.

— Vejo que você está de bom humor.

— Você nem imagina o quanto o dia de hoje foi cheio de boas novas e logo faremos uma viagem em comemoração a uma nova jornada, onde o seu marido terá tudo que sempre desejou. 

— Se é assim, podemos começar a aproveitar agora mesmo.

Dou uma gargalhada profunda e aqueles ratos nem imaginam que serei eu, o único sobrevivente de um legado que chegará ao fim e com ele, a távola retangular será extinta.

 

RICARDO EVANS

Abro a caixa de charutos e pego um, acendo e fumo com prazer. Meus olhos estreitaram-se enquanto observava entre a fumaça do charuto, o ambiente a minha volta. Um quarto totalmente luxuoso dentro da casa de luxo mais famosa do país, por enquanto seguirei as ordens daqueles dois, porém, sempre desejei aquela puta que acabou entregando ao infeliz, aquilo que me pertencia, ainda criança, a sua beleza me deixou fascinado e mesmo sabendo que estávamos ligados por laços de sangue, eu a desejava a cada dia com mais intensidade.

O idiota do meu irmão sempre foi o queridinho dos nossos pais. Casou-se com aquela que eu tinha visto primeiro, mas a beleza de Elisabete era algo incomparável, uma verdadeira Vênus que deixava a minha pele ardente, contudo, aquele ser tão pequeno chamado Melanie, era ainda mais bela. Aquele par de olhos azuis penetrantes, me envolveram de tal forma, que eu queria as duas somente para mim. No entanto, por um momento de embriaguez, acabei perdendo o controle e mesmo ameaçando aquela idiota, eu precisava sair de circulação, pois caso ela viesse a dizer algo, além da polícia, eu teria que prestar contas com os desgraçados que estava devendo. Percorri um destino sem rumo certo e foi desta forma que acabei parando justamente sob os domínios The Owl. 

Os anos se passaram e quando enfim decidi voltar, foi quando soube que as duas estavam sob o jugo do futuro presidente. A raiva me dominou e não hesitei em aceitar o acordo que me foi oferecido. Pelo ódio que vi nos olhos daqueles dois, sei que o plano é acabar com todos ligados a Baran Celikkol, mas aquela fedelha será minha e, desta forma, a alma de Lisa jamais encontrará a paz ao saber que posso ter fracassado em tê-la para mim, mas a pequena Mel, aquela por quem ela enfrentou vários obstáculos, será minha para sempre.

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