Uma semana após a união ter sido selada, embarquei no iate particular mais luxuoso de Chicago.

Ao me dirigir à porta do salão de festas, me deparei por acaso com Leonardo aconchegado num sofá, segurando nos braços uma mulher de curvas marcantes. Com cuidado, ele lhe colocou um colar de esmeraldas, reluzente sob a luz ambiente.

— Isso é precioso demais. Será mesmo que posso usá-lo? — Perguntou a mulher, com uma ponta de receio e encantamento.

Leonardo sorria de forma condescendente ao responder:

— Minha querida, este colar foi comprado especialmente para você. Minha mulher só merece o melhor.

Enquanto ela se aninhava em seu abraço, esfregando a cabeça contra ele de forma mimada, completou:

— Vou trocar de vestido para combinar com essa belezura.

Naquele exato instante, empurrei a porta e adentrei o salão. Os amigos de Leonardo trocaram olhares cheios de significado e, quase que em uníssono, romperam em gargalhadas.

— Leonardo, chegou a sua namoradinha!

— Ela é quase um cachorro de guarda, não desgruda de você nem por um instante!

— Mesmo com o noivado acertado, você deixa ela te seguir em qualquer reunião de amigos? Nem é preciso ser um grande evento!

Segurando sua taça de vinho, Leonardo franziu o cenho ao ouvir as provocações. A impaciência transparecia em seus olhos, sem disfarce algum.

— Medolina, você está com tanta ansiedade assim? — Ele replicou num tom despojado, mas com uma frieza que cortava o ar. — Sem nem me consultar, nossos pais já decidiram o noivado, e agora toda Chicago sabe que você vai casar comigo. Que audaciosa!

Senti meu peito dilacerar, como se mil agulhas o perfurassem. Na vida passada, mesmo sendo frio, Leonardo ao menos se mantinha como um marido competente diante de todos. Agora, sequer se dignava a manter as aparências.

Num tom sereno, respondi:

— Nunca foi necessário o seu consentimento. Afinal, o homem com quem vou me casar não é você.

Um breve silêncio se fez sentir, antes de o salão explodir em risos altos. Os amigos de Leonardo riam tanto que mal conseguiam se segurar, encarando-o com uma expressão fingida de surpresa e zombando:

— Leonardo, sua noiva está brava! Anda logo a acalmando, senão daqui a pouco ela vai prometer se destruir!

— Medolina, agora você até domina o jogo do querer e do não querer? — Ele se aproximou, passo a passo, sua presença se impondo de forma esmagadora. — Com a minha família Vittorio e a sua unidas, se não for comigo, com quem mais você se casaria?

Quando eu estava prestes a responder, ele se inclinou abruptamente, aproximando o rosto do meu e sussurrando com voz quase ameaçadora:

— Quanto ao noivado, posso relevar certas coisas. Mas saiba que posso te oferecer um casamento grandioso... Só não permito que seu nome conste no nosso livro da família.

Todos na família mafiosa sabiam que somente uma esposa oficialmente reconhecida era registrada no livro da família, tornando-se parte do legado familiar. Sem esse reconhecimento, mesmo que o casamento fosse celebrado, ela não passasse de um acessório prescindível.

Meu coração disparou num misto de surpresa e amargura. Na vida passada, naquele exato momento, Leonardo havia se submetido às vontades da família e logo se casava comigo. Seria possível que ele, agora, também tivesse renascido?

Antes mesmo que eu pudesse dar uma resposta, uma voz suave e trêmula irrompeu na conversa:

— Meu leão, meu Leonardo...

Ergui uma sobrancelha ao identificar Dora, filha adotiva de meu pai e minha melhor amiga. Há dez anos, eu havia insistido para que meu pai acolhesse aquela menina que vagava pelo subúrbio dos distritos de luzes vermelhas. Mas jamais imaginei que ela seria a responsável por pôr fim à minha existência na vida passada.

Percebendo a mudança em minha expressão, Dora agarrou com força seu vestido, com os olhos marejados de emoção, dizendo com uma voz embargada:

— Acabei de saber que vocês vão se casar em breve. Desejo de coração que sejam muito felizes.

Mal terminou de falar, e as lágrimas começaram a rolar, fazendo com que ela se virasse e saísse apressada do salão.

No instante seguinte, Leonardo largou sua taça com força, o semblante se tornando sombrio. Sem hesitar, ele partiu em sua direção, como se quisesse alcançar a distância emocional que se formava.

— Está satisfeita agora? Achar que fazer ela chorar te enche de orgulho, sua mulher maldosa? — Ele bradou, com voz repleta de desprezo, enquanto corria atrás dela.