Hassan
Não consigo falar, ainda estou com os pensamentos presos ao que aconteceu. Absorto em pensamentos negativos e aborrecimentos. A dor por tudo que vi e ouvi ainda é grande no meu peito.
Eu encaro Karina, vejo a preocupação em seu rosto.
— Não, esse sangue não é de Helena.
Ela estremece, pega a minha mão e me leva até o sofá.
— Vem, sente-se perto da lareira, você está gelado e parece em choque. O que aconteceu? — ela pergunta, angustiada.
— Helena estava por trás do assalto no hotel.
— Deus! Esse sangue é dela? O que você fez, Hassan?
Meus olhos vazios se tornam vivos e eu contesto:
— Não! Esse sangue é de Tarif.
Ela estremece. Eu me sento no sofá e me sinto bem com o calor aquecendo minha pele, meus osso
A semana se passou com muitas mudanças.Raissa não está mais morando em sua casa. Ela estava ali por causa de Helena, que adorava ostentar. Raissa resolveu se mudar e morar no hotel. E mais, Hassan a colocou para fazer alguns trabalhos na administração. E ela está tirando carta.Hassan me disse que Raissa está reagindo muito bem à sua nova vida.Não é para se admirar, Helena era uma mãe ausente. Quase um nada na vida da filha.Eu voltei a trabalhar, mas diminuí minha carga horária. As clientes já foram informadas que trabalho até as três horas da tarde. Estou saindo três horas mais cedo.Hassan montou um ateliê para mim. Tenho uma bela mesa de projetista e vários materiais, como lápis de todos os tipos, amostras de tecidos, tudo para eu poder criar em casa.Aquela tempestade que enfrentamos com a morte de T
KarinaAbro meus olhos com dificuldade. Agora acordo no mesmo horário de Hassan. Ele já está desperto, olhando para mim. Quando nossos olhos se encontram, ele sorri.— Sabah alkhayr — ele diz “bom dia” na sua língua.— Sabah alkhayr.Ele se inclina e me beija, um beijo suave e profundo. Isso transborda meu coração de felicidade. O inverno está rigoroso, é difícil sair da cama sabendo que teremos de enfrentá-lo quando formos para o nosso trabalho. É sempre uma luta sair da cama.— Você sabe que se quiser não precisa trabalhar, não é?Eu sorrio.— Sei, você sempre me lembra disso.Ele suspira.— É, eu sei. Às vezes acho que ainda não se deu conta disso.— Não gosta de me ver inde
No dia seguinte, acordo no horário e tomamos café juntos. Mas, como sempre, quando isso acontece, saio atrasada. Chego ao trabalho oito e vinte, a porta de vidro ainda está sendo instalada. Dois senhores estão trabalhando nisso agora. Fiz questão de pagar o conserto dela.Eu deveria fazer Vitor pagar, mas não quero contato com ele.Quando estou para sair do carro, percebo que não peguei minha bolsa. Peguei as chaves do carro, mas a esqueci na cadeira.Droga!Vou ter que pedir dinheiro emprestado para uma das meninas no horário de almoço. Frequento um restaurante aqui perto, vegetariano. Vou sempre almoçar com Ana, uma vendedora novata com a qual fiz amizade. Não peço para ela, pois vive dura. Ela gasta mais do que recebe. E, como estamos perto do pagamento, com certeza ela está só com o dinheiro do seu almoço.— Bom dia — digo para o
No dia seguinte, quando acordo, vejo o lado vazio na cama. Hassan já se levantou. Uma rosa e um bilhete estão no seu travesseiro. Escuto sons no banheiro.Sorrindo, cheiro a flor e leio o bilhete.Karina, Com todas as fibras do meu ser, tenho um suspiro infinito de gratidão por haver te conhecido. Intenso e pleno de alegria, que se reflete em cada estrela e reverbera junto à imensidão do Universo.Quando estamos juntos, no instante em que nossos lábios se unem, meu corpo sente um prazer infinito. Em sua alma encontro a minha própria alma um dia por mim esquecida.Suas palavras fazem meu coração acelerar, inflar de alegria. Fico encantada com elas. Ele sai do banheiro de robe branco enxugando os cabelos. Eu sorrio para ele.— Amei!Ele senta ao meu lado na cama, e eu me sento. Nos abraçamos. Ele toma minha
Quinze dias depois, sábado…Uma música árabe toca no som da mansão, na grande sala, enquanto a neve cai lá fora. Eu amo esta época do ano. Raissa está conosco. Não gosto da conversa que Hassan está tendo com ela. Raissa irá conhecer seu pretendente. Um rapaz de uma boa família egípcia. Ela parece animada por conhecê-lo. E o pior de tudo é ouvir que não foi fácil conseguir um pretendente por causa do seu histórico familiar. Pelo que Helena fez, a família do rapaz só aceitou por serem muito amigos de Hassan.E as coisas acontecendo naturalmente?A armação do destino?É tão estranho isso!Raissa sorri de orelha a orelha quando Hassan fala que o encontro será aqui na nossa casa, amanhã.Como ela pode aceitar um negócio desses?Quando est&aa
À medida que os ponteiros do relógio se aproximam do horário do almoço, Raissa fica mais nervosa. Já tínhamos previamente orientado os seguranças com a entrada do carro dos Akhenaten.— Você acha que estou bem mesmo neste vestido?Eu balanço a cabeça com um sorriso.— Você está perguntando para a pessoa errada, eu sou suspeita para opinar. Lembre-se de que esse vestido tem a minha assinatura. E você está linda. Como não estaria? Eu que fiz!Risos descontraídos.O vestido é preto, todo bordado, com lindos detalhes em branco nas pontas, nas mangas e no decote canoa.Raissa, então, solta o ar e vai até o espelho da sala de jantar e se olha novamente. Ajeita as madeixas negras. O cabelo dela está solto. Está comprido, um pouco abaixo dos ombros.Hassan entra na sala vestido como um &aa
Um mês e meio depois…Hoje é quinta-feira. Daqui a uma semana é aniversário de Hassan. Raissa e eu estamos combinando de fazer uma festinha surpresa para ele. Ela está super animada. Só chamaremos amigos de quem ele realmente gosta, tem intimidade e se sente bem. Só que tem um porém: os egípcios não fazem festa de aniversário. É algo mundano para eles.Raissa ficou de fazer a lista de convidados. É claro que os Akhenaten estão na lista. Chega daquelas festas extravagantes que Helena adorava dar para satisfazer seu ego junto à sociedade. Hassan concorda comigo, ele tem se mostrado um homem de família, sei que ele adora cultivar as verdadeiras amizades, pois ele é muito verdadeiro.Acerto alguns detalhes com Raissa. Ela me escreve, então:“Eu detesto escrever aqui.” “Só es
KarinaDeus! Estou grávida!, falo alto comigo mesma enquanto dirijo.Huhuhuhuhu!Estou indo para casa. Estou agitada com a notícia. Não consegui voltar ao trabalho. Nem acredito que engravidei e poderei dar essa notícia no aniversário dele, que será daqui a três dias. Estou saltitando de alegria.Logo que chego em casa, tiro minha roupa e olho minha barriga em frente ao espelho do quarto. Não dá para ver absolutamente nada. Nem acredito que ele ou ela está aqui dentro, se formando.Limpo minhas lágrimas e vou em direção ao banheiro, tomo uma ducha quente e me olho novamente no espelho, os olhos fixos na minha barriga. A aliso como se já estivesse grande.Visto uma calça de lã preta e uma blusa de cashmere de gola alta vermelha. Hassan não gosta muito de calça, mas e