Capítulo 4

"Seja o piloto de suas histórias e voe o mais alto que conseguir."

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Geovana

Continuamos conversando por um longo tempo, ele me contou um pouco da sua infância difícil, que tinha perdido seu pai aos sete anos de idade por bala perdida e foi incentivado pelo irmão mais velho à vida do crime, o mesmo faleceu numa invasão no morro.

Sua mãe que se chamava Cláudia, nunca concordou com essa sua vida no crime, mas segundo ele, era a única opção que tinha para sobreviver. Morava, em uma casa na favela, com sua mãe e irmã mais nova chamada Bruna, que segundo ele, era a sua dor de cabeça

Logo em seguida contei um pouco da minha vida, de onde eu era, onde estudava, que o meu pai era um policial federal aposentado e tinha se tornado um alcoólatra, que vivia espancando a minha mãe e tentando abusar de mim.

Quando toquei nesse assunto, os meus olhos se encheram de lágrimas e no mesmo instante senti as mãos do Bernardo no meu rosto e me puxando para um abraço.

Ele era tão amável e carinhoso comigo, como ninguém nunca tinha sido antes. Ao seu lado, eu me sentia tão protegida, tão querida e amada.

"Como sou uma idiota!" — logo pensei

Ele deve agir assim com todas as mulheres, para conquista-las e depois que consegue o que deseja, as descarta como se fossem um lixo ou uma mercadoria inútil. Já ouvi e assisti muitos casos parecidos nos noticiários e também na internet, à respeito de violência contra mulheres nos morros.

Lembrando de tudo isso, me afastei dele instantaneamente, me levantei e fui caminhando em direção a saída do morro. Imediatamente ele me puxou pelo braço, devagar, porém firme e foi logo dizendo:

— Aonde tu pensa que vai?

— Me solta garoto, não pedi para estar aqui. Vou para minha casa. — respondo puxando meu braço de volta, mas ele me segura mais forte colando nossos corpos e deixando aquela boca perfeita a milímetros de distância da minha

"Ai que vontade de beijar e me perder nessa boca gostosa. Mas não posso, estou numa enrascada e preciso sair daqui o quanto antes. Tenho que esquece-lo. Porém não sabia como."

— Você não vai a lugar nenhum. Não vou correr o risco de tu sair daqui e nunca mais voltar. Tô amarradão em tu Geovana. Desde que te conheci não consegui ficar com mais ninguém. Vou te dizer, que eu até tentei, mas nos meus pensamentos só vinha você. Nunca senti essas paradas antes, tá ligada!? — a cada palavra que ele dizia, meu corpo tinha uma reação diferente, e para piorar, ele não parava de olhar para a minha boca enquanto me puxava para cada vez mais perto do seu corpo

Mas, reajo e o empurro para longe de mim.

— Para de palhaçada Bernardo. Por acaso tenho cara de idiota? — falo nervosa desviando o meu olhar do dele, pois eu já havia percebido que aquele par de olhos cor de mel, era o passo para a minha perdição

— Eu quem tô, como um verdadeiro otário, desde que te vi. Fico igual um babaca, só pensando em você e por isso, já virei esperto dos parceiro. — ele fala coçando a cabeça e eu já toda derretida

Mas, volto a si e me afastando dele, falo séria:

— Tenho que ir embora. Já passa das treze horas. Com certeza, minha família, deve estar preocupada comigo. Preciso ir. Depois conversamos novamente. Eu prometo. — falo no susto, prometendo algo que eu não sabia se conseguiria cumprir, por mais que desejasse reve-lo, eu não poderia

Mas, para o meu alívio, ele acredita em minhas palavras e diz:

— Tudo bem. Vou confiar em tu. Vou te levar embora. Mas, se tentar fugir, te encontro até no interno se for preciso. — assinto e mais que depressa pego minhas coisas e vou até o carro

Entramos no carro e já estávamos descendo o morro, quando de repente cruzamos com um homem, que usava uma fuzil nas costas, uma pistola na cintura, tinha um cordão de ouro grosso de três voltas no pescoço e em cima de uma moto tinindo de nova.

Ele fez um comprimento com o Bernardo, não entendi o que significava, mas deve ser o modo como eles se tratam aqui no morro. Ele me olhou com uma cara de poucos amigos, mas isso não me interessava. O que eu queria mesmo, era ir embora o mais rápido possível, para não ter que dar explicações em casa. Mas, vou ter que confessar, esse sujeito da moto, me causou arrepios e não foram nada bons.

(...)

*************

Danilo Gomes "DG"

Fala aí pessoal. Sou o Danilo, mais conhecido como DG. Sou o chefe do morro da Rocinha. Mando nessa porra toda aqui, desde moleque. Moro com minha mãe Joana. Baixinha marrenta pra cacete, mas tenho que cuidar dela, é a lei, fazer o que né!? Família é família, são a minha base e o meu chão, tá ligado!? Também tenho o meu amigo e parceiro da vida do corre, que se chama Bernardo, o BN. Nos conhecemos desde pequenos. Somos nascidos e criados aqui no morro juntos, como irmãos. Mas, de uns dias para cá, o BN tá todo estranho. Não tem pegado mais puta nenhuma. Vai pros baile, mas volta cedo. Sei lá mermão, o cara deve tá amarrado em alguma vadia por aí e não quer dizer. Deve ser mulher de algum fardado. O BN é foda cara, só faz merda, esse pela saco do caralho. Vou ter que levar um lero com ele agora, antes que ele meta os pés pelas mãos com essa porra de coração mole.

Sai da boca, passei a visão pros vapor perguntando se tinham visto o BN e o menor disse que tinha avistado ele no carro com uma morena indo pro mirante.

"Porr@! O BN trouxe a mulher pra cá, mas que caralho viu."

Subi na moto e sai cantando pneu, cheio de ódio já. E quando chego na metade do morro, dou de cara com o carro do BN e tinha uma garota com ele. Até que a mina era bonita, mas mina do meu parceiro, é homem pra mim, tá ligado.

Parei a moto, fiz toque de mão com meu parceiro e olhei bem sério pra garota com ele.

— Coe BN, é assim agora irmão? Trás tuas peguetes de rua aqui pra comunidade, mano? Sabe que essas merdas não pode acontecer. E se essa mina aí for alguma informante e fuder com nós, véi? Tu não pensou nisso cacete? — falei e levei um baque com BN me encarando, essa era novidade pra mim, nós nunca tivemos desentendimento e menos ainda por conta de mulher

— Peguete de rua é o caralho irmão. Respeita minha fiel, nessa porr@. O nome dela é Geovana rapá. E quero que tu respeite ela irmão ou caso contrário, nós vai ter problema pela primeira vez na vida parça. — ele dizia com puro ódio e a tal garota me olhava assustada

— Tá ficando doido BN, perdeu a noção do perigo porra? Só não te dou um tiro agora mesmo, porque tu é meu irmão de vida rapá. Mas, depois vamo ter um lero na miúda só nós dois, tá ligado! Te espero lá na boca parceiro, em dez minutos!

Sai cheio de ódio de lá indo direto pra boca, enrolei um baseado e fiquei de boa, só pensando no que tava acontecendo com o BN.

"Porra! O que será que essa mina fez com meu irmão cara? Nós nunca brigamos e ele nunca me enfrentou assim."

"Puta merda! Ele tá gamadão, com os quatro pneus arriados pela garota. Ela até que é bonita, mas deixar meu parceiro assim já é demais, com certeza deve ser alguma amarração ou um troço parecido. Só pode ser isso, porque uma parada dessas da noite pro dia não tem explicação. Preciso é mandar fazer um descarrego nesse morro, porque a parada tá pesando." — pensei enquanto a brisa tomava conta da minha mente

Cê tá louco! Nunca vou me apaixonar por ninguém, nenhuma mulher presta, são tudo vadias, interesseiras, só servem pra foder um pouco e tchau. Tá doido irmão, eu me enroscar com ninguém, sou bicho solto, sem sentimentos e sem essas merda de coração mole. Não tenho sentimento por ninguém, é assim, e tô passando muito bem obrigado. Passou no meu caminho e vacilou, é bala na certa, seja homem ou mulher.

Tenho as minhas vadias, né?! Sou homem e tenho minhas necessidades, mas é só uma foda mesmo e rua. Sem beijo, sem abraço e sem sentimentos. Esse sou eu, fazer o quê né? Não falta quem goste e muito menos quem não fique louca por uma foda e um guenta bem dado do DGzinho aqui né!? Mas essa porra de ficar emocionado, a mermão, isso é fora dos eixo e passa reto do meu trajeto.

Continuei pensando nessas merda e nem me toquei que o tempo voou, até que fui surpreendido com o BN empurrando a porta todo revoltadinho. Apago meu back e me sirvo de um rabo de galo. Encaro BN na tranqüilidade e so uma parada surge na minha mente:

"É agora que o caldo vai entornar de vez!"

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