Por dentro, o apartamento quase que vazio e escuro o assustou um pouco. Faziam tantos anos que não morava sozinho, que não se mudava, que a ideia de voltar aos tempos em que saiu de casa como um ratinho assustado pelo mundo lá fora o deixou extremamente melancólico.
As paredes estavam levemente descascadas, pintadas em um branco tão gélido e morto que o fizera se arrepender de não ter feito o básico antes de se mudar propriamente para lá. Mas o mais importante estava de pé: um colchão fofinho de uma cama de casal – onde dormiria sozinho -, alguns salgadinhos e doces para passar a noite, a internet que já estava instalada na maioria dos apês daquele bloco e... o banheiro funcionando. Ninguém precisava de mais do que aquilo por uma ou duas noites – o tempo em que levaria para que seus móveis coQuando a manhã de segunda-feira trouxe a obrigação de ir trabalhar, Ethan agradeceu aos deuses por ter pedido para que ficassem em seu lugar. Seu corpo não queria se manter de pé, e ele custou levantar do colchão para escovar os dentes e ficar minimamente descente – mesmo que fosse para passar o dia assistindo série, fugindo do mundo real.—Bom dia, Sr. Robin... quer dizer, Erick. – Zayn invadiu a sala do loiro, com pilhas e mais pilhas de documentos. A parte burocrática e super chata à qual Erick cuidava.—
Dizem que o tempo cura todas as feridas, desde que elas não precisem de pontos e essa opção (a de receber os tais pontos) esteja fora de cogitação.Um mês lento e tortuoso fora embora. À cada semana que se passava, Erick sentia que aquele era mesmo o fim de seu relacionamento. Ethan respondia suas mensagens de forma vaga, quase nunca aparecia na empresa – preferindo trabalhar emhome work, e aparentava estar cada dia mais distante. Não dele, mas do mundo de uma forma geral.Percebendo que seus conselhos para ambos e suas tentativas de fazê-los interagirem estavam falhando, só restava ao pobre publicit
Enquanto cruzava os corredores brancos e super limpos do lugar, Ethan se sentia um lixo. A sensação não era nova, mas o fato de precisar estar ali só a intensificava. É que a gente tem mania em achar que precisar de ajuda e demonstrar fraqueza é sinônimo de vergonha.Quando decidiu que sim, precisava enfrentar os seus medos e traumas do passado – se quisesse viver um futuro feliz – o universitário sabia que não seriafácil, e que ele iria morrer de vergonha das coisas que precisaria falar. Caçar seus próprios demônios não era uma coisa boba, exigia muita coragem, por isso, fazer terapia era um desafio e tanto.Prime
Quando o loiro pôs seus olhos diante do garoto de cabelos cacheados, barba por fazer e um belo par de esmeraldas tão brilhantes quanto as dele, seu coração vacilou em uma batida acelerada. Era como se estivesse o vendo pela primeira vez, mas diferente de como realmente fora, Ethan não distribuía um sorriso arrasador e muito menos parecia um menino inocente com sede de ação em sua vida. Ele estava quebrado, na verdade.Erick notou como o sócio da Articus o cumprimentou de forma contida, com um clima estranho e até mesmo desconfortável entre eles, como se fossem dois estranhos ou meros colegas de trabalho indiferentes um para o outro. Depois do escândalo de divórcio, das descobertas que fizera acerca da própria família e de quase perder os dois filhos em uma tentativa desesperada de manter a pose, Luíza conseguiu aceitar a realidade em que vivia sem fantasiar sobre uma vida perfeita.Um pouco longe do ideal, a loira não estava completamente feliz com o caminhar das coisas, mas pelo menos não existiam mais ataques histéricos e negações veementes sobre os rumos aos quais seus herdeiros decidiram tomar em busca de mais autonomia – longe de seu punho de ferro com unhas tradicionalmente vermelhas.Quando Erick dec29 - MÃE
Era um dia comum: o sol irradiava seu amarelado acalorado lá fora, as poucas nuvens que estavam no céu denotavam uma coloração levemente acinzentada pela poluição característica e o movimento em São Paulo era a mesma coisa caótica de sempre.Ethan, ao contrário dos outros dias, não ficaria preso dentro de casa como se estivesse em cárcere de privado dessa vez – durante todo o tempo em que se mudou de apartamento, sua vida social se limitava a ir ao mercado e, agora, às consultas psicológicas.— Olá, seja bem-vindo à Yo
Após a conversa que tivera com sua mãe, Erick decidiu que tentaria seguir seu conselho: conhecer outras pessoas, arejar um pouco os laços sociais e tentar trilhar novas conexões. Tudo bem que ele não era a pessoa mais fácil de se criar amizade, e que a ideia de ir em bares a procura disso parecia meio deprimente e nem um pouco seu estilo de agir, mas talvez não precisasse fazer isso sozinho.O episódio do carro com Zayn ainda rondava sua mente, e todos os sinais indicavam que apostar nele era uma coisa racional a se fazer. Então, dessa vez, seguiria sua intuição – e as palavras de Luísa.
Ao postar aquele vídeo na internet, Ethan já imaginava que algum conhecido bateria em sua porta para saber como as coisas estavam – e ele era muito grato por isso –, mas quando o viu ali, parado com uma expressão de receio misturada com a sensação que apenas os dois poderiam sentir naquele momento, seu impulso de agarra-lo em um abraço apertado falou muito mais alto.Como retribuição, Erick também envolveu seus braços por seu corpo, o apertando de volta. — Vim assim que soube do que você fez. – O escutou dizer meio abafado pelo moletom escuro que usava.