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despedida deplorável

Era inútil dizer que não queria ir, mas também, manifestar  meu desejo em ficar só deixaria meus pais ainda mais preocupados e se eles achavam que não iria agir de maneira rebelde na fazenda, decidi dar à eles esse vislumbre de descanso.

__ pronta?__ papai me questiona e sorrio, tentei não deixar transparecer que vi a tristeza em seus olhos que claramente tentava disfarçar.

__ sim e não, eu não sei o que esperar, faz tanto tempo que não visito o lugar.__ desabafo e ele me abraça, beijando o topo da minha cabeça, com o meu pai a conversa fluía muito bem, ele me entendia e sabia me dar bons conselhos, mesmo que eu não os seguisse fielmente.

Ele me ouvia, algo que com a minha mãe se tornara difícil ao longo dos anos em que fui crescendo.

__ não espere muita coisa, só a fazenda que passou por algumas mudanças e está mais bonita, civilização então, nem se fala...__ brinca e não posso esconder o sorriso.

__ ao menos tem sinal de telefone.__ rebato.

__ quando a rede da cidade funciona, em dias de chuva o sinal vai embora, esteja preparada para viver no mundo real, onde as conversas não podem ser encerradas com uma figurinha.

Olho de relance para o seu rosto e estava sorrindo também.

__ acho que não vou gostar daquele lugar, podemos mentir para a mamãe.

__ e ela me matar assim que descobrir.__ diz e eu suspiro.

__ pai... estou nervosa.__ confesso, apesar de toda a casca de menina rebelde que criei para me defender do mundo, eu ainda era a mesma Emily que corria para os braços meu pai sempre que algo dava errado, seja na escola ou na casa dos vizinhos.

Isso acontecia com bastante frequência até eu decidir mandá-los para a puta que pariu e enfrentar o que tinha medo.

__ eu sei, mas pense, seu avós são pessoas maravilhosas... os seus tios também estarão lá, Damon vai se mudar em breve, sabe que ele mora na cidade, mas prefere o campo, e o seu tia Micha não sairia daquele lugar nem que o amarrasse.__ fala e gargalho.

E pronto a tristeza foi embora dando lugar a um certo entusiasmo.

__ eu te amo papai... obrigada por saber me ouvir.__ digo, dando um beijo em sua bochecha e o fazendo corar.

Fazia tempo que não repetia o gesto que costumava fazer quando criança.

__ eu também filha, você foi a melhor coisa que poderia acontecer na minha vida e da sua mãe, e mesmo sendo assim toda marrenta, aí dentro, b**e um coração enorme, você não me engana Emily Jones, eu conheço a filha que tenho.__ fala, me apertando mais em seu abraço e me sinto acolhida ali.

Ele se levanta, espanta as lágrimas para longe, piscando algumas vezes, pega minha mala, levanto-me e descemos para encarar a minha mãe, que provavelmente já está na porta junto com o nosso motorista.

Irei sentir falta de subornar o Thomas para me levar em lugares que meus pais nem sonham.

Assim que chegamos no portão de entrada, ele fitou-me emotivo.

Ah, não, até você Thomi.

Sorrio, e o abraço.

Foda-se a minha casca, hoje eu amoleceria só um pouco.

Mamãe encarou-me por alguns minutos antes de sorrir e me puxar para um abraço caloroso.

__ eu amo você, por favor filha, pense e se cuide, não me decepcione.__ olhei para ela, vendo seu semblante sério e ao mesmo tempo suave.

__ aí, a senhora está querendo demais, eu sou a Emily esqueceu? __ questionei brincalhona e ela sorriu.

__ é, e nunca é tarde para eu te dar uma surra.

__ mãe! Não gosto de apanhar.

Não da senhora.__ penso comigo e um sorriso malicioso brota em meus lábios e afasto esse pensamento rapidamente antes que ela perceba.

Droga! É um momento fofo, se concentra garota, não era de pensar em coisas profanas.

__ então comporte-se.__ pede beijando a minha bochecha e retribuo o gesto.

__ farei o possível.__ digo tentando convencer nós duas.

Eu não sei o que esperar de Summercity... sorrio ao traduzir o nome em minha mente, quem diabos batiza uma cidade com o nome " cidadeverão "

O fundador deveria ser um jovem sem muito conhecimento de nomes mais criativos, acho até, que ele pensou nas hipóteses, primaveracity... seria pior ainda.

__ Emily... está na hora.__ mamãe diz, e seu tom foi um tanto quanto triste, mas ao mesmo tempo aliviado.

__ estou indo, agora está livre de mim senhora Jones.__ brinco e ela me belisca.

__ se fosse comportada ficaria aqui.__ abro a boca para me defender, mas ela é mais rápida. __ e nem ouse dizer que vai mudar, entre nesse carro e seja uma boa garota, seu tio Micha estará esperando você no aeroporto quando pousar.

__ que maravilha. __ digo sem ânimo e ela suspira, me dando um abraço apertado e o meu pai também.

Eu decidi que não queria que eles viessem comigo, seria doloroso demais para nós três... por mais que  mereça isso, não queria me afastar, no entanto é necessário fazê-lo, eles me amam e devo isso à eles.

Respiro fundo e adentro no carro, sorrio ao ver Thomi limpar a lágrima solitária que ameaçava cair de seu olho.

__ ah Thomi, não chore, e obrigado por me ajudar naqueles lances.

__ senhorita Emily, seus pais não podem nem sonhar com isso... eles me matariam se soubessem aonde me convenceu a levá-la.__ fala e engulo o sorriso que se formava em meus lábios.

Ele deu partida no carro e despejo.

__ Thomi, as masmorras são lugares legais.__ digo e ele freia o carro bruscamente.

__ senhorita!

__ desculpe.__ falo dando um sorriso de lado, eu não sabia se ele tinha medo de mim ou do que meus pais poderiam fazer com ele, se soubessem que me levou a uma casa dos prazeres.

E que prazeres...

Ele torna a ligar o veículo, e suspiro vendo a minha cidade ficar para trás a medida que avançamos em direção ao aeroporto.

Olhei para Thomi e meu peito encheu-se com algo parecido com saudade, ele é um homem de trinta anos, bonito e aparenta ser jovem para a sua idade, tem um corpo esguio, os lábios finos, um nariz afinado, ele parecia com um daqueles jogadores de futebol do time da Alemanha, tinha os olhos verdes, e o cabelo loiro, que ficava bem coberto pelo chapéu que usava.

Ele era um bom homem, nunca direcionou um olhar maldoso em minha direção, para ele eu ainda era uma menina, e sempre conseguia o que queria com ele, era como se fosse o meu pai numa versão mais nova.

A esposa dele no começo sentia ciúmes, por que ele chegava tarde da noite, mas era somente porque ficava na casa dos meus amigos me esperando, com medo que eu dirigisse tarde da noite. Então fiz uma visita à ela expliquei que o homem dela era um cara honrado, e eu o via como um pai, protetor e liberal ao mesmo tempo, e ela entendeu a situação, depois disso tentei sair mais cedo das festas.

__ vou sentir sua falta Thomi.__ confesso, e ele dá um sorriso de lado, que aposto que na minha idade ele abalava os corações das mocinhas.

__ eu também senhorita Emily.__ diz e sorrio.

Quando chegamos ao aeroporto, fiz o check-in e ele me olhava tentando não chorar.

__ ok, pode me abraçar, eu deixo.__ falei e ele sorriu, vindo em minha direção e me abraçou forte.

__ senhorita, se cuide e tente ser mais cuidadosa, não vá fazer besteiras.__ diz e beijo o seu rosto.

__ prometo me cuidar Thomi, cuide dos meus pais tá? Agora você poderá chegar cedo em casa e deixar a sua esposa mais feliz.__ brinco e ele sorri sem querer.

__ agora vá.__ diz beijando a minha testa e parti em direção ao avião.

E estranhamente senti-me bem, ao acenar para Thomi uma última vez.

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