Capítulo 04

LUISA

Com um peso no coração, jogo o leite que acabo de retirar no vaso do meu banheiro, dando descarga no mesmo. Infelizmente está saindo muito leite, isso costuma acontecer quando estou prestes a menstruar, e não poderei levar a um orfanato ou doar em alguma maternidade.

Sei que crianças precisam desse leite, muitas delas são recém nascido. Mas hoje realmente não vai ter como levar e não posso colocar isso na geladeira da casa que trabalho, não quero que os meus chefes descubram que sou lactante.

No início até tinha muita vergonha com isso, mas agora fui aceitando e aprendi a amar. Fui escolhida por algum motivo. Só evito contar para muitas pessoas, afinal isso é algo muito íntimo, não vejo necessidade de todos ter conhecimento.

Ao terminar, retiro o meu pijama por completo, indo tomar o meu banho. Dessa vez decido lavar o cabelo, tem um tempinho que não faço, por isso acordei mais cedo para ter o tempo necessário. Não quero me atrasar.

Uso o secador que trouxe, fazendo uma escova nele. O dia amanheceu bem geladinho por aqui, Deus me livre de ficar com o cabelo solto nesse tempo, a sinusite ataca em dois minutos e para ir embora são anos.

Coloco o meu conjunto de lingerie preto, tomando o cuidado de colocar o meu absorvente de seios. Não posso nem sonhar em ficar sem. Visto minha calça pegue preta, com uma blusa da mesma cor, colocando uma jaqueta jeans por cima. Por fim, calço um tênis branco. Um look bem simples, mas que vai me manter confortável e quentinha durante o dia.

Passei o meu perfume do dia a dia, colocando o meu celular no bolso ao conferir que meu turno já começou oficialmente. Saio do quarto, depois eu arrumo a minha cama, não baguncei muito.

Abro a porta do quarto na frente, o da minha princesa.

__ Bom dia, meu amor. --- Comprimentei docemente, vendo o seu lindo sorriso como se entendesse as minhas palavras.

__Ou, vejo que já tem um presente para a tia Lu.--- Fiz uma careta ao pegar ela no colo, sentindo o cheirinho podre.--- Sapeca.

Falei sorrindo, vendo a mesma abrir abertamente. Nem parece aquele bebe que só chorava no primeiro dia que nos conhecemos.

Com muito cuidado, limpei Ema. Aproveitei a enchi a sua banheira, que estava embutida na pia, com água quente e misturei um pouco com a gelada. Quando a água já estava morna, coloquei o pequeno pacote de gente e lhe deu banho.

Fiz tudo direitinho, tomando o maior cuidado para não machucar a pequena. Coloquei um bory vinho escuro nela, de mangas compridae, com a calça sendo de veludo e da mesma cor. Por cima um casaco um pouco mais claro, com desenhos de vários laços. Uma boina, cor de vinho também e um sapatinho com meia.

Ela ficou bem lindinha e o mais importante, quentinha. Passei o seu perfume nos lugares certos e tomando cuidado com a quantidade, afinal não quero irritar o seu nariz.

__ Quem é a bebê mais cheirosa da Tia Lu? --- Brinquei com ela, saindo de seu quarto em direção a cozinha.

__Que risada gostosa.--- Thomaz comenta assim que nos vê chegar.

Pelo que me falaram, os três só saem ao terminar de tomar o café da manhã com a filha. Eles tentam, pelo menos um, vir para almoçar com ela e antes do jantar já estão em casa. Se esforçam muito para conciliar o trabalho com a filha.

__Bom dia.--- Sou educada.

__Bom dia senhorita Alves.--- Retribui Domenick, de forma séria, colocando a sua xícara em cima da bancada.

__ Bom dia, Lu.--- Mais simpático que o marido, Tyler me comprimenta, se aproximando para pegar a filha.--- Como você está cheirosa, princesa.

__ Tem razão amor, nossa pequena está muito linda e cheirosa.--- Thomaz concorda, se aproximando do marido para dar um cheiro no pescoço da filha que acabou soltando uma risada alta e gostosa.

__ E pelo visto mais feliz também.--- Domenick falou com o olhar visivelmente aliviado.

Imagino que não seja nem um pouco fácil saber que o nossa filho não está bem. Fico triste quando as crianças que cuido não estão bem, não consigo imaginar como os pais ficam.

Enquanto Ema está com eles, pego uma xícara de café para mim e vou tomando o líquido enquanto faço a mamadeira dela. Fiz uma quantidade um pouco maior, afinal ela e bem gulosa. Fiz um pouco de papinha de frutas também, se a mamadeira não satisfazer eu comprimento com a fruta. Caso ela fique satisfeita, apenas guardo na geladeira para depois. Não estraga mesmo.

__ Pode tomar o seu café, Luísa. Deixe que eu mesmo dou a mamadeira da minha filha.--- Domenick fala com a bebê já em seu colo, estendendo a mão livre na minha direção. Meio que pedindo a mamadeira que havia acabado de fazer.

__ Claro senhor.--- Concordei com a cabeça, lhe entregando após conferir que estava na temperatura ideal.

__ Pode ficar a vontade, Lu. Pegue o que quiser, não precisa ter vergonha.--- Thomaz fala com um sorriso brincalhão, tomando um gole do seu capuccino.

__ Obrigada.--- Agradeço.

Vou até a pia, separando as coisas necessárias, fazendo a massa da minha panqueca. Ao finalizar, depois de colocar o meu ingrediente secreto e fazer do meu jeito, que é um pouco diferente do tradicional, coloquei na frigideira. Como sempre, saiu bem fininha.

Me afasto um pouco, balançando a massa para ficar bem soltinha. Quando está no ponto certo, dou um leve impulso jogando a massa para o alto que vira lá em cima, caindo do lado contrário.

Soltei um sorriso ai vê que caiu direitinho, sem fazer uma bolha que fosse. Sinto falta do meu curso de gastronômia, pretendo retornar o mais rápido possível. O emprego de babá é temporário, um dia irei abrir a minha própria confeitaria, restaurante ou até mesmo os dois.

__ Como você faz isso?--- Escutei a voz surpresa, é admirada, de Tyler.

__ É um requisito para ser babá? Sabia não. --- Brinca Thomaz, igualmente surpreso.

__ Fez isso só para se amostrar, não deve nem mudar no gosto.--- Meio rabugento, murmurou Domenick.

__ Tenho curso de gastronômia, então aprendi a fazer isso e mais coisas.--- Respondi primeiro Tyler, fazendo mais um pouco de massa. --- Não, não é um requisito. --- Neguei sorrindo, respondendo Thomaz.--- Muda mais do que você imagina.--- Respondi Domenick.

__ Duvido muito.--- Da de ombros, tirando a mamadeira da boca da filha que ficou tranquila, apenas nos observando.

__ Gosta da sua como? Com chocolate, com frutas? ---Questionei.

__ Chocolate com morango.--- Deu de ombros.

__ Eu quero experimentar também.--- Thomaz se pronuncia.--- O meu é com chocolate. Se não for te dar trabalho, é claro.

__ Jamais. Gosto de mexer com a cozinha, não se preocupe.--- Dou de ombros, fazendo mais massa.--- Vai querer também?--- Directionei a pergunta a Tyler que estava meio sem graça.

__ Sim.--- Deu um sorriso tímido.--- Apenas mel.

Concordei com a cabeça e peguei uma barra de chocolate, derretendo a mesma no microondas com um pouco de nutela. Separo o morango, limpando o mesmo e cortando em rodelas. Vou preparando o recheio enquanto fazia as massas.

Ao terminar, monto as panquecas, colocando só um pouco de canela. Coloquei melhor com pedaços de morango para mim, chocolate com a mesma frita para dom, apenas um pouco de frutas para Thomaz no meio da mesma e apenas melhor para Tyler.

Deixo a de cada uma na frente deles, junto o garfo e faca. O primeiro a provar foi Thomaz.

__ Porra, isso está muito bom!--- Elogiou colocando mais um pedaço na boca.

__Obrigada.--- Contive o sorriso.--- Gostou?--- Direcionei o meu olhar a Domenick.

__ A massa está bem mais leve, um pouco mais doce, mas isso só deixou mais gostoso. Está divino!--- Elogiou pegando um pedaço ainda maior, levando aos seus lábios.

__ Sou boa no que faço.--- Soltei uma piscadinha.---- De-me a pequena para que possa comer tranquilamente.

__ Você também precisa comer.--- Negou com a cabeça.

__ Já estou acostumada.--- Dei de ombros, pegando Ema.

Segurei a pequena, apoiando ela no meu corpo, segurando ela com um dos braços. Como já havia cortado tudo, só fui pegando os pedaços e comendo.

Durante todo o tempo, Ema me encarou curiosa. Em breve pretendo começar a dar esses doces para ela, claro que em uma quantidade bem inferior a que como diariamente.

Minha maior paixão da vida é doce. Nunca amei tanto alguma coisa quanto amo doce, são a minha vida.

__ Já terminou o seu curso, Luisa?--- Questionou-me Thomaz.

__Não.--- Neguei terminando de mastigar o pedaço que tinha na boca.--- Como fiquei sem emprego, não consegui pagar tudo e precisei parar por um tempo. Em breve retorno.

__ Pretende começar quando?--- Perguntou Tyler.

__ Ainda essa semana, se for possível.--- Dei de ombros.--- Mas isso é assunto para depois.

__ Quando retornar, pode ficar a vontade para cozinhar aqui. Vamos amar experimentar o que quer que você faça, ainda mais se forem tão divinos quanto o de agora.--- Elogiou Thomaz.

De longe observo Domenick apenas concordar. Ao que tudo indica, ele é o mais reservado dentre os três. Pergunto-me se ele é daqueles tipos de pessoa que parece ser calado, mas ao pegar a mínima intimidade com a pessoa desanda a falar.

__ Obrigada, mas acredito que estejam exagerando. Fiz apenas uma panqueca, algo muito simples.--- Pego mais um pedaço.

__ Eu consigo colocar fogo na cozinha só com uma panqueca.--- Domenick da de ombros, comendo mais um pedaço.

__ Você nasceu em berço de ouro, vida.--- Thomaz se aproxima dele.--- Acho que nunca precisou lavar uma louça que seja, antes de entrarmos em sua vida.

Dom apenas nega com a cabeça, pegando um pouco de chocolate com o garfo, passando pelos lábios do marido. Em um único puxão ele junta os lábios aos de Tyler, iniciando um beijo que de inocente não tinha nada.

Rapidamente desvio o meu olhar. Não porque me senti enjoada, muito menos constrangida, mas sim excitada. A um tempo me assumi pansexual, me descobri na verdade. Vê uma cena dessas, a forma tao intensa que se beijavam, com um pouco de desejo que fosse.

__ Te amo.--- Dom fala por fim, limpando os lábios do marido.

__ Agora precisamos ir.--- Tyler declara meio envergonhado. Acho que pelo fato de que os vi.

__ Vou levar Emma para a brinquedoteca.--- Anunciei me levantando com ela em meu colo.

__ Claro.--- Concordou Ty.

Eles se aproxima da gente, cada um se despedindo da filha. Rapidamente fugi do ambiente, tentando aplacar o incomodo que sentia nas pernas depois de vê os dois se beijando.

Porra, isso não podia mexer tanto comigo assim!

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