Algumas semanas haviam se passado desde a despedida silenciosa entre Olivia e Salvatore. Ela tentara manter sua vida em movimento, mas a ausência dele ainda a assombrava. Todos os dias, seu pensamento vagava para o momento em que ele se afastou, e as palavras que ficaram não ditas a consumiam. Olivia estava determinada. Não podia mais ficar esperando, sem saber onde estava pisando. Depois de dias sem vê-lo, sem palavras, ela não podia mais ignorar a sensação de que algo ainda estava em aberto entre ela e Salvatore. Havia perguntas não respondidas, e ela precisava de respostas, nem que isso significasse confrontá-lo diretamente. A noite estava silenciosa quando Olivia se aproximou do prédio onde Salvatore morava. As ruas vazias e a brisa fria não impediram sua determinação. Ela sabia que o encontraria ali, sozinha, e que não podia mais adiar a conversa. Não estava mais disposta a viver na dúvida. Ela subiu os degraus até o andar dele, os passos ecoando pelo corredor. Quando chegou à
O silêncio entre eles se alongou, mas havia algo mais agora. Um peso, uma tensão elétrica que se formava no ar. Salvatore a observava com um olhar mais suave, menos severo, como se ela tivesse feito uma fissura em sua parede impenetrável. Olivia, por sua vez, sentia o calor crescente em seu peito, uma mistura de vulnerabilidade e desejo de finalmente ceder àquilo que sempre sentira, mas nunca soubera como expressar. Ela deu um passo à frente, aproximando-se dele com a leveza de quem já sabia o que queria, mas estava com medo do que isso poderia significar. — Salvatore… — Ela murmurou, a voz suave, mas cheia de convicção. Ele a olhou nos olhos, o conflito ainda evidente, mas algo mais ali também, algo que ele não conseguia esconder. Ela tocou seu rosto, o gesto simples, mas cheio de significado. Ele não se afastou, apenas a observou, o corpo tenso, a respiração mais pesada. Olivia podia sentir que ele estava à beira de algo, prestes a ceder, mas ao mesmo tempo, ele ainda tentava
O sol atravessava as frestas da cortina, lançando faixas douradas pelo quarto. O ar ainda tinha o cheiro da noite anterior — suor, pele e desejo. Olivia acordou devagar, os músculos doloridos de forma deliciosa, como se seu corpo tivesse descoberto uma nova forma de existir. Ela abriu os olhos devagar, sentindo o lençol deslizar pela pele nua. O quarto estava silencioso, e por um segundo, seu peito apertou com a dúvida: ele ainda estava ali? — Bom dia, piccola — a voz rouca soou próxima, com aquele sotaque que fazia seu estômago revirar. Salvatore estava encostado no batente da porta, só de calça, o peito nu coberto por algumas cicatrizes — histórias que ela ainda não conhecia, mas queria ouvir. Na mão, uma caneca de café. — Trouxe isso pra você — disse ele, estendendo a caneca com um meio sorriso que deixava os joelhos dela fracos, mesmo sentada. Ela se sentou, puxando o lençol contra o peito, ainda envergonhada apesar da noite intensa que compartilharam. Mas Salvatore se aprox
O general Riccardo estava sentado atrás de sua grande mesa de carvalho, o olhar severo fixo nos documentos espalhados à sua frente. O relógio na parede marcava o final da tarde quando ele ouviu batidas firmes na porta. — Entre — disse com a autoridade característica de quem carregava o peso de decisões difíceis. Salvatore entrou com passos decididos, seu uniforme impecável, o semblante austero. Parou a alguns metros da mesa e saudou com firmeza. — General. Riccardo ergueu os olhos, analisando-o por um instante. Salvatore era mais do que um capitão — era o soldado mais disciplinado, leal e eficaz que já comandara. Um homem moldado pela guerra, mas ainda humano o suficiente para que o conflito deixasse marcas. — Sente-se, capitão — ordenou, apontando para a cadeira à sua frente. Salvatore sentou-se sem hesitação, mantendo-se ereto, o olhar firme. — Chamou-me, senhor? Riccardo respirou fundo antes de falar. — A situação no Afeganistão piorou, como você deve ter visto
O céu ainda estava pintado em tons de azul escuro quando Olivia acordou com o toque suave dos dedos de Salvatore deslizando por sua bochecha. O quarto estava silencioso, exceto pelo leve farfalhar do vento do lado de fora. Ela piscou lentamente, os olhos ainda pesados de sono, até que o viu completamente vestido com o uniforme de combate. Ela se ergueu num sobressalto, sentindo o coração apertar no peito. — Já vai...? — sussurrou, a voz embargada. Salvatore assentiu com um movimento lento da cabeça. Seus olhos, normalmente frios no campo de batalha, estavam agora cobertos por uma névoa de sentimentos contidos. — Está na hora — disse, com a voz grave, mas serena. Olivia desceu da cama às pressas, vestindo o robe de seda por cima da camisola. Ela se aproximou dele e pousou as mãos sobre o peito firme, sentindo as batidas ritmadas sob o tecido grosso. — Ainda dá tempo de dizer que não... — ela sussurrou, mesmo sabendo que não adiantaria. Salvatore segurou as mãos dela com cuidado,
Salvatore estava a bordo de um avião militar, os motores potentes rugindo enquanto ele observava pela janela, a vastidão do deserto se estendendo abaixo dele. O Afeganistão estava agora à sua frente, uma terra árida e marcada pela guerra, com montanhas imponentes que pareciam desafiadoras e intimidantes. A missão era clara, mas o peso da partida ainda pesava sobre ele, como uma sombra que não o deixava. Ele se endireitou na cadeira, ajustando o uniforme com um gesto automático, tentando afastar os pensamentos que insistiam em invadir sua mente. Pensava em Olivia, em como ela tinha ficado, em como o corpo dela havia se encaixado perfeitamente no seu naquela última noite. A lembrança de seu sorriso, de seus olhos, ainda estavam presentes em sua mente, e ele se pegava pensando em como faria falta. Mas havia algo ainda mais forte dentro dele: a necessidade de cumprir sua missão, de proteger seus homens e garantir que a guerra fosse vencida, sem promessas vazias. O avião fez uma curva, e
Salvatore observou seus homens se dispersarem, cada um com sua tarefa, como engrenagens bem ajustadas de uma máquina que não podia falhar. Ele ficou ali, imóvel, tentando se concentrar, mas sua mente insistia em voltar a Olivia. Lembrava-se de seu rosto, de seus olhos teimosos, e da maneira como ela não cedeu, mesmo quando ele tentou se afastar. Ele não podia negar que, ao olhar para ela, algo dentro dele mudava. Algo que ele nunca imaginou que fosse sentir, ou que sequer tivesse permissão para sentir. A guerra, ele sabia, não era um lugar para sentimentos. Sentimentos eram fracos, uma distração perigosa. Mas Olivia... ela havia se infiltrado em seu coração de maneira sutil, quase imperceptível. E agora, a ausência dela era como uma ferida aberta. Ele tentou afastar o pensamento, mas o rosto dela continuava a surgir, uma sombra constante em sua mente. “Foco, Salvatore”, ele murmurou para si mesmo, apertando as mãos ao lado do corpo. Não podia se dar ao luxo de pensar nela agora. Nã
O motor do caminhão rugia sob os pés dos soldados. Salvatore subiu na cabine, sentando-se ao lado do motorista, mas sua mente já estava quilômetros à frente. O rádio chiava intermitente, vozes se sobrepondo, comandos, coordenadas. Ele pegou o transmissor e pressionou o botão. — Aqui é o Capitão Salvatore. Esquadrão Alfa preparado para deslocamento. Câmbio. A resposta veio rápida, com o som estático por trás: — Central confirma. Permissão para avançar concedida. Boa sorte, capitão. Câmbio final. Ele colocou o rádio de volta no suporte, olhou pelo retrovisor para os homens no compartimento traseiro, todos prontos, concentrados, silenciosos. O veículo começou a se mover, sacudindo com o terreno irregular. Salvatore quebrou o silêncio da cabine com um murmúrio quase inaudível: — Sem margem para erros. O motorista, um rapaz jovem chamado Fede, o olhou de canto. — O senhor sempre parece calmo antes das missões, capitão. Como consegue? — Eu não estou calmo, Fede — respondeu