Sílvia observava a porta do apartamento, selada com fita, com os lábios firmemente pressionados.Ela se recordava das palavras de Isabel, mas não esperava que ela fosse tão longe.Ligou para a administração do prédio, que respondeu com uma atitude sutil:- Desculpe, Srta. Sílvia, somos apenas a administração. Creio que se tem algum problema, deveria resolver com o Senhor Marcos.No Residencial Alvorada, a maioria dos moradores são pessoas abastadas, muitas das quais acomodam suas amantes ali.Casos de amantes descobertas por familiares, que acabam por reivindicar os imóveis, provocaram muitas cenas desagradáveis, e a administração testemunhou muitas dessas situações ao longo dos anos.Ademais, essas pessoas abastadas são difíceis de lidar, e eles, sendo pessoas comuns, não podem se dar ao luxo de ofendê-las. Assim, diante dessas situações, eles geralmente agem de acordo com o status social e fazem vista grossa.Sílvia desligou o telefone e saiu do condomínio.Felizmente, ela tinha seu
Sílvia estava prestes a conversar com Enrico sobre o projeto quando escutou a risada abafada de Íris.Ela tocou o ombro de Sílvia, tentando conter o riso, e disse:- Isso é tão a sua cara, Sílvia. Deve ser a primeira mulher a falar com Enrico nesse tom.Sílvia hesitou:- Há algo de errado nisso?- Não, é apenas que parece especialmente como se você realmente valorizasse e fosse grata a alguém. - Íris continuava rindo.Sílvia então ficou quieta; ela não era habilidosa em lidar com esse tipo de brincadeira.Enrico, que por natureza era reservado, também não se envolveu na conversa de Íris.Ele pegou uma garrafa de água da mesa e a entregou a Sílvia:- Ainda tenho alguns desenhos para finalizar. Há livros no escritório, caso você ache que eles estão sendo barulhentos, pode ir ler lá.Sílvia se levantou também:- Há algo em que posso ajudar? Lembro que você mencionou que havia bastante material para organizar? - Ela aceitou a garrafa de água que Enrico lhe ofertou, falando de maneira pausa
Sílvia hesitou por um momento ao ouvir falar do novo morador, mas logo se recuperou e voltou ao seu quarto para arrumar suas coisas. Todos os pertences do seu avô estavam numa caixa. Ela abriu ela para verificar se nada havia sido esquecido antes de começar a arrumar os seus próprios.O apartamento fora um presente de Marcos logo após a sua efetivação no trabalho. Naquela época, Sílvia ainda residia numa casa antiga no norte da cidade, e Marcos, incomodado com o tempo que ela despendia no trânsito, simplesmente fez com que ela se mudasse para o Residencial Alvorada.O apartamento dela foi dado por Marcos logo após ela ser efetivada no trabalho, ele simplesmente entregou as chaves para ela se mudar.A maior parte das coisas eram de Marcos.Roupas e gravatas deixadas por ele, medicamentos para ressaca que Sílvia preparava, o difusor de aroma favorito dele, abotoaduras do seu estilo preferido, o copo do qual ele bebia água e muitos outros itens. A presença de Marcos estava por toda pa
A voz de Jorge foi engolida pela música animada que começou a tocar repentinamente, e somente Marcos, que estava mais próximo, conseguiu ouvir claramente.Marcos fez uma pausa, sem aumentar o tom de voz:- Estou ocupado.Jorge perguntou:- Zeca te chamou de novo? É estranho, sua mãe e a família Fernandes não são próximas, mas você tem uma conexão especial com eles. - Jorge fez uma pausa antes de continuar. - Seu tio vai vir para Cidade J em breve? Eu vi as notícias anteontem.As pessoas ao redor ouviram isso e começaram a rir:- Veja só, Jorge também assiste às notícias.- Eu sou um homem de muitos conhecimentos. - Jorge disse, entrando na brincadeira e debatendo com eles. Naquele momento, um homem rico que havia falado antes lançou um olhar para Bruna e, surpreso, a cumprimentou alto:- Bruna, você também está aqui? Quer se juntar a nós?As pessoas de famílias ricas da Cidade J também têm seus próprios círculos sociais; apesar de todos se conhecerem, raramente se misturam em momentos
Sílvia ficou surpresa. Apoio financeiro?Parecia que a sua relação com Marcos era percebida pelos outros dessa forma.Mas seria de fato raro alguém ser “mantido” e acabar na situação dela.Ela abaixou os olhos, ocultando a autoironia.Percebendo que Sílvia não reagia, Bruna se deu conta de que havia sido demasiado direta e bateu na própria testa, frustrada:- Sílvia, não queria dizer nada com isso, esquece o que falei. Fui bona ao dizer aquilo, desculpa.Sílvia se manteve em silêncio.Bruna se acalmou e ficou quieta ao lado, mexendo no celular.Até que Enrico chegou com o carro, Bruna guardou o celular e abriu a porta de trás para entrar.Havia uma mala de Sílvia no porta-malas, o que a fez hesitar por um instante antes de perguntar:- Enrico, você está se mudando?- É minha. - Disse Sílvia, entrando no assento do passageiro.Bruna massageou a cabeça, recordando:- Ah, é você que está se mudando.Se lembrava de ter encontrado Sílvia no hotel, quando ela mencionou que tinha sido expuls
Sílvia dormiu muito bem e acordou pouco depois das sete da manhã, enquanto Íris ainda estava a dormir profundamente. Sílvia se levantou com movimentos suaves, tentando não fazer barulho.Ela não fora ao hospital ontem e decidira ir hoje para evitar que seu avô ficasse preocupado.Ao descer, notou que não havia ninguém na sala de estar, provavelmente porque todos tinham ido dormir tarde e ainda não tinham acordado.Assim que chegou ao quintal, viu Enrico de costas, falando ao telefone.Ao ouvir o barulho da porta, Enrico se virou e, ao terminar a ligação, caminhou em direção a Sílvia, perguntando:- Por que acordaste tão cedo?Sílvia respondeu:- Estou a planear ir ao hospital ver meu avô.Enrico acenou com a cabeça:- Estou a caminho de ver um cliente, posso te levar.Sílvia estava prestes a dizer que não queria incomodá-lo, mas Enrico já estava a caminhar em direção à garagem.A mansão de Enrico era grande e bem localizada, mas o interior parecia uma casa nova, como se ninguém morass
A ostentação na sua voz era algo que Sílvia preferia ignorar. Ela continuava à procura de Felipe. No entanto, havia tantas pessoas na festa que, mesmo olhando em volta, Sílvia não conseguia vê-lo. Juliana, percebendo que não lhe dava atenção, também não disse mais nada e estava prestes a sair. Contudo, Sílvia de repente perguntou:- Onde está o Marcos?O sorriso retornou ao rosto de Juliana, que disse:- Sílvia, se precisas falar com o Marcos por algum motivo, posso passar a mensagem para ele. Agora, ele não pode te ver.Sílvia olhou ela fixamente:- O Dr. Felipe veio?Um lampejo de confusão cruzou o rosto de Juliana, mas ela rapidamente se recompôs e perguntou com uma indiferença fingida:- Por que queres saber?Sílvia não queria perder mais tempo com Juliana. Ela pegou seu telemóvel, pronta para ligar diretamente para Marcos e perguntar se Felipe estava por lá. Se estivesse, ela tinha que vê-lo hoje. No entanto, assim que pegou o telemóvel, ouviu a voz descontente de Isabel at
As palavras de Marcos cortavam como um frio glacial. Sílvia o encarava, contendo as emoções que borbulhavam por dentro, antes de dizer:- A minha companhia não diz respeito a você.Sua voz se mantinha neutra, sem transparecer grandes emoções.A expressão de desdém no rosto de Marcos permanecia inalterada, ele soltou um riso sarcástico, sua voz era baixa e gelada:- Não diz respeito a mim? Sílvia, você veio aqui por causa do seu avô, não é mesmo? - Logo após Marcos falar, Sílvia petrificou.Ela fixou o olhar em Marcos:- O que você está insinuando?O olhar de Marcos era distante, ele, sendo alto, precisava inclinar levemente as sobrancelhas para olhar para Sílvia, conferindo a ela um ar ainda mais inacessível.Ele prosseguiu, sem inflexão na voz:- Estou apenas te lembrando que ele só ficará na Cidade J por dois dias.A referência a ele era evidente.Gradualmente, Sílvia voltava a si, lembrando que Felipe era o tio de Marcos.Ela ponderava rapidamente.Suas lembranças de Felipe eram esc