CAPÍTULO 1

Atualmente...

Kira              

Hoje enfim poderei pôr meu plano em prática, após cinco anos eu consegui um fio de esperança, claro, se tudo der certo e não acabar com morte como da última vez, mas dessa vez nem eu poderei sobreviver se tudo der errado. Após tanto abuso da parte do Ivan eu achei uma amiga dentre as empregadas, ela sempre me ajudava com os machucados, tanto para curar rápido quanto para esconder, se bem que na máfia não precisa esconder, todos sabem o que nós mulheres passamos no casamento. 

Eu fico tão indignada, odeio os homens da máfia, eu quero sair daqui e ficar o mais longe possível de todos que eu puder, preciso de um tempo só para mim, livre da coleira machista de um mafioso. Ellen Collins, ela não é daqui da Rússia, nasceu e viveu a vida nos Estados Unidos, isso era nítido pelos seus cabelos negros naturais e olhos azuis, além da pele branca como a neve, puramente americana, até que sua mãe morreu a fazendo morar com seu pai aos 17 anos, então começou a trabalhar como empregada em minha casa. 

Ela, igualmente eu, sempre odiou o fato dos homens daqui serem assim, não todos claro, mas a maioria vive na máfia então é quase todos, seu pai, Edward Collins, não é metido nisso de fato, ele é o motorista do Ivan, não se mete nas coisas ilegais, não diretamente ao menos. Ela sempre me contou como o mundo é lindo longe da máfia, sonhava acordada com a oportunidade de descobrir esse mundo que ela tanto adorava, então após uma surra tão dura que Ivan me deu me fazendo quebrar meu braço feio, mais uma parte de mim que ele quebrou, ela chorou quando o médico teve que engessar. 

Ela não precisava se importar tanto, eu era sua patroa, ela sabia que as coisas eram assim nesse mundo, mas ela o fez, se importou e se compadeceu de mim, ela me olhava como uma amiga, uma irmã, eu já sozinha no mundo aceitei de bom grado esse carinho, estava cansada do desprezo de todos. Ela me disse que tinha um apartamento nos Estados Unidos, não só dela, mas compartilhado com um amigo, ela até pensou em voltar para lá após sua maioridade, só que não quis deixar seu pai e ele se recusou a ir, ela tem esperança até hoje na de ele aceitar. 

“Você pode ficar lá até conseguir o seu próprio lugar Kira, o Stefan é direito e jamais faria mal a você.” a olho pensativa. 

“Não sei Ellen, não confio em homem algum, sabe disso, e mais, ele não me conhece, como vai me abrigar?” falo baixo para as paredes não me ouvirem. 

“Eu vou ligar para ele Kira, basta dizer que eu a enviei, acredite em mim quando digo que ele é bom. Eu morava lá com a mamãe na época que ela era viva, e ele nunca tentou algo contra mim.” ela fala enquanto finge limpar as coisas, caso alguém entre ela não seja chamada atenção. 

Até isso Ivan controla, com quem eu falo ou deixo de falar, ele não me quer cochichando com os empregados sobre nada, principalmente nossa vida pessoal, ele nem sonha que sou amiga de Ellen.

“Não sei…” falo apreensiva. “Acho que nem vai dar certo esse plano, nada dá certo para mim Ellen, já te contei minha história, já perdi as esperança.” olho para o teto e suspiro. 

Não saio desse quarto desde que sem querer peguei o Ivan com uma das suas putas na sala, ele me proibiu, só se houver algum evento da máfia aí saio, mas com ele do meu lado. Já não bastava ser prisioneira em casa, agora sou apenas do quarto, meu desejo é morrer de uma vez e deixar essa vida de merda, quase o fiz, mas a Ellen chegou na hora e me ajudou. 

Eu a fiz prometer jamais dizer a alguém sobre isso, Ivan iria me bater até eu entender que sou dele e que só ele pode decidir se eu morro ou não, ela disse que jamais diria, desde então ela me viu como uma missão, sua missão era salvar a minha vida. Ela acredita que o destino tem seus modos de levar a vida de alguém, ela que jamais acreditou que iria morar na Rússia, então para na casa de uma mulher que precisa dela para algo, já que ela não pôde ajudar a mãe, me tem como sua redenção.

“Acredite em mim, tudo irá dar certo.” ela me lança um sorriso esperançoso e sai do quarto. Já não há mais o que limpar então antes que a tirem daqui, ela sai. 

O plano dela era o seguinte, ela iria limpar meu quarto como faz todos os dias, porém hoje seria diferente, eu iria lhe deixar "inconsciente" lhe acertando com um soco forte. Então eu iria tirar todas as suas roupas de empregada e vestir, sair do quarto como se eu fosse ela e ela ficaria lá desacordada até alguém aparecer e descobrir que fugi. 

Seu carro estará a dois quarteirões da casa, assim que eu entrar nele tenho que dirigir até a estação e pegar um trem que me levará para uma cidade pequena chamada, Townsend, e de lá pegar um trem direto para os Estados Unidos, mais especificamente, Washington. A viagem será longa pela distância e voltas que o trem da, ninguém suspeita do meu destino e nem que terei dinheiro para isso, para todos os efeitos sairei apenas com a roupa do corpo, mas Ellen foi além. 

Lhe dei jóias todos os dias para ela vender e conseguir dinheiro, Ivan comprava muitas e muitas pensando que ia amenizar minha dor, mas isso só serviu para ele não suspeitar, ele jamais saberá que uma ou duas sumiram, peguei as menos notáveis, porém com um valor considerável. Nossa vantagem é que a Ellen se parece comigo, certa vez o segurança a confundiu comigo quando a mesma saia de casa no fim do expediente, ela é só mais alta, porém isso são detalhes, os seguranças quase não me vêem de todo modo. 

“Está pronta?” ela começa a tirar a roupa.

“Não, isso não vai dar certo.” suspiro começando a vestir a roupa de empregada. “Mas vamos tentar, quem sabe assim que ele me mate de uma vez, aí tudo acaba.”

“Pare de falar bobagens! Não se preocupe Kira, não vamos falhar, eu garanto.” ela sorriu esperançosa, ao menos uma de nós está. 

“Espero que não, se não eu irei morrer, farei de tudo para isso, não vou aguentar a ira de Ivan.” termino de me vestir e suspiro. 

“Vem, eu arrumo seu cabelo.” ela faz um coque e põe a rede preta no meu cabelo, me olho no espelho e pareço com ela. 

“Eles vão descobrir, eu ainda sou eu.” a olho com pavor do que me virá. 

“Não vão não, você vai levar esse carrinho, tem muitas coisas em cima e vai disfarçar seu rosto, eles não olham para mim. Nem sequer falam comigo direito, na saída eu apenas dou minha identidade e sou liberada.” ela pega um lençol e corta com a tesoura fazendo uma corda. “Agora me amarre.”

Ela deita na cama com as mãos para trás e amarro forte, ela disse que não se importa se eu a ferir, tem que parecer real, ela não trouxe corda porque ia dar a entender que ela ajudou, para todos os efeitos eu pensei nisso sozinha. Até que prefiro assim, caso eu seja pega ou eu consiga fugir nada lhe aconteça, usamos tudo que eu tinha dentro do quarto para ser um plano unicamente meu. 

“Me acerte.” engulo em seco quando ela senta na cama para eu lhe dar um soco. 

“Não posso, não tem outro jeito?” falo já nervosa. 

“Não há, qualquer outra coisa fará barulho e levantará suspeitas, me dê um soco, um bem forte.”

“Ellen…” suspiro baixo. 

“Vamos lá Kira, eu vou ficar bem, você precisa sair dessa prisão. Se não eu terei que ir no seu enterro e não me faça ter que fazer isso.” ela me olha suplicante. 

Ela está de blusa regata e um short que estava por baixo da roupa, ela não ia ficar só de calcinha e sutiã para o Ivan vê-la, da de usar roupas por baixo da roupa de empregada já que é grande. Ela está amarrada perto de mim, sentada na cama só na espera do meu soco, andando de um lado ao outro buscando coragem. 

“Anda Kira! O tempo está passando.” suspiro. 

“Certo, eu já vou.” me aproximo dela. 

“Tudo o que você precisa está no carro, roupas, dinheiro e um celular, assim que as coisas melhorarem irei te ligar para saber se está bem.”

“Certo, sinto muito por isso Ellen, e obrigada por tudo. Um dia irei retribuir esse favor, prometo, com juros e correção monetária.” ela apenas sorri. 

“Se salvando já será agradecimento suficiente.” assinto mas me faço uma promessa interna, se tudo der certo e eu fugir irei me reerguer e irei lhe ajudar. Ela sonha com a faculdade, mas não pode porque tem que trabalhar, então farei isso por ela, é uma promessa.

“Lá vai.” com um golpe forte lhe acertando a fazendo cair no colchão macio inconsciente, aprendi um golpe ou outro com Ivan. Ele sabe bem onde acertar para fazer alguém dormir sem ser por vontade própria, já dormi várias vezes assim.

“Certo, agora é com você Kira, vamos fazer isso acontecer.” olho ao redor vendo o carinho de coisas. 

Lhe cubro com o lençol para fingir que eu estou dormindo lá, sigo para o carrinho e o empurro pela porta, abro saindo olhando para baixo o tempo todo me escondendo entre as coisas nele, o segurança dá uma olhada para dentro do quarto. Percebo que ele vê o corpo com os lençóis e volta a sua posição trancando a porta em seguida, apenas sigo pelo corredor com o coração batendo acelerado, sinto o gostinho da liberdade chegando. 

Desço pelo elevador de serviço suspirando alto mas me escondendo das câmeras, apenas fingindo ser a Ellen, preciso manter a calma, agora é só deixar o fluxo e não me entregar pelo nervosismo. Já onde o empregados ficam, tiro a roupa de empregada que vesti por cima da minha roupa e deixo no carrinho, peguei minha roupa mais simples, uma calça jeans e uma blusa regata, assim não vou parecer a mulher de um mafioso, amarro meus cabelos em um rabo de cavalo e ponho meu boné cobrindo meu rosto.

Com um suspiro baixo sigo para a saída da mansão, um dos guardas da minha masmorra chamada de casa está na porta da saída, olho ao redor e agradeço por não haver mais ninguém, assim posso fazer o que farei. 

“Documentos.” ele fala sério. 

Sem dizer uma palavra entrego a identidade da Ellen, ele anota no papel e me devolve.

“Até amanhã Ellen, cuidado no caminho para casa.” assinto ainda sem dizer nada, vai que ele reconhece minha voz. 

Minha vontade é de correr, mas se eu fizer isso será muito óbvio, no outro portão irão me barrar e tudo irá por água abaixo, tenho que fazer esse plano dar certo, pela Ellen que se deixou apanhar por mim, por mim mesma, minha última esperança de viver. Quando penso que terei que me identificar novamente o portão de abre me fazendo suspirar aliviada, passo através da minha prisão por cinco anos sentindo um peso se esvair. 

Ando mais rápido e sinto o vento bater em meu rosto, fecho os olhos de leve apreciando, lágrimas rolam por meu rosto, lágrimas de alívio, esperança, eu consegui, quer dizer, nós conseguimos. Vejo o impala azul marinho dela na esquina me fazendo acreditar mais que tudo é real, estou livre, estou fora. Ainda tenho uma vantagem de tempo com o Ivan na boate e "eu" supostamente dormindo no meu quarto, quem saiu foi a Ellen, para todos os efeitos a casca da Kira ainda está lá. 

Depois de tanto tempo, de tanta dor, finalmente acredito que eu posso me reerguer, fazer a casca se tornar alguém novamente, dirijo o carro para a estação de trem sorrindo e chorando ao mesmo tempo, para qualquer um eu sou uma maluca, mas só eu sei. 

“Livre! Eu sou livre!” falo em voz alta sentindo o gosto da liberdade. “Se fodeu Ivan Ivanov.” gargalho histérica. “Você vai ter que aceitar que perdeu algo na sua fodida vida seu babaca de merda!” gargalho mais. “Perdeu…”

Suspiro chorando mais, é isso, graças ao meu anjo da guarda chamado Ellen eu poderei viver novamente. Sei que nunca tive um laço com Deus mas obrigada, obrigada mesmo por tudo. 

Nickel              

Cinco anos depois eu já sou o rei da máfia americana, não há um que não me tema, não há um que queira me enganar, eles até podem tentar, mas não vivem para contar a história de como conseguiu, forjei meu legado, honrei o que o meu pai deixou. A empresa de exportação e importação é uma fachada tão boa que temos filiais pelo mundo todo, sou o maior empresário da América, tão camuflado que ninguém da mídia sabe meu verdadeiro emprego, para o que nasci para fazer.

“O que faz na mesa da minha secretária Stefan?” pergunto saindo do elevador e seguindo para minha sala. 

“Ela pediu demissão, não entendi muito bem, eu só recebi o telefonema do RH.” ele termina de digitar algo no computador e me segue. 

“Já é a quarta esse mês, o que está acontecendo? Estamos pagando mal?” questiono intrigado sentando na poltrona da minha sala e abrindo o único botão fechado do meu paletó. 

“Não senhor, o salário são dois salários mínimos, acho até que é generoso demais para uma secretária.” ele senta à minha frente e abre a agenda do meu dia a dia, lembro-me que foi delegado esse salário pelo aditivo da máfia. Mesmo que elas não saibam do outro investimento.

“Procure uma nova secretária, e uma assistente para você, não quero meu assessor tendo um esgotamento físico.” bebo um gole do meu café que já foi me deixado aqui, sempre chego pontualmente às 8 horas da manhã. Um minuto antes meu café é deixado em minha mesa, com ou sem secretária. 

“Farei isso imediatamente, por hora precisamos cuidar desses investimentos.” ele me dá as pautas e começo a verificar tudo. 

A manhã toda consegui analisar e corrigir cinco das dez pautas, eu até poderia continuar e pedir o almoço no escritório, mas tenho um almoço importante para ir, Mom fez essa convocação pela manhã, hoje faz cinco anos que o Dad se foi, ela sempre nos reúne e lembra o quão valiosa é a family. Eu particularmente prefiro levar uma surra a isso, mas não posso de maneira nenhuma magoar minha Mom, então fazemos isso, o Axel organiza tudo e o Razel a consola, ela sempre chora quando termina as orações e temos que comer, nunca consigo comer bem ao vê-la assim.

“Continuamos depois, vá almoçar.” me levanto e ajeito meu paletó, pego minha maleta e sigo para a porta. 

“Bom almoço e sinto muito.” poucos sabem sobre hoje, apenas os mais próximos, o Stefan é um funcionário dedicado e amigo, não somos muito íntimos, porém ele trabalha para mim desde que se formou em administração, merece respeito mesmo nunca sabendo no que de fato trabalha. 

“Obrigado.” passo pela mesa da antiga secretária e entro no elevador. 

Esse é particular meu, odeio ter que esperar pelo elevador coletivo então sempre que quero ele está lá, se eu não usar ninguém o usa, se isso acontecer a pessoa é demitida, porque o que é meu é meu. Assim que o elevador se abre saio no hall do meu grande prédio, as pessoas tendem a me olhar e sair do meu caminho, não peço mas elas vêem minha postura autoritária e sabem o que é bom para suas vidas. 

Digamos que metade da empresa sabe de todos os negócios, apenas os da máfia que fazem a parte principal girar, os demais apenas pensam que exportamos coisas comuns de pessoas que têm dinheiro, o que não é mentira de fato. Passo pela porta e entro no carro, meu motorista fecha a porta e logo depois o carro segue pelas ruas de Washington, um carro segue na frente e outro atrás fazendo minha segurança, ser conhecido e bem sucedido não só atrai o orgulho dos meus amigos, mas o ódio dos meus inimigos.

“Para sua casa, senhor?" Filip pergunta ao abaixar o divisor da minha parte para a dele. 

“Não, siga para o restaurante da família.” falo sem desviar o olhar do meu celular. 

“Sim senhor.” ele assente e sobe o divisor, quando eu entro sem falar nada ele sabe que não estou para conversar, então ele sobe o divisor e me deixa em paz. 

Hoje é um desses dias, odeio me sentir assim, sempre revivo o momento em que ele se foi, em que me fez prometer coisas, que felizmente eu cumpri, matei muitos por isso, por essa promessa e não me arrependo, sou o que sou graças a cada degrau que subia. Infelizmente ainda não posso comprar ruas para mim, assim não enfrento esse trânsito desgraçado, mas estou providenciando uma faixa só minha, sei que um bom suborno me dará isso. 

Eles irão por uma desculpa idiota para enganar o povo e terei minha via especial, tenho que me lembrar de dizer ao Stefan para cobrar meus favores pendentes, o sinal vermelho se abre mas a fila está tão grande que não andamos muito. 

“Ainda vai demorar muito?” falo pelo interfone do carro para o Filip. 

“Não senhor, houve um acidente, mas ali na frente já está melhorando o andamento, talvez mais uns dez à vinte minutos.” suspiro. 

“Vou fumar.” falo já saindo do carro. 

Estamos ao lado da calçada então já saio pisando na mesma, os carros da frente e o de trás abrem os vidros e um de cada sai pairando ao redor à paisana só para garantir a segurança ao redor. Acendo meu cigarro é dou um longo trago, a nicotina ajuda na dor, não sou viciado mas gosto da sensação da nicotina, após mais uma tragada alguém esbarra em mim fazendo meu cigarro cair. 

Logo os seguranças começam a vir na minha direção mas abano a mão os impedindo quando vejo quem esbarrou em mim.

“Sinto muito, eu acabei tropeçando e…” ela finalmente me olha parando de falar, pelo sotaque não parece ser nascida aqui. 

“Você está bem?” pergunto e só então percebo que seguro um de seus braços por reflexo quando ela esbarrou em mim e quase caiu.

“Sim, sim…” ela puxa o braço do meu aperto bruscamente como se eu fosse lhe machucar. “Desculpa mesmo.” ela olha ao redor parecendo perdida. 

Dou uma boa olhada na mesma, ela usa uma calça jeans simples e uma regata branca colada ao corpo fazendo seus seios ficarem maiores, posso jurar que ela não usa sutiã nesse momento, se ela se excitar eles ficarão durinhos e apetitosos. Ela tem o cabelo negro, um tom bem escuro, está cortado um pouco abaixo do ombro de uma forma reta, uma franja reta da mesma forma do corte, seus olhos azuis fecham com chave de ouro a beldade que ela é, porém sinto bem lá no fundo uma tristeza na alma. 

Como reconheço isso? Eu tenho isso em mim mesmo, reconheço uma pessoa machucada tanto por quem ama quanto pela vida, hoje em dia eu já superei tudo, mas as lembranças vêm e vão, principalmente na parte da noite quando parece que minhas barreiras relaxam na hora do sono. Ela tem uma mochila no ombro e nada mais, ela não tem cara de ser daqui isso notei desde o primeiro momento, seu sotaque é diferente, parece até russo, mas abano esses pensamentos, desde aquele dia nem comida russa mais comemos, o ódio virou mortal a tudo que deriva do russo.

“Tudo bem.” tento soar simpático mas não sou simpático então sai como um rosnado baixo.

“Melhor eu ir…” ela olha ao redor vendo meus seguranças se aproximarem, eles leram minha atitude como hostil. 

“Quer ajuda? Parece perdida.” não sei o porquê, mas ofereci ajuda.

“Não precisa, eu me viro.” e com uma expressão dura ela se vira e segue seu caminho. Parece até que a ofendi por oferecer ajuda, ela é o que? Uma feminista maluca que não aceita ajuda masculina? Mulheres são loucas, nunca as entendi e nunca irei às entender. 

“Tudo bem senhor?” Elliot, um dos meus seguranças, fala discretamente ao meu lado. 

“Sim.” falo por fim e volto para o carro, logo seguimos novamente passando pelo acidente e seguindo o fluxo mais rápido. 

Atendo telefonemas, mando mensagem mas nada me tira o olhar perdido daquela mulher, eu deveria ter perguntado seu nome, ou algo assim, mesmo ela não pedindo ajuda algo dentro dos seus olhos, lá no fundo clamava por ajuda, atenção e amparo. Mas não sou nenhum fodido padre ou uma pessoa boa o bastante para isso, meu instinto falou mais alto e a deixou ir, é isso que faço, é isso que sou.

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