Narrado por ElionAs luzes do hospital piscavam fracamente enquanto eu caminhava pelo corredor estreito, minhas mãos cerradas em punhos ao meu lado. Cada passo ecoava como um martelar em minha cabeça. Ela estava viva. Viva. Era isso que eu repetia a mim mesmo, como se a confirmação pudesse acalmar a tempestade que rugia dentro de mim.Mas não conseguia. Não agora.Quando a vi naquela cama, tão frágil, com tubos e máquinas que pareciam ser as únicas coisas mantendo-a aqui, algo quebrou dentro de mim. Era como se a escuridão que sempre carreguei no peito finalmente tivesse encontrado algo maior para consumir: a minha esperança.Ela me agradeceu. Pediu desculpas. Mas como posso aceitar desculpas por algo que quase me destruiu?Entrei na pequena sala de espera ao lado do quarto dela e fechei a porta. Eu precisava de um momento. Só um.— Elion, você precisa se recompor — murmurei para mim mesmo, o rosto enterrado nas mãos.Mas como posso? Como posso me recompor quando quase a perdi?Eu a a
Narrado por Elion Enquanto eu observava Alora de olhos fechados, tentando descansar, percebi que havia me deixado consumir tanto pela emoção do momento que esqueci completamente de avisar Asael e Havenna que ela havia acordado. A notícia era grande demais para ser guardada apenas comigo, e sabia que eles precisavam saber.Peguei meu telefone e disquei o número de Asael. Ele certamente estaria com Havenna; os dois pareciam inseparáveis nos últimos dias. Após dois toques, sua voz grave e apressada ecoou na linha.— O que aconteceu? Algo errado com Alora? — Asael perguntou de imediato, claramente esperando o pior.— Não, Asael, calma. Ela acordou. — Minha voz estava carregada de um alívio que eu ainda não tinha tido tempo de processar completamente.Do outro lado da linha, houve um momento de silêncio, seguido por um suspiro que parecia carregar toda a tensão acumulada dos últimos dias.— Ela acordou? — repetiu, como se precisasse se certificar de que não estava imaginando coisas.— Sim
Narrado por Alora O som da porta me fez despertar de meus próprios pensamentos. Elion e eu nos separamos rapidamente, e não pude evitar um sorriso quando vi Asael e Havenna entrando no quarto. Eles estavam carregados de balões coloridos e ursos de pelúcia, gestos tão simples, mas que aqueceram meu coração de uma forma que eu não sabia ser possível.Havenna colocou os balões em um canto do quarto, enquanto Asael, sempre exagerado, enchia a sala com sua energia contagiante. Mas o que realmente chamou minha atenção foi o olhar de Havenna. Havia algo diferente, algo que não consegui decifrar naquele momento. Resolvi guardar essa observação para uma conversa mais tranquila depois.— Vocês vieram! — falei, tentando conter a animação, mas falhando miseravelmente. Meu sorriso se abriu, e por um momento esqueci toda a dor e escuridão dos últimos dias.O carinho deles era algo novo para mim, algo que eu nunca tive antes. Eu nunca estive cercada por pessoas que se importavam tanto comigo, nunca
Narrado por Elion Desde que Alora acordou, já se passou uma semana, e hoje, finalmente, ela teria alta. Era bom vê-la sorrindo, algo que antes parecia quase impossível. Alora tinha poucas pessoas ao seu redor, mas aquelas poucas eram as essenciais.Durante o tempo em que ela esteve internada, tudo foi preparado para receber George de volta à mansão Blackwood. Apesar das memórias sombrias que aquele lugar carregava, ele insistiu em morar lá por seu valor sentimental. A casa era uma lembrança dos tempos em que sua família ainda estava unida, e agora ele parecia determinado a reconstruir algo a partir disso.Todo o dinheiro de George foi transferido para ele. Foi uma decisão natural, afinal, ele era o dono legítimo. Além disso, ele deixou claro que voltaria à ativa na máfia. “Uma vez na máfia, sempre na máfia”, foi o que ele disse com um sorriso sarcástico. Eu respeitava a decisão, mas sabia que isso traria mais desafios no futuro.Alora, por outro lado, era um mistério para mim. Não sa
Narrado por Alora Senti o vento no rosto quando Elion abriu a porta do carro para mim. Entrar ali era mais do que simplesmente voltar para casa; era como atravessar uma ponte entre o passado e o futuro. Enquanto ele dava a volta para entrar no lado do motorista, observei a cidade se estender à nossa frente. Tantas memórias dolorosas, mas agora também carregadas de esperança.— Está pronta? — Ele perguntou com a voz tranquila, mas com um olhar que carregava mil perguntas não ditas.— Sim, estou. — Sorri, tentando dissipar qualquer tensão.O caminho de volta foi silencioso, mas confortável. Elion dirigia com uma mão no volante e a outra descansando no console, os dedos levemente próximos aos meus. Era engraçado como algo tão pequeno podia trazer tanto conforto.Eu estava em paz, mas também ansiosa. A decisão de ficar com meu avô por enquanto foi algo que tomei com cuidado. Não queria magoar Elion, mas sabia que precisava de um tempo para me reconectar com minhas raízes e me fortalecer.
Narrado por George Estar de volta à mansão Blackwood era como revisitar um túmulo onde fantasmas antigos sussurravam meu nome. Cada parede, cada corredor, parecia pulsar com memórias que eu enterrei anos atrás. Mas, ao contrário do que muitos pensavam, não fui afastado por escolha. Fui sequestrado e passei 18 anos da minha vida trancado, enquanto assistia, impotente, à queda da minha família. Ver todos que amava morrer me transformou, mas hoje, finalmente, escolhi voltar.Passei a mão pelo corrimão da escada principal enquanto descia, sentindo as marcas do tempo. Nada parecia ter mudado, mas tudo estava diferente. Talvez porque agora havia um novo coração pulsando na mansão. Minha neta, Alora, era a prova de que o sangue dos Blackwood não apenas continuava a correr, mas também a ferver com uma intensidade que há muito não via.No fundo, ver Alora de pé, lutando, trouxe uma centelha de orgulho que eu não sentia desde aquele dia terrível. Ela era a herança viva de tudo o que construímo
Narrado por George Os Blackwood começaram como uma pequena família de comerciantes no século XVIII. Ambiciosos, descobriram cedo que o verdadeiro poder não estava no comércio, mas no controle. Expandiram sua influência, primeiro dominando as rotas de transporte, depois comprando a lealdade de famílias menores. Quando meu bisavô entrou no mundo da máfia, foi como estrategista, mas logo os Blackwood ficaram conhecidos pelos seus assassinos, os melhores que Londres já viu. Mais tarde, entramos no mundo da tecnologia, criando uma rede de hackers tão eficaz quanto letal.O sucesso, no entanto, trouxe seu preço. A ascensão atraiu tanto aliados quanto rivais. Casamentos entre famílias eram usados para solidificar alianças, aumentando ainda mais nosso poder. Mas foi aí que sua mãe, Amália, entrou na história.Amália era uma mulher independente, inteligente, dona de uma coragem que a destacava. Assim como você, Alora, ela nunca teve medo de mostrar o que pensava. Estávamos prestes a selar uma
Narrado por Alora — No começo, eu fiquei horrorizada. Não era o tipo de vida que eu imaginava para mim, mas… eu não tinha outra escolha. Havenna foi gentil, e Asael, que gerenciava o local, também. Ele me deu um teto, comida e, aos poucos, fui aprendendo a me virar naquele ambiente.Eu fiz uma pausa, como se precisasse do momento para reorganizar os meus pensamentos.— Foi lá que conheci Elion. Ele… Ele não parecia o tipo de pessoa que frequentaria um lugar assim. Frio, calculista, mas com um olhar que parecia enxergar direto na minha alma. Ele me viu, avô. De uma forma que ninguém nunca tinha visto. Foi então que, ao olhar o medalhão que eu sempre carregava, algo mudou. Elion reconheceu aquele símbolo. Ele reviveu memórias do passado e, com a ajuda do Asael, começaram a juntar as peças. Eles realmente acreditaram que eu era a filha de Amália. No começo, eu não entendia, mas o medalhão foi a chave para tudo.— Amália… o nome que o orfanato havia me dado — acrescentei. — Por causa do