Narrado por Asael Eu já tinha ouvido tanto sobre os treinos da Alora nas últimas semanas que minha curiosidade estava no limite. Fazia um mês que ela estava lá, e o que me impressionava era que, apesar de toda a tensão com a Katya, ela ainda não tinha levado a terceira advertência. Isso era quase um milagre, considerando o temperamento dela.Mas eu precisava ver por mim mesmo como ela estava. Afinal, quem tinha sido proibido de ir até a base era o Elion, não eu. Então, resolvi agir. Só que, claro, para uma ideia dessas, eu precisava de uma cúmplice.— Havenna, tem um minuto? — perguntei, entrando na sala onde ela estava, ocupada com os relatórios.Ela levantou o olhar, já desconfiada. — O que você quer agora, Asael?— Vamos visitar uma certa menina albina, baixinha, linda e rabugenta.— Você está maluco? Se Elion souber disso, ele arranca a nossa cabeça.Ri, cruzando os braços. — Relaxa, ele não vai saber. E mesmo que soubesse, aposto que ficaria aliviado em saber como ela está. Vamo
Narrado por Elion Eu entendia a raiva de Asael e Havenna, e saber disso me cortava por dentro. Eu podia ver o quanto isso estava afetando-os, principalmente Asael, mas, como sempre, precisava manter as aparências. Alora estava dando tudo de si, se colocando à prova, enfrentando cada desafio para se achar digna de ser esposa de um Don, de mim. Não que precisasse de nada disso, eu a amava do jeito que ela era, mas eu sabia o quanto isso era importante para ela. E por mais que isso me machucasse, eu não me opus, porque a jornada dela precisava ser concluída. Eu tinha que deixar ela seguir em frente, como ela queria.A cada dia, a cada semana que passava, as notícias das melhoras de Alora chegavam até mim e me enchia de um orgulho que eu mal conseguia expressar. Ela estava se superando, provando a todos que não era apenas uma herdeira do nome Blackwood ou uma futura esposa de um Don. Ela era mais do que isso. Era forte, determinada, e nada, nem Katya, poderia quebrá-la.Mas sabia que, ao
Narrado por Alora A sirene tocou às 5:30 da manhã, como sempre. Meu corpo começava a se acostumar ao horário, mas a dor persistente nos músculos me lembrava que ainda havia muito a melhorar. A rotina de treinos era exaustiva, e cada segundo parecia durar uma eternidade. Katya parecia se deleitar em me desafiar, criando obstáculos que, curiosamente, pareciam ser direcionados apenas a mim.Hoje, no entanto, havia algo diferente. Um burburinho tomava conta do campo de treinamento. Os olhares direcionados a mim se intensificaram, e logo entendi o motivo quando Katya cruzou o espaço com aquele olhar gelado fixo em mim.— Alora, parece que você continua atraindo visitas inesperadas — disse ela, com desdém evidente na voz.Ver Asael e Havenna, mesmo que por poucos minutos, havia renovado minhas energias. Era exatamente o que eu precisava para erguer a cabeça e continuar enfrentando tudo isso. Mas Katya não parou por aí.— Já que acha que pode ser especial o suficiente para atrair atenção, t
Narrado por Amália Minha vida parece uma piada de mau gosto. Às vezes, penso que nasci com a má sorte que todos dizem que me persegue, como se o azar estivesse presente desde o primeiro suspiro.Eu não sei quem são meus pais, nunca os conheci. Fui deixada, ainda bebê, em frente a um orfanato em Londres, no meio de um inverno impiedoso. Meu nome, Amália, foi escolhido por causa de um medalhão que pendia no meu pescoço quando me encontraram, como se esse pequeno objeto fosse a única pista do que eu poderia ter sido.Cresci naquele orfanato, cercada sempre pelas mesmas pessoas. Elas são as únicas que conheço, a única “família” que já tive. Mas, como eu disse, minha vida sempre foi marcada pelo o azar. Eu não sei o que o destino planeja para mim, mas até agora ele parece não saber equilibrar as coisas.Toda vez que algo parecia caminhar bem, alguma tragédia ou decepção estava logo ali, à espreita, como uma sombra que nunca me abandona.Não estou sendo dramática; é a verdade nua e crua. A
Narrado por Amália Horas e horas se passaram enquanto eu ficava ali, naquele ponto de ônibus. Perdi a noção do tempo, nem me dei conta de que o céu já estava escurecendo. Só percebi quando o medo começou a apertar o meu peito. O medo do que a noite podia trazer, do que estava por vir agora que eu não tinha mais lugar no mundo.Mesmo com as roupas velhas, rasgadas e caindo aos pedaços, eu ainda sabia que havia algo em mim que chamava atenção. Era uma beleza peculiar, uma beleza que eu nunca desejei, mas que o destino, com sua ironia cruel, decidiu me dar. Outra jogada de azar — ah, sempre o azar.Os olhares me seguiam por onde eu passava, mas não era pelas roupas. Era por mim. Algumas pessoas me olhavam com curiosidade, outras com nojo, e eu sentia o medo em seus olhos. Minha pele, branca como papel, ou melhor, albina. Minha aparência parecia afastá-los, como se eu fosse uma aberração.Isso sempre foi assim. As crianças no orfanato, os professores na escola, até estranhos nas ruas. Nã
Narrado por Amália Antes mesmo que eu pudesse lhe responder, ela acrescentou:— Sei que não é a melhor proposta de todas, mas é bem melhor do que não ter um teto sob a sua cabeça durante as noites de Londres.E por mais que eu não quisesse admitir, ela estava certa. O frio que começava a se instalar na cidade me lembrava de como era perigoso estar sozinha nas ruas à noite.Parei para pensar. O orfanato já não era mais uma opção. O vazio em meu estômago, a insegurança no meu coração, tudo isso pesava sobre mim como uma âncora. Por mais indecente que sua proposta fosse, eu não tinha escolha. Não havia um lugar seguro para ir, ninguém que pudesse me ajudar. Aceitar essa oferta poderia ser uma forma de escapar desse desespero.— Está bem — finalmente disse, a voz baixa, mas decidida. — Eu aceito.Um misto de alívio e ansiedade tomou conta de mim. Ao mesmo tempo em que me sentia como se estivesse me entregando a um destino incerto, também sentia a esperança de que, talvez, essa fosse a mi
Narrado por Havenna Todas que chegaram até aqui tiveram uma razão. A vida nos jogou para cá, mas nem é tão ruim assim, pelo menos na maior parte do tempo. Enquanto seguimos as regras, por mais severas que sejam, estamos bem. Essa é a única forma de sobrevivermos nesse lugar.Talvez eu tenha cometido um erro ao colocar The Velvet Den no caminho de Amália. Mas, querendo ou não, quanto mais meninas chamamos, maior é o nosso salário. E a beleza dela, querendo ou não, certamente chamará a atenção. Eu sabia que sua aparência distinta, aquela alvura quase etérea, a tornaria um alvo para os homens que frequentavam aquele lugar.É claro que eu não disse a verdade por trás de toda a história. The Velvet Den é uma casa de strippers onde homens de terno mandam e desmandam. É um ambiente onde as ilusões podem se desvanecer rapidamente. Aqui, as regras não são apenas severas, mas também são jogadas ao vento quando o dinheiro está em jogo. Se um homem te quer, você pode rapidamente passar de escrav
Narrado por Elion Venho de uma linhagem de homens fortes, uma linhagem de Dons que governou Londres com passos firmes e punhos de ferro. Meu pai, meu avô, e antes deles, todos os homens da nossa família mantiveram o poder em mãos, não apenas pela força, mas pela astúcia. Para nós, governar Londres não era apenas uma questão de vontade, era um dever herdado.A passagem para me tornar o Don não foi fácil. Desde jovem, fui submetido a treinamentos intensos, tanto físicos quanto mentais. Meu pai sempre dizia: “Elion, o poder não está apenas nas suas mãos, mas na sua mente. Quem controla o medo controla o mundo.” E eu aprendi, talvez mais rápido do que ele esperava. Cada golpe que recebia nos treinamentos, cada lição dura que me ensinavam, moldava quem eu me tornaria. Não apenas um líder, mas o Don de Londres.As regras do submundo eram claras: força sem controle é ruína. O verdadeiro poder não está no uso da violência, mas na habilidade de dominar cada situação, de estar três passos à fr