KathyEu sentia que a qualquer momento o chão se abriria debaixo dos meus pés. A voz embargada da minha mãe e suas palavras não saiam da minha mente. Eu sabia que o quadro de Maddie piorou e o tratamento mais agressivo não estava ajudando, porém, eu não conseguia imaginar o pior, não conseguia aceitar que a minha menininha poderia me deixar. Ela iria ficar bem, ela tinha que ficar bem.Cada parte do meu corpo tremia enquanto chorava em meio aos soluços.Jeff tentava incansavelmente me manter calma enquanto o elevador parecia demorar uma eternidade para chegar ao nosso andar.— Droga! Devíamos ter descido de escada! — gritei e soquei a parede do elevador sentindo meus dedos arderem.Assim que o elevador abriu, eu sequer esperei por Jeff e saí correndo em disparada em direção ao meu apartamento. Tudo que eu conseguia pensar era em Maddie e em como ela estaria.Abri a porta e entrei esbaforida.— Mamãe! — gritei e olhei ao redor.Minha mãe estava sentada no sofá em meio as lágrimas, pál
Jeff Já passou uma semana desde que o estado de Maddie piorou e com isso a péssima notícia de que o tratamento não estava surtindo o efeito desejado, a única solução seria um transplante de medula. Infelizmente Kathy e Silvya não eram compatíveis, até fiz um teste na esperança de uma compatibilidade, mas foi em vão. Sabia o quanto era difícil encontrar um doador compatível, era praticamente uma corrida contra o tempo.Meu coração ficava dolorido ao ver o quanto a baixinha estava definhando, não conseguia aceitar o fato de uma criança ter que passar por algo tão doloroso. Já havia tentado contato com inúmeros hospitais e bancos de doadores, porém não obtinha sucesso.Kathy estava arrasada, e doía em mim vê-la assim e não poder fazer nada para mudar a situação. Eu não me apaixonei só por Kathy, aquela baixinha de sorriso fácil e olhar expressivo conquistou o meu coração, ativando até então um desejo que eu sequer sabia que poderia sentir, o desejo de ser pai.Quando me casei não pensav
JeffA droga da campainha continuava a soar aumentando ainda mais minha dor de cabeça.Me levantei e fui até a porta, abrindo sem se quer me lembrar de olhar pelo olho mágico para saber de quem se tratava.A figura esguia de Bervely surgiu na minha frente.— Jeff , querido, eu sinto muito — disse com pesar e se jogou em meus braços.A última coisa que eu precisava era lidar com Bervely naquele momento. Sequer conseguia pensar direito.— O que faz aqui Bervely? — Me afastei com delicadeza.— Eu vi nas redes sociais e não consigo imaginar como você está se sentindo — Ela retirou os óculos de sol e se aproximou do sofá — Aquela carinha de inocente! Quem diria que ela se tratava de uma stripper! — Seu tom de voz debochado me irritou.Obviamente ela imaginava que eu não sabia sobre Kathy ser uma dançarina naquela boate. Era bem provável que a mídia também pensasse o mesmo. Eu não sabia o que dizer ou como agir diante de tudo aquilo.E saber que era o causador me deixava ainda pior.— Não é
KathyMeus últimos dias se resumiu a ficar de olho em Maddie, passava a maior parte do meu tempo com ela. Tinha medo de que ela se sentisse mal e eu não estivesse por perto.Eu e minha mãe buscávamos agir com naturalidade para não deixar Maddie descobrir seu real estado. Tentava manter a esperança viva, mesmo sabendo que a possibilidade de encontrarmos um doador era limitada. Não iria pensar no pior, não queria pensar.Os sintomas da minha mãe estavam estáveis, era possível notar pela sua coordenação motora. Algo que me deixava aliviada, visto que não seria nada fácil lidar com tudo caso sua doença estivesse progredindo.Tudo que eu mais desejava era vê-las saudáveis e sem nenhuma limitação. Queria ver Maddie na escola como uma criança normal, brigar com ela por não querer fazer o dever de casa e surtar quando aparecer com o primeiro namorado. Queria ver minha mãe voltando a costurar e trabalhando com o que ela amava.Era grata por Jeff estar em nossas vidas, ele fazia de tudo para qu
KathyMeu corpo treme.— O que faz aqui? — Nem sei como essas palavras escapuliram da minha boca.Mas era a única coisa que eu precisava saber naquele momento.Meu coração estava tão acelerado que parecia que eu ouvia suas batidas frenéticas.Tudo deveria ser uma mal-entendido, tinha que ser um mal-entendido.— Não que te deva alguma satisfação, mas imaginei que Jeff estivesse precisando de mim.As suas palavras responderam a minha pergunta, seu tom de voz meloso e cínico ao mesmo fizeram meu estômago revirar.— Eu que devo perguntar o que faz aqui — cruzou os braços sem sair da porta — Não acha que já prejudicou a imagem de Jeff o suficiente?— O que você quer dizer com isso? — senti meu corpo tremer de raiva. Ela não tinha o direito de falar comigo dessa maneira e muito menos de estar ali.— Não se faça de sonsa garota, você sabe o estrago que fez...— Onde o Jeff está? — perguntei atônita demais com essa situação.— E você acha que ele quer saber de você?— Isso não diz respeito
KathyOlhei o meu reflexo no espelho e quase gritei assustada. Estava péssima, as olheiras e os olhos inchados deixavam evidente a noite mal dormida e chorosa.Não consegui dormir nem por dez minutos, era fechar os olhos e tudo se repetia, as palavras daquela mulherzinha cruel e Jeff me ignorando como se eu não significasse nada.Talvez eu quisesse uma explicação ou um pedido de desculpas, que Jeff viesse até mim e dissesse que tudo era uma grande mal-entendido, que Bervely surgiu no seu apartamento sem que ele soubesse. Que não era nada do que pensei, mas na verdade nem sabia o que pensar.Eu estava magoada, decepcionada, com raiva, não sabia descrever o que realmente sentia. A única coisa que talvez ilustraria o emaranhado de emoções era a dor. E como estava doendo!Não receber uma mensagem ou ligação deixava claro o que viria a seguir. E não deveria esperar algo diferente.Não queria amar Jeff , me esforcei tanto para não sentir. Me sentia uma grande idiota agora, arrependida de nã
Jeff Deixar Kathy no hospital foi como deixar um pedaço do meu coração.Tive um dia de merda, todos na empresa me olhavam curiosos e sem dúvida eu era a pauta nas conversas dos meus funcionários. Ao chegar no meu prédio, o porteiro veio me contar feliz sobre a cirurgia de Maddie e me questionou do porquê não estar no hospital.Fui invadido pela alegria de saber que a minha baixinha ficaria bem, mas ao mesmo tempo me senti uma merda por não poder compartilhar esse momento com Kathy.Sem pensar muito, voltei para o estacionamento e entrei no meu carro, indo em direção ao hospital que eu sabia que elas estariam.Só quando olhei nos olhos de Kath fui capaz de perceber que o fato de estar ali a machucaria demais.E foi isso que fez, seu olhar surpreso se transformou em um olhar de decepção, de mágoa. Eu era o causador da sua tristeza e nunca iria me perdoar por isso.A única coisa que poderia fazer era ir embora dali, deixando minha felicidade para trás.Entrei no carro e bati minha cabeç
KathyNão sei por quanto tempo fiquei naquele banheiro, meu coração estava em pedaços. Queria apenas voltar no tempo, voltar e não aceitar ser usada, voltar e não deixar um sorriso cheio de charme ou qualquer migalha me fazer derrubar todas as barreiras que construí. Acreditava que nunca me apaixonaria, que o amor não era para mim e deveria ter continuado pensando assim. Porque essa droga de amor tinha acabado comigo.Queria de volta aquele vazio e aquele incômodo de não sentir. Limpei as lágrimas com as costas das mãos e joguei um pouco de água no rosto, lavando-o.Não poderia deixar que isso me derrubasse. Jeff não merecia toda essa importância, não merecia que eu derramasse uma lágrima sequer.Eu fui uma idiota por acreditar nele e agora estava sofrendo as consequências da minha idiotice.Me olhei no espelho querendo socar a minha cara patética, mas a minha dor não era nada perto do que Maddie estava passando.Precisava cuidar do que realmente importava.Sai do banheiro e segui par