Capitulo 2

Ele corria, corria em minha direção pela areia da praia apenas de sunga. O sol fazia seu cabelo cheio e cacheado reluzir o brilho dourado, mexendo de um lado pro outro. Sorri pra ele e só depois percebi que estava sentada na areia esperando sua chegada. Uma música brega e romântica tocava ao fundo, até ele chegar até mim com seu sorriso irresistível, abaixar e colar seus lábios em meu ouvido, dizendo: ACORDA LIZ!!!

- Aaaahhh! - Arregalei meus olhos e me sentei na cama em um pulo.

- Pensei que estivesse morta! - Minha mãe estava ao meu lado da cama -Bom dia querida, vim dizer que Shara e seu marido vão nos levar para fazer algumas comprinhas na cidade.

Ainda olhava pra ela assustada e com a maior raiva de ter me acordado do melhor sonho da minha vida.

- Vou comprar roupinhas coloridas para o bebê! - Ela falou animada - E roupas pra mim também. Você pode sair com o Enzo se quiser, fiquei sabendo que ele vai ser seu guia.

Falou e fechou a porta antes de eu poder perguntar se iria com eles, mas acho a porta em minha cara significa não.

Como eu posso ter sonhado com Leandro? Só vi ele uma vez... Mas mesmo assim, queria sonhar outra novamente. Sorri animada e me levantei.

Quando os adultos saem, os jovens fazem a festa.

Pelo menos é sempre assim quando meus pais saem de casa. Mas acho que esses... Jovens anfitriões, não parecem ser muito de fazer festa. Até tinha esquecido da aposta de Enzo. São oito horas em ponto de acordo com o relógio, e estou em pé, como ele mandou.

Ouvi duas batidinhas na porta e fui abrir.

- O que foi? - Perguntei. Enzo estava em minha porta, de regata e uma bermuda. Ele me olhou de cima a baixo com uma sobrancelha levantada. O céus, esqueci que estava de pijama! Me escondi atrás da porta e sorri.

- Eu disse para estar de pé as oito horas. Você acabou de acordar e nem está pronta.

- Enzo... - Limpei a garganta - Você me mandou estar de pé as oito sim. E eu estou de pé não estou? Ou estou deitada? Então pronto, vá lá pra baixo e me espere. Desço em dois minutinhos.

Fechei a porta e fui direto para o banheiro. Ou o espelho tinha uma fotografia de uma bruxa colada nele, ou é o meu reflexo... Não, é uma fotografia. Escovei meus dentes e tratei de pentear esses cabelos antes que algum passarinho ache que é seu ninho.

Bom, é verão... Praia... Surf... Vou ter que usar o biquíni que minha mãe comprou contra a minha vontade. Só não quero parecer uma deslocada no meio das pessoas que estão na praia, isso é o pior. Coloquei o biquíni e um short jeans. Acho que nem sem passaram três minutos direito.

Desci as escadas e vi a mesa farta, mas a fome não estava presente no momento. Procurei Enzo por todo lugar, mas ele não estava. Onde raios ele se meteu?

Saí de casa e o vi caminhando normalmente, segurando uma prancha bem distante de mim. Ele não me esperou? Não consegue aguentar três minutinhos?

- ENZO! - Gritei tentando caminhar o mais rápido que podia, ele nem sequer virou o rosto. Vai ser assim? Tudo bem, também vou ignorar.

O segui de longe, apreciando a vista. Várias garotas de biquíni estavam no mar, na areia tomando sol... E se eu estou vendo bem, por onde Enzo passa, elas olham como se ele fosse uma ovelha em meio aos leões.

O quê? Ele olhou pra elas e sorriu? Do jeito que é convencido, deve se achar o gatão da praia. Mais a frente, há alguns garotos em um tipo de grupinho. Estavam todos sem camisa e seguravam suas pranchas na mão. E lá vai a pior vergonha da vida de uma mulher: passar por um lugar cheio de garotos com os olhos cravados em você.

Desviei o olhar para a praia e vi Enzo olhar pra trás, ou melhor, para os garotos que olhavam pra mim. Sei que não deveria fazer isso, mas... Foi impossível me conter.

Abri um sorriso para os garotos e eles retribuiram com mais sorrisos e assobios. Dei uma breve olhada para Enzo e ele havia parado de andar. Estava olhando pra mim e me esperando. As distrações eram tantas, que logo meu sorriso se desfez ao tropeçar em meus próprios pés, e cair de barriga na areia.

Que mico!

Ouvi risinhos de algumas garotas, as antes de conseguir ao menos me mexer para levantar, eu estava sendo levantada por milhões de braços fortes que me cercaram.

- Você está bem? - Um garoto de olhos verdes perguntou.

- Tombou feio mina - Outro de olhos azuis sorriu pra mim. Por um momento pensei que iria desmaiar, mas outro braço não deixou.

- Cuidado linda - Olhei pra trás e tive a visão do paraíso. Uma mistura de Ian Shomehalder com Brad Pitt e Taylor Lautner estava em minha frente segurando meu braço. - Meu nome é Bruno. E o seu?

- Meu nome?... Qual meu?... Ah, é Liz. Liz é meu nome Liz - Falei tentando recuperar a respiração. Ele gargalhou e soltou meu braço.

- Sou Joaquin, mas me chame de Jonh. - Outro garoto falou. Eu estava perdida no meio desses... Colírios.

- Liz? -Ouvi a voz de Enzo. Ele meio que entrou dentro do circulo de garotos e ficou me encarando de cara fechada -Vamos.

Pegou em meu braço e me puxou com força. Mas perai, quem disse que eu quero sair?

- Ei, para com isso, ta machucando! -Falei mas ele continuou.

- Tudo bem ai? -Bruno o parou com uma mão no peito.

- Está tudo ótimo - Enzo respondeu e continuou sua caminhada.

- Tudo mesmo Liz? -Perguntou a mim dessa vez.

-Está sim - Sorri e peguei em seu ombro - Tenho que fazer uma coisa com ele.

- Beleza. Te vejo depois? - Pegou minha mão e beijou.

Concordei com a cabeça já que não consegui formar nenhuma frase. Dei uma pequena corridinha para alcançar Enzo, que nem me de atenção. Eu juro que não o entendo.

- Qual seu problema? -Perguntei. Ele finge que eu não existo! Uma hora está todo preocupado e outra nem sabe que eu existo.

- Qual é o seu problema. Fica se jogando nos braços de qualquer um. Isso é atitude de uma... Bom, de uma garota desesperada.

- Como é que é? Você é louco ou cego? Não viu que eu tropecei e caí? Os garotos foram muito gentis em me ajudar. Diferentemente de você que quase arrancou meu pulso fora e...

Ele parou de andar e virou bruscamente para mim. Bati meu corpo contra o seu em um susto. Meus olhos foram penetrados pelos seus, causando uma breve corrente gelada pelo corpo. O rosto estava sério e pôs uma mão em meu ombro, me afastando de perto dele.

- Eu. Não. Ligo - Falou fazendo pausas entre as palavras e voltou a andar.

- Então para de reclamar. Eu também não ligo pra você, quando eu estiver falando com algum garoto, não venha atrapalhar seu... Idiota! - Ele continuou sua caminhada sem dar atenção como sempre, apenas fez um gesto com a mão.

Grosso! Quem não liga sou eu. Nem sei porque aceitei essa aposta. Acho que apenas para sentir o gostinho de ve-lo cair e ficar com raiva de minha Vitória. Se eu sou tão insignificante, porque quis passar esse tempo me aturando? Não sou uma criancinha que precisa de um babá! Vou deixar isso bem claro para Shara.

Felizmente ele parou de andar e pôs a prancha em pé na areia.

- As ondas aqui são boas. Se senta e me vê cair - Falou sem nenhuma expressão no rosto.

Me sentei debaixo de uma sombra e o esperei entrar na água, só não contava que o veria tirar a blusa em minha frente. Ele ficou de costas pra mim enquanto tirava a blusa.

Seus músculos das costas se contrairam a cada movimento que fazia e só depois de tira-la por inteiro, pude ver uma tatuagem no ombro esquerdo. Mas não deu para ver que desenho formava, já que ele se virou para pôr a blusa na mesa e eu tive que desviar o olhar bem rápido.

Correu até a prancha e a pegou na mão, entrou no mar e foi logo se deitando de barriga. Com as mãos, "remou" até onde as ondas estavam se formando e esperou chegar alguma.

O Havaí, que eu saiba, tem as melhores e maiores ondas do mundo! Para surfistas que adoram surfar mais do que a própria vida, esse lugar é o paraíso.

Vi uma onda se formando atrás dele, que ficava maior a cada segundo. Enzo se levantou, ficando de pé na prancha na hora que a onda o atingiu.

Não conheço muitas "manobras" do surf e nem sou alguma expertise em ondas, mas diria que ele surfa muito bem. Não foi dessa vez que caiu, mas tem várias ondas ainda, e tenho que ganhar.

Ele surfa na maior tranquilidade, como se estivesse flutuando nas nuvens e se não for ilusão minha, ainda vi ele sorrir pada o nada. Talvez o surfe faça parte de sua vida, assim como a cama faz parte da minha.

E lá se vai mais uma onda e ele ainda de pé. Será possível que não vai cair uma só vez? Vai rir de minha cara quando souber que não sei nadar. Mas é que ninguém me ensinou e eu sempre tive medo desde pequena dos tubarões e dos outros peixes assassinos.

Certo, eu sei quando sou derrotada. Ele não vai cair daquela prancha e eu nem vou ganhar dinheiro algum. Acho que ele fez essa aposta de propósito, só porque é um curioso e não sabe cuidar da própria vida.

Depois de um tempo, ele saiu do mar e veio andando em minha direção com a prancha debaixo do braço. De repente parou de andar e olhou para alguém, abriu um sorriso imenso. Nem reparei para quem olhava, apenas me perdi em seu sorriso cativante que eu nunca vejo e em seu peitoral... Como?

Uma garota de cabelos longos e de biquini foi até ele e o abraçou. Enzo beijou sua bochecha e ela cochichou algo em seu ouvido, passando a mão por seu ombro e pescoço.

Ele sorriu e olhou pra mim antes de começar outro caminho junto com ela, e foram para o outro lado para se juntar a algumas pessoas.

Ótimo! Agora estou sozinha. Me levantei com raiva e vi sua blusa na mesa. Sem pensar duas vezes, peguei a blusa e a afundei na areia com gosto! Ninguém mandou ter me deixado sozinha.

Começei a andar com rapidez em direção a casa de Shara. Preciso de um banho bem gelado e de muito protetor se eu não quiser voltar pra Nova Iorque descamada.

- Liz? - Olhei para o lado e vi Bruno andando até mim. - Já vai embora?

- Já sim... Vou tomar um banho. Não sou acostumada com esse calor - Ele sorriu e se aproximou de mim. Pude reparar em suas sardas na bochecha, que o deixavam fofo.

- Que pena - Falou e segurou meus ombros. - Vai ter um luau hoje a noite. Quero que você venha.

- Onde vai ser? - Perguntei divertida. Sempre quis ir em um luau.

- Aqui na praia mesmo. Naquela cabana. -Apontou para a cabana onde estavam montando as coisas. - Estamos terminando de apronta-la para hoje -Sorriu -Te vejo a noite então?

-Me vê sim. - Falei e pisquei.

Continuei minha caminhada já decidinho com que roupa eu iria para esse luau na praia. Deve ser bem divertido! Como sempre, vi em filmes que as pessoas dançavam "hula" "hula" com seus colares de flores a luz de velas. Deve ser muito divertido!

Entrei em casa e vi que nenhum adulto havia chegado. Thomás estava sentado no sofá comendo uma maçã e vidrado na televisão.

- Oi Thomás - Falei e ele continuou calado. Na verdade, nunca vi ele falar... - Você fala a minha língua?

Tentei puxar assunto, mas ele continuou comendo sua maçã sem me dar atenção. Igualzinho ao irmão... Tenho é pena.

Subi para o meu quarto e tomei um belo de um banho gelado para amenizar o calor daqui. A noite não é tão calor assim. Fica um pouco friozinho, o que me lembra do frio que sinto falta da minha cidade.

Vesti qualquer roupa para ficar em casa e desci para fazer companhia a Thomás, mas ele já não estava mais na sala, apenas Enzo estava entrando na casa. Dei meia volta para subir ao quarto já que sou uma visita indesejada para alguma pessoa...

- Você perdeu a aposta -Ele falou e eu parei no meio dos degraus - Porque não entra no mar?

Me virei e o vi encostado no corrimão do primeiro degrau, esperando minha resposta. Vou ter que responder, mas ele pediu apenas um motivo, o outro não vou dizer. É muito pessoal...

- Não sei nadar. - Levantei as sobrancelhas e olhei para o lado, com medo de que ele achasse graça disso, e com medo de que achasse ser mentira. Quem em minha idade não sabe nadar?

Mas sua expressão não mudou.

- Só isso? Pensei que tivesse sido quase morta por um tubarão ou afogada. Meu esforço não valeu de nada. - Ele falou e passou para a cozinha. - A não ser que esteja mentindo.

Ele bebeu um pouco de água de me olhou esperando alguma resposta.

- Eu não menti - Respondi e fui até ele - Só... Não falei o outro motivo.

- É algo tão ruim assim pra não me dizer? - Apoiou seus braços no balcão da cozinha e entortou o rosto. A luz forte da lâmpada reluziu em seus olhos, que ficaram mais claros do que o azul normal. Muito bonitos - O que foi?

Perguntou olhando torto para mim. Não sei o que responder.

- N... Nada não - Saí de sua vista e fiquei andando pela sala - Foi algo ruim sim. Muito ruim ao ponto de não querer entrar no mar. Toda vez que chego perto... Tenho uma sensação estranha.

-Medo? - Perguntou e fechou a janela da cozinha.

- Talvez... - Em encostei nas costas do sofá e pude ver metade da tatuagem em seu ombro nas costas, enquanto o observava andar de um lado para o outro arrumando as coisas em seu devido lugar. Fiquei hesitante entre perguntar sobre a tatuagem ou não já que nunca sei quando seu humor está alterado. Então vou puxar assunto para ele mesmo falar.

- Você gosta de tatuagens? - Ele me olhou e voltou a pegar as coisas desarrumadas.

- Mais ou menos - Respondeu.

- Sempre quis fazer uma - Falei fingida. É claro que não quero, mas vou arrancar alguma coisa dele.

- E porque não faz? - Perguntou e parou em minha frente de braços cruzados.

- Bom... Eu... Porque... Meus pais! Eles não deixam eu fazer uma... - Meu coração acelerou ao notar que havia mentido, mas não sabia o que dizer... Ele apenas concordou com a cabeça.

- Eu gosto de Tatuagens - Falou - E se encostou na parede a minha frente. Fincou os olhos para mim. Não entendi. - Eu tenho uma, quer ver?

Ele perguntou com um sorriso de canto. Bom, até que minha tática funcionou.

- Você tem? - Sorri fingindo surpresa e desentendimento - Quero ver sim.

- Vem cá - Ele me chamou e abriu a janela da varanda, deixando a luz do sol entrar e clarear o local .

Ficou de costas para mim e tirou a sua blusa. Me aproximei dele e pude ver a tatuagem em seu ombro, um sol. O tamanho é mediano e tem a cor preta, muito bonita por sinal.

Passei meu dedo indicador por cima dela, e o deixei deslizar por suas costas. Vários sinais, parecidos com sardas em conjunto, estavam por quase todo o corpo e uma pequena cicatriz mais em baixo, na altura de sua bermuda.

Passei meu polegar pela cicatriz e ele virou seu rosto, me olhando de canto.

- E... Porque o sol? - Perguntei parando de toca-lo. O que eu estou fazendo!?

- Porque eu amo o sol - Falou e estranhei. Ele ama alguma coisa? Uau! - Acho que eu me movimento a base dele.

Sorrimos juntos e ele se virou para mim.

- Essa aqui eu fiz hoje na praia, só que é de rena. Por mais que seja coisa de garota, foi o melhor que consegui. Minha mãe nunca iria me deixar fazer uma desse tamanho de verdade.

Sorri e olhei a tatuagem de rena em seu peito direito. Está escrito "Trust your sbruggle". Confie em sua força.

- Nossa! - Falei sorridente.

- Vivo fazendo essas tatuagens com um amigo meu. Sai em quinze dias - Falou sem tirar os olhos de mim - Mas acho que vou tirar antes.

- E porque essa frase? - Aproveitei para perguntar. Ele está... Bonzinho?

- Não tem um significado certo... Apenas gostei da frase - Sorriu sem humor.

É a primeira vez que eu vejo um sorriso verdadeiro sem seu rosto, tirando o sorrisão que ele deu para a garota da praia.

Nos encaramos por algum tempo até cair na real. Ele colocou a blusa de volta e seu rosto se fechou de uma maneira rápida.

- O que foi? - Perguntei quando ele saiu da varanda e fechou a janela.

- Nada - Falou frio, andando para a cozinha apressado - E antes que eu me esqueça, não ande com o Bruno. Ele só irá te trazer problemas.

- Eu o acho um cara legal - Respondi cruzando os braços - Porque diz isso?

- Porque ele não é flor que se cheire. E você não ficar muito tempo aqui, não arranje amigos para sentir saudades depois.

- Então é por isso que você vive me chutando? - Ele olhou pra mim quando parei em sua frente - Uma hora estamos nos entendendo bem, e logo já está sendo o maior arrogante do planeta!

- Não faço isso - Respondeu e também cruzou os braços - Não ligo pra você e muito menos sentir saudade quando for embora. É só o meu jeito, e quando falo para não fazer amigos, é para o seu bem! - Bateu seu ombro no meu ao passar por mim depressa com uma maçã na mão.

- Pois eu vou arranjar! - Falei entre dentes - Não vou ficar aqui mofando sem fazer nada. E vou até em um Luau hoje a noite.

- Quem te chamou? - Perguntou e parou em minha frente.

- Bruno me convidou.

- Certo, depois não diga que não avisei - Mordeu a maçã e piscou.

Ele passou por mim outra vez e foi para seu quarto. A única flor que não deve ser cheirada aqui, é esse Enzo. Gosta de me botar pra baixo e ainda não quer que eu saia.

Agora eu vi! Vou no Luau hoje, e com o Bruno além do mais. Gostei de seu jeito educado, o osposto desse garoto irritante. Não podemos começar uma conversa normal, e sempre ele tem que levar na parte da briga. Isso está ficando meio chato.

Mas pouco importa agora. Tenho um Luau para ir hoje a noite e tenho que me aprontar.

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