CAPÍTULO OITO

Moscou – Rússia

Alexandre Vodianova

Chamo-me Alexandre Vodianova, há vinte anos atrás acabei entrando no mundo da máfia, porém, nunca me envolvi diretamente. Quando Amanda tinha 11 anos se tornou alvo da obsessão de Antosha, um homem frio, calculista e implacável, jamais cogitei que minha filha que era somente uma criança, fosse capaz de despertar o interesse do próprio demônio, para muitos seria um privilégio ser o pai da futura dama da Bratva, só que Nikolai mostrou-se ser o verdadeiro o capeta que era quando, não só tirou a vida de sua falecida esposa como de várias outras do nosso meio se tornando um tipo de hobby para o mesmo, assim que soube do seu interesse pela minha filha fui contra, mas quem era eu diante do mais temido criminoso da Bratva, durante sete anos esperei o momento certo para colocar meu plano em prática, consegui uma nova identidade para as duas e tive que permanecer na Rússia para dar tempo da fuga e elas conseguirem ter êxito.

Quando Nikolai descobriu o ocorrido, o mesmo pessoalmente tratou de me aplicar as piores torturas que nunca imaginei na vida, foram dias e noites sem dormir até ele decidir que eu ainda poderia lhe ser útil, mas antes deixou uma marca que levarei até meus últimos suspiros na terra. Achei que morreria ao ter aquele ferro quente enfiado em meu olho direito, foi impossível conter os gritos e as lágrimas em minha face. Saio das minhas lembranças e tento abrir o único olho o qual ainda me é permitido enxergar, os raios do sol adentram o pequeno cômodo através de pequenos buracos no teto. Com dificuldade me arrasto até o prato que contém um pedaço de pão e um copo com água, em meio a dor em minhas costelas tento me levantar, porém, minhas pernas não suportam o peso do meu corpo, me levando a cair bruscamente.

Conto os dias através do surgimento da claridade no ambiente, isso se tornou a minha maior rotina para tentar dissipar a dor que percorre em meu corpo, mas ao pensar que minha princesa está longe desse infeliz faz com que todo esse sofrimento tenha valido a pena. Tenho esperanças que algum dia voltarei a ver aquele sorriso que me encantou desde o dia que a peguei em meus braços, não sei o que o destino me reserva mais espero que Deus me perdoe por tudo de ruim que eu já fiz na vida e onde estiver proteja minha Amanda desse homem que não terá piedade quando encontrá-la .

— Senhor coloque no caminho da minha filha alguém que possa livrá-la garras de Nikolai Antosha.

Nova York

Amanda Collins

Meus olhos permanecem fixos no objeto que está nas mãos da minha mãe, meus pulmões estão tão apertados que não consigo nem respirar, meu pulso está batendo tão forte que vejo uma sombra negra se aproximar, o silêncio permanece no ambiente e ao levantar meus olhos vejo seu rosto banhado em lágrimas.

— Sinto muito, mãe — sussurro, olhando novamente à revista em suas mãos.

— Você tem ideia do que isso significa Amanda?

— Não pensei que poderiam usar justamente essa foto e que a mesma seria estampada na capa de uma das revistas mais famosa do mundo — tento conter as lágrimas que insistem em cair sem a minha permissão.

— Filha tudo que mais desejo é a sua felicidade, se passamos por tudo isso foi para te proteger, você sabe que se o Nikolai tiver acesso a essa informação estaremos perdidas, sinto muito por você ter que deixar tudo que conquistou até agora para trás, mas teremos que ir embora o quanto antes de Nova York.

Fecho meus olhos por apenas alguns segundos tentando assimilar as palavras da minha mãe, abro os olhos e eles percorrem todo ambiente, as imagens do Ramón, o carinho que recebo do único amigo que me foi permitido ter, o sorriso do homem que a horas atrás se mostrou bem diferente do ogro que conheci no elevador, novamente deixarei tudo para trás, em uma tentativa doentia de fazer com que seus caprichos fossem realizados um demônio em forma humana resolveu decidir o meu destino. 

Há muito tempo não me sentia tão bem em um lugar, porque meu Deus tenho que sofrer as consequências de algo que foi decidido sem minha permissão. Tento afastar esses pensamentos, o olhar da minha mãe, muda para mim, mas depois de um segundo, seus lábios se inclinam para cima.

— Essa é a melhor coisa a fazer, sinto muito, - diz ela em voz baixa.

Minha garganta está em chamas, eu me concentro em na minha respiração e a única coisa que me resta é gritar.

Eu te odeiooooooooo Nikolai Antosha.

Erick Lassiter

Pela primeira vez em muitos anos consegui dormi sem ter pesadelos, ao lembrar daquele sorriso senti uma sensação capaz de acalmar todos os meus demônios, ontem quando vi Aguiar tão próximo a ela, minha maior vontade era de enfiar minha adaga em seu peito até vislumbrar o seu corpo coberto de sangue. Amanda Collins que diabo você está fazendo comigo, depois de tudo que passei não posso nutrir sentimentos por ninguém, me tornei um homem sombrio onde meu maior refúgio passou a ser a Ndrangheta, não posso nem se  quer cogitar a ideia de possuir  um calcanhar de Aquiles.

Até conhecê-la sempre fiz as piores atrocidades com as mulheres, após ter meus desejos mais sórdidos realizados, as ver desfalecendo em minha frente sempre me trouxe uma sensação de alívio. 

Fecho os meus olhos e as imagens da primeira prostituta que eu enviei ao inferno vem à minha mente, após satisfazer meus desejos, peguei um bisturi e comecei a deslizar pelo seu corpo, os fluxos finos de sangue começaram a surgir, assim como os gritos estrangulados ecoavam pelo ambiente atingindo meus tímpanos, o ódio rasgou os meus ossos ao ponto de me fazer penetrar mais fundo a lâmina em sua pele, meus olhos ficaram vidrados em cada movimento  do bisturi, e as minhas veias estavam batendo em explosões de energia me deixando em puro êxtase. O cheiro de sangue fresco impregnou em minhas narinas, quando não ouvi mais os gritos da mulher levantei o olhar e seu corpo estava coberto de sangue, eu inalei o fedor e engoli, deixando aquela sensação me preencher, nunca tinha sentido nada tão satisfatório em toda minha vida.

Ao ouvir um o barulho da porta ser aberta por Alex, decido esquecer essas lembranças.

— Trouxe o dossiê sobre a vida da senhorita Collins.

— Pela sua cara vejo que não é portador de boas notícias.

— Ao contrário, tudo vai depender de como usaremos as informações contidas nesse arquivo, poderá ser nossa salvação ou então iremos destruir com a vida da senhorita Collins.

Minhas sobrancelhas sem erguem, em um claro sinal de incompreensão enquanto sinto minha mandíbula se contrair, pego rapidamente a pasta das mãos de Alex. Meus olhos percorrem sobre o arquivo em minhas mãos, a cada frase sinto meus batimentos acelerarem, quando enfim meus olhos chegam na última página, sinto meus pulmões se contraindo e um nó se formar em minha garganta, em um impulso fecho a mão e meu punho vai de encontro à mesa fazendo com que tudo vá ao chão.

Amanda Collins, na verdade, é Amanda Vodianova.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo