Meu príncipe Sombrio
Meu príncipe Sombrio
Por: Evelyn Loren
Capítulo 1.


Alyssa

Santiago está berrando de dor   no quarto e disparando palavrões. Todos dirigidos a mim. Eu não olho para trás enquanto fujo dele ,correndo  para alcançar a porta do trailer. O medo está congelando os meus ossos , mas não paro. Abrindo a porta ,eu saio pra fora. A faca que usei para feri-lo está suja de sangue , assim como as minhas mãos e roupas. Sinto náuseas e tonturas  , mas não sei dizer se o motivo é  porque estou suja com o  sangue dele , porque eu acabei de enfiar a faca no estômago dele,  ou porque estou com medo. Talvez seja por todos esses motivos .  Não posso continuar aqui. Santiago não vai deixar isso barato. Ele jurou que vai me fazer pagar pelo que acabei de fazer e eu sei que ele vai tentar cumprir. 

 Ele vai querer fazer coisas piores comigo além de me estuprar. Dessa vez   eu consegui escapar dele  , mas não vou ter a mesma sorte na próxima.  Ele disse que foi a minha mãe que o  autorizou a vir até aqui para  ter o seu pagamento, que no caso sou eu. Mas eu não acredito nele. A minha mãe pode ser uma péssima mãe , que vive mais drogada do que sóbria , e que na maior parte do tempo sequer se lembra que tem uma filha ,

mas aí entregar a sua própria filha para pagar as suas dívidas de drogas ?

Não. Ela não chegaria a tanto. 

—Você me paga sua vadia !— Santiago grita num rosnado e eu ouço o som de alguma coisa se quebrando dentro do trailer antes de ouvir a porta improvisada de metal do meu quarto se abrindo  , mas  já estou do lado de fora e ele não pode ser mais rápido que eu ferido como está. O meu coração bate rápido feito tambor,  minha cabeça está girando,  e o medo tirando a minha capacidade de distinguir em que direção seguir para fugir dele. Uma direção segura. Uma direção que ele não consiga me encontrar. Mas e a minha mãe? Não posso deixá-la para trás. Santiago vai descontar o que eu fiz pra ele nela. 

 Então eu a vejo. Ela está sentada no capô do carro de Santiago fumando um cigarro. Ela parece tão calma. Talvez ela tenha acabado de chegar e é  por isso que não ouviu os gritos de Santiago. E nem os meus  gritos por socorro. Mas porque ela está sentada no capô do carro dele ,afinal ? Ela o  odeia. Vive dizendo que ele é um explorador , machista e ditador de merda. 

Que não importa o  quanto de dinheiro dê pra ele  que ele sempre diz que ela está devendo. Que não vê a hora de se mudar da cidade para ficar livre dele e etc..Etc..

 —Mãe !— Eu chamo por ela e movo  as minhas pernas bambas até o carro.  Ela levanta os óculos de sol na cabeça e vira o rosto para olhar para mim. Os  olhos dela ,tão  azuis  como os meus ,  estão mesclados de vermelhos  e irritados. O vermelho dos olhos dela  é o indício que ela já se drogou. Começou cedo. Geralmente ela faz isso a noite que é quando está trabalhando no bar. 

No bar de Santiago. Bar esse onde ela deixa  todo o salário que ganha em bebidas,drogas e cigarro. Mas ela sempre encontra um outro  jeito de conseguir manter o aluguel do trailer  em dia e comprar alguma comida para nós duas apesar disso. Uma refeição por dia ,na verdade. E sempre é  pão e ovo. Eu nunca reclamo porque sei que considerando a situação dela, é uma sorte eu ter uma refeição por dia. 

  — Que merda você fez ?— Ela arregalou os olhos quando finalmente percebeu o meu estado digno de um filme de terror. —Temos de fugir, mãe.   Santiago tentou me estuprar e eu o esfaqueei no estômago. Ele não vai deixar isso barato. Temos que ir. Vamos mãe!    —Fico surpresa por ter conseguido falar com clareza. A minha mãe não se moveu. Ela continua me olhando ,desde o meu rosto ,as mãos  sujas  de sangue, que ainda segura a faca também suja de sangue, e as minhas roupas. 

 — Que merda você fez, porra ?— Ela joga o cigarro no chão e vem pra cima de mim.

Eu não entendo. Não era para estar aliviada por eu ter conseguido evitar que Santiago me estuprasse ? Era o que a mãe deveria parecer em uma situação dessa. Mas ela não está aliviada. Pelo contrário, ela está muito irritada.   

Ela para a minha frente e me encara com fúria. 

— Você  esfaqueou Santiago ? 

Eu aceno ,dizendo que sim. 

— Sua vadia ! Quer me ferrar ?, É isso ? —Ela agarra o meu cabelo e eu gemo de dor enquanto a  confusão nubla os meus sentidos. 

—  Mãe ? ..O que ..—Eu tento me soltar , mas o aperto dos dedos dela no meu cabelo fica mais forte , chegando a ser insuportável a dor no couro cabeludo. 

— Eu mandei ele vir aqui, sua cadela ! Estou devendo uma grana alta pra ele e não tenho como pagar. 

Eu congelo e o meu coração parece ter parado de bater.

Então era mesmo  verdade ? Santiago não tinha mentido ?

— Até hoje sustentei você, sua vadia ingrata !  —Ela se move e vai na direção do trailer ,me puxando pelo cabelo  com ela. Ela nunca falou comigo nesse tom antes. Já me xingou como está  fazendo agora , mas não tão irritada.  —Custa retribuir um pouco pelo que fiz por você ? Agora, escute. —Ela pára e me obriga a olhá -la ,puxando o meu cabelo para trás até que a minha cabeça esteja inclinada e o meu rosto  sobre o seu olhar irado.  —

Você vai voltar pro Santiago ,pedir desculpas e dar o que ele veio buscar. Você entendeu? Ou é isso ,ou estamos mortas. 

—Eu prefiro morrer a fazer sexo com um porco como ele ,mãe. —Usando uma força que não sabia que tinha ,eu a empurro e consigo escapar. Ela vem pra cima  de mim  novo  ,gritando coisas horríveis , mas dessa vez, eu estou longe o bastante do seu alcance e corro ,sem me importar com a direção que estou indo. Os meus olhos estão embaçados pelas lágrimas e o meu peito doendo de tristeza quando olho uma última vez para trás ,para ela. Para a mãe que por mais que estivesse longe de ser uma boa mãe ,eu  nunca esperei que as suas atitudes e escolhas  chegassem  tão longe e tão cruel   ao ponto de vender a  própria filha para pagar dívidas de drogas.  Eu tinha esperança que assim que fizesse dezoito anos,  arrumaria um emprego e tiraria ela dessa vida. Mas agora, essas esperanças se foram e a decepção tomou o seu lugar. Eu não tenho ideia pra onde eu vou e o que fazer sem nenhum tostão no bolso , mas tinha certeza de uma coisa , que eu  não podia voltar lá. 

E foi a partir daí que o meu inferno começou. 

Seis meses depois....

Maldita gripe que não vai embora. 

 É a terceira   vez no mesmo mês que ela  me pega.

 Hoje  já faz uma semana. 

 Uma longa e angustiante semana com febre , dor de  cabeça, tosse , garganta inflamada e  estômago vazio. Por falar em estômago vazio, ele está roncando de novo. 

Ele está  implorando desesperadamente por comida , mas  não aceita mais ser enganado  por  água e nem  pelos   biscoitos envelhecidos que eu  encontrei na lixeira perto da casa abandonada onde estou vivendo  há dois meses. Casa essa que eu  tive muita sorte de ter encontrado em umas das  minhas tentativas desesperada por um lugar seguro para dormir. 

  Antes dela  , eu dormia em  galpões abandonados , debaixo de  delicatessens  e às vezes , principalmente no inverno   , eu tentava  uma vaga nos abrigos para sem tetos para passar a noite. Mas eu nunca pregava os olhos. Não era seguro.  

Talvez alguns deles  até fossem  seguros , mas eu não sentia mais essa confiança. 

  Eu preciso reagir e logo. Preciso encontrar alguma coisa pra comer. 

 Caso contrário, não vou durar por muito tempo.  

 Há uma lanchonete perto daqui. Em um dia de sorte , dá para   encontrar  alguma coisa boa na lixeira de lá. Que Deus me ajude que eu encontre. Por que eu me recuso a fazer aquilo de novo pra matar a fome. Foi tão  nojento que só de pensar ,o meu estômago dolorido e faminto  embrulha de náusea.  

 Tateando ao redor do colchão, eu encontro a vela e a caixa de fósforos . Um bônus que veio com a  casa , assim como o colchão e os cobertores. 

  

Acendendo  a vela , me levantei e  fui tomar um banho , levando a vela acesa comigo para iluminar o caminho. Já no banheiro, 

deixo   a vela sobre a pia e   me livro   das roupas.  Um rápido  olhar no espelho trincado na minha frente me fez  gemer  de desespero. 

Estou muito magra. Mais do que já  estive  antes.   

 Os  meus olhos azuis cercados por profundas olheiras escuras,  parecem enormes no meu  rosto pálido e ossudo. E o meu estômago  está  tão  fundo que os fios das costelas estão visíveis.

 Eu  sabia que não estava nada bem ,  mas não imaginava que a minha aparência estivesse   tão ruim assim ao  ponto de eu me sentir mal  olhando para a minha  própria imagem refletida no espelho. Vocês devem estar se perguntando  por que  eu  não arrumo  um emprego.  

Eu tentei . Por várias vezes  . Mas sempre era a mesma coisa. Eu era  expulsa antes mesmo de entrar no estabelecimento enquanto ouvia " Vaza daqui sua mendiga!  Se colocar os pés aqui de novo  vou chamar a polícia! Se ao menos eu tivesse roupas melhores, eu teria alguma chance ,mas  eu não tenho. 

 Já é o  suficiente  tentar  não morrer de fome para me preocupar em não  parecer uma sem teto quando eu sou   uma. 

Desviando  os meus olhos rapidamente do espelho  , enrolei o meu cabelo num coque e entrei debaixo da ducha gelada.  

A água gelada batendo no corpo febril era quase uma tortura, mas aguentei  firme e agradeci por ter  água. Mais um  bônus. Um bônus quando dificilmente a vida me dava um. 

Minutos depois, vestida com a minha melhor  calça jeans e casaco, eu  estava indo atrás do meu tênis quando o barulho   furioso de uma moto me fez pular de susto ,e em seguida, veio o estrondoso som de uma  batida provocando  um forte  tremor na casa pelo  impacto. A moto permaneceu rugindo por alguns minutos até silenciar. Antes que eu pudesse  me recuperar do choque   ,  a porta  da  casa  foi  chutada com tanta força que a madeira rachou no meio. Eu estremeci e o meu coração entrou num colapso de pânico pela força e   fúria daquele homem que  não parecia nem um pouco afetado pelo  acidente.   

Fraca  como  estou ,  eu não  tenho nenhuma chance de me defender  caso ele  tente me atacar. 

 A porta foi  chutada  novamente  e   dessa vez ,  o chute foi acompanhado por um gutural  grunhido feroz.  Santo Deus. Ele quer entrar e parece tão ameaçador e furioso,  que sinto-me  como se uma nevasca tivesse me atingido e o meu coração disparou  furiosamente. 

A porta não vai durar muito. Eu preciso reagir. Encontrar uma maneira de fugir. 

 Pegando  a minha faca no bolso da  mochila ,  joguei a mochila sob o  ombro   e apaguei a vela. 

 Vai ser mais fácil escapar  dele na escuridão. 

Com  mais um chute e grunhido , o homem estourou a  porta e  tropeçou para dentro da casa , caindo em seguida sobre o assoalho de madeira ,fazendo um som forte e intimidante com o seu peso. Seu vulto é grande e escuro e ele está respirando freneticamente e profundamente   pelo nariz e grunhindo baixo,    como um animal  prestes a atacar a presa. Nada de bom pode vir de um homem que está se portando como um animal selvagem. 

Merda. E ele  

   está no meu caminho agora. Como eu vou  sair daqui sem que ele me veja?  

—Eu sei que você está aí.  Será que você pode acender a maldita luz?  — O homem  rosna   ,arrastando  corpo grande e pesado   pelo assoalho.  

Inalando uma respiração profunda , eu segurei a  faca em posição de ataque.  E 

 contando até dez, andei na  direção da porta com cuidado pra não fazer barulho ,mas as malditas tábuas  soltas do assoalho estão  entregando a minha tentativa de fuga  . Elas  rangem   a cada passo que eu dou  independente do quão cuidadosa eu esteja tentando ser.  

—Se der mais um passo, eu atiro em você. —Ameaçou-me ele  num grunhido , e em seguida,  o som de  um  clique soou na escuridão antes mesmo que eu alcançasse a porta .  Eu congelei no lugar enquanto  esperava  em pânico pelo o que viria a seguir.   

—Acenda  a porra  da luz!  

Eu  me perguntei se ele me acertaria na escuridão. Talvez não. Mas se ele fosse bom o bastante para me acertar?  

—Tudo bem. Mas por favor, não me machuque. — eu pedi num fio de voz baixo e trêmulo.  

O estranho ficou em silêncio. E segundos depois, o que pareceu uma eternidade . Ele resmungou:

—Acenda a luz. 

Perambulando pela escuridão com as pernas bambas , eu chego até onde deixei a vela .  Encontro   o fósforo e acendo-a.  Então ,  vagarosamente , como eu estivesse  em uma  câmera lenta , 

eu  me viro  para o  estranho. 

O estranho mais lindo que já vi na vida.  

Cabelos  escuros embaralhados   ,  olhos de um intenso tom de verde escuro e brilhante  como de um tigre , e  um rosto esculpido por  traços  fortes e marcantes sombreado por curta  uma barba escura  por fazer. 

 E ele está muito ferido. 

 A mão que ele está  mantendo  no estômago está suja  de sangue. Santo Deus! Porque  ele não está em um hospital?  Será que é por isso que ele me quer aqui?  Para chamar a ambulância." Claro que não  sua idiota !  Acorda!  Está na cara que é um  criminoso.   

Eu não quero morrer.  E há uma grande possibilidade de ele me matar. Depois de fazer o que quiser comigo. 

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