Olivia
Que diabos?
Esse é realmente o meu quarto?
Caminhei pelo lugar cautelosamente, mexi nos pertences, nas gavetas e nas roupas, de fato, é tudo meu. Esse é realmente o meu quarto, mas eu podia jurar que estava morrendo apenas alguns minutos antes, como eu posso estar aqui?
Não faz sentido.
A sensação vívida de morrer é bem clara e as lembranças dolorosas, a impotência e todas as sensações que experimentei não podem ser apenas um sonho.
A raiva ainda enche meu peito ao lembrar das palavras de Sarah, como ela parecia feliz com a minha morte, aliás, extasiada é uma palavra melhor para definir como ela se parecia naquele momento. Eu juro, se eu pudesse, eu teria levantado daquela cama e estapeado ela até minha mão doer muito. Mas, se eu estava doente e morrendo, como diabos eu vim parar na minha casa e aparentemente em perfeito estado? Deixando de lado o fato de que minha cabeça parece prestes a explodir e meu corpo dói, eu estou longe de estar tão doente como eu me lembro. Há uma sensação estranha no ar, como se eu estivesse deixando algo de lado.
Fui até o celular que estava na mesa de cabeceira e quando a tela se acendeu, percebi algo totalmente fora do lugar.
A data de hoje é de três meses depois do meu aniversario de vinte e um anos. Também é um pouco antes do meu noivado rápido com Robert.
Que porra é essa?
Lembro claramente de ter vinte e cinco anos, como de repente eu voltei no tempo?
Isso não faz o menor sentido.
Sentei na cama tão surpresa que precisei parar um pouco para organizar meus pensamentos. Levantei, fui até o banheiro e encarei o meu reflexo no espelho, de fato, eu pareço exatamente como me lembro quando tinha vinte e um anos, inclusive, há uma espinha enorme no meu rosto, que me lembro de lamentar profundamente por ela ter aparecido quando eu estava fazendo planos com Robert. Me afastei um pouco e olhei para o meu corpo, minhas mãos e franzi o cenho ao perceber que eu usava o anel estranho que foi encontrado na propriedade depois de uma reforma, no entanto, eu lembro perfeitamente que esse anel só foi encontrado quando eu tinha vinte e três anos, ou seja, daqui dois anos, como ele está no meu dedo agora mesmo, e mais, eu me lembro perfeitamente que a cor dele era vermelha, porque agora ele está azul?
Esse é um anel que foi encontrado enquanto faziam uma reforma no porão, lembro claramente quando o mestre de obras veio até mim com uma caixa de metal desgastada e fechada, assim que foi aberta, constatou-se que se tratava de um anel aparentemente de prata, com uma pequena ampulheta acoplada, surpreendentemente funcional apesar de seu tamanho. Mandei para análise e depois para uma limpeza, na análise não conseguiram definir de que material era feito o anel e como a ampulheta funcionava mesmo sendo minúscula, o design singular chamou muita atenção e por pura curiosidade, resolvi experimentar, no momento em que coloquei no dedo, pareceu se encaixar perfeitamente e eu nunca consegui tirar depois disso. Simplesmente deixei por isso mesmo, já que o anel era estranhamente bonito e eu gostava bastante de ver o líquido vermelho escorrer de um lado para o outro.
Talvez seja esse anel que me trouxe de volta.
Pode parecer loucura pensar assim, mas é a única coisa que faz sentido nessa situação louca. Pois, como eu estaria usando um anel que só seria encontrado daqui a dois anos se ele não fosse especial? Além do mais, ele mudou de cor, agora está em um azul vivo, talvez florescente, não tenho certeza, mas é a única coisa que eu posso pensar agora. Mesmo quando eu tentei diversas vezes tirá-lo do dedo, nunca consegui, mesmo ele não parecendo apertado, nunca consegui fazer com que ele saísse do meu dedo, era estranho ,mas sem importância para mim.
Um anel me trouxe de volta ao passado.
Deus, que loucura é essa?
Parece inacreditável, mas é a única coisa certa agora.
Foda-se, é melhor parar de pensar que estou sonhando e começar a aceitar que o inimaginável realmente aconteceu comigo, melhor que isso, eu tenho uma nova chance e se esse é realmente o caso, dessa vez eu não vou deixar passar o que aconteceu na minha vida passada. Me jogo na cama e recordo com o coração apertado o que descobri em meus últimos minutos de vida. Minha melhor amiga, aquela que eu considerava como uma irmã para mim, quem eu tratei como se fosse da minha família, ela nunca gostou de mim de verdade, sempre agiu pelas minhas costas e nutriu inveja por tudo o que eu tinha. Eu nasci em uma família rica, mesmo que eu não quisesse trabalhar, não precisaria me preocupar com nada, poderia viver toda a minha vida confortavelmente. Infelizmente, ser uma herdeira não é motivo de felicidade plena, ao contrário, levei uma vida muito solitária graças a minha mãe que me abandonou com apenas dois anos de idade, eu fiquei aos cuidados da mãe de Sarah que na época era minha babá, antes de ter idade o suficiente, o que eu sempre ouvi foi que a minha mãe havia morrido em um acidente, mas quando tive idade suficiente para entender, soube da verdade e foi um choque, antes disso eu vivi carente de afeto, já que meu pai dedicou todo o seu tempo ao trabalho quando foi abandonado pela esposa, tudo o que eu tinha era a minha babá que me tratava bem, mas mantinha certa distancia e sua filha sorridente e que parecia gostar muito de mim, a mãe de Sarah era viúva e trabalhava em tempo integral, por esse motivo, nós crescemos juntas. Eu vi Sarah como uma irmã quase desde o começo, partilhei tudo o que tinha com ela e nunca a deixei de fora de nada que eu fazia, até estudamos na mesma escola depois que eu implorei ao meu pai. Minha relação com ele era distante, um pouco fria, mas ele nunca me deixou faltar nada e atendia qualquer pedido meu, agora que penso, talvez nosso distanciamento se dê pelo fato de que eu sou muito parecida com minha mãe e ele não podia suportar ver a imagem da mulher que o abandonou. Eu entendo como ele se sente, agora eu sei disso. Na hora da minha morte, eu lamentei pelas escolhas que fiz e também por ter sido abandonada pelas pessoas que eu pensei que me amavam e isso doeu profundamente.
Eu fui traída e abandonada para morrer.
Não, eu fui traída e morta pela pessoa em quem eu mais confiei.
Sarah.
Minha doce amiga Sarah.
M*****a.
Parando para pensar, Sarah sempre influenciou muito todas as escolhas da minha vida e meus relacionamentos. Sem perceber, eu deixei que ela ditasse a forma como eu vivia, as roupas que usava, as pessoas que conhecia, além do mais, eu nunca consegui fazer amizade com ninguém além dela, mesmo que ela fosse amigo de todos, eu nunca consegui me aproximar de ninguém e por esse motivo, sempre fui isolada de todos os grupos em qualquer lugar onde eu estivesse, a única pessoa que eu tinha era Sarah, sempre foi a única pessoa a quem eu poderia recorrer, é estranho se eu pensar bem, quase como se eu tivesse sido isolada propositalmente, para que nunca tirasse meus olhos dela e nunca deixasse a minha dependência de lado.
Baseado no que ouvi dela, provavelmente foi isso que aconteceu, eu fui isolada e apenas segui o que ela sempre disse, todas as sugestões dela, tudo para vê-la feliz, como uma lavagem cerebral, onde o meu único propósito era fazer Sarah feliz e mantê-la ao meu lado para que não ficasse sozinha.
Pensei a mesma coisa de Robert, que parecia me amar, mas agora eu vejo que ele apenas estava fazendo as coisas por sua própria conveniência, enquanto eu estivesse feliz ao seu lado, ele estaria sempre desfrutando do melhor, tudo o que importava era o meu dinheiro, eu nunca fui importante, mas, como a pobre coitada carente por qualquer tipo de atenção, aceitei as migalhas que ele me dava enquanto acreditava que ele estava ocupado ao invés de me negligenciando totalmente.
Não acredito que em algum momento eu fui grata por tê-los em minha vida.
Que patética eu fui.
Eu os odeio.
Agora percebo o que ela me fez e quão mal sempre agiu comigo.
Tudo não passou de uma mentira, tudo o que eu vivi foi uma mentira.
Desgraçada.
Eu vou me vingar dela por tudo o que fez.
Assim como eu desejei antes de morrer, dessa vez, eu vou agir como eu quero, os dias em que eu ouvi Sarah constantemente estão acabados. Agora, eu não sou mais a Olivia ridícula e medrosa, dessa vez, eu vou ser a protagonista da minha própria história e a vilã da história dela.
Sarah vai se arrepender de ter me traído, assim como Robert.
Eu vou ter a minha vingança.
Essa é a minha resolução e eu estou determinada a ir até as últimas consequências por isso.
OliviaDepois de classificar todas as minhas opções atuais, percebi que eu tenho vivido muito pacificamente, ou melhor dizendo, acomodada, tudo graças à influência de Sarah, parei na frente da minha janela e comecei a pensar no que eu deveria fazer enquanto contemplava a cidade lá fora. A vista desse apartamento é realmente bela, eu posso ver uma parte do Central Park e também o movimento frenético da cidade que nunca dorme. É uma pena, mas eu vou ter que vender esse lugar. Essa será a primeira coisa que eu farei, Sarah vive comigo nesse grande e luxuoso apartamento, não sei onde diabos estava com a cabeça ao pensar que seria uma boa ideia morar com ela e por isso, a primeira coisa que farei é me afastar dela. Lembro perfeitamente que lhe dei um apartamento no seu último aniversário, não é algo glamuroso como este, mas é um bom apartamento em uma outra área muito boa, ela não tem do que reclamar.Me afastei da janela e procurei em minha mente e em que momento da minha vida eu estava e
OliviaEu havia esquecido que Robert também estaria aqui hoje.Droga.Já seria ruim ter que atuar perto de Sarah e fingir que ainda sou aquela idiota manipulável que ela podia fazer o que quiser, mas agora eu ainda tenho que fingir ser a ingênua garota apaixonada que não pode ficar longe de seu namorado. Visto o meu disfarce de namorada apaixonada e me viro para Robert com um sorriso apaixonado no rosto, dou-lhe um beijo rápido e me solto de seu abraço depois de um instante indo me sentar ao lado de Sarah.— Você não respondeu a minha pergunta. — Robert aponta e senta ao meu lado.— Oh, desculpe, eu estou bem melhor, não precisa se preocupar comigo. — sorrio.Que saco.— Isso é bom. O que vamos ver? — Robert pergunta para Sarah.— Não sei, o que acha de escolher algo hoje, Olivia? — sugere.Penso por um momento o que seria bom, que combinaria com meu humor atual.Já sei!Sem perguntar nada, escolhi o filme e apertei o play, peguei uma caixa de rolinhos de queijo e sentei novamente no
OliviaDeitei-me na minha cama e olhei para o teto pensando seriamente como dormir essa noite. Muita coisa aconteceu e eu me sinto cansada, mas não consigo dormir. Em um momento, eu estava morrendo enquanto amaldiçoava mentalmente a Sarah e Robert e no instante seguinte, eu estava de volta aos meus vinte e um anos e com todas as minhas memórias intactas. É evidente que eu quero acabar com aqueles dois agora mesmo, mas ainda é doloroso e difícil acreditar que eu fui usada de tal forma.Levantei da minha cama depois de tentar dormir por horas e caminhei pelo corredor, querendo acreditar que o que eu passei foi apenas um sonho ruim e que nada disso aconteceu, que Sarah não me usou e que Robert não me traiu com minha melhor amiga. Instintivamente, parei na frente do quarto de Robert e estava prestes a abrir a porta, quando ouvi um gemido vindo de dentro, minha mão paralisou imediatamente, encostei o ouvido na porta e ouvi mais uma vez o som de gemidos, eu não queria acreditar mesmo sabend
Olivia— Você realmente estava falando sério quando disse que estava vendendo esse apartamento? — Sarah pergunta pela terceira vez desde que se sentou conosco no café da manhã.Reviro os olhos, porque isso já está se tornando cansativo.— Sim, Sarah. Como eu disse antes, eu estou fazendo isso, arrume suas coisas e vá para o seu apartamento, eu voltarei para casa por um tempo. — respondo tentando manter o mínimo de paciência.— Eu ainda não consigo entender os seus motivos. — murmura desconfiada.— Bem, eu já expliquei e eu espero que você entenda. — digo.— Sarah, eu ouvi a explicação de Olivia e entendo o que ela quer dizer. Também acho que o melhor é vocês duas morarem separadas, você terá mais privacidade e poderá encontrar alguém e ser tão feliz quanto nós dois, além do mais, morar sozinho tem seus benefícios. — Robert argumenta.É claro, o maior benefício de todos é que não precisam se preocupar que eu os flagre juntos.Sarah pondera em silêncio por alguns minutos e logo depois d
OliviaEsperei pelo meu pai pacientemente, mas por algum motivo, ele não apareceu, achei melhor sair para investigar o que estava acontecendo e o encontrei ainda no escritório trabalhando, estava terminando uma ligação e parecia muito sério.— O que foi? — pergunta carrancudo.— Bem, já é hora do jantar e eu vim avisar, caso você tivesse esquecido que jantaria comigo hoje. — murmuro.Sem dizer uma palavra, ele levanta do seu lugar e caminha para fora do seu escritório, eu o sigo silenciosamente pelos corredores até a sala de jantar, onde os empregados esperam por nós para servir o jantar.Comemos em silêncio desconfortável, confesso que quis me mexer nervosamente na cadeira, mas eu estou fazendo isso por uma boa causa é preciso aguentar firme. Observei que meu pai estava comendo muito pouco, apesar de a comida estar deliciosa. Parece que ele já está sentindo alguma coisa, mas, como um workaholic que é, não consegue abrir mão de algum tempo e cuidar de si mesmo, em vez de trabalhar inc
OliviaFiquei feliz por conseguir comprar roupas decentes antes de viajar, eu não planejava mudar meu visual agora, isso levantaria muitas suspeitas, mas eu posso fazer isso e argumentar a respeito da seriedade do evento que tenho que comparecer representando meu pai. Ninguém vai desconfiar se for colocado dessa forma.Corri até a loja o mais rápido que pude e olhei tudo o que tinha de forma superficial, evitando propositalmente cores chamativas e pouco convencionais. Uma vendedora se aproximou de mim depois de um tempo, eu estava usando um vestido de estampa floral ridículo, com um padrão irregular de flores enormes de uma cor chamativa que não combinava em nada com a cor de fundo, flores azuis vibrantes em um fundo rosa. E pensar que eu achei fofo, bem, Sarah disse que era fofo e eu simplesmente levei porque parecia ficar bem em mim.Me arrependo amargamente disso.— Precisa de ajuda com algo? — pergunta.— Bem, eu estou olhando, sinceramente, eu não faço ideia do que comprar. — con
OliviaAconteceu tudo de forma apressada, mas consegui viajar sem problemas e no horário indicado. Assim como meu pai avisou, seu assistente me aguardava no aeroporto e tirou qualquer dúvida que eu ainda tivesse a respeito do que eu deveria fazer, não era grande coisa, só precisava aparecer nos eventos, socializar um pouco e me apresentar como a representante e herdeira da Valentine Jewelry, nada que eu não consiga, já que eu já estive fazendo isso por anos depois que meu pai faleceu. Eu tenho a experiência ao meu lado e o conhecimento de anos de trabalho.Charles, o assistente de meu pai, observava todo o meu trabalho com cuidado e bastante atenção, provavelmente por ordens do meu pai, que será informado de como eu lidei com o trabalho e como me comportei. Como ele não acompanhou o meu crescimento de perto, ele não sabe como eu vou me comportar e se preocupa com isso do seu jeito, eu entendo isso e fico feliz pela chance que ele me deu, mesmo quando ele poderia simplesmente delegado
OliviaFinalmente!Os dois dias de trabalho acabaram e eu estou oficialmente de folga. Estou tão cansada do dia cansativo de hoje que só quero me jogar na cama e dormir, eu pensei que conseguiria sair um pouco hoje, mas eu só quero comer no quarto e dormir, amanhã quero começar o dia bem e fazer muitas coisas e para isso, preciso descansar bem esta noite.Subi até o meu quarto e me despedi de Charles que parecia tão cansado quanto eu. Fechei a porta e chame o mordomo, essa coisa de ter mordomo é realmente muito útil, eu deveria sugerir ao meu pai contratar um quando voltar para casa, falando nisso, devo ligar para ele e informar o quão bem eu desempenhei o meu papel, confesso que estou louca para receber uma palavra de incentivo que seja dele, qualquer coisa serve.— O que deseja, senhorita? — Parker aparece.— Eu vou tomar um banho e devo demorar cerca de meia hora para ficar pronta, enquanto isso, gostaria que o jantar fosse trazido, comerei aqui mesmo. — digo.— Certamente, senhori