Clara estava sentada no banco da praça já tinha algum tempo. Ela estava desanimada por ainda não ter conseguido um trabalho. Neste momento ela vê uma mulher grávida junto de um homem que, ao notar a aliança em seu dedo, ela julgou ser seu marido. Os dois pareciam felizes e Clara começa a se lembrar de como era seu relacionamento com Ryan.

Ele era sempre grosso, agressivo, ciumento. Ela se lembra das agressões, do estupro, das humilhações e do aborto. Ela fica triste por ter sofrido o aborto, pois seu filho não tinha culpa de nada.

- Deus... como eu pude suportar aquilo por tanto tempo?

Ela se questiona enquanto leva as mãos ao ventre.

- "Não pude nem te sentir."

Ela fala em francês enquanto algumas lágrimas rolavam pelo seu rosto. Clara sempre falava em francês quando estava triste, pois a fazia se lembrar de sua mãe e ela não se sentia tão sozinha. Então o seu telefone toca e ela limpa algumas lágrimas antes de atender.

- Alô?

- É a senhorita Clara Johnson? - uma voz feminina fala.

- Sim, sou eu.

- Estou te ligando pra dizer que você foi aprovada para o trabalho na Gallagher Corporation.

- Nossa! Que bom.

Era nítido a alegria de Clara.

- Então, vamos precisar que você traga seus documentos amanhã às 10 horas da manhã para acertarmos a sua contratação.

- Está bem. Estarei aí sem falta.

Clara desliga sorrindo.

- Muito obrigada meu Deus!

Ela fala erguendo as mãos ao céu e decide ir na igreja agradecer pelo emprego e aliviar um pouco o seu coração que estava sobrecarregado de dores e tristezas.

Clara caminha olhando as luzes se acenderem. Chicago realmente se transformava com todas aquelas luzes e isso a encanta por achar o lugar bonito. Ela finalmente encontra a igreja e fica maravilhada ao notar como a igreja era bonita ao ponto de não prestar atenção ao seu redor e acabar esbarrando em um Aiden completamente zangado.

Ele a segura para que ela não caísse no chão e a olha com o semblante fechado.

- Presta atenção porra!

Ele grita com ela enquanto a coloca de pé em segurança.

Clara o olha e arregala os olhos assustada, pois a postura de Aiden a faz se lembrar de Ryan antes das agressões e isso a faz ver a imagem distorcida de Ryan no lugar de Aiden. Ela fica ofegante e dá alguns passos para trás até tropeçar na escada da igreja e cair sentada batendo suas costas no corrimão da escada. Na hora suas costelas começam a doer muito, o que faz ela perder o ar.

Aiden vendo isso, imediatamente se sente culpado por sua reação. Ele não costumava ser grosseiro com as pessoas, mas o cinismo de Ashley despertava o seu pior lado e ter descontado na pobre moça a sua frente o fez se sentir mil vezes pior.

- Moça, você está bem?

Ele fala caminhando na direção de Clara, mas ela se encolhe levando as mãos a cabeça e começa a tremer de medo. Essa reação quebra o coração de Aiden ao ponto de fazê-lo sentir remorso.

- Calma que quero te ajudar.

Ele fala o mais suave que consegue e tenta se aproximar dela.

- Sai de perto de mim!

Clara grita com dificuldade e Aiden fica parado sem saber o que fazer.

" - Por favor, não me machuque Ryan!"

Aiden por ser fluente em francês, logo entende o que ela fala. Então ele percebe que a atitude dela tinha algum fundamento e Aiden volta a se aproximar de maneira suave.

"- Calma que eu não sou o Ryan."

Clara abaixa as mãos e o encara. Aiden se perde em seus olhos azuis, certamente eles ficariam cravados em sua mente por um bom tempo.

A imagem de Ryan desaparece e Clara percebe que Aiden era totalmente diferente dele e isso a faz relaxar um pouco, então volta a sentir uma pontada forte nas costelas que a faz estremecer de dor. Aiden logo percebe a expressão de dor no lindo rosto dela e corre para mais perto chegando a se agachar para ficar da mesma altura dela.

- Moça, você está bem? Precisa de ajuda?

- Minhas… costelas… doem.

Clara fala ainda respirando com dificuldade.

- Você quer ir para o hospital? Eu te levo...

- Não precisa... já vai passar.

Clara responde o encarando e tenta se levantar e Aiden, sempre ágil, a ajuda a se levantar. O toque da mão dela lhe provoca um arrepio gostoso que o faz engolir seco.

- Por favor me desculpa.

Clara fala puxando rapidamente a sua mão e subindo as escadas da igreja sem dar chance para Aiden falar alguma coisa.

Ele a olha subir as escadas e sente sua boca secar e seu coração falhar uma batida.

Sem pensar direito, Aiden a segue e entra na igreja. Ele senta em um banco um pouco afastado dela para a observar melhor.

Durante todo o culto Aiden não tirava os olhos de Clara. Ele fica atento a cada gesto dela. Ele a nota chorar algumas vezes e sente vontade de ir lá e consolar a garota, mas julgando por sua reação de antes, ele duvidava que ela o aceitaria de bom grado.

Assim que o culto termina, Aiden se mistura entre as pessoas para que Clara não o visse e para sua sorte, ela passa por ele de cabeça baixa enquanto seca algumas lágrimas.

Clara chorava porque sua família tinha o costume de ir na igreja e isso despertou várias memórias de infância. O tempo em que ela era feliz. Ela também refletia em como sua vida havia virado um inferno e pedia pra Deus que pudesse ter paz.

Aiden a seguia mantendo uma certa distância para que ela não o notasse. Ele sabia que era tarde e queria que ela chegasse em segurança. Aiden era muito super protetor e era a única explicação plausível que ele procurava para poder justificar o porquê de estar seguindo ela.

Clara caminha despreocupada até parar em um beco. Algo chama sua atenção e ela logo nota um filhote de gato. Ela agacha com bastante cuidado, pois ainda sentia dor nas costelas e pega o gato no colo.

- Olá amiguinho! Judiaram de você que nem fizeram comigo?

O gato mia como resposta e Clara faz carinho nele.

- Pobrezinho! Eu sei como é não ter ninguém nesse mundo. Agora vou cuidar de você e não vamos mais ficar sozinho.

Clara se levanta gemendo um pouco de dor e o examina melhor. Aiden gosta do som da voz dela, mas fica atendo ao que ela diz.

- Você é machinho! Vou te chamar de Bryce.

Clara abraça o gato e passa a mão no braço queixando do frio e Aiden, atento a tudo, sente vontade de ir lá e colocar seu paletó em seus ombros, mas ele se detém por não saber o que dizer a ela o que ele estava fazendo alí.

Ele a acompanha até ver ela entrar em um pequeno prédio velho. Aiden espera um pouco e nota que a luz do segundo andar acender.

- Ela mora aqui.

Ele fala consigo mesmo. Aiden praticava parkour desde sua adolescência e com essas habilidades foi muito fácil para ele subir na escada de incêndio e chegar na janela do segundo andar. Aiden espia pela janela e a vê colocando um prato com leite para o gato e depois ela toma um remédio que estava em cima da pia da cozinha.

- Amanhã vou comprar as coisas pra você Bryce.

Clara sorri e Aiden fica encantado com aquele sorriso. Clara pega alguma coisa na geladeira e come antes de ir para o quarto.

Aiden vê uma movimentação na rua e decide ir embora, pois seria difícil explicar como que uma pessoa como ele estava fazendo alí.