No aeroporto, Fernando Nascimento me lançou um olhar indiferente e advertiu:

— Nunca tenha pensamentos que não deveria ter.

Cinco anos depois, voltei para o país segurando uma criança nos braços. Ele ficou surpreso:

— É sua?

Sorri e assenti.

— Sim.

Ainda me sentia um pouco atordoada quando embarquei no avião logo após o resguardo. Nunca imaginei que teria a chance de voltar depois de cinco anos fora, afinal, Fernando já tinha sido claro:

— É melhor que você nunca mais apareça na minha frente para sempre.

Mas, ironicamente, foi ele quem comprou minha passagem de volta.

Depois de duas escalas, finalmente pousei para participar do aniversário de casamento dele e de Beatriz Costa. Durante o voo, Dora dormiu tranquilamente, mas assim que desembarcamos, começou a chorar.

— Mamãe, meu pé tá doendo…

Ouvindo seu choro baixinho, imediatamente a peguei no colo e segui em direção à saída.

Ao chegar no saguão, peguei o celular para chamar um táxi.

Nesse momento, meu telefone tocou. Ao ver o número familiar na tela, hesitei.

Atender ou não?

Em fim, decidi ignorar. Mas logo veio a segunda. Suspirei e atendi.

A voz de Fernando Nascimento soou rapidamente, inalterada mesmo após anos sem contato:

— Já saiu do aeroporto? Mandei o meu assistente para te buscar.

Ele falava em tom impessoal, como se fôssemos meros estranhos.

Soltei uma risada amarga.

— Posso pegar um táxi sozinha.

Do outro lado, houve um breve silêncio. Provavelmente ele não esperava essa resposta, afinal, durante os anos que passei sob seus cuidados, fui tratada com esmero. Nunca precisei me preocupar com transporte ou qualquer outra coisa.

Após alguns segundos, Fernando falou agora de forma casual:

— Melhor deixar o assistente te levar. Comprei o presente para a sua tia por você e deixei no porta-malas. Você pode pegá-lo quando vier jantar.