(Ella) Aquele delegado me olhava como se pudesse enxergar através da minha pele. Era desconfiado demais, metódico, e repetia as mesmas perguntas como se eu fosse tropeçar em alguma contradição. Eu já havia contado a mesma história dez vezes. Dez malditas vezes. — Eu já disse — insisti, cruzando os braços sobre a barriga já um pouco saliente. — Jacqueline e eu éramos apenas colegas de trabalho. Eu não sabia nada sobre a vida pessoal dela. Ele mexeu em alguns papéis, fingindo estar casual, mas eu vi o jeito que os olhos dele analisavam cada uma das minhas reações. — Mack era seu patrão, não é mesmo? — Sim, exatamente. Era, sim — respondi, tentando manter a calma, mas meu lobo interior rosnava de impaciência. — Ele acordou do coma em que ficou após levar o tiro… e disse que tudo isso é culpa sua. — O quê? — minha respiração vacilou, e precisei de toda a força que tinha para conter o rompante de fúria. — Como é que eu não fui informada disso? — Tentamos entrar em contato co
(Ethan) Eu ia matá-lo. Naquela sala, com as mãos trêmulas de raiva e o cheiro do medo do delegado impregnando o ar, tudo o que eu queria era cravar meus punhos naquele rosto arrogante. Que se danem as regras, que se dane o disfarce. Eu não me importava em me expor. Por Ella… eu faria qualquer coisa. Pagar o preço, seja qual fosse. Porque ela é a minha vida. Minha alma. Minha fêmea. O caminho até o carro foi silencioso. Ella não olhou pra mim uma única vez. Bryce saiu da delegacia ao lado de Lysandre — a vampira com olhos de heterocromia e um charme que podia dobrar qualquer humano. Ela passou por mim sem sequer mover um fio de cabelo, mas lançou um olhar profundo demais para Ella. E Ella… franziu o cenho como se tivesse sentido um calafrio na espinha. Bryce se aproximou da janela do motorista, curvou-se e falou baixo: — Sua bruxa é boa, alfa. Está com seu beta agora. Vamos para um local seguro. Lá explicarei tudo. Assenti, segurando o volante com força enquanto Ella se mantinha
(Ethan)A porta do quarto rangeu levemente quando a empurrei. Eu entrei em silêncio, cada passo meu mais pesado que o anterior. Meus ombros estavam tensos, a cabeça girando com tudo o que havia acontecido nas últimas horas. Mas o que mais me doía era vê-la daquele jeito. Deitada ali, no colchão confortável da casa segura do Clã Beaufort, sem me dirigir sequer um olhar antes de virar para o outro lado, como se eu fosse o inimigo.Aquele quarto era modesto, com móveis rústicos e cortinas finas balançando com a brisa suave que entrava pela janela. Nós tínhamos chegado sem planejamento, tomados pelo desespero. Não trouxemos nada. Nenhuma muda de roupa. Nenhum objeto pessoal. Só o que carregávamos no corpo... e no coração.Ella dormia apenas com sua camisa, que agora mal escondia o quanto seu corpo estava mudando por causa da gravidez. Seus seios, inchados, marcavam o tecido fino de forma que me fazia engolir em seco. A calcinha branca realçava a curva do quadril. E o lençol leve que a cob
(Ella)Minha cabeça estava um turbilhão e, sinceramente, eu não queria olhar nos olhos do Ethan agora. Se ele foi capaz de me ocultar algo tão sério… o que mais ele poderia estar escondendo?Assim que ele entrou no quarto, eu fingi estar dormindo. Quando ele se aproximou e tentou me tocar, virei o rosto e me afastei. Não queria lidar com ele naquele momento. Ethan era complicado demais… eu o amava, mas sabia que, se ele me tocasse, eu cederia. E eu não queria isso. Ainda não.Ele saiu, e o cansaço acabou me vencendo. Adormeci.Ainda estava escuro quando acordei com um calor intenso no quarto. Abri os olhos devagar e, para minha surpresa, conseguia enxergar no escuro como se fosse dia. Meus olhos percorreram o quarto até encontrarem Ethan deitado no tapete, sem camisa. A tatuagem em seu peito ainda era um mistério para mim. Eu nunca tinha perguntado, mas a curiosidade começava a me corroer.Ele estava respeitando meu espaço. E isso… isso me fez feliz. Ethan era um macho que odiava ser
(Ethan)Depois que a euforia passou, Ella se acomodou ao meu lado, ainda com o corpo quente e o olhar brilhando. Mas o silêncio dela era diferente… carregado. Eu sabia que algo vinha. E veio.— Por que você não deixou eu comandar… sobre você não gozar? — ela perguntou, virando o rosto pra mim, os olhos apertados de desconfiança.Respirei fundo. Eu precisava responder. Mas como explicar o que nem eu mesmo queria aceitar?— Porque eu queria sentir… já que vamos passar um bom tempo sem isso. Sem nós — falei baixo, observando como as palavras batiam nela.O brilho no olhar de Ella se apagou.— Você já decidiu isso sozinho? — ela perguntou com um tom ferido. — A minha opinião não importa?Doeu. Claro que importava. Tudo nela me importava. Mas eu não podia dizer isso agora. Eu precisava que ela confiasse. Como eu confiei da última vez, quando ela arriscou a vida pelo pai dela. Ela tinha me pedido pra confiar, e eu confiei. E mesmo sem ter controle, sem nem entender quem era por completo, el
(Ella) Eu sei que o fuzilei com os olhos. Sei exatamente o impacto que minhas palavras tiveram. Senti a fúria dele atravessar o ar como uma tempestade prestes a desabar. Mas eu não podia ficar quieta. Não podia só acenar com a cabeça enquanto ele decidia tudo por mim, como se eu fosse apenas uma espectadora da minha própria vida. E mais do que isso... eu precisava de tempo. Tempo pra digerir, pra entender, pra respirar. Liora já estava no quarto, recolhendo algumas coisas, empilhando-as em cima da cama como quem queria fazer tudo com cuidado. Eu fiquei ali, deitada, abraçada a um travesseiro. Ele abafava um pouco da minha frustração, mas não era o suficiente pra calar o burburinho dentro de mim. — Você e o alfa estão brigados? — ela perguntou, a voz suave como sempre. — Pode-se dizer que sim — resmunguei, apertando o travesseiro contra o rosto. — Ele não quis saber se eu queria ir ou não... Minha voz morreu no final. Era difícil admitir aquilo. Que doía. Que parecia injus
(Ethan)Eu não dormi naquela noite.Fiquei virando de um lado para o outro na cama, os lençóis frios e o vazio ao meu lado só reforçavam o quanto tudo parecia errado. Eu estava ao quarto ao lado do dela. Porém, minha cabeça girava, cheia de pensamentos sobre Ella, sobre tudo que eu fiz — e deixei de fazer.Eu reconheço meus erros. Errei feio com Ella. Escondi verdades, segredos, situações que eu achei que estivesse protegendo ela, quando na verdade só a afastei. E agora… tudo o que eu queria era ter uma segunda chance. Uma única oportunidade de mostrar que posso ser melhor. Que vou ser melhor.Mas eu não sabia o que se passava na cabeça dela. E isso me deixava louco.A ansiedade no meu peito era como uma corrente me apertando por dentro, me prendendo no próprio arrependimento. Eu via como os olhares ao meu redor mudaram. Não por medo do alfa, mas por verem minha vulnerabilidade. Por enxergarem meu medo.E sim, eu estava com medo.Não da guerra, não de Lucian, nem de qualquer inimigo.
(Ethan)Voltei pra casa no fim da noite, exausto. Meus passos me levaram até a cabana que estávamos usando antes da mudança oficial. Havia algo reconfortante naquele lugar, mas assim que abri a porta, percebi que algo estava errado.Estava quieto demais.Não havia cheiro de comida no ar, nem vozes, nem passos apressados. Nenhuma bruxa, nenhum lobo. E, principalmente, nenhum sinal de Ella.Fechei a porta devagar atrás de mim, franzindo o cenho. Eu sabia que tinha passado o dia fora, mas... todos tinham sumido? Não era nenhuma data especial, ou era, e eu tinha esquecido? Minha cabeça andava tão cheia que já não confiava nem na minha memória.Ella.Meu peito apertou.Eu não sentia o cheiro dela ali. Nenhum traço recente.Pensei o pior — que ela tivesse ido embora, fugido, me deixado. Talvez por raiva, por impulso, por mágoa...Me joguei no sofá da sala e passei as mãos nos cabelos, frustrado, sem saber o que fazer. Tudo nela era um caos dentro de mim. Um caos que eu aceitava de bom grado