- O que foi, mãe?
- Caroline, você pirou?
- Por quê?
- Ficar se metendo em briguinha boba na internet? É semana de provas finais, você deveria estar sentada estudando ao invés de estar se importando do que o seu ex fala de você.
- Mãe, eu tinha que responder, ele foi um ridículo fazendo aquilo!
- Vocês dois foram ridículos, ele escrevendo aquilo e você respondendo ao invés de ignorar.
- Mas mãe, minha assessora falou que ou eu...
- Sua assessora?
- Sim, a da editora, na verdade, mas ela trabalha só comigo.
- Caroline, eu não te reconheço mais.
Fiquei quieta, então minha mãe continuou:
- Você não é mais a minha filha, se tornou uma completa estranha, daqui a pouco é capaz de você largar a faculdade e tudo o que
Eu não quero voltar pra faculdade, pelo contrário, quanto mais eu avanço no curso de direito mais eu tenho certeza que não quero me tornar uma advogada, nem grande e nem pequena.Senti a frustração tomar conta de mim depois que a minha mãe saiu do quarto.Eu estou cansada de fazer tudo o que os outros mandam, de ser uma marionete, quando eu vou poder fazer o que eu quero?Pensei em todo mundo que conheço e decidi ligar para o Ivan. No segundo toque ele atendeu:- Alô?- Ivan, dá pra gente conversar?- Claro...- Onde você tá?- Em casa, por quê?- Eu briguei feio com a minha mãe, eu preciso da sua ajuda.- No que posso te ajudar?- Eu quero sair de casa, mas eu quero sair pra valer, tipo eu vou alugar meu apartamento.- Entendi.Engoli em seco. Eu pediria pra ele essa ajuda.- Eu preciso de um lugar pra ficar até conseguir alugar
No dia seguinte eu acordei me sentindo horrível, mesmo assim a minha vida tem que seguir em frente.Se eu ficar parada lamentando eu vou acabar caindo de novo na casa da autoritária, vulgo mãe.Me levanto, faço a minha higiene matinal, tomo um café da manhã rápido e vou até a faculdade.Pego uma senha na secretaria e fico aguardando calmamente a minha vez de ser chamada.Demora mais ou menos meia hora, então o painel mostra a minha senha e o atendente grita:- NÚMERO 78! NÚMERO 78! GUICHÊ 3!Peguei minhas coisas e saí correndo até o lugar:- Boa tarde, o que a senhorita deseja?- Eu quero trancar o curso.- Por favor, passe o seu R.A.Olho na carteirinha e digo:- 756765O atendente digita e confirma comigo:- Caroline Bernardes, 2° semestre do curso de bacharelado em direito, correto?
Dois dias atrás recebi uma ligação dizendo que a proprietária do apartamento aceitou a minha proposta, então eu comecei a ir atrás de toda a parte burocrática.Ir no banco, pegar extrato, depositar seis meses de aluguel adiantados para não precisar de fiador, ir atrás de uns outros papéis, tipo certidão de antecedentes criminais e várias outras coisas chatas.Hoje é dia de escolher a mobília e eu estou na loja com a Natália e com a Laís.Estou com a planta do apartamento na mão, com todas as medidas, para escolher as melhores coisas para cada lugar de acordo com o tamanho.Já estávamos andando na loja a horas e, quando estávamos na sessão de quartos, Laís avistou uma lanchonete:- Gente, tem uma lanchonete ali. Vamos parar pra comer - ela falou toda empolgada.Nós duas olhamos para ela meio chocadas por tamanha empolgação:- Que foi? Eu tô comendo por dois e o
- Bom, o nome dele é Hugo, ele tem 20 anos e tá cursando Biologia na faculdade.Eu e Laís ficamos paradas esperando ela contar o resto, mas ao invés disso ela ficou quieta depois de contar só isso.- Que foi, gente?- Eu quero saber tudo sobre ele e sobre vocês dois - eu falei.- Sério?- Claro! Você sabe tudo sobre eu e o Ivan.- E eu posso te contar tudo sobre eu e o Miguel - Laís se ofereceu.- Ai, tudo bem gente. Eu conto.- Eu e o Hugo nos conhecemos em uma praia em Ubatuba, ele é voluntário no projeto Tamar durante as férias.Eu e a Laís estávamos entretidas demais com a história.- Eu me interessei pelo projeto e chamaram ele para conversar comigo e nós conversamos até o anoitecer. Quando saímos da praia ele me convidou para irmos num restaurante de frutos do mar e eu fui.- E comeu o que? - perguntou Laís.- Isso foi em julho - Nat falou - Eu não lembro,
7 meses depoisSaí do banho, ainda meio sonolenta, e fui caminhando até a sala, chegando lá me joguei no sofá e peguei o meu notebook da mesinha de centro.Escrever estando sozinha é diferente de tudo, dá uma paz gigante e aumenta a minha criatividade em 1000%.Essa é a parte boa da minha nova vida, apesar de toda a responsabilidade que pesa em cima de mim desde então.Nesse meio tempo aprendi que a vida pode ser complicado, mas também pode ser surpreendente algumas vezes.Me levantei do sofá e fui até o balcão da cozinha, sentei no banco, apoiei o computador na bancada e continuei escrevendo o vigésimo capítulo do meu livro.A parte ruim de ser escritora é que você não faz nada além de escrever, nunca tem uma mudança de ambiente ou um colega para compartilhar nada.Depois de chegar na metade do capítulo eu respirei fundo e coloquei a cabeça no teclado. A solidão es
- Pensa bem, Carol, a sua mãe tá péssima e com saudades.- Foi ela que escolheu assim quando me mandou abrir mão do meu sonho pra ser uma advogadazinha qualquer.- A sua mãe se preocupa com você e com a sua estabilidade, entenda isso.- Ela deveria se preocupar com a minha felicidade, ou será que ela me teve pra eu ser mais um robô na sociedade? A vida não pode ser só nascimento, estudo, trabalho, aposentadoria ridícula e morte - passei a língua pelos meus lábios - fora que a questão da estabilidade é insana. Com o que eu ganho como escritora eu ajudo o meu irmão a se manter e ajudaria a minha mãe também.- A carreira de escritora não é estável, hoje você está fazendo sucesso, mas quem sabe como será o amanhã?Me levantei da cadeira sentindo a ansiedade tomar conta de mim, caminhei até o outro lado da sala, olhei para a minha avó e disse:- Eu estou aplicando o meu dinheiro, seria estupidez ficar com tanto dinheiro assim para
Eu estava com o Ivan, o nosso relacionamento não era mais a mesma coisa e já fazia mais de um ano que estávamos nessa de amizade colorida.Porém, de amizade colorida já não tinha mais nada. Hora eu dormia na casa dele, hora ele dormia na minha.Eu e ele tínhamos escova de dente e mudas de roupas na casa um do outro. Ele me olhou e disse:- Você é incrível.- Você é que é.- Eu gosto de você, tipo de verdade.- Só gosta, é? - provoquei.- Isso não basta?- Basta, é claro que basta.Me sentei na cama e ele me puxou para um beijo. Assim que nossos lábios desgrudaram eu disse:- Estamos melosos demais para sermos amigos coloridos, não acha?- Acho sim, por isso eu comprei uma coisa.Ele abriu a gaveta do criado mudo e tirou uma caixinha de veludo de lá de dentro:- Quer ser minha namorada?Fiquei encarando o Iva
Estava dormindo na casa do Ivan quando acordei com uma ligação.Era o Miguel, estranhei ver o nome dele na minha tela:- Alô?- Carol, bom dia.Bom dia? Já é de manhã? Olhei pela janela e vi o sol tentando entrar pelas bordas do blackout mal posto.- Oi Miguel, que foi?- A Laís tá em trabalho de parto.- Ai meu Deus - eu até me sentei na cama.- O bebê deve nascer logo.- Eu vou para aí.Assim que desliguei a ligação o Ivan me olhou e perguntou:- O que aconteceu?- A Laís tá em trabalho de parto.- Vamos pra maternidade?- Vamos.Assim que o Ivan estacionou eu recebi uma ligação da minha assessora:- Alô?- Carol? O chefinho quer você aqui.- É que a namorada do Miguel tá em trabalho de parto e eu...Antes que pudesse terminar a frase ela disse:- E