Mariana Entre Dois Amores
Mariana Entre Dois Amores
Por: Heart_Monteiro7
Prólogo

20 anos atrás

Nuno

– Mãe, pare com isso, ele não vai vir hoje, a senhora não percebe que ele está ocupado demais!

Mais uma vez a minha mãe estava aqui toda linda vestindo a roupa preferida dele, maquiada como se fosse uma princesa e usando as joias que ele deu a ela, o que mais me dói é saber que ele não liga para ela, de que a cada dia que se passa ele se afasta mais dela. No começo eu acreditei que era por causa do nascimento do Vinícius, toda mãe dá muita atenção ao filho e meu irmão por ser mais novo acaba sendo mais mimado mas com o tempo descobri que não era isso.

Meu pai nunca gostou da minha mãe apenas se casou com ela por interesse, ele precisava de pessoas para apoia-lo na sua empreitada em destruir aqueles que um dia tiraram a mulher que ele realmente ama da sua vida, ele nunca enganou ninguém sobre essa questão, só a minha mãe que fingiu que havia algum sentimento nessa relação, meu pai também soube persuadi-la muito bem com presentes, jantares e até mesmo promessas de coisas que ele não poderia dar a ela.

Ele ficou feliz com o nascimento de Vinícius e sei que a minha mãe engravidou do meu irmão apenas como um pretexto para segurar meu pai, não foi porque ela queria ter um segundo filho mas sim para que meu pai ficasse feliz em ter além de mim um outro filho homem, não que a minha mãe não me ame ou não ame meu irmão mas às vezes tenho a impressão de que o amor que ela tem pelo meu pai é muito maior do que o amor que tem por mim e por Vinícius mas eu disfarço bem e tento ser um bom filho porque ao contrário do meu pai eu amo ela mesmo sendo tão cega em relação ao casamento deles.

– Não diga bobagens, meu amor, é claro que seu pai vai vir hoje, é o meu aniversário e ele me prometeu que me levaria no restaurante onde aconteceu o nosso noivado. Sabe como seu pai é um homem ocupado, ele pode até se atrasar mas tenho certeza que não vai esquecer do dia em que nós nos conhecemos.

Minha mãe se apaixonou pelo meu pai à primeira vista mas acredito que ele nunca tenha compartilhado do mesmo sentimento. Ele estava ocupado demais em amargar o amor que ele havia perdido, meu pai vive e respira por causa dessa m*****a guerra com Albertini, enquanto a minha mãe se prende a qualquer tipo de esperança em relação ao casamento dela que desde o começo está fadado ao fracasso.

Como imaginei foram se passando as horas e meu pai não apareceu, a triste ironia do destino é que o dia do noivado do meu pai e noivado com a minha mãe foi no mesmo dia em que o amor da sua vida nasceu, sim hoje é aniversário da dama da máfia italiana, e como sempre meu pai consegue dar um jeito de deixar algo para que a mulher saiba que ele nunca a esqueceu. Sempre manda um buquê de rosa antes do grande evento que é feito todos os anos na casa da família dela ou algo que não desperte a atenção dos outros.

Sim, meu pai consegue ser infiel mesmo sendo fiel, e agora a minha mãe está aqui sendo consolada pelo meu irmão que é muito jovem para entender que nossa mãe está sofrendo por amor,  Vinícius é uma criança, que em sua inocência acredita que o nosso pai esqueceu do aniversário de noivado dele com a minha mãe mas eu sei a verdade, já sou bem ciente de que o meu pai não ama minha mãe mas ela se firma na esperança de que se engravidar novamente, ele vai amá-la.

Isso é um engano, meu pai apenas ama Bettina e mais ninguém, tudo o que fez e que faz é para 1 dia conseguir tê-la de volta, mas como hoje ela já tem os próprios filhos e uma família para cuidar, jamais deixaria tudo o que tem para correr atrás do meu pai. Acredito que ele saiba disso mas insisti para que fiquem juntos mesmo que de forma distante.

Aprendi na igreja que o olhar mesmo que não pareça pode ser pecaminoso, acreditava que era possível trair pelo olhar pois me recordo bem do dia que meu pai viu Bettina de longe em uma padaria com o filho do meio, eu via algo além do amor, percebia desejo, admiração, cobiça e obsessão. Sentimentos esses que nunca vi no seu olhar quando estar com minha mãe, agora ela está aqui com a maquiagem manchando o seu rosto, o vestido amassado e um cigarro na boca enquanto Vinícius olha para ela sem entender por que ela está assim.

Pego meu irmão e saio de perto dela sei o que vem depois, ela começa a quebrar o quarto inteiro, a ligar no telefone do meu pai incessantemente, quando ele chega ela começa a cobrar coisas dele, dizer que não é um bom marido e que também não é um bom pai, logo ele dá um tapa nela mandando calar a boca, ela se cala, chora e diz que o ama e que não suporta mais viver assim, meu pai apenas sai, deixa ela sozinha e vai dormir em uma das várias casas que ele tem pela cidade.

No outro dia, ele chega aqui com um buquê de flores dizendo que se excedeu e pede perdão, normalmente seria aceitável que ele dizer para ela que a ama mas o meu pai não, nesse sentido ele era verdadeiro. Não dizia que a amava mas pedia perdão e a minha mãe entendia que era uma demonstração de amor mas não era, convivi com essa rotina durante toda minha infância quando a minha mãe apareceu grávida de Vinícius todos ficaram felizes menos eu, não que odiasse meu irmão ou tivesse ciúmes dele pelo contrário não queria outra criança passando pelo que passei.

Perguntei a ela por que que engravidou e  me disse que meu pai queria ter uma família numerosa mas não era o meu pai queria uma família era a minha mãe que acreditava que ele queria filhos para talvez suprir a necessidade de uma família que ele sempre quis mas não com a minha mãe e sim com Bettina. Quando o meu irmão nasceu vi que a obrigação de cuidar dele seria minha, que Vinícius seria meu companheiro e que juntos nos uniríamos como uma família.

Nunca considerei meu pai e minha mãe uma família eles eram fodidos demais para nos dar uma estabilidade, mas seria a estabilidade de Vinícius, enquanto vivesse, meu irmão sempre teria proteção e o carinho. Tinha inveja dos meus primos, apesar da minha tia ter perdido meu primo mais velho, ela conseguiu superar a sua perda e é uma mãe excelente. Infelizmente por mais que a minha mãe queira ela não consegue ser assim, sua irmã consegue nos dar mais carinho e amor do que ela mesma. Mas não a culpo, ela esperou demais por algo que não teve.

– Porque ela ta fumando, Nu? Eu não gosto da fumaça, fede muito.

– Vini, deixa a mamãe quieta, hoje ela esta triste.

– Mas todo dia ela ta triste, é por causa do papa?

Mesmo meu irmão sendo muito pequeno ele percebe as coisas, é nítido que já viu nossos pais brigando porque eles conseguem disfarçar muito na nossa frente principalmente a minha mãe, tentava esconder Vinícius dessas situações terríveis mas não adianta minha mãe e meu pai conseguem ser destrutíveis tanto para mim quanto para ele, às vezes fico pensando do porque meu pai sabendo que não amava minha mãe ainda a engravidou 2 vezes, essa sede que ele tem ter uma família às vezes é egoísta porque não se importa conosco e nem com nossa mãe.

Acredito que sabendo que enfrentaria uma discussão hoje, meu pai não apareceu durante toda a noite, apesar de Vinícius querer esperar a sua chegada disse a ele que nosso pai poderia chegar tarde e que seria melhor dormir, meu irmão por incrível que pareça me via como uma figura paterna e me obedecia, então depois de colocá-lo na cama foi até o quarto da minha mãe. Ela estava lá sentada com a mesma roupa, e com uma nova carteira de cigarro aberta, ela olhou na porta pensando que poderia ser meu pai mas agora mudou a estratégia ao invés de enfrentá-la, ele simplesmente não veio para casa.

Conversei com ela e pedir para que tirasse a roupa e a maquiagem, tomasse um banho e dorme-se um pouco mas ela se recusou, apenas sorriu e disse que estava esperando meu pai para o jantar ele conseguiu foder a cabeça dela com a sua forma deturpada de tentar ser um bom pai e um bom marido. Me dei por vencido e fui para o quarto de Vinícius, gostava de zelar do sono do meu irmão, ele era o elo que segurava a minha sanidade, precisava ser bom para cuidar dele e estar bem mentalmente para ampará-lo quando fosse necessário.

De repente ele acordou assustado mas estava lá perto dele como o pai quando o filho tem um pesadelo e cuida dizendo que aquilo vai passar. Vinícius queria nossa mãe, ele ainda era muito pequeno e não entendia que ela estava doente, doente de amor. É estranho dizer que uma pessoa está doente de um sentimento que deveria ser bom mas acreditava que no caso dela o amor foi ruim. Apesar de insistir com ele para não irmos até a minha mãe ele pediu que queria vê-la e beijar seu rosto, é esquisito que mesmo não tendo a atenção e o amor que um irmão mais novo deveria ter, Vinícius ainda tinha esse tipo de necessidade.

Depois de muita insistência então resolvi levá-lo, meu irmão segurou a minha mão e foi o caminho inteiro sorrindo em direção ao quarto da minha mãe, a cena que se seguiu ficaria marcada na minha mente pelo resto da minha vida com toda a certeza. Minha mãe estava com uma arma na mão, ela chorava enquanto segurava o porta retrato dela vestida de noiva sorrindo como uma princesa espanhola enquanto meu pai apenas tinha um semblante sério no rosto.

Ela virou para a porta e nos olhou, sorriu como nunca antes havia visto em toda a minha vida para nós mas havia tristeza em seu rosto como se sabia que não poderia nos dar amor porque nunca recebeu algo do gênero de quem mais esperava. Queria pedir para ela soltar a arma, esquecer essa ideia absurda de tirar a própria vida mas sabia olhando sua expressão que minha mãe não ia fazer nada que pedisse, ela novamente olhou para mim e depois para Vinícius e pela primeira vez disse aquela pequena frase que sempre quis ouvir de maneira genuína, não que ela não tivesse dito outras vezes mas não parecia verdadeiro como agora.

– Eu amo vocês mas não consigo mais!

E foi assim que a minha mãe acabou com a própria vida com um tiro na cabeça, antes que ela desse o disparo tampei os olhos de Vinícius, já estava na ferrado a muito tempo, havia visto coisas terríveis mas meu irmão não, ele seria diferente. Teria referências completamente distintas das que tive, quando o corpo dela já sem vida estava caído ao chão, tirei as mãos dos olhos de Vinícius, ele correu até o corpo dela e começou a balançá-lo como se quisesse acordar minha mãe mas o sono que ela estava dormindo era eterno.

Naquela noite diferente das outras peguei o telefone e liguei para o meu pai, disse que minha mãe tinha acabado de tirar a própria vida mas não joguei a culpa nele, ele já sabia que a culpa era dele, não precisava dizer isso a ele, em poucas horas a minha casa já estava cheia de gente eram pessoas da família do meu pai e pessoas da família da minha mãe, a minha tia chorava e ao contrário de mim, ela fez questão de dizer que tudo o que estava acontecendo era culpa do meu pai. Meu tio tentou segurá-la mas como toda espanhola ela tinha um espírito indomável e começou a gritar e espernear com meu pai, ele nada fez apenas aceitou o fato de que realmente era ocupado pela morte da minha mãe, o pior de tudo é que ele nunca tentou dar certo com ela simplesmente ficou mergulhado no remorso de não ter tido a oportunidade de se casar com a mulher que realmente amava.

Foi horrível explicar para Vinicius o que havia acontecido com a nossa mãe, meu irmão é muito pequeno para entender, então quando os homens do meu pai tiraram o corpo dela do quarto, o grande homem da família Tolentino estava mais preocupado em como essa morte iria repercutir na guerra contra os Albertini do que comigo e com meu irmão. Claro que ele sabia, que eu estaria aqui para Vinícius por isso não se preocupou tanto, desde criança nunca esperei nada do meu pai diferente de Vinícius por ser pequeno ainda esperava alguma coisa mas nunca esperei nada vindo dele pois sabia que ele estava mais ocupado com uma guerra inútil do que comigo e com meu irmão.

– Para SEMPRE? Mas é muito tempo, Nu, eu nunca mais vou ver a mamãe?

– Não, Vinícius, preciso que entenda que nossa mãe morreu, que ela não vai voltar mais e que você só tem a mim para contar, pare de ficar insistindo com o papai, ele não nos ama a única coisa que ele gosta nessa vida é da m*****a guerra que ele mesmo promoveu, esqueça de qualquer coisa relacionada a cuidados em relação a ele pois ele não vai cuidar de nós temos apenas eu e você, um pelo outro e assim será pelo resto de nossas vidas.

Meu irmão chorava mas acredito que agora entendeu que apenas tem a mim para cuidar dele e que não pode contar com mais ninguém, minha mãe está morta, meu pai não se preocupa conosco portanto preciso cuidar das necessidades dele e das minhas também. Daqui pra frente, sou eu e Vinícius contra o mundo.

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