O som das folhas secas sob os pés de Lis e Matthew era o único ruído que quebrava o silêncio da floresta. Depois do confronto com os guardiões, a tensão pairava como uma nuvem espessa entre eles. Matthew, sempre vigilante, andava com as mãos perto das lâminas que carregava na cintura, enquanto Lis mantinha o artefato escondido sob o manto, sua luz pulsante ocasional visível apenas nos momentos mais sombrios da trilha.— Eles vão voltar, você sabe disso, — disse Matthew, sua voz grave, mas calma.— Eu sei. Mas o que realmente me preocupa é o que eles sabem que nós não sabemos, — respondeu Lis, franzindo a testa. — Se eles têm tanto medo do que posso me tornar, talvez devêssemos temer também.Matthew parou, segurando-a pelo braço para que ela fizesse o mesmo.— Ei, não deixe que eles plantem dúvida na sua mente. Você é mais forte do que isso. E não está sozinha.Lis o olhou nos olhos, encontrando o conforto e a força que sempre encontrava nele.— Eu sei. Mas não podemos ignorar que talv
A floresta ao redor parecia respirar com eles, como se os observasse silenciosamente, mas não apenas com olhos, e sim com sentidos que iam além da compreensão humana. Cada folha que farfalhava, cada sombra que dançava ao vento parecia conspirar, ou talvez apenas refletir o turbilhão dentro de Lis.A conversa com a figura encapuzada, breve e misteriosa, havia deixado uma marca na mente dela. A ideia de que o artefato era uma chave para um poder maior parecia tanto uma promessa quanto uma ameaça.Matthew caminhava ao lado dela, seus olhos ainda varrendo o entorno em busca de perigos. Ele sabia que algo estava mudando em Lis; ela parecia mais conectada ao artefato, como se ele tivesse começado a despertar algo dentro dela.— Você está calada, — ele comentou, interrompendo os próprios pensamentos.Lis suspirou, ainda absorta em sua mente.— É muita coisa para processar. Herdeira, chave, poder que molda o destino... Não sei o que tudo isso significa, mas sei que não posso fugir disso. Não
A caminhada através da densa floresta finalmente chegou ao fim. Lis e Matthew estavam diante de uma entrada oculta, uma grande pedra coberta por musgo e vegetação. A marca da última pista que os havia guiado até ali estava gravada nas pedras, um símbolo que Lis reconhecia como parte do antigo artefato. O último fragmento estava perto, e o santuário subterrâneo, que muitos consideravam apenas uma lenda, era a chave.Lis olhou para Matthew, seus olhos refletindo uma mistura de determinação e apreensão. Ele era seu pilar, mas ela sabia que estavam prestes a enfrentar mais do que imaginavam. O que quer que estivesse esperando por eles ali não seria simples.— Este é o lugar. — A voz de Lis soou firme, mas havia uma tensão no ar. Ela se aproximou da entrada da caverna e tocou a pedra. Imediatamente, um brilho suave emanou da superfície, e a entrada começou a se abrir lentamente, revelando a escuridão do interior.Matthew, sempre alerta, deu um passo à frente, os músculos tensos enquanto el
Lis sentia o ar pesar sobre seus ombros. Estava sozinha, cercada por sombras, em um espaço vazio que parecia se estender infinitamente. Não havia mais a sala majestosa onde o Guardião a havia lançado, mas uma paisagem de escuridão e silêncio absoluto. Seus sentidos estavam aguçados, mas não podia encontrar o caminho para escapar.Ela se virou, mas a escuridão se fechava cada vez mais ao seu redor, como se o próprio espaço fosse uma prisão. Sussurros se arrastavam pelas sombras, sussurros que pareciam se originar de suas próprias memórias, do fundo de sua mente, trazendo à tona os pensamentos mais dolorosos e os momentos mais sombrios de sua vida.A primeira coisa que viu foi a imagem de seus pais. Eles estavam lá, em pé na sua frente, sorrindo. O sorriso deles era brilhante e genuíno, como no tempo antes da tragédia, quando Lis ainda era uma criança e a vida parecia cheia de promessas. Mas então, algo mudou. O sorriso deles se desfez lentamente, como se algo estivesse corroendo as exp
O vento cortava a noite fria, mas Lis não sentia mais o frio. O calor emanado do fragmento em sua mão era como uma chama viva que pulsava em seu interior. A pequena peça dourada, que parecia frágil e insignificante, agora ressoava com uma energia imensa, quase opressiva. Ela olhou para o fragmento com uma sensação de reverência, mas também de temor. Os quatro pedaços do artefato que ela reunira durante sua jornada estavam agora unidos, e Lis sabia que isso significava que o momento de seu destino havia chegado.A conexão com Rose estava mais forte do que nunca. Sua loba estava quieta, mas Lis podia sentir sua presença, uma sensação reconfortante, mas também poderosa, como se algo profundo e primordial estivesse prestes a ser revelado.— Estamos quase lá,— pensou Lis, enquanto seus dedos tocavam o fragmento dourado. — O que virá agora?O artefato, ainda brilhando com um tom dourado suave, começou a brilhar com mais intensidade. Lis sentiu uma onda de energia percorrendo seu corpo, como
O luar caía sobre a clareira, banhando Lis com sua luz prateada, enquanto o brilho dourado que emanava de seu amuleto refletia com intensidade. Ela estava parada, imóvel, absorvendo a magnitude da transformação que acabara de acontecer. Seus cabelos, agora com a cor pura e prateada da lua, dançavam suavemente com a brisa, e os seus olhos dourados pareciam emanar uma energia incomum. O que antes era uma mulher em transição agora era a Rainha dos Lobos e das Bruxas, o elo entre dois mundos, a guardiã de um poder imensurável.Lis ainda sentia o poder do artefato vibrando dentro de seu corpo, como uma chama viva, aquecendo cada célula, alimentando seu espírito com uma força ancestral que ela mal compreendia. Sua conexão com Rose estava mais forte do que nunca. A loba, em sua verdadeira forma, observava-a com um olhar de aprovação, seus olhos dourados brilhando com o mesmo poder que agora pulsava nas veias de Lis.Foi quando o silêncio da floresta foi quebrado por um som profundo, um estal
Lis e Matthew haviam viajado por semanas, cruzando florestas densas, montanhas traiçoeiras e rios caudalosos, buscando por respostas e enfrentando desafios que testaram seus limites. A cada passo, Lis sentia o peso crescente de seu novo poder, uma responsabilidade que, por mais que fosse grandiosa, também era ameaçadora. Matthew, por sua vez, estava ao seu lado, mais presente do que nunca, compartilhando a carga da jornada e oferecendo o apoio inabalável que ela sempre precisou. No entanto, o cansaço era visível em seus corpos, e o momento de descanso estava mais do que merecido.O vento da tarde acariciava os cabelos de Lis, que agora mantinham a cor da pelagem pura de Rose, sua loba interior. O luar que refletia em seus fios parecia intensificar o brilho dourado que agora tomava conta de seus olhos. Sua aparência, mais imponente do que nunca, não passava despercebida, e o poder que emanava de seu corpo estava em constante ebulição. Matthew a observava com um misto de admiração e pre
Os ventos que passavam pelas árvores da floresta pareciam carregar consigo um segredo. Lis sentia-o na pele, uma sensação vaga de inquietação que a acompanhava desde a chegada ao território da tribo das bruxas. Matthew, como sempre, ao seu lado, observava-a atentamente, sabendo que sua intuição era algo a ser levado em consideração. Ele sabia que Lis estava mais conectada à magia antiga do que qualquer um poderia imaginar, e isso a tornava uma figura poderosa — mas também vulnerável.A tribo das bruxas, que os havia recebido com tanta hospitalidade, parecia ter um ar diferente desde que haviam chegado. A magia que permeava o local parecia mais densa, mais palpável. Cada feitiço, cada encantamento lançado nos últimos dias parecia ter um propósito maior, como se estivessem preparando algo grande. Lis sentia isso em cada fio de seu cabelo dourado, em cada pulsar de seu coração. A conexão com Rose, sua loba interior, nunca foi tão forte. A cada dia que passava, seu poder aumentava, tornan