Eu devia estar louco.
Eu a beijei! Eu a beijei! Eu senti os lábios de Annelise nos meus e Deus… era como se eu pudesse tocar a minha melhor parte. Por um momento, tudo o que acontecera desapareceu, mas depois, quando vi seus olhos, a expressão confusa e o corpo pesando ao meu redor, percebi que tinha feito algo irreparável. O que ela pensou? Ela não sabe que eu sei sobre A., então provavelmente deve estar muito confusa. Até ontem eu não passava do cara que gostava dela — como amiga — e, de uma hora para outra, lhe rouba um beijo e sai correndo da sala. Ela deve achar que sou louco. Me inclinei na direção da pia do banheiro e afoguei as mãos na água corrente da torneira, lavei o rosto e encarei meu reflexo no espelho. O nariz estava sangrando de novo. Ainda doía, como se tivesse levado um soco. Por algum motivo, meus olhos merguEu não conseguia entender como tudo isso chegou a esse ponto. Eu não conseguia acreditar que me deixei levar tanto. Meu coração pesa por acreditar que Chase realmente gosta de mim, porque isso significaria sua desolação. Se eu permitisse que ele conseguisse o que queria, nós dois nos magoaríamos.Quando me colocou contra a parede, eu quase cedi. Eu juro que quase cedi. Eu não aguentaria ver seu sofrimento, nem ver o ódio queimando por trás de seus olhos. Eu não me perdoaria. Se eu permitisse a ele se aproximar mais, nada disso teria volta e eu não me perdoaria. Tudo o que sinto por ele é real, mas meu segredo o destruiria.Olhei-me no espelho pela última vez antes de passar a toalha no rosto. Respirei fundo, e fechei os olhos, tentando afastar os pensamentos que cercavam a minha mente. Eu iria enlouquecer se não parasse de pensar nisso.De
Eu estava confusa. Chase me deixava confusa. Era como se eu me perdesse dentro dele, tentando enxergar alguma coisa numa completa escuridão. Eu sentia a escuridão ao meu redor, quase podia tocá-la, mas preferia achar que encontraria algo ali. Talvez fosse burrice acreditar que Chase poderia me desculpar, mas eu não parava de pensar nessa possibilidade. A noite toda Chase invadia meus pensamentos e tomava meu sustento. Estava a ponto de enlouquecer. Ele garantiu que conversamos, quando disse que precisava pensar. Eu também precisava, mas lembrar dos seus lábios nos meus era uma razão certa pela qual eu me largava, absorta, em Chase.Eu estava certa de que, se ele estivesse mesmo apaixonado por mim, poderia me perdoar por ter feito o que fiz com ele, mas acontece que Chase é um cabeça dura. Ele poderia até engolir, mas a indigestão causada por isso poderia ser desastrosa. Pensar em nós junto
Eu tentei entender o motivo pelo qual Annelise achou muito convincente que o melhor a se fazer era se atirar no mar. Eu sabia que não devia exigir nada a ela, eu era só um cara que, aparentemente, estava lhe prometendo algo que não poderia dar.Brandon ficou me olhando enquanto via Annelise catar suas coisas na sala. Eu não devia impedi-la, já que achava que era o certo, mas eu sabia que iria me arrepender depois. Brandon deu de ombros e disse:— Você não pode ir embora.— Brandon. — Chamei sua atenção.Ele sorriu de canto e cruzou os braços. Eu olhei para Annelise. Ela só poderia sair se eu permitisse, portanto, poderíamos resolver isso depois, mas não queria impor, mais uma vez, o que eu achava ser o certo. Ela tinha motivos o suficiente para acreditar que aquilo era uma má ideia.— O que aconteceu? —
Tudo aconteceu rápido demais, sem me dar tempo para que eu pudesse pensar em algo, sem me deixar fazer nada. Eu me sentia amarrada em cordas invisíveis, mas sabia, ao mesmo tempo, que Chase não tinha culpa. Ele claramente não passava de um adolescente num corpo de um adulto. A forma como agiu… isso provava minha teoria. Ele sabia mesmo o que sentia por mim, ou só queria se apossar porque me desejava, de modo que nenhum outro cara pudesse ter algo comigo?Talvez ele precisasse mesmo de um tempo para pensar em tudo.Chase me levou para o apartamento. Durante todo o trajeto, fiquei calada, impedindo qualquer discussão que pudesse iniciar em uma conversa que eu não queria participar. Chase tentou falar alguma coisa, talvez pedir desculpas, mas fingi não ter importância, olhando através da janela.Quando finalmente chegamos, subi, os braços cruzados, ele me seguiu, en
Eu via o modo como ela me olhava, sentia o desejo estourando por trás de sua pele. Sentia seu pulso sob meu polegar, pulsando por mim. Eu sentia tudo o que Annelise se esforçava para esconder. Eu percebi, então, que eu não era a única coisa que nos impedia; meu passado era um manto escuro que cobria meus olhos, mas não era a única coisa que me deixava cego. Annelise sentia uma estranha necessidade de desconfiar de todos. Eu não a julgava por isso, aprendi a desconfiar de todo mundo da mesma forma, mas era de um modo diferente. Eu precisava desse escudo para continuar vivo, e ela, por sua vez, precisava dele para se proteger.Nós não éramos muito diferentes. E isso me fascinava de uma forma quase extraordinária. Eu me via nela, refletido em seus medos, desejos e necessidades; me via consertando o que estava quebrado e remendado sua alma para se moldar à minha. Eu me via nela e, por m
Logo depois de ir embora, Chase me chamou — bem, chamou A. Eu achei estranho. Ele tinha parado de chamá-la por tanto tempo… por que de repente achou que seria uma ótima ideia? Eu estava pronta para recusar seu convite quando, de repente, percebi que seria uma ótima oportunidade para contar a ele sobre tudo.Eu me empertiguei no sofá, corri para a casa de Susan para me arrumar e a encontrei com um cara, agarrada à ele. Ela abriu a porta e passou para fora.— Preciso da sua ajuda — eu disse. Com um sorrisinho, ela pegou meu braço e olhou para o cara, que estava sem camisa, enfiando o dedo num pote de chocolate. — Estou atrapalhando?— Diria que está me salvando — sussurou ela, se inclinando na minha direção. Susan apontou o dedo na direção da porta. — Cai fora. Depois ligo para você. — O cara colocou a camisa e
Ela parecia assustada, como se tivesse acabado de ser descoberta. Eu sorri. Sua expressão era impagável: olhos arregalados, boca aberta. Aproximei-me dela, que me encarava como se não entendesse muito bem o que estava acontecendo. Ela entrou, engoliu em seco e eu me aproximei um pouco mais, tão perto, que podia tocá-la, mas simplesmente tirei sua máscara.O rosto de Annelise continuava a me oferecer a mesma expressão de perplexidade.— Não achou que eu fosse tão idiota a ponto de nunca descobrir, não é mesmo? — Perguntei. Ela continuou parada, me encarando. — Eu admito… você me surpreendeu bastante ao fazer isso. Quando eu descobri, demorei para acreditar. Na verdade, eu não queria acreditar em nada.— Há quanto tempo sabia? — Perguntou, a voz baixa e embargada. — Estava jogando comigo? Brincando comigo?
Eu não fazia ideia de quem devia recorrer. Quando se passa a vida toda querendo afastar todo mundo que pode te amar, não sobra muita coisa, a não ser inimigos, pessoas que querem seu mal e curiosos.A bebida não resolveria nada. Eu tinha certeza. Estava certo de que, se eu bebesse pelo menos uma gota de uísque, me descontrolava. Eu estava tentando me segurar ao máximo e isso doía tanto… me perguntava se não seria mais fácil bater com a cabeça forte o bastante para ficar como o papai.Estava no carro, a chuva começara a cair de maneira silenciosa e pesada. Estacionei o carro perto do hotel, onde imaginara que seria a primeira noite de algo que me mudaria para sempre, e estava certo. Annelise conseguiu me ferir ainda mais que qualquer pessoa. Ela conseguiu arrancar o coração do meu peito e, mesmo assim, eu não a odiava. Odiava a mim, por acreditar que podia se