SARAHComo pode uma pessoa passar tanto tempo sem interagir sexualmente e, quando finalmente o faz, não sentir absolutamente nada? Não deveria ser o contrário? O desejo reprimido explodindo, a necessidade se tornando insaciável? Mas não. Foi como beijar o vento, tocar o vazio. Uma experiência mecânica, sem qualquer emoção, sem qualquer vestígio de prazer.Talvez seja uma maldição. Uma punição imposta pelo ingrato que partiu sem se despedir, levando consigo mais do que deveria. O pior é que não posso culpá-lo. Encontrou seu pai. Um reencontro que eu jamais impediria. Eu aceitaria, compreenderia. Sentiria saudades, claro, mas ao menos teria a certeza de que ele estava bem.O problema é que eu não tenho essa certeza.Penso nisso mais vezes do que gostaria. Tento me convencer de que sua ausência não deveria afetar tanto. Mas as noites vazias e os dias monótonos me mostram o contrário. Dedicar meu tempo ao ingrato? De forma alguma. Melhor focar nas minhas conquistas e no que realmente me t
SARAHSaio da cozinha ajeitando o chapéu alto e branco sobre minha cabeça. Meu avental ficou para trás, não era apresentável o suficiente para essa ocasião. Respiro fundo, ajusto minha postura e sigo em direção à mesa principal, onde o senhor García me aguarda com um sorriso acolhedor.— Aqui está a nossa talentosa chef, a responsável por todas essas iguarias deliciosas — anuncia ele, com um brilho de orgulho nos olhos. — Posso assegurar que ela é uma das chefs mais renomadas da atualidade.Meus olhos percorrem a mesa, absorvendo rostos e expressões. Algumas são novas, outras familiares, mas uma em particular me atinge como um soco no estômago. Meu corpo trava, minha garganta seca e um calafrio percorre minha espinha.Eu conheço esse homem.Não é possível. Deve ser um terrível pesadelo. A única explicação lógica.O que ele está fazendo aqui? Como me encontrou? Seria apenas uma coincidência cruel do destino?Os anos passaram, mas eu jamais esqueceria aquele rosto. Ele mudou, mas aind
SARAHAo entrar em casa, as lágrimas continuam escorrendo livremente pelo meu rosto, como se meu coração tivesse sido partido mais uma vez. Tento controlar o choro, mas é impossível. O impacto de vê-lo novamente me atingiu como um vendaval.Eu preferia nunca mais ter cruzado com ele.Não posso permitir que ele descubra sobre minha filha. De jeito nenhum. Mas é evidente que ele sequer teria interesse em saber ele nunca se importou de verdade comigo.Absurdo!Ao atravessar a sala, avisto o casal abraçadas no sofá, sorrindo diante da televisão. O aconchego da cena me atinge em cheio, despertando uma dor profunda dentro de mim. Mas, no instante em que elas percebem meu estado, saltam de seus lugares, alarmadas.— Ei, o que aconteceu? — Fernanda me encara com olhos cheios de preocupação antes de seu rosto se transformar em pura fúria. — Aquele desgraçado fez alguma coisa com você? Se fez, eu juro por Deus que acabo com ele com as minhas próprias mãos!Seu tom ameaçador me faria rir em qual
NICHOLASEu devo estar tendo uma alucinação. O destino, cruel e irônico, parece determinado a me atormentar. Dentre todos os lugares do mundo, era aqui que eu tinha que encontrá-la? Logo ela, a mulher que eu passei anos tentando esquecer, mas que ainda assombra meus pensamentos.E, para minha surpresa, ela não é apenas uma funcionária qualquer. Não, isso seria simples demais. Ela é a chefe do estabelecimento.Que reviravolta injusta.Como ela conseguiu esse cargo de maneira justa? Ou seria mais uma de suas manipulações?Se eu soubesse que ela estava aqui, jamais teria colocado os pés nesse restaurante. Eu teria escolhido outro lugar, qualquer outro lugar. Mas agora já é tarde. O cheiro da comida, o sabor familiar do tempero... é ela.E então, a vejo.O coração bate com uma força insuportável contra o peito. A raiva e a saudade se misturam em um cóctel explosivo de emoções. Odeio o que ela fez comigo, odeio o que ela se tornou para mim. Mas não posso negar: ela está ainda mais deslumbr
NICHOLASJá no hotel, busco refúgio em doses generosas de álcool. Mas nem mesmo a bebida é capaz de apagar a fúria que me consome. O gosto amargo do passado ainda está em minha língua, misturado ao desejo cruel de vingança.Já se passaram anos, mas o ódio continua ardendo em meu peito como se tudo tivesse acontecido ontem.Minha irmã demonstrou interesse em sair, mas eu estava focado em beber e encontrar uma mulher para me envolver até me distrair completamente. Precisava afastar aquela maldita da minha mente, mas o álcool e o prazer momentâneo nunca foram suficientes para apagar as cicatrizes que ela deixou.Ok, eu lembro de tudo. Acho que meu ódio por ela não me faz esquecê-la.Logo, minha irmã invade meu quarto, determinada. — O que aconteceu naquele restaurante com aquela mulher? Me conta agora, ou eu vou descobrir sozinha, me ouviu, Nicholas? Ela estava gelada, tremendo, como se tivesse visto um fantasma ou fosse ter um ataque cardíaco. Então, me conta tudo e não esconda nada.Se
NICHOLASEu me sinto um fracassado, sinceramente.É estranho ouvir meus funcionários me descreverem como controlador e arrogante, pois mal consigo controlar minhas próprias emoções diante do turbilhão que me consome ao pensar nela. A mulher que amei com cada parte do meu ser… e que me destruiu sem hesitar.Qual homem derrama lágrimas por uma traidora?Apenas eu.Que tormento!O homem que tem controle sobre negócios milionários, decisões estratégicas e riscos calculados está aqui, sozinho, se afogando em mágoa. Até agora, ainda não compreendo como ela pôde me magoar dessa maneira. Éramos inseparáveis. Confiávamos um no outro. Ou pelo menos, era o que eu pensava.— Meu irmão, será que tudo o que aquele garoto disse sobre ela era verdade? Como isso pôde acontecer? Ela ter feito uma aposta para perder a virgindade… soa muito estranho. Acho que você devia ter conversado com ela, saber o que ela tinha a dizer.Emma, minha irmã mais velha, me encara com aquele olhar analítico e sereno. Mas o
NICHOLASAo chegar, percebo que não há porteiro. Apenas um sistema de interfone. Me aproximo, pressiono o botão e aguardo.Ela não tem ideia do que está prestes a acontecer.— Quem é? — a voz infantil pergunta. — Sou um amigo da sua mãe, minto para a criança. — Já que é um amigo da mamãe, vou abrir o portão para você. Só tem que vir até a porta.Ao adentrar pelo portão, sigo em direção à entrada entreaberta, observando cada detalhe ao redor. Meu olhar se detém na menininha que surge diante de mim. Seu rosto traz uma familiaridade desconcertante. Os mesmos olhos do meu pai. A semelhança comigo é inegável.Fico paralisado. Meus músculos enrijecem enquanto encaro a criança que me observa curiosa.Ela... Ela é minha filha!Minha mente entra em colapso. Sarah teve um bebê meu. Nossa filha cresceu sem que eu soubesse de sua existência. Se eu encontrasse aquele maldito do Felipe, o eliminaria sem pensar duas vezes. Mas agora isso pouco importa. A verdade está bem diante dos meus olhos: sou p
SARAHEstou dentro do meu quarto, fervendo de raiva. Esse imbecil, quem ele pensa que é?O pior de tudo foi ouvi-lo chamando minha filha de "princesa". Como se tivesse algum direito! Esse idiota ressurge do nada, tentando impor sua vontade sobre mim, e espera que eu simplesmente aceite isso?Inaceitável!Minha cabeça está uma confusão. Como ele descobriu sobre minha filha? Ele sabia esse tempo todo? Ou foi apenas uma coincidência? Eu nem tinha certeza se ele ainda estava vivo até pouco tempo atrás. E agora ele aparece para virar minha vida de cabeça para baixo... e mexer com meu coração.Mas não posso me deixar levar. Nicholas me abandonou. Ele sumiu sem olhar para trás, me deixando sozinha com o peso de um futuro incerto. Ele nunca procurou saber como eu estava. Nunca mandou uma mensagem, uma carta, nada. E agora, depois de anos, surge como se nada tivesse acontecido, como se pudesse reivindicar o que perdeu?Ver Nicholas depois de tantos anos me causou um impacto que eu não esper