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Lidia

– Lídia Matos Santoro!

Quando finalmente ouvi meu nome, senti que meu coração ia sair pela boca, foi tantas lutas e sacrifícios para chegar nesse dia que nem acredito que estou aqui recebendo meu diploma de professora, claro que seria o primeiro de muitos pois não quero parar de estudar. Quero fazer mestrado e doutorado em pedagogia, sei que terei um pequeno tempo de descanso mas nada que comprometa meus sonhos de ser uma doutora em pedagogia infantil.

Eu gostou de cuidar de crianças, ensiná-las e aprender com elas sempre foi meu sonho de vida. Decidi muito nova que não queria desistir do meu desejo mesmo que vivesse sacrificando minhas vontades. Lembro a primeira e última vez que beijei um rapaz, eu tinha 17 anos e foi na porta da escola,  eu só queria nao ser a unica à nunca ter beijado, queria que parassem de encher minhas paciências, quando se é adolescente se faz muita coisa sem querer. Não foi um beijo de novela e nem de cinema, o menino nem sabia beijar direito mesmo eu também não sabendo. Foi uma experiência bem esquisita, depois não quis beijar outros garotos, primeiro não tinha tempo e segundo ninguém realmente era interessante para mim.

Queria viver um romance literário, um homem que faria tudo por mim sem medo e eu seria tudo para ele sem medo mas com o passar do tempo e convivência com Igor passei à não acreditar nisso. Homens são incapazes disso,  bom, os rapazes reais é claro. Não quero ficar como Andressa, chorando por um homem que nem sequer vê ela com outros olhos além de uma boa amiga.

Sinto que não tenha me apaixonado ainda pois sou intensa demais e sei que serei incompreendida muitas vezes pois sei que vou exigir ser a única. Hoje em dia os relacionamentos são voluveis e acabam por qualquer motivo. Se ficar com alguém é porque estou perdidamente apaixonada.

Acho que sou assim em virtude do sangue quente que tenho. Minha tia diz que sou parecida com minha mãe na aparência e na personalidade amável e delicada mas que herdei o sangue quente do meu pai, não sei bem se seria isso apenas sei que amor para mim tem que nascer, crescer e florescer. Não quero ficar com alguém apenas para não ficar sozinha ou obrigada por qualquer circunstância.

– Parabéns!

O cerimonialista entrega o diploma para mim, agradeço assumindo meu lugar junto com os demais formandos. Vi minha tia Andrea nas cadeiras da frente junto com os pais dos outros formandos enquanto Andressa estava mais ao fundo ao lado de Igor, sei que minha prima está sem jeito perto dele e apenas está se sacrificando por mim.

O resto da colação demorou um pouco para acabar, mas foi linda do começo ao fim, parecia um sonho acreditar que consegui passar no curso e agora posso exercer minha tão sonhada profissão. Ao descer do palco vejo a confusão de pessoas e a bateria da atlética animando o salão de festa onde o evento da colação acontecia. Só queria chegar até minha tia e abraçá-la mas naquela confusão fiquei um pouco perdida no meio de tanta gente. Acabei esbarrando em alguém e quase caí em cima da pessoa mas fui segurada por ela pela cintura, quando olhei para ver quem era notei que se tratava de um homem muito bonito, de olhar forte, cabelos loiros presos em um coque samurai usando um belo terno que tenho certeza que é de marca e um sorriso de deixar qualquer uma boba.

– Me desculpe!

Ele continuou segurando minha cintura, sorrindo para mim de uma maneira diferente de tudo que havia visto fechei meus olhos impactada com seu olhar tão intenso. Como se quisesse me dizer algo apenas com seus olhos, ele acariciou minha cintura com uma certa autoridade como se me conhecesse. Abri os olhos e com voz trêmula pedi para me soltar.

– Pode me soltar, moço, estou bem!

Foi difícil dizer para o homem me soltar parecia que estava sob o efeito dominante do seu olhar mas não poderia continuar assim, esse homem é um total desconhecido para mim. Ele parecia querer me hipnotizar como se quisesse ver minha alma, toda aquela situação estava me assustando muito.

– Tem certeza?

Aquela pergunta é tão sem sentido, mas é claro que queria ser liberada, no entanto, uma parte de mim não queria como se o lado que não conhecia do meu interior gostasse da sensação de tê-lo apertando e acariciando minha cintura daquela forma mas isso é loucura. São os hormônios de um período pré menstrual que estão afetando meu raciocínio, só pode ser. Balancei a cabeça mostrando que queria ser solta por ele.

Quando finalmente resolveu me soltar, sorriu mas se aproximou de mim puxando meu corpo para um abraço estranhamente sensual e bem esquisito para o lugar que estamos, não consegui me soltar como se meu corpo quisesse isso mais do que qualquer outra coisa desse mundo. O homem começou a falar comigo sussurrando em meu ouvido de maneira calma enquanto alguns formandos e familiares se amontoavam em cima da bateria.

– Eu sabia que iria conseguir, minha estrelinha. Complimenti, la mia stella!

Ele soltou meu corpo e saiu andando no meio da multidão, fui atrás dele para entender o porque daquilo tudo precisava de uma explicação e nem sei porque, algo dentro de mim parecia conhecê-lo, a mesma parte obscura do meu interior que não conhecia até hoje, sabia que aquele encontro não foi por um acaso. Sentia minhas mãos tremerem e faltar o ar, não como se estivesse passando mal, mas sim pelas palavras dele. Eu entendia pouco do italiano, procurei saber por causa de Igor e do pesadelo que atormentou meu sono mas entendi muito bem quando me parabenizo e usou o apelido “minha estrelinha”.

Tudo naquele momento me abalou mas o fato de usar aquele apelido foi mais aterrorizante ainda, sabia que havia sido chamada assim, muitas vezes inclusive mas não consigo me lembrar quando. Respirei fundo e voltei à procurar minha tia, vi ela no meio da multidão e fui até onde estava, o estranho sumiu entre a multidão portanto não iria encontrá-lo no meio desse povo todo. Quando finalmente cheguei perto dela à abracei forte começando a chorar feito uma menina que havia se perdido da mãe, não entendia porque estava assim.

– Oh neguinha, não chora! Sei que está emocionada pela graduação mas hoje é dia de alegria.

Não estava chorando por causa disso, e sim por causa do homem que me fez ficar tonta e estranhamente confusa. Depois de alguns minutos e ao sentir o afago da minha tia enxuguei minhas lágrimas e sorri para pessoa que também fez muitos sacrifícios por mim.

– Tia, obrigada por tudo que fez e faz por mim, eu te amo tanto!

– Oh querida, a tia também te ama muito, quero que saiba que faria tudo de novo para poder ver esse lindo sorriso.

Tia Andrea beijou meu rosto com carinho enquanto olhava para ela agradecendo por ter alguém tão especial e bom em minha vida. Logo, Andressa e Igor estavam conosco, minha prima me abraçou muito sorrindo e dando os parabéns pela minha conquista. Igor também foi bastante carinhoso me abraçando.

– Agora é uma professora, como sempre sonhou, parabéns!

Eu estava feliz mas ao mesmo tempo sentia algo estranho como se aquele homem ter aparecido hoje não foi apenas uma coincidência, e o pior é que sinto dentro do meu interior que não será a última vez que o verei.

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