Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” Tentei entender coisas que não poderiam ser entendidas, além de me entregar a sentimentos e pensamentos que não mereciam atenção total. Fui estrangulado, esmagado, o vazio está dentro de mim, ao meu redor. Não vejo valor nem sentido em nada, religião, política, amor ou ódio, muito menos na sociedade, eu repulso os humanos. Minha vontade passou a ser a inexistência. Acho, me recordo de alguns golpes fatais que me empurram cada vez mais perto desse buraco negro. Hoje estou só o espaguete. A luz que estava em mim foi toda absorvida, extraída, restando agora somente esse corpo… Vejamos. O primeiro golpe foi alguns anos atrás, não lembro a data certa, no entanto, eu fazia a nona série do ensino fundamental. É isso!
Juntos entramos para escola. Cheguei na sala e me sentei na primeira fileira. Minha mesa ficava ao lado da porta, primeiro da fila. Aos poucos todos foram se acomodando, cada um no seu lugar, até que a sala encheu. Eu nunca fui de ter muitos amigos. Sempre conversei e mantive contato apenas com as pessoas que falam comigo. Nunca fui de sair puxando papo com todos. Passou um tempinho e o professor entrou. Fez uma cara ruim, até nesse momento tudo normal. Passou tarefa no quadro e depois de um tempo saiu. A sala, para variar, virou uma bagunça. Normal, era só o professor sair e a baderna começava. Todos falavam alto, cadeiras criavam asas, livros viravam bumerangues no ventilador e eu sentado na minha cadeira copiando quieto no meu canto. O professor entrou, fez uma cara ruim, olhou para mim, olhou para a classe. Bateu a mão com muita força no quadro e disse gritando ─ SILÊNCIO! ─ Os alunos se assustaram, se sentaram e se calaram. E para mim, foi como colocar o pé no inferno, como na divina comédia. Ele já foi logo dizendo em seguida:
Da forma que ela apareceu, saiu, sumiu do nada. Eu por estar sem forças e nem pensando direito, nem consegui acompanhá-la até o portão. Muita falta de educação da minha parte, por sinal. Escutei meus pais na cozinha conversando a meu respeito. Meu pai mandou me chamar para comer na hora certa e minha mãe o mandando me deixar em paz. Olhei no relógio, exatamente 22h50. Levantei-me, passei por eles e disse que iria comer depois que tomasse banho. Minha mãe muito observadora notou minha tristeza e queria, porque queria saber o motivo.
“Ter muitos amigos é não ter nenhum.” “Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura.” “O ignorante afirma, o sábio dúvida, o sensato reflete.” (Aristóteles) “Cada escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós, será plantação que poderá ser vista de longe.” (Padre Fábio de Melo) Cada escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós, será plantação que poderá ser vista de longe.” (Padre Fábio de Melo)
Reencontro com alguém distante. Era na época uma moto Bros 150. Nos A aproximamos e iniciou-se a ação. O Vidar estava com uma bombinha enorme, daquelas que vendem no supermercado. Elas são até grandes e com muito poder. Penso que tinha uns 8 cm de comprimento, por aí… Eu lembro que, quando mais novo eu as usava para brincar na rua. Acendia uma, colocava uma panela velha em cima e corria. Ela explodia e jogava a panela mais alto do que os postes de energia. Aquilo era o máximo, parecia lançamento de foguete. O Vidar alongou o pavio de uma e colocou na boca do escapamento da moto do professor. E ainda mijou dentro do capacete que estava pendurado no guidão. Após isso, nos preparamos para correr, acendemos e saímos correndo em disparada. Subimos a escada muito rápido, passamos pela
No dia seguinte, levantei igual a um zumbi por não ter dormido direito. Só tinha pegado no sono depois das quatro horas da manhã. Meu corpo estava pesado. Meus olhos pareciam que tinham areia. Vermelhos e ardendo. Alguém desconhecido poderia até me julgar, dizendo que estava usando drogas… Fui para escola, entrei, não vi em lugar nenhum o Vidar nem a Oizus. Então pensei automaticamente que estavam com medo de ir à aula. Talvez o Vidar. Já a Oizus podia apenas estar com preguiça. Entrei na sala normalmente, assisti até o terceiro horário, lanche e intervalo. A quarta e a quinta aula eram do bendito professor, até tinha me esquecido. Lembrei no intervalo porque um colega de classe havia comentado de um exercício que teria que corrigir nessa aula. Agora tinha complicado, teria que encarar o professor, olhar no seu rosto e tentar manter a calma. Não poderia deixar nada escapar, afinal sentia o remorso crescer de
─ O Sísifo está trancado no quarto ainda? ─ Questionou o pai de Sísifo. ─ Sim está, desde ontem não sai. ─ Respondeu a mãe e o advertiu em seguida: ─ Deixe o em paz. Algo aconteceu, ele está muito deprimido. ─ Se a gente não procurar saber o que aconteceu, nunca saberemos, ora bolas. ─ Bradou o pai levantando os braços. ─ Tudo tem seu tempo, há tempos para chorar e outros para rir. Vai surgir o momento certo e vou dialogar com ele. ─ Você estragou nosso filho, mulher! ─ E saiu para rua. No quarto, cheio de dúvidas, eu olhava as telhas. Imóvel, somente respirando e existindo. Indignado, triste, olhares vazios, a esperança de mudança havia desaparecido em cada suspiro. As dúvidas haviam voltado, com um sentimento de revolta e raiva do ser humano. Sentia-me traído por meus próprios pensamentos e vontades. Em certos momentos apertava o lençol e os travesseiros com raiva absoluta. Não sabia se sentia ódio de mim mesmo ou das pessoas. Minha me
Um ano depois Depois de tudo o que aconteceu, parei de estudar, mesmo meus pais me obrigando a ir para escola, eu não ia. Fugia das aulas, até fingia que ia, mas meu destino era uma praça, uma Lan House quando tinha dinheiro, jogar Conter Strike, Mortal Kombat, Street Fighters. Isso me distraia bastante. No entanto, quando retornava para casa, não tinha coragem para encarar meus pais. Meu quarto era minha fortaleza e ao mesmo tempo minha prisão. Eu me autoencasulei sem falar com ninguém. Aquele sentimento cada vez mais crescia dentro de mim. O “Outro” a todo momento me visitando. De fato ele era o único que me entendia, era meu confidente. O Vidar deu uma sumida, mas a Oizusestava sempre presente, com aquela fo
Comecei a ir para escola, normalmente. Apesar de sempre a Oizus me aconselhar a fugir ou ficar em casa. O Vidar mudou de turno também e o “Outro” se afastou um pouco. Normal de sua parte fazer isso. Turno novo, turma nova, professores diferentes, direção da escola diferente. Até parecia outro colégio. Tudo normal. Seguia aula após aula. Comecei a me esquecer das coisas do passado. E passei a gostar de uma garota. Ela sempre conversava comigo me dando atenção em tudo que falava. Aquele jeito de olhar dentro do meu olho me agradava bastante. Sempre comprava balinhas e bombons e levava para ela. Estava começando a viver normalmente, aqueles sentimentos ruins que eu sentia foram desaparecendo aos poucos. Mas como tudo na vida é uma balança, pesos são lançados em ambos os lados e o ciclo da vida decide qual será o mais pesado. Foi assim em mais um episódio da minha vida. Nessa turma havia um garoto muito popular, tanto com as garotas quanto com
Os dias foram passando e a admirável Helena ficou distante de mim. Eu tentava me aproximar e ela me ignorava, se afastava e não me dava mais atenção. No fundo da sala aquele desgraçado do Himeros ria na minha cara, lançava palavras ao vento aleatoriamente para me atingir. As aulas que estavam boas agora tinham se tornado tormento. Meu coração se dilacerava. Justamente quando tinha conhecido uma pessoa legal, alguém veio e tirou de mim. Aquele sentimento de perda e derrota tomou meu coração, minha mente não pensava direito. Não conseguia me concentrar na aula, nem responder exercício algum, meu desempenho caiu drasticamente. Eu observava a Helena indo até a carteira dele com desculpa de algum exercício e lhe entregar bilhetes. O desgraçado fazia questão de passar perto de mim embolando os bilhetes e lançando palavras para me atingir. Minha vontade era pular nele e destruí-lo, mas precisava me controlar. Afinal somente ele e eu sabíamos, Caso demonstrasse u
Sísifo destruído se arrastava para casa. O menino que andava olhando para o céu, passou a olhar para frente em linha reta e agora só sabe caminhar olhando para o chão, visualizando seus pés. Quase tromba com um carro parado porque não conseguiu vê-lo cinco metros à frente. Seus pensamentos perturbando seu raciocínio. Olhos lagrimejando, coração cortado. Não sabia se chorava pela humilhação que sofrera ao ver a menina que estava a amar nos braços de outro. E o pior, ele tinha consciência que ela havia sido usada para destruí-lo, moral e psicologicamente. Caminhando, rangendo os dentes a ponto de até morder a língua, punhos enrijecidos, tremendo o corpo todo. Sua mente trabalhavao mais rápido possível, uma confusão de pensamentos. Da tristeza e humilhação passou imediatamente para raiva e ódio. Quase chegando em casa, vozes familiares convocam sua atenção. ─ Ei, Sísifo, vem aqui. ─ gritou o “Outro”. ─ É, Sísifo, precisam