Eduardo
— Já estou exausto. Entrevistei oito mulheres, e das oito, sete se insinuaram para mim. E a que não se insinuou mal consegue andar devido seus problemas de artrite, ela não conseguiria acompanhar o pique da Bella. — Desabafo ao telefone, sentindo a frustração da busca por uma babá confiável.
— Amanhã serão mais algumas horas de tortura. — Michael ri do outro lado da linha. — Mas conta aí. Elas eram gatas, pelo menos? — Reviro os olhos, para o comentário do meu amigo. Ignoro sua pergunta dizendo:
— Deus, como é difícil contratar uma babá. — Falo sentindo o peso da responsabilidade sobre meus ombros.
— Senhor, tem mais uma candidata — Anuncia Abigail ao entrar no meu escritório com uma xícara de café em mãos. Confio nela para gerir minha casa há anos. Olho para o relógio e percebo que a tal candidata está atrasada, despertando minha irritação.
— Não vou atender mais ninguém hoje. Ela não chegou no horário, então que volte amanhã. — Decreto, mostrando minha determinação em não admitir atrasos.
— Para de ser ranzinza, e atende a pobre mulher. — Michael resmunga do outro lado da linha. Antes que eu possa responder, uma garota linda com longos cabelos dourados invade meu escritório. Ela é magra, estava usando um vestido mais soltinho com flores-do-campo, uma bota de cano curto preta assim como a meia calça, seus olhos verdes expressivos. A garota está ofegante. Fico um tempo admirando sua beleza, sem dizer nada.
— Senhor, me desculpe, — Ela diz, ao recuperar o fôlego. — Preciso muito do emprego, eu imploro, me dê essa chance. — Diz a jovem ofegante à minha frente. Olho para Abigail, que se desculpa:
— Desculpe senhor, ela entrou sem minha permissão, tentei impedir, mas ela foi mais rápida.
— Michael, nos falamos depois. — Digo ao telefone, desligando abruptamente, ignorando sua pergunta sobre a garota ser gata. Estou hipnotizado por sua beleza, ela é tão linda que poderia ser comparada às ninfas das histórias que conto à Bella antes de dormir, mas é claro, não compartilho essa comparação com ele.
Respiro fundo e decido dar uma chance a garota, mas já imaginando ser uma presa fácil para minha filha. Pois ela tem o jeito de ser boazinha demais.
— Certo, sente-se por favor. Como é seu nome? — Ela me entrega o currículo, e começa a falar.
— Meu nome é Stella Melfi, tenho vinte e três anos, sempre trabalhei de babá na minha cidade, acredito que tenho capacidade para o trabalho. — Isso é muito bom, quer dizer que tem experiência com crianças.
— Certo, senhorita Melfi, porque se atrasou, se essa vaga é tão importante para você? — Pergunto, ela me olha sem jeito com uma pitada de desafio e diz:
— Me mudei há um mês para um bairro mais afastado daqui, e antes tive que passar na escola para deixar os últimos documentos. Me desculpa, não irá mais acontecer. — Ela diz mostrando não estar com medo.
— Escola? Você não é formada? — Pergunto olhando o currículo que estava em minhas mãos.
— Sim, eu terminei o ensino médio. Recentemente fui aprovada em um concurso de culinária e ganhei uma bolsa de estudo, o curso é do renomado Chef Bonavalle, o ícone da gastronomia. — Ela fala com admiração, seus olhos brilhavam devido à conquista.
— Interessante, o Chef Bonavalle realmente é muito bom no que faz. E seus pratos são realmente divinos. — Digo, estou realmente surpreso, pois sei que os concursos dele sempre são muito difíceis. Savanna gostava muito deste Chef, ela acompanhava de perto e sempre íamos jantar no restaurante dele. Só que não pretendo contratar alguém temporário.
— Então, aqui seria um serviço temporário? Não planeja ficar.
— Não e sim! — Olho confuso para ela e ela sorri sem graça. — Tenho dois anos de curso, então nesses dois anos garanto não sair do emprego. — Foi a minha vez de sorrir da confiança dela, e imaginando o que Bella fará para a moça sair correndo. — Preciso muito do emprego senhor Hoork. Vi que você só precisará dos meus serviços durante o dia, o que é perfeito para mim, já que o curso é no período da noite. — Faço mais algumas perguntas e tomo minha decisão.
— Ok, gostei de sua honestidade. Como você sabe, a vaga é para o período da manhã e tarde, terá que acompanhá-la nas atividades. Você dirige?
— Tenho habilitação, mas confesso que teria que treinar antes de dirigir com uma criança sendo minha passageira. Não conheço a cidade e me sentiria insegura. — Gostei da resposta dela, a garota parece ser bem sincera.
— Vou pagar alguém para treinar você nos finais de semana, enquanto isso o segurança leva vocês nos compromissos da Bella. — Ela arregala os olhos, surpresa. — Algum problema? — Pergunto achando-a linda, vermelha de vergonha.
— Não, nenhum problema. — Ela responde rápido. — Quando posso começar, digo, cuidar da sua filha?
Acertamos mais alguns detalhes, referente salário, quais são as aulas que a Bella faz, e acabo conferindo o endereço, é um bairro mais afastado, da classe baixa, ela realmente faria uma viagem indo e voltando diariamente, então tive a ideia de oferecer o quarto da babá.
— Sei que não será babá durante a noite, mas tenho um quarto disponível, para a babá ao lado do quarto da Bella, gostaria de ficar com o quarto? Assim você não precisaria se deslocar e não chegaria mais atrasada. — Digo e os olhos da garota chegam a brilhar, tamanha surpresa e com toda certeza aprovando a ideia. Penso unicamente na minha filha, e sei que ela estando mais perto será melhor.
— Eu adoraria. — Ela responde sorrindo. E que sorriso. Nego com a cabeça, O que está acontecendo com você Eduardo?
— Vou pedir para o Ernandes buscar suas coisas amanhã, esteja pronta às sete horas. Hoje vou te apresentar a minha filha, e você já começa amanhã.
— Sim, obrigada.
— Fora do seu horário de trabalho e da minha casa, pode fazer o que quiser, mas aqui dentro quero respeito e privacidade, sendo assim é proibido visitas. — Ela concorda com a cabeça. — Você terá duas folgas por semana, um sábado, sim, outro não, os domingos e uma vez por semana, depois passo seu calendário e a agenda certinha da Bella. — Ela assente concordando com os termos.
— Não precisa se preocupar, não tenho namorado, e minha família não virá tão cedo. Se é que eles viram algum dia. — A última parte foi mais um sussurro, mas consegui ouvi-la, ela não tem alguém, senti algo diferente, mas logo balancei a cabeça, para espantar o que quer que seja. Amo minha esposa, e o fato dela estar morta não muda nada. Mas confesso que fiquei intrigado sobre sua família. Porque eles não viriam ver a filha?