O hospital durante a madrugada sempre tinha um ar particularmente sombrio. A luz forte da sala de emergência, no final do corredor, parecia tingida de sangue, apertando o coração de quem a observava. Para surpresa de Zara, além do assistente de Orson, também estava ali Fiona, sentada diante da porta da sala de emergência. Havia manchas de sangue na roupa dela, e seu rosto estava pálido. Assim que viu Orson, Fiona se levantou de repente e correu em sua direção. — Orson! — Ela gritou, com a voz trêmula. Era como se toda a tensão que ela segurava tivesse se rompido naquele instante. As lágrimas começaram a escorrer imediatamente. — Você finalmente chegou! O que vamos fazer? A Sra. Marta está muito ferida! Você acha que ela vai… Orson lançou um olhar breve para Fiona, mas logo desviou para o seu assistente, com a expressão carregada. — O acidente ainda está sendo investigado. — O assistente começou, hesitante. — Mas, de acordo com as pessoas no local… Não havia outros veículo
O assistente de Orson se aproximou logo em seguida, com uma expressão séria, e disse algo em voz baixa. Orson manteve o rosto completamente impassível e não deu nenhuma resposta imediata. — Sr. Orson, se as coisas se espalharem amanhã e a situação piorar… — Contate alguém para abafar isso. E entre em contato com a família de Ian. — A voz de Orson era fria e controlada, como se estivesse lidando com algo banal, apenas mais um problema para resolver. — Eu mesmo falarei com minha avó. — Ele disse, enquanto já se virava para sair. No entanto, ao passar por Zara, ele pareceu se lembrar de algo e parou por um instante. — Vou te levar para casa primeiro. — Acho melhor eu ficar no hospital essa noite. — Zara sugeriu, hesitante. Ela sabia que Marta estava na UTI e que sua presença ali não faria diferença, mas, naquele momento, ela temia ainda mais a ideia de ficar sozinha com Orson. As palavras de Fiona ainda ecoavam em sua mente, e ela não tinha como argumentar contra elas. Z
Fiona encontrou Zara quando ela acabava de voltar do supermercado. Zara carregava sacolas nas mãos e, ao ver Fiona, seus dedos se apertaram instintivamente nas alças. Fiona estava parada nos degraus da entrada, com um sorriso tranquilo no rosto. — Mana. — Fiona cumprimentou casualmente. Zara não respondeu. Ela apenas manteve o olhar fixo nela, em silêncio. Fiona sorriu novamente, como se se divertisse com a reação dela. — Está surpresa em me ver? — Perguntou Fiona, inclinando levemente a cabeça. — Só passei para ver como você está. — Fiona continuou, piscando de forma despreocupada. — Orson andou tão ocupado ultimamente que, com certeza, não tem tempo para você. Como sua irmã, achei que deveria checar como anda essa sua vidinha sem graça por aqui. — Então agora você pode ir. — Zara respondeu, sem alterar o tom de voz, enquanto passava por Fiona e seguia seu caminho. Se fosse em outra época, Fiona certamente teria perdido a paciência diante da atitude fria de Zara. Mas,
Zara ligou para Orson, mas ele estava em outra ligação o tempo todo. Sem alternativa, ela decidiu entrar em contato com Michel. — O Sr. Orson ainda está em reunião, mas hoje ele provavelmente não terá tempo para vê-la. Talvez… — Michel tentou soar delicado, mas Zara entendeu de imediato o que ele queria dizer. Como assim Orson não tinha tempo para vê-la? Zara se lembrou de como ele costumava estar ocupado semanas atrás, mas, mesmo assim, sempre encontrava tempo para vê-la. Não importava o quão atarefado estivesse, ele dava um jeito. Havia vezes em que, mesmo depois de um longo voo de madrugada, ele ia direto para o apartamento dela. Agora, porém, nem mesmo um telefonema parecia ser possível. Pensamentos confusos agitavam-se na mente de Zara, mas ela decidiu não confrontar Michel. Apenas respondeu: — Entendi. Depois de desligar, ela se virou para sair. No entanto, quando o motorista do táxi perguntou o endereço, ela mudou de ideia. — Condomínio Oásis. Já fazia muito te
As palavras de Orson deixaram Zara em um silêncio prolongado. A porta atrás dela ainda estava aberta, permitindo que o vento frio entrasse e contrastasse com o calor acolhedor do ambiente interno. Zara não conseguia distinguir se o que sentia naquele momento era frio ou calor. Apenas sabia que sua mente estava completamente vazia. Demorou alguns instantes até que ela finalmente encontrasse sua voz. — Então, você nem quer ouvir minha explicação? — Ela perguntou, com a voz fraca, mas firme. Orson a olhou com indiferença e respondeu: — Zara, neste mundo, muitas coisas só dependem do resultado. Ao ouvir isso, Zara abaixou a cabeça e soltou uma risada curta e amarga. Resultado? O que era o resultado? O resultado era que a mãe dele estava agora em um hospital, inconsciente. O resultado era que aquela carta de despedida havia passado pelas mãos dela antes de chegar às mãos dele. O resultado era que ele acabara de dizer que não havia mais razão para se verem, nem mesmo se d
Ao tocar seus lábios, a acidez parecia infinita, ainda pior do que o primeiro gole. Ele não conseguiu evitar franzir a testa.Foi então que ele viu aquela figura branca.De onde estava, no alto do prédio, tudo no andar térreo não passava de pontos desfocados e indistintos. Mas, mesmo assim, Orson a reconheceu de imediato. Ele a viu claramente ao lado de uma lixeira, jogando algo dentro dela.Os dedos de Orson apertaram com força a taça de vinho. Somente após alguns segundos ele conseguiu relaxar novamente.Orson sabia que nunca fora alguém de grandes emoções, uma característica que vinha da criação rígida de sua mãe. Ao se lembrar dela, a primeira coisa que lhe vinha à mente era sua voz tranquila e um sorriso que parecia nunca ultrapassar a superfície.Orson sempre acreditou que não sentia nada por sua mãe.Foi apenas no momento em que ela sofreu o acidente que ele percebeu o quanto ela era, de todas as pessoas no mundo, aquela com quem ele tinha o laço mais profundo. Ele já havia habi
Orson sabia exatamente de quem eles estavam falando quando usavam aquela palavra ofensiva. Foi a primeira vez que ele ordenou diretamente à segurança do hospital que expulsasse os dois idosos. Os dois, que aparentavam ser frágeis, foram arrastados para fora enquanto gritavam com uma força surpreendente, prometendo chamar a imprensa e contar ao mundo que o filho deles havia sido destruído pela família Harris. Naquele momento, Orson respondeu com frieza: — Podem procurar quem quiserem. A atitude dele, tão calma e arrogante, era de gelar qualquer um. Mas Orson sequer olhou para eles novamente. Pouco tempo depois, Michel chegou ao hospital e informou que os pertences do apartamento Zara tinham sido transportados para o Condomínio Oásis. Orson respondeu apenas com um breve: — Hum. Michel hesitou, mas continuou: — Hoje vi a Sra. Harris… Ah, desculpe, quero dizer, a Sra. Zara. Ela parecia indisposta, talvez esteja doente. Orson permaneceu em silêncio. Michel respirou fundo e
Zara, naquele momento, não conseguiu dizer nada. Ela queria explicar que simplesmente não sabia como começar a falar. Mas, quando as palavras chegaram à boca, ela as engoliu silenciosamente. Orson provavelmente já havia esquecido de tudo aquilo. Caso contrário, ele nunca teria sugerido viajar para o País D. Zara sabia que aquele sentimento "intenso" entre eles era uma mentira. Porque, se ele realmente gostasse dela, ele não esqueceria algo assim. Era como ela, que, quando estava apaixonada por ele, desejava gravar cada momento e detalhe dos dois em sua memória. Mas ele não fazia isso. Ele não a amava. Para ele, escolher Zara tinha mais a ver com a compatibilidade física entre eles do que com qualquer sentimento verdadeiro. Desta vez, Zara foi sozinha ao País D, mas foi bem preparada. Ela pesquisou tudo com antecedência e até contratou uma guia local profissional, uma estudante universitária com uma personalidade vibrante e cabelo curto e moderno. — Você é a Zara? — Perguntou