Matheus, Rodrigo e Rafael olhavam a cena. Porém não acreditavam no que os seus olhos estavam vendo. Rodrigo arriscou tirar os olhos do cadáver e olhar para Pedro. Ele estava sentado no sofá, inclinado para frente e com uma habilidade impressionante usou o cartão de crédito para fazer carreiras de cocaína em cima de um caixote improvisado. Pedro sorriu para ele. Tirou uma nota de cinquenta reais do bolso, enrolou com perfeição e começou a inalar a droga. Rodrigo, cético, voltou a olhar para o cadáver. Era um velho conhecido da Polícia. Luiz Fernando Reis, 28 anos, cor parda, traficante, morto com um tiro no peito. A arma com o silenciador repousava em cima do caixote.
- Ele me ligou na delegacia. Disse que estava com "problemas".Rafael avaliou a situação.- Cadê o reforço?Matheus riu de nervoso.- Que reforço? Um delegado de férias sobe o morro, mata um traficante para roubar cocaína e você quer reforço? Sabe por que Luiz Fernando não estava preso? Ele abastece a favRodrigo não ia dar um tiro em Pedro. Depois daquela crueldade ele não merecia uma morte tão rápida. Para Matheus e Rafael foi a mesma coisa que entrar no meio de um tornado. Pedro e Rodrigo se embolaram pelo chão derrubando e quebrando tudo. Rafael tentou entrar no meio dos dois. Levou um soco não sabe de quem. Matheus tirou a arma da cintura de Rodrigo. Os quatro agarrados no chão e um cadáver embaixo. Seria cômico se não fosse trágico. Pedro riu.- É hoje que nós desce tudo embolado pra casa do diabo.Rodrigo socou Pedro.- Você é o diabo!Matheus apoiou o joelho no peito do defunto e pegou Rodrigo por baixo dos braços. Fez força.- Solta!Rafael arrastou Pedro por baixo.- Larga!- É ele que tá em cima de mim! - Pedro virou de bruços. - Me socorre, Rafael! Se você tivesse comendo ele direito ele não estaria tão violento!Rindo, Matheus caiu por cima do cadáver trazendo Rodrigo junto. Rafael puxou Pedro e o jogou no canto da parede.- Foi brincadeira,
O sol já estava alto quando Zoe viu Pedro chegar em casa. Ele estava machucado, sujo e chapado. Foi a primeira vez que Pedro passou a noite fora de casa. E coincidência ou não, todos os noticiários falavam de um incêndio criminoso e um traficante morto. Ainda não havia suspeitos. Zoe teve a leve sensação de estar olhando para um deles.Pedro não olhou Zoe nos olhos. Apenas viu o olhar dela na televisão e depois nele. Cansado, foi tomar banho. Depois que saiu da casa de Rodrigo e Rafael, ele usou cocaína, guardou um pouco e se livrou do resto. Levou o carro para lavar por dentro e por fora. Pedro tirou o tênis e a roupa e colocou tudo dentro do saco de lixo. Pegou a bala e o cartucho, jogou no vaso sanitário e deu uma longa descarga. Foi até a caixa de munição e tirou uma bala. Colocou na pistola .40, limpou a arma com água destilada e vinagre branco para tirar as impressões digitais de Rafael e a guardou. O Secretário não demoraria a bater na sua porta.Zoe foi atender a
Pedro entrou no quarto azul e branco todo decorado com motivos infantis, móveis planejados e brinquedos espalhados. Nunca imaginou na vida que um dia sua casa teria um cômodo como aquele. Zoe trocava Lucas. Pedro se aproximou.- Oi lindão do papai.Lucas riu. Pedro se derreteu. Ficou ao lado de Zoe e colocou a mão na cintura dela.- Obrigado.- Eu quero o divórcio.Pedro sentiu a cabeça rodar e o estômago embrulhou. Se apoiou na cômoda que serve de trocador. Zoe terminou de colocar a fralda em Lucas e vestiu o macacão azul.- Zoe eu ...- Eu não vou discutir com você, Pedro.Zoe pegou o filho no colo.- Eu só te defendi porque você é o péssimo pai do meu filho. Nada mais. Eu não amo você.Pedro não sabia o que era pior. A frieza de Zoe, ela chamá-lo de péssimo pai ou ela olhar nos seus olhos e dizer que não o ama. O conjunto todo era bem ruim. Pedro se sentiu nocauteado.- Eu não matei ninguém.- E você também não usou drogas, certo?
Pedro deixou Zoe em paz. Ela precisava de um tempo. Ele também precisava colocar os pensamentos em ordem. Enquanto almoçava sozinho, Pedro pensava. Em menos de um ano sua vida mudou radicalmente. Ele se apaixonou, casou e teve um filho. Ele evitou uma Rebelião e uma Sindicância Administrativa. Ele quase foi pego em um exame de sangue toxicológico, brigou com Matheus, foi afastado, quase perdeu Rodrigo, entrou em conflitos desgastantes com o Secretário, Álvaro e Anna, agrediu Zoe ( Nem gosta de lembrar dessa parte ) ... Pedro respirou fundo. Agora ele tem um traficante morto, Rodrigo com raiva, o Secretário na cola dele e um pedido de divórcio. É o fundo do poço. Não tem como descer mais do que isso, do quê agora. Pedro tentou se consolar. Juntando tudo parece bem ruim. Mas teve vários momentos de abstinência entre eles. Fez melhorias na delegacia, parou de espancar os presos, parou de intimidar os outros policiais, bebeu cafés horríveis de Rafael sem reclamar, não soltou a mão de Ro
Pedro de cara fechada viu Lucas passar de mãos em mãos. Matheus, Rodrigo e Rafael foram até sua casa para conversarem sobre o acontecido na favela e agora babavam no seu filho. Pedro fez os três lavarem as mãos com água, sabão e álcool. Recomendações: Sem beijos nas bochechas ou nas mãos. Zoe olhou para ele furiosa. Não tava nem ai. O filho era dele. "Meu filho, minhas regras". Pedro se tornou um pai protetor e extremamente ciumento. Por ser domingo, o pequeno terrorista também estava lá. Henrique se aproximou de Lucas que estava no colo de Rafael.- Eu posso pegar ele?Antes que Pedro pudesse dizer JAMAIS, Zoe sorriu.- É claro meu bem. Vem cá.Rodrigo olhou para Pedro e depois para Zoe.- Eu acho melhor não.- Está tudo bem. Não tem problema.Henrique sentou no sofá ao lado de Zoe. Exasperado, Pedro disse:- Passa álcool nas mãos dele. Só Deus sabe onde ele já enfiou essa mão hoje.Henrique deu um sorriso culpado.
Pedro olhava para o pino de cocaína em sua mão. Ele abaixou a tampa do vaso sanitário e sentou. Continuou a olhar para o pino. Estava trancado no banheiro há vários minutos. O dia estava lindo. Sol quente e no céu azul não havia uma nuvem. Os rapazes faziam a maior algazarra na piscina, Zoe decidiu fazer um almoço de domingo, Álvaro estava com o neto e o Pequeno Terrorista assistia desenho deitado no sofá, depois de ter confessado ter feito xixi na piscina. Uma casa cheia com esposa, filho, sogro e amigos leais. Uma vida feliz. Uma vida gratificante. Algo que Pedro nunca sonhou. Algo que ele nunca mereceu. Desde pequeno seu pai dizia: "O mundo e as pessoas são cruéis. Ninguém se importa, ninguém quer saber se você está bem ou não. A verdade Pedro é que as pessoas sentem prazer no sofrimento alheio. Elas podem te dar um sorriso de encorajamento, um tapinha nas costas e dizer que vai ficar tudo bem. Mas por dentro, estão soltando fogos de artifício. Não ame, não confie, não seja froux
As férias acabaram. Pedro estava de volta a ativa. Em pé no cais, Pedro viu o grande navio de carga se aproximar para ancorar no porto. Na lateral do grande e imponente navio preto estava escrito Fantasma da Névoa com letras brancas. O navio vindo da Colômbia trazia alimentos, bebidas, roupas, couro, e máquinas que a indústria Colombiana exporta. Pedro olhou os contêiners. Segundo sua fonte, no 4B estavam 1,5 toneladas de maconha e cocaína. O processo é muito simples. Pedro recebe informações de um navio com carga suspeita entrando no país. A partir daí ele obtém um mandado de busca e apreensão. A operação conjunta é feita entre as Polícias Federal, Civil e Militar. Drogas e traficantes são apreendidos. A partir daí é tudo uma questão de manobra. A contagem é adulterada, relatórios são falsificados, inquéritos desaparecem, policiais são pagos, câmeras são travadas e parte da droga segue seu caminho. A outra parte vai para o Instituto de Criminalística ( IC ). Pedro respirou fundo. T
Peter assumiu o comando do tráfico de drogas na favela Sol Nascente. Conhecido na área, cobra criada, não foi difícil se tornar o dono do morro. Arranjou seis parceiros de confiança e a coisa começou a fluir. Começou abastecendo a favela, depois a periferia, classe média e classe média alta onde está o dinheiro. Pedro fornece, ele vende mais do que água. Sob a proteção da Polícia, em pouco tempo Peter foi do lixo ao luxo. Comprou uma casa com piscina em frente a praia e colocou uma Hyundai Creta branca na garagem. Tudo de papel passado. Mas obviamente manteve sua casa na favela. É lá que guarda parte da droga, armas, munição, dinheiro e faz alguns pequenos acertos de contas. Peter é um traficante linha dura, porém justo. Ele é temido e respeitado porque não tem medo de puxar o gatilho quando alguém comete um erro. Mas também trouxe melhorias para a favela. Água, luz, gás, um pequeno mercado com frutas e verduras, hoje tem