Cristian
Eu estava trabalhando em um ritmo muito mais lento ultimamente, principalmente porque meu braço ainda doía um pouco, apesar da boa cicatrização do machucado. A dor, no entanto, servia para me lembrar que eu deveria me manter em constante alerta.Quando finalmente Betina e eu tínhamos aberto o coração um para o outro, quando poderíamos escrever nosso próprio conto de fadas, uma onda de medo e tensão nos cercava.A polícia era lenta em achar os outros participantes do atentado contra minha vida e mesmo com toda a boa vontade do Rick, ele tinha acabado de entrar na corporação paulista e ainda não tinha conexões.Achei que meu pai apelaria para os serviços de investigação do meu primo Augusto, mas acabei surpreendido ao saber que o seu segurança Alejandro tinha ligações com a máfia.Meu pai não deixava de me surpreender. Ainda me lembrava da nossa conversa:— O Alejandro não é um segurança qualquer, a família dele é da máfiBetina O apartamento da minha amiga Ana Clara era pequeno, porém confortável e muito bem decorado. Minha mãe insistiu para que eu deixasse o Tobias com ela, já que o bebê tinha finalmente pego no sono e eu pretendia não demorar. — Que bom que veio. Estou tão feliz que você está conhecendo minha casa. Comprei comida mexicana para nós. — Me abraçou e depois passou o braço pelos meus ombros — Vou te mostrar tudo! Sua alegria por aquela conquista era contagiante, Ana Clara tinha terminado a universidade naquele semestre e pode voltar a morar em São Paulo. Além disso, estava empregada numa empresa importante de tecnologia. — Adorei, Clarinha! Eu vim aqui toda desanimada e você me deixou feliz. — Eu contei. Segui-a até o balcão da cozinha americana. — Como assim, desanimada? — Me entregou um copo de suco de uva e se serviu com vinho — Aconteceu algo com o bebê? — O Tobias está bem, apesar do acontecimento de ontem. Amig
Cristian Escutava o homem uniformizado com um terno preto falar o nome da pessoa que tinha tentado nos fazer mal e foi como levar um tapa na cara. A primeira coisa que me veio à cabeça foi a decepção que Betina sentiria ao saber que sua amiga mais querida era uma criminosa. — Então é a Ana Clara. Rick e Tricia escutaram a conversa e vieram até nós, curiosos. Alejandro demonstrou certo desconforto ao ver Rick, talvez porque soubesse que ele era policial e o trabalho que fizeram para encontrar os bandidos aconteceu fora dos limites da lei. — Você é o policial? — Alejandro perguntou. — Sim. — Respondeu o outro homem. — Vou fazer vista grossa para o seu trabalho, apenas me diga onde os caras estão que vou acionar outra viatura para efetuar as prisões. — Apenas não complique as coisas para os homens. Eles fizeram um trabalho excelente e encontraram os criminosos rapidamente. — Como eu disse, vou fazer vista grossa, ape
Betina Por que será que de repente minha amiga parecia outra pessoa? Os olhos amáveis estavam arqueados de maneira cruel e dura; os lábios formavam um sorriso cínico que eu não conhecia e o cheiro forte de vinho emanava dela. — Como foi que… — Com isso. — Mostrou o celular em sua mão. — Eu instalei um aplicativo espião no seu celular há muito tempo. Eu consigo acessar tudo do seu aparelho através do meu. Se você não tivesse jogado fora o seu celular quando fugiu, eu teria te encontrado antes do Cristian. — Meu celular sempre teve senha! — Pelo amor de Deus, Betina! Me formei em ciências da computação, saber espionar seu aparelho é tipo o básico do básico. — Riu. — Mas eu gosto da sua ingenuidade. Isso te deixa mais atraente, sabia? — Foi você quem pediu para o Robert me encontrar no restaurante com o Cristian? — Sim. — Confessou. — Sabia que você estava me escondendo que tinha dormido com o Cristian e percebi que
Betina Olhei para Ana Clara e ela olhou para mim por um longo tempo. Então senti sua mão amolecer sobre a arma e depois seu corpo rolou de barriga para cima, ao meu lado. Seus olhos marejaram e ela se contorceu, envolvendo o abdômen com os braços. — Ana Clara? A porta foi arrombada neste momento. Eu não olhei para trás, permanecei ali no chão e me debrucei sobre minha amiga, percebendo que ela foi alvejada pela própria arma. A mulher olhava para mim com os olhos arregalados, mas sem forças para falar. Eu sei que Ana Clara fez tudo errado, mas não pude deixar de sentir compaixão naquele momento. Instantes antes estávamos lutando uma contra a outra, mas a minha única intenção foi arrancar a arma de sua mão e me salvar; não queria feri-la. Que ela fosse presa, sim. Morta não. Braços me envolveram pelas costas. Eu me virei e Cristian estava ao meu lado. Pude sentir seu coração acelerado, a respiração ofegante quando me abraçou.
Cristian Na casa dos Santoro, assim que chegamos da delegacia, fui cercado por nossos familiares, ávidos por notícias. Vi Betina se esgueirando em direção ao quarto do nosso bebê e a deixei em paz. Minha mãe me beijou no rosto de maneira efusiva enquanto reclamava que seus filhos ainda iam fazê-la infartar em breve. Eu contei a todos os pormenores da história e desejei que o Alejandro estivesse ali também, para me ajudar na narrativa. Mas o segurança estava esperto e preferiu ir para a cozinha pegar uma xícara de café com a empregada. Houve as reações mais diversas em relação à morte de Ana Clara; meu pai afirmou que me ajudaria a abafar a verdadeira história para poupar a família da jovem falecida. Quando pensei em procurar a Betina, Rick me puxou de canto. Estávamos perto da copa e ele parecia incrivelmente nervoso. Em nenhuma das situações anteriores ele pareceu se abalar, mas agora eu via suas feições mudadas. — Preciso muito falar uma coisa com você. — Parece nervoso. — E
**BÔNUS**TríciaEntão a ruina nos alcançou. Minha mãe tentava arrancar os cabelos caindo em si enquanto meu pai se encolhia num canto da sala. O contador tinha terminado de nos explicar que não tínhamos mais nada, absolutamente zero. Pior que isso: estávamos devendo muito dinheiro!Para resumir, meu pai foi ingênuo ao cair na lábia de certo amigo e investiu um valor exorbitante num investimento muito duvidoso. Se Pietro Toledo tivesse consultado qualquer um dos seus três filhos, até mesmo Raissa, a caçula de dezoito anos, teria ouvido que era muita burrice acreditar que qualquer aplicação daria um retorno tão rápido e em tão pouco tempo. Pietro, no entanto, ao invés de ganhar sabedoria conforme envelhecia, se tornara ganancioso e supersticioso e acreditou que a sorte o privilegiaria. O resultado era que teríamos que vender nossa Mansão, todos os veículos, joias e itens de valor que possuímos para saldar a dívida e começar uma
*Bônus* Tricia Eu passava tempo demais dentro da Mansão Toledo porque Cristian precisava da minha ajuda em todos os detalhes e confesso que eu adorava poder estar em contato com aquele ambiente que foi meu lar a vida toda. O lugar não era mais meu e ainda assim eu podia estar nele, cuidando para que ficasse lindo e fosse habitado por uma pessoa que ia transformá-lo num lar feliz. Foi difícil para Betina, a noiva do Cristian, engolir minha presença como funcionária, seja porque ela tinha antipatia por mim, seja porque ela era ciumenta, apesar dela mesmo não ter se dado conta dessa última parte. Mas agora ela tinha um bebê nos braços e minha ajuda era importante enquanto Betina ainda não estava restabelecida. A vinda dela para a casa trouxe outras presenças que eu não podia ignorar. Uma delas foi a Ana Clara que eu obviamente não gostava. Tentei fazer meu cérebro funcionar a favor daquela mulher insipida que vivia me julgando
Bônus* Tricia Na vida a gente tenta evitar situações que nos chateiam, mas nem sempre somos eficientes. Naquela noite na faculdade eu cruzei com Egberto e Cibilla pelo menos umas três vezes e eles faziam questão de se beijar quando passavam perto de mim. Aliás, era Cibilla quem se dava a esse trabalho e eu nem sabia por que, de repente, ela passou a ser minha antagonista. Se ela soubesse que isso não me abalava nem um pouquinho, nem teria se dado ao trabalho. Por sorte, a faculdade terminaria em poucos meses. Eu estava parada na calçada da faculdade, olhando o aplicativo do ônibus no celular quando percebi que Egberto se aproximava. Ele era um rapaz da minha altura, magro e pálido, com rosto bem jovial, daquele tipo que parecia nunca ter saído da adolescência. Me peguei questionando quando e porque dei bola para um sujeito mirrado como aquele. - Tricia, podemos falar um instante? - Seja rápido pois