Donna Reid Trêmula. É assim que eu estou. Depois de todo terror com a chegada daqueles homens, ficar naquela posição com Charlie ajudou a me distrair um pouco sobre os vários tipos de insetos que poderiam ter ali. Apesar de toda adrenalina, ele estava excitado e por mais que tente parecer indiferente, seu corpo não consegue esconder e reage a nossa proximidade. Eu não poderia dizer que também não estava, não o julgaria, tudo aquilo era muito excitante. Porém, quase entrei em pânico quando senti aquela aranha subindo pelo meu braço e só não saí correndo dali porque não tinha forças nas minhas pernas. E agora ele me vem com essa aula de orientação. Olho para ele que está esperando uma resposta minha e trato de subir logo na garupa. Não parece um veículo muito confiável, mas é o melhor que temos e não vou precisar andar por horas a fio, o que já é ótimo. Como ele foi gentil comigo, faço questão de retribuir o favor, então coloco minha mão em seu abdômen, sentindo os gominhos sob meu
Donna Reid Foi preciso duas viagens para pegar todos os gravetos que eu tinha reunido, mas me sentia satisfeita por ter feito algo útil. — Como vai acender? — perguntei enquanto o via arrumar bem próximo de onde iriamos dormir, mas não muito. Charlie disse que o ideal é pelo menos um metro de distância, assim está perto o suficiente para passar um pouco de calor e longe para não causar algum acidente. E ainda espanta alguns animais. — Vou usar isso aqui... — O que é? — Ninho de passarinho. Ei, estava vazio — responde quando viu minha cara. — É fácil de pegar fogo e espalhar pela madeira seca. — Tudo bem, mas não era isso que eu queria saber. — Não vou usar atrito entre uma pedra e outra ou pedaços de madeira como o Homo erectus, se é isso que quer saber. Embora eu seja um admirador de sua inteligência e perspicácia... — levantei uma sobrancelha, seria a cara dele se fizesse isso como o homem das cavernas que é. — Vou usar isso... — puxou um isqueiro do bolso. — Ah, claro...
Charlie MacAleese Não sei o que a incomoda tanto quando pergunto sobre sua família ou o que a levou a mudar tão bruscamente, mas seja lá o que for, mexe muito com ela. Embora curioso, respeito seu silêncio. Sei o quanto é complicado falar sobre algumas coisas. Eu não tive uma infância muito comum e na adolescência, arrumava mais problemas do que podia. Durante um tempo toda aquela merda me afetou, mas hoje, embora não goste de falar, não me afeta tanto. Por isso saiu de forma tão natural quando ela perguntou. Vendo que não teria a mesma cortesia em sua resposta, me afastei, não apenas para dar-lhe privacidade, mas também para ordenar meus pensamentos. Não conseguia parar de pensar na noite em que estive com ela em meus braços, tão entregue, sensual e linda. Não falamos mais sobre o assunto depois que a dispensei. Ela pode não acreditar, ficar com raiva, e com toda razão, mas fiz aquilo para o bem dela, e o meu também. Eu sabia que estava agindo muito errado, e não foi nem um pouco
Donna Reid — Demorou... — Hum... — não digo nada. Se ele soubesse. — Tome, coma. Temos muitas coisas para fazer... — O que, por exemplo? Achei que só iriamos esperar. — Nem todos os dias serão de céu claro e sem chuva, precisamos pegar folhas de palmeiras e o que der para amarrar e segurar para fazer uma proteção aqui, uma chuva de vento nos deixaria encharcados, estamos muito expostos. — Não seria a primeira vez — ele me olha de forma penetrante. — Digo, de ficarmos molhados pela chuva. — Não seria. Mas não quero repetir a experiência — não sei se gostei de ouvir aquilo, parecia que ele fazia referência a outra coisa. Orgulhosa, rebati. — Eu também não. Foi horrível... — virei para o outro lado, pois sabia que tinha corado por falar uma mentira tão deslavada. O fato é que tinha sido surreal. Uma experiência incrível. Tão sensual e ao mesmo tempo intima. Como se fosse natural estarmos nos braços um do outro quase pelados. Embora não soubesse na época, eu tinha apreciado muito
Donna Reid Passei aproximadamente umas duas horas ali, atirando até derrubar todas as latas como Charlie tinha dito. Ele ainda veio recarregar a arma e me ensinou como fazer se fosse necessário, se afastando em seguida. Cansada, fui me lavar e voltei para perto dele que tinha acabado de acender a fogueira. — Posso ajudar? — Está quase pronto, não se preocupe — estende uma caneca para mim. — Fez um ótimo trabalho. Amanhã vai treinar mais. — Não acredito. Está me elogiando? — falo com deboche. — Você mereceu, se esforçou — deixando a implicância de lado, agradeço. — Obrigada. Ficamos em silêncio enquanto ele muda o graveto de posição sobre a fogueira, parece uma espécie de ave assando, resolvo não perguntar, tenho certeza que não vou querer saber o que é. — Desculpa se fui chata com você — digo olhando o fogo crepitando baixinho. — Foram algumas vezes, poderia ser mais específica? — diz com a voz baixa, olho para ele e percebo aquele esboço de sorriso de novo. — Não abusa... —
Charlie MacAleese Vejo-a se afastando e me recrimino pelo uso errado das palavras. Mas será que ela não entende que é difícil para mim? Não à estou rejeitando, estou tentando proteger. Por mim a deitaria naquele chão coberto de folhas de palmeiras e me perderia em suas belas curvas a noite inteira sem pensar nas consequências que isso acarretaria, até que caíssemos desmaiados de cansaço e prazer. Coloco as mãos na cintura me sentido frustrado enquanto ela vai ficando cada vez mais distante. Droga! Está escuro e ela vai se afastando cada vez mais, resolvo segui-la de longe. Não quero irritá-la mais do que já fiz, iria esperar que se acalmasse para depois conversar com ela ou tentar. Tínhamos feito progresso em nos tratarmos sem hostilidade esses dias, mas agora ela rebateu minha atitude de forma ferina, e de certa forma, me atingiu, pois sei que nunca serei o suficiente para ela, não que me sinta inferior, de modo algum, mas tenho consciência de que não sou o homem certo para ela.
Charlie MacAleese O dia passou e então veio outra noite. E assim três dias se passaram, onde ela ficou mais apagada do que acordada. Fiquei todo o tempo ao lado dela, só saí para procurar alguma coisa para comermos, no último dia, não consegui achar nada, o jeito foi recorrer às duas últimas barras de cereal que ainda tinha na bolsa. Verifiquei o ferimento na perna dela e vi que estava inchado e um pouco rígido e avermelhado, mas era só isso. Não tinha nenhuma necrose no local e ela já respirava normal. Logo ela acordaria com fome e a única coisa que tinha aqui, eram bananas. Estava frio e não seria possível fazer nenhuma fogueira, nosso dia hoje se resumiria a ficar confinado, o que seria bom, já que ela precisava ficar de repouso. No dia seguinte, à noite, Donna estava melhor, mas ainda febril, tremia tanto que tive que colocar um casaco meu sobre ela. Acendi o fogo, que custou a pegar devido aos gravetos estarem úmidos da chuvinha fina que tinha caído a pouco tempo, ela se sen
Donna Reid Eu estava furiosa com o Charlie, mas me sentia mais machucada do que com raiva. Em minha concepção, ele não passava de um ogro insensível, arrogante e mandão. No entanto, percebi que ele mudara de comportamento, fora gentil a ponto de cuidar de mim por dias a fio enquanto lutava contra a dor insuportável em minha perna e os calafrios provocados pela febre em meu corpo. Eu já havia entendido que não haveria nenhum envolvimento entre nós e trataria de ficar confortável com isso. No fundo ele tinha razão: seria inapropriado. Chego ao rio e me abaixo para escovar os dentes, ao tocar a água, a vontade de fazer xixi foi enorme, por isso escovei os dentes o mais rápido que pude e corri para me aliviar, acabei molhado minha calcinha, como estava com uma blusa cumprida, retirei e quando voltei ao rio, tratei logo de lavar. Ansiosa pelo banho, deixo a calcinha secando em uma pedra grande e entro na água delicio