Hannah Luiza (Halu)(Três meses depois) Quem diria que depois de tanto caos as coisas finalmente estariam tranquilas? O morro tá em paz. Os negócios tão fluindo, sem nenhum estresse maior. A Marinete? Ela aprendeu o lugar dela e, sinceramente, tem sido um alívio não ter que lidar com as loucuras daquela mulher. Carlinha tá cada dia mais feliz, e isso é tudo que importa pra mim. Hoje, especialmente, é um dia importante. É a inauguração do nosso projeto social, algo que eu e o Matheus sonhamos há um tempo. Não vou mentir, foi um corre danado pra organizar tudo, mas valeu cada segundo. Quando olho pra Carlinha brincando com as outras crianças, sinto que finalmente tô fazendo algo que importa. — Tá pronta, amor? — Matheus perguntou sorrindo. — Pronta, sempre, meu querido. Bora lá que hoje é dia de festa. Peguei Carlinha no colo e seguimos juntos pro galpão que transformamos no centro do projeto. O lugar tava lotado. Crianças, mães, jovens, todo mundo ali parecia empolgado. A ene
O hospital tava lotado, como sempre. O barulho de crianças chorando, gente falando alto no celular e aquela música ambiente de espera eram quase sufocantes. Matheus estava ao meu lado, com o pé batendo no chão numa agonia só. — Se essa médica demorar mais cinco minutos, eu juro que vou dar um tiro na cara de alguém, Halu. Revirei os olhos, segurando a vontade de rir. Ele era exagerado até a última gota, mas essa mania de resolver tudo na base da ameaça me tirava do sério. — Matheus, pelo amor de Deus! Que exemplo é esse que você quer dar pras nossas crianças? Ele bufou, cruzando os braços como uma criança contrariada. — Exemplo, Halu? O exemplo é que ninguém brinca com a minha família, porra! Respirei fundo, segurando a paciência. Coloquei minha mão sobre a dele, tentando acalmá-lo. — Ó, respira e para de palhaçada. Tá tudo bem. A médica vai chamar a gente logo. Não precisa arrumar confusão. Ele me olhou, meio contrariado, mas assentiu. Matheus era assim: uma mistura d
Matheus (MT)O som do carro ecoava baixo enquanto eu subia a ladeira. Meu coração ainda tava acelerado com a notícia de que eu ia ser pai de dois moleques. Dois! Caralho, era bom demais pra ser verdade. A Halu tava exausta, então deixei ela em casa pra descansar. Dei um beijo nela antes de sair, prometendo não demorar.Agora era hora de subir pro “escritório”. O morro não parava, e, mesmo com as melhores notícias do mundo, eu sabia que precisava resolver uns assuntos. Quando cheguei, os caras já estavam na esquina, fazendo o tradicional toquinho.— Olha quem chegou! O rei do morro e agora pai dos príncipes! — gritou Dudu, me zoando enquanto batia no peito em respeito.Dei risada e bati de volta.— Tá ligado, né, irmão? Dois pivetes pra tocar o terror aqui!Os caras riram, e fizemos o toquinho rápido antes de eu seguir pro barraco onde ficava o “escritório”. O Luizinho já tava lá, de pé, mexendo no celular. Assim que me viu, largou o aparelho e veio me cumprimentar.— MT! Já fiquei sab
Hannah Luiza (Halu)A noite estava calma, e o silêncio da casa era quase hipnotizante. Matheus já tinha apagado há algum tempo, assim como a Carlinha. Mas eu… eu não conseguia pregar o olho. Estava cansada, mas a fome era maior. Sabe aquela vontade repentina de comer algo específico? Pois é, exatamente isso. Levantei devagar, tentando não fazer barulho. Matheus dormia profundamente, com a respiração pesada e um braço jogado sobre o rosto. Ele parecia um anjo assim. Mas, naquele momento, minha prioridade era outra: comida. Desci as escadas com cuidado, o chão gelado sob meus pés me arrepiando. A cozinha estava escura, iluminada apenas pela luz da rua que passava pela janela. Abri a geladeira e encarei os potes, tentando decidir o que queria. Tinha bolo, suco, um restinho de carne… mas o que me chamou mesmo a atenção foi o pote de geleia e o pão na bancada. Peguei tudo e comecei a preparar um sanduíche, mordendo os lábios de ansiedade. Era engraçado como a gravidez mudava a gente.
Os meses passavam, e minha barriga só crescia. Estava com seis meses de gestação, mas parecia que já estava com oito. A barriga estava enorme, a fome era de umas oito pessoas, e o cansaço era triplicado, mas nada disso me impedia de seguir com minha rotina. Eu ia para a faculdade, trabalhava meio período na escola, participava do projeto e ainda havia começado meu estágio com o professor Lopes. Além de tudo isso, eu ainda dava atenção à Carlinha, que, de uns tempos para cá, começou a sentir ciúmes, achando que Matheus e eu não daríamos mais atenção a ela. Ah, sem contar que ainda ajudava a cuidar do meu morro. Inclusive, mesmo depois de Matheus e Luizinho terem mandado um papo sério para o Riva, lá do morro do Jaguar, eu mesma também mandei meu recado. Já deixei bem claro que estou grávida, mas não morta.Matheus vive louco, dizendo que estou me esforçando demais, mas minha obstetra garantiu que estava tudo bem comigo. Disse que eu estava saudável e que era só continuar me cuidando.—
Dois meses haviam se passado, e minha barriga parecia ainda maior. O cansaço já era parte da rotina, mas, com tudo que eu tinha para fazer, não sobrava tempo para ficar parada. Apesar de tudo, eu estava ansiosa e animada com a chegada dos meus bebês. Estava sentada no sofá da sala, conversando com Macla, minha vizinha e amiga de longa data, quando senti uma dorzinha na barriga.— Ai... — Levei a mão à barriga, tentando disfarçar.— O que foi isso, Halu? — Macla perguntou, alarmada, me encarando com preocupação.— Acho que está na hora. — Respondi, tentando manter a calma.— Na hora? Como assim? Você está só com oito meses, mulher! — Ela se levantou num pulo, já agitada.— Eu sei... Mas estou sentindo que é a hora. — Respirei fundo e peguei meu celular para ligar para Matheus.O telefone chamou algumas vezes até que ele atendeu com aquela voz despreocupada de sempre.— Fala, amor. Onde você tá? — perguntei.— Tô com o Luizinho recebendo um carregamento grande. Tá tudo bem aí?— Acho qu
Matheus (MT)Eu ainda estava processando tudo o que tinha acontecido. Quando Halu me ligou avisando que os bebês iam nascer, meu coração disparou de um jeito que parecia que ia sair pela boca. O medo, a ansiedade e a felicidade se misturaram como uma tempestade. Eu sabia que esse momento ia chegar, mas nada, absolutamente nada, poderia me preparar para o que senti quando vi meus filhos pela primeira vez.A imagem de Halu, suada, exausta, mas com um brilho nos olhos enquanto segurava nossos dois meninos, nunca sairia da minha cabeça. E quando os médicos colocaram aquele primeiro pequeno ser nos braços dela, foi como se todo o universo tivesse parado. O choro dele ecoou pelo quarto, e algo dentro de mim desmoronou. O gigante que eu sempre fui se tornou nada diante daquela cena. Eu chorei. Eu, Matheus, o brucutu, chorei feito uma criança.Depois que o segundo bebê nasceu, e ouvi o choro dele, a emoção só aumentou. Meu coração parecia que ia explodir. Eles eram tão pequenos, tão frágeis,
Hannah Luiza (Halu)Acordei com a luz suave do amanhecer entrando pela janela do quarto. Matheus estava sentado ao lado do bercinho, os olhos fixos nos meninos. Ele parecia absorto, como se estivesse tentando gravar cada detalhe. Meu coração se aqueceu ao vê-lo assim. Quem diria que aquele homem durão se derreteria desse jeito?— Não dormiu? — perguntei, minha voz ainda rouca do cansaço.Ele se virou e sorriu.— Dormir pra quê, se posso ficar olhando pra essas belezas aqui?Ri baixinho e estendi a mão. Ele se levantou e a segurou, beijando minha palma com carinho.— Você é incrível, sabia? — ele disse, sentando ao meu lado.— Não mais do que você. — Respondi, sincera.Nossa conversa foi interrompida pela chegada de Carlinha, acompanhada de Macla. Minha pequena entrou no quarto com um brilho nos olhos e correu até mim.— Mamãe! — disse antes de me abraçar.— Vem cá, minha princesa. — A abracei com força, sentindo sua energia vibrante.Quando ela viu os irmãos, seus olhos se encheram de