Todo o lugar parecia silencioso e talvez ainda fosse cedo demais. Me levantei e fui até o andar de baixo com as roupas que Lesley havia me dado na noite anterior e tomei um banho refrescante que me fortaleceu ainda mais. Porém, eu ainda estava morrendo de fome.
Quando estava passando pelo corredor que levava até a sala dei de cara com uma Selene preocupada. Ela parecia extremamente perturbada. Como se tivesse algo terrível com o qual todos devessem se preocupar.
- Alyssa! - Ela veio correndo em minha direção e agarrou minha mão esquerda me puxando em direção à sala. - Eu estava procurando por você.
- O que aconteceu? - Perguntei aflita.
- Ainda não sei, querida. - Ela suspirou pesadamente. - Nesta me disse que o mestre está incontrolável, parece estar irritado com algo.
- E para onde estamos indo? - Questionei totalmente confusa com toda a situação.
Será que ele estava bravo pela forma pela qual eu falei sobre Ângela? Eu não havia mentido. Apenas contei a verdade. Mas, o próprio Raymond havia dito que seria capaz de qualquer coisa por quem amava e, ele mesmo, disse com todas as letras que amava Ângela. Talvez ele realmente estivesse bravo comigo e estava me procurando para por um fim na minha vida miserável.
Nesse momento eu entendi completamente o desespero de Selene e tenho certeza que fiquei ainda mais branca que ela. Minhas pernas enfraqueceram e por um momento eu realmente pensei que ia desmaiar.- Selene, até que em fim. - Nesta veio apressada em nossa direção enquanto segurava uma bandeja com um jarro de vinho e uma taça. - Nunca vi o mestre tão furioso em toda minha vida.
- Ainda não sabe o que aconteceu? - Selene perguntou inquieta.
- Não sei sobre o que se trata, mas foi logo depois que Lesley entrou em seu escritório para lhe falar algo. - Toda a postura de Nesta evidenciava o quão tensa ela estava com toda a situação.
- Aquele linguarudo maldito. - Selene gritou histérica. - Aposto que foi tentar se redimir com o mestre fofocando sobre algo que descobriu!
Selene estava trastornada de uma forma que eu poderia jurar que seria impossivel acalma-la. Eu, por outro lado, fiquei mais calma e consegui controlar a minha respiração novamente. Ele havia ficado irritado após conversar com Lesley e com certeza não se tratava sobre a nossa conversa de ontem a noite. O que quer que fosse, não dizia respeito a mim.
- Alyssa! - Ouvi Lesley chamar meu nome e o vi parado no último degrau da escada. - O mestre Asciam quer falar com você.
Por todos os deuses! Então ele estava realmente furioso comigo? Eu era o motivo de todo aquele alvoroço e a tensão entre todos? O que ele faria comigo? Ele não me mataria, certo? Então a notícia que eles estava dando a Raymond era sobre mim? Ele estava realmente entregando a minha cabeça? Se for o caso, ele irá se ver comigo.
Por que eu tive que abrir minha boca para falar sobre meu relacionamento com Ângela? Eu deveria apenas ter fingido que nós nos dávamos bem e garantido o bom tratamento que eu estava recebendo.
- Alyssa, querida. - Selene chamou minha atenção. - Não deixe o mestre esperando.
Só então percebi que eu estava parada no meio da sala com uma cara de apavorada. Eu até queria ir, mas minhas pernas não saiam do lugar. Quer dizer, que chance eu teria contra Raymond? Justamente o homem que humilhou o Duque que quase me matou.
- Vamos! - Lesley agarrou minha mão e me puxou escada acima em direção a um dos corredores que eu ainda não havia entrado.
Paramos em frente a uma porta dupla, ele bateu e assim que escutou o "entre", ele simplesmente abriu e me empurrou sala a dentro. Se eu tivesse uma lista de pessoas as quais eu queria me vingar, Lesley estaria nela.
Já lá dentro, eu tive que encarar um Raymond com um olhar ameaçador. Ele parecia preparado para me matar a qualquer momento. Mas além do evidente olhar mortal que ele lançava para mim, dava para notar que estava chateado.
- Queria falar comigo? - Perguntei apreensiva.
- Não poderemos ir até Dandelion. - Anunciou e eu teria aberto um largo sorriso se não fosse eu descontentamento óbvio. - Não por enquanto.
- O que houve? - Questionei curiosa para saber o que havia me salvado.
- O Duque de Amaranthine quer vingança pelo que aconteceu. - Ele suspirou. - Não vai sossegar até que consiga o que quer. Há guardas cercando toda Amaranthine, então não poderemos passar.
- Ele quer vingança contra mim? - Perguntei indignada.
- Contra nós dois. - Esclareceu. - Frederick é do tipo de pessoa que não esquece fácil.
- Aquele velho louco! - Gritei. - Era só o que me faltava, ter que me preocupar com aquele monstro me perseguindo por aí.
- Temos que estar preparados para tudo. - Respondeu pensativo.
- Afinal, ele deveria estar furioso somente com você. - Falei.
- O que lhe faz pensar isso? - Perguntou sarcasticamente.
- Eu estava totalmente disposta a morrer lá. Sem arrependimento nenhum, mas você! - apontei para ele. - Você apareceu e me salvou. A culpa é sua.
- Você não deveria ser mais grata com a pessoa que impediu sua morte? Além de que, tudo isso é culpa sua. - Ele disse revirando os olhos. - Lesley me contou sobre sua tentativa estupida de bancar a heroína. Se não tivesse trocado de lugar com a sua irmã e depois com aquela outra garota, eu não estaria com tantos problemas.
- Olha só! - Apontei o dedo para ele. - Em primeiro lugar, minha mãe praticamente me obrigou a entrar naquela carruagem. E em segundo lugar, eu só estava tentando ajudar Kiara.
- Veja o que a sua tentativa de ajudar alguém que você nem mesmo conhecia me causou. - Rosnou parecendo ainda mais furioso. - Nem parece a mesma pessoa que ontem estava dizendo que não valia à pena arriscar sua vida por ninguém.
- E de onde você acha que eu tirei essa conclusão? - Perguntei como se fosse óbvio, pois realmente era. - Ou você acha que eu sabia que teria que passar por tudo aquilo?
- De qualquer forma, agora não posso ir a Dandelion buscar Ângela. - Parecia decepcionado e impaciente.
- Isso soa como um problema seu. - Comecei a andar de um lado por outro, costume que tenho quando fico irritada. - Você quer jogar toda a culpa em cima de mim, quando na verdade é toda sua!
- Saia da minha sala, agora! - Gritou totalmente dominado pela raiva. - Você está começando a me irritar.
Começando? Eu achei que ele já estava irritado por completo.
- Eu vou sair apenas porque não aguento mais ter que olhar para o seu rosto. - Gritei mesmo vendo que ele estava se segurando ao máximo para não me fazer engolir cada palavra. - Bastardo nojento!
Sai da sala com o meu sangue fervendo. Nunca, em toda minha vida, eu havia ficado com tanta raiva como agora. Se eu passasse mais tempo lá eu provavelmente seria capaz de tentar esganar ele.
Ainda parada na frente da porta, eu esperei me acalmar para finalmente voltar para a sala. Atravessei o enorme corredor tentando não me perder e enfim achei a escadaria. Quando cheguei lá embaixo todos já esperavam por mim e me encaravam de uma forma que me fazia imaginar que eles haviam escutado toda a minha discussão com Raymond. Deviam pensar que eu era uma louca e talvez realmente fosse. Gritar daquela forma com Raymond não parecia um sinal de sanidade.
- Como você falou daquela forma com o mestre e saiu viva? - Lesley perguntou como se estivesse realmente interessado na resposta. Típico de um fofoqueiro como ele.
- Eu não recomendo que você tente nada do tipo, Lesley. - Nesta começou. - Da última vez que você levantou a voz para o mestre não terminou bem.
- Selene tem absoluta razão sobre você, Lesley. - Falei olhando em seus olhos.
Como eu havia pensando que uma criatura traidora e fofoqueira como essa era adorável? Pior, eu havia defendido ele de Raymond. Sentindo pena dele por ser o capacho de um idiota, mas eles dois peças do mesmo acervo. Um pior que o outro.
- Razão sobre o que? - Perguntou em tom de zombaria.
Ele estava a minha frente e ao seu lado estava Selene que parecia concordar com o que eu dizia. Nesta estava ao meu lado e parecia preocupada com o rumo da situação.
- De que você é um linguarudo miserável! - Gritei apontando o dedo na direção dele.
- Que você está chamando de linguarudo miserável? - Ele perguntou já ficando vermelho de raiva e vindo em minha direção.
- Você mesmo! Além de ser um bastardo intrometido agora está bancando o idiota. - Ele continuou avançando em minha direção, mas foi parado por Aspen que o segurou rapidamente.
- É melhor vocês dois pararem. - Aspen aconselhou. - Isso é muita infantilidade para duas pessoas adultas.
- Me solta! - Lesley gritou, tentando se soltar dos fortes braços de Aspen e vir na minha direção. - Eu vou te matar, sua bastarda.
A essa altura a sala já estava um caos, Lesley se debatia de uma maneira totalmente engraçada enquanto tentava se soltar de Aspen e Nesta segurava o meu braço como se tentasse me impedir de ir na direção dele. Selene, ao contrário de todos, gritava inúmeras palavras de apoio para que eu desse uma lição nele.
- Pode soltar ele! - Gargalhei tentando soltar meu braço que Nesta estava segurando. - Tudo que ele sabe é falar por isso não passa de um fofoqueiro metido a espião.
Nessa hora, por coincidência ou por destino, nós dois conseguimos nos soltar. A cena seguinte foi bastante cômica para mim. Assim que Lelsey se desvencilhou de Aspen e correu em minha direção, eu me preparei para o golpe que eu estava planejando desde que sai da sala de Raymond. No momento em que ele já estava perto de mim, eu rapidamente acertei um chute bem no meio de suas pernas e ele caiu no chão enquanto gritava e me xingava dos mais baixos nomes. Alguns que eu nem mesma conhecia.
- Isso... - Me agachei ao seu lado. - É para você aprender a não mexer comigo.
- Alyssa! - Selene veio dando pulinhos até mim quando me levantei e continuei observando Lesley caído no chão. - Que chute maravilhoso! Que visão espetacular! Não sabia que você era alguém tão corajosa, você parece tão bobinha.
- Obrigada... - Sorri um pouco pensativa sem saber se deveria levar aquilo como um elogio. - Eu acho.
- Vocês dois não deveriam brigar! - Nesta nos repreendeu. - Imagine se o mestre Asciam tivesse escuta...
- Que confusão é essa? - Ela não precisou terminar, Raymond já vinha descendo as escadas com um olhar de pura raiva.
- Já está tudo sobre controle, senhor. - Aspen disse indo em direção a Raymond e fazendo uma reverência um tanto exagerada.
- Foi apenas um pequeno desentendimento entre Alyssa e Lesley, mas tudo já está resolvido. - Nesta disse vindo até o meu lado.
- Que fique claro que não temos tempo para atitudes infantis. - Raymond disse parecendo ainda mais irritado do que nos últimos instantes que eu o havia visto. - Nossa ida para Dandelion está sendo atrasada.
- Já que voltamos a esse assunto, eu tenho uma dúvida. - Ergui minha mão.
Raymond não me respondeu, apenas continuou me encarando assim como todo o resto.
- Você me salvou do Duque e obviamente é mais forte que ele... - Constatei pensativa. - Se não estamos indo a Dandelion por causa dele, isso significa que não se trata de poder e sim de influência, certo? Pelo que pude notar ele é um dos cães de guarda de Uric.
Quando eu terminei de falar eles ainda me encaravam, de uma maneira estranha. Me pergunto se me achavam muito inteligente ou muito idiota.
- Você parece estúpida, mas até que é bem inteligente. - Lesley disse rindo.
Eu fiquei feliz por leves segundos até voltar a sentir raiva dele. No fim, eu não estava realmente chateada com ele. Mais do que ninguém, ele havia sido uma boa pessoa para mim e tudo que ele havia contado para Raymond fazia parte do trabalho dele. Eu só usei ele para descontar toda a raiva que estava sentindo de Raymond.
- Vou tomar isso como um elogio. - Respondi.
- Você está certa. - Raymond sentou-se elegantemente em uma das poltronas. - Quero evitar problemas com o palácio e Frederick é uma das pessoas com o maior apoio de Uric.
- Ótimo, isso me leva a minha próxima teoria. - Bati palmas animada.
- Que teoria? - Aspen perguntou verdadeiramente interessado.
- De que vocês não estão do lado do rei. - Constatei o óbvio.
- O que lhe faz pensar assim? - Raymond perguntou parecendo impressionado.
Eu já havia percebido que eles não pareciam os típicos apoiadores de Uric.
Há alguns anos atrás, quando eu tinha pouco mais do que dezesseis anos, um grupo de apoiadores de Uric vieram até Dandelion. Eram mais de vinte homens, todos em cavalos e carruagens. Trouxeram várias mercadorias diferentes e diziam querer variedade nos comércios de Gorgonea e que pequenas aldeias como a nossa também eram dignas de mudança. Venderam tudo o que trouxeram a preços extremamente altos, mas somente aos homens. Lembro, inclusive, de ver Odila tentar comprar alguns tecidos e ser totalmente humilhada.
Mais tarde, naquele mesmo dia, os seguidores de Uric fizeram uma reunião apenas com os homens da aldeia. Pediram que todas as mulheres preparassem algum prato e levassem até eles em nome de sua devoção ao rei. Fizeram discursos sobre a grande evolução econômica de Gorgonea e deram conselhos aos homens, em praça pública, para que nunca fossem submissos a mulheres.
Assim que vi o comportamento do Duque Frederick pude relaciona-lo aqueles homens imundos que haviam nos visitados. Havia um imenso ódio contra as mulheres, mas isso, obviamente, era uma opinião de Uric.
Ele devia desprezar as mulheres e por isso espelhava sua opinião em seus seguidores. Assim, haviam se desenvolvido pessoas com pensamentos retrógrados e estúpidos como os do Duque.- Nesta e Selene estão aqui. - Apontei para elas sorrindo. - Um típico seguidor de Uric jamais deixaria mulheres terem posições tão importantes em sua casa.
Elas duas me olharam surpresas, parecia o tipo de reconhecimento que elas esperavam receber a séculos. Eu não havia achado a mansão de Raymond agradável apenas porque era espaçosa ou porque me serviam doces e refeições deliciosas. Embora em parte realmente tenha sido isso. Mas, muito mais que isso, o que realmente me levou a admirar esse lugar foram as mulheres sendo reconhecidas de igual para igual. Selene e Nesta pareciam tão confortáveis que me passavam a mesma sensação. O sentimento de segurança e respeito. Nenhum seguidor de Uric conseguiria tal proeza.
- Vejo que é bastante observadora, querida. - Selene sorriu para mim. Eu soube, pelo seu sorriso, que poderia levar aquilo como um enorme elogio.
- Não foi você mesma que disse que ela parecia não ligar para nada que acontecia a sua volta? - Típico de Lesley. Eu já havia percebido que não importava em qual situação, ele jamais perderia a oportunidade de irritar Selene.
- Eu estava falando sobre a maneira como ela arriscou a própria vida, seu imbecil. - Selene retrucou. - Esse já é outro assunto.
- Estou impressionado com sua análises, senhorita Alyssa. - Aspen acrescentou me lançando um leve sorriso.
Eu estava feliz por ter minha inteligência reconhecida por tantas pessoas, mas o que eu realmente pretendia com tudo aquilo é que Raymond soubesse com quem estava lidando. Mais do que apenas uma garota, eu podia facilmente ler o ambiente em que eu estava e conseguia me manter firme independente de qualquer situação. Se ele visse qualquer utilidade em mim, talvez desistisse da idéia de me levar de volta para Dandelion, ou quem sabe me ajudar a encontrar uma nova cidade.
Mas, é óbvio que para qualquer lugar que eu vá ainda terei que lidar com os estúpidos adoradores de Uric. Sair de Gorgonea era minha melhor opção.- Aonde quer chegar com tudo isso? - Raymond me perguntou sério. Os olhos vermelhos chamavam muito a minha atenção, mas tentei ao máximo me concentrar na linearidade dos meus pensamentos.
- A lugar algum. - Admiti. - Eu estava apenas curiosa para saber se eu estava certa ou apenas ficando louca.
- O que vai fazer agora que sabe que estava certa? - Ele parecia estar considerando cada palavra que saiu da minha boca. Agora ele estava me analisando e tentando encontrar qualquer propósito no que eu havia dito.
- Bem, estou apenas feliz que nem todos os homens são como o Duque Frederick. - Ponderei. - Aquele homem é um verdadeiro lunático.
- Foi uma enorme sorte que você tenha conseguido sobreviver a ele por tanto tempo. - Selene disse com um rosto apavorado. - Dizem que nenhuma garota jamais escapou dele.
- Por esse motivo ele está tão irritado. - Raymond acrescentou.
- Vocês tinham que ver a cara dele quando descobriu que eu não era sua verdadeira noiva. - Relembrei muito orgulhosa de mim mesma.
- Você parece bastante satisfeita que seu plano tenha dado certo. - Nesta observou.
- Não posso dizer que não estou. - Esse era o momento pelo qual eu estava esperando. - Aparentemente eu sou ótima criando planos.
Agora eu só precisava que alguém elogiasse a minha coragem ou a forma como eu arquitetei tudo. Eu só precisava que Raymond visse qualquer habilidade significante em mim e me pedisse para ficar e ajudá-lo assim como Nesta e Selene. Claro que seria um enorme sacrifício ter que conviver com Ângela, mas ela provavelmente estaria muito distraida com suas novas joias e vestidos e não teria tempo para prestar atenção em mim.
- É verdade, Alyssa teve um bom plano. Não só conseguiu sair viva como também conseguiu salvar outra pessoa. Uma atitude muito digna, eu diria. - Aspen, eu lhe respeitarei até o resto da minha vida. - Embora tenha sido mal executado.
Eu não podia negar, meu plano para salvar Kiara estava cheio de furos. Começando pelo fato de que nós trocamos de vestido sem nenhuma necessidade real, mas trouxe um drama maior a situação. Depois eu acabei tentando agir como uma guerreira treinada há vários séculos e quase acabei sendo morta pelo Duque Frederick. Isso, por si só, já mostrava o quão mal executado o plano havia sido.
Mas a minha coragem e dedicação ainda eram admiráveis.- Bem, já que Aspen pensa assim... - Raymond começou. - Faça um plano para que possamos ir o mais rápido possível para Dandelion.
Raymond queria que eu amasse um plano que nos possibilitasse ir até Dandelion sem sermos encontrados por Frederick. Eu sei que eu mesma o induzi a isso, queria que ele me visse como alguém útil. Então, apenas dei um jeito de ele perceber que eu poderia ter alguma habilidade que nos ajudasse. Entretanto, a verdade sobre toda a situação é que eu não conhecia nada daquelas terras, não conhecia as ambições de Raymond e muito menos as estratégias de Frederick. Talvez, ele já estivesse um passo a frente de qualquer coisa que eu tentasse fazer. É claro que, eu poderia sugerir darmos a volta por cidades vizinhas, sem partirmos diretamente de Amaranthine para Dandelion, mas ainda assim me parecia um plano arriscado. Embora, fosse o único que eu tinha em mente.Eu não sei de que maneira eles conseguiram encontrar algum ponto positivo no plano que fiz para trocar de lugar com Kiara. Quero dizer, eu não sou nenhuma estrategista em batalha e aquela foi minha primeira vez tentando
Eu ainda estava presa entre as diversas versões do mapa que vinham em minha mente. A falta de concentração estava me perturbando e não havia a mínima chance de eu continuar desenhando algo. Todos os músculos do meu corpo estavam doloridos, minhas mãos estavam dormentes e quando eu tirava os olhos do papel conseguia ver perfeitamente as linhas pretas em todas as paredes. Eu estava extremamente cansada.Me leventei da cadeira com uma certa dificuldade e ouvi perfeitamente meus ossos estalarem quando tentei caminhar. Eu não estava nem um pouco perto de terminar, muito pelo contrário. O nervosismo tomava conta de mim cada vez que eu sentia que tinha a imagem perfeita do mapa em minha mente. Embora, eu acredite que isso tudo se deva ao fato de eu estar preocupada em ter que retornar para Dandelion. Raymond havia dito que me via como alguém útil, não exatamente com essas palavras, mas o sentido era o mesmo. Eu havia conseguido o que queria, m
O clima entre nós três estava estranho e eu não sabia o porquê. Havia uma enorme tensão no ar, mas não havia nenhum motivo para tal coisa. Raymond parecia estar extremamente incomodado com o fato de eu e Lesley estarmos sozinhos. Claro que eu havia deixado todas as coisas que eu precisava fazer de lado para estar aqui, mas esse era realmente um grande motivo para ficar bravo?Bom, se eu parasse para pensar bem sobre toda a situação, o fato de eu estar conversando e abandonando a tarefa que ele havia me dado fazia com que ele tivesse que esperar ainda mais para encontrar Ângela. E, todos nós sabíamos, isso era motivo suficiente para ve-lo com raiva.- Eu estava apenas descansando um pouco antes de voltar para o meu quarto. - Me levantei do banco e Lesley fez o mesmo.- Sobre o que vocês dois estavam conversando? - Raymond perguntou diretamente para Lesley, quase como se quisesse ignorar o fato de que eu também estava ali.Eu sabia que Les
Na manhã seguinte, eu não estava disposta a fazer nada. Acordei cedo e desci rapidamente para tomar um banho e subi de volta sem a intenção de ver ninguém. Eu estava mentalmente cansada, queria não ter que me forçar a trabalhar em algo que me angustiaria ainda mais. Entretanto, na minha atual condição, não posso escolher o que vou ou não fazer.O mapa não estava ficando igual ao de minhas memórias e isso começou a me desesperar. Bem, mas quem disse que alguém que tem apenas um pouco de conhecimento sobre cartografia conseguiria fazer algo assim em tão poucos tempo? Raymond não estava realmente me apressando, mas era possível ver o quanto ele estava ansioso para que eu terminasse.Embora, nos últimos dias eu esteja acreditando que não preciso mais provar o meu valor para ninguém, além de mim. Eu, internamente, queria fazer algo que compensasse o quão bom todos haviam sido para mim. Mesmo que eu soubesse que o único que se beneficiária com o mapa seria Raymond.&n
Quando saí do quarto de Lesley, eu estava me sentindo desnorteada. As situações a minha volta não faziam sentindo e, por algum motivo, eu me sentia em perigo. O problema de ser alguém acostumada a ser odiada por todos é que, em algum momento, você não consegue que alguém te amaria de verdade. Não consegue se imaginar sendo protegida e acolhida por ninguém. Tudo toma um aspecto superficial e vazio que, de vez em quando, me faz duvidar dos meus próprios sentimentos.Raymond encara o amor como algo bonito e inabalável, embora eu não saiba dizer se a maneira como seus olhos brilham quando fala de Ângela seja algo realmente relacionado ao que ele diz sentir. Eu, por outro lado, sempre encarei o amor como algo negativo e egoísta. Talvez, por eu nunca ter visto de perto um bom exemplo do que amar significava. Minha mãe e meu pai não pareciam se amar. Na verdade, parecia ser mais um daqueles relacionamentos que é apenas conveniente um para o outro. E, mesmo que eles quisesse
Todo o meu corpo doía, mas ainda assim, tentei juntar forças para me levantar e correr para longe. Fiquei aliviada quando consegui ficar de pé, mas logo o meu corpo desabou no chão novamente e eles já estavam em minha frente. Olhavam divertidamente para mim enquanto eu tentava desesperadamente me afastar enquanto me arrastava pelo chão.Eu pude contar três homens, mas suspeitava que pudessem haver muito mais pessoas ao meu redor. Escondidas, claro. Um deles era um homem de meia idade, não era tão feio e decrépito como o Duque, mas parecia estar chegando em seu auge. Os outros dois eram muito mais novos e eu podia apostar que, pelo menos um deles, tinha a mesma idade que eu. Um deles tinha o cabelo e olhos castanho e um rosto um pouco feminino, mas bonito. Em compensação, o outro tinha os olhos num tom castanho amarelado e era praticamente loiro. Eu não sabia o que eles queriam, mas ao ver o que haviam feito com o Duque, pude confirmar que eles não estavam do lado de
Vanessa cuidou de todos os meus machucados e praticamente me forçou a passar o resto da tarde dormindo. Embora eu estivesse com medo de dormir e acordar sendo queimada na enorme fogueira que havia no lado de fora, o sono e o cansaço foram mais fortes e me venceram.Mais tarde, quando acordei, já estava era noite e eu estava sozinha na casa. Eu me sentia muito melhor e estava muito mais disposta do que quando havia me deitado. Fiquei um tempo sentada na pequena cama tentando entender tudo o que havia acontecido recentemente.Havia algumas velas acesas em cima de uma pequena mesa ao lado da cama em que eu estava deitada e algumas frutas. Agarrei uma maçã meio receosa e comi enquanto tentava enxergar algum motivo para que aquelas pessoas estivessem tão interessadas em mim. Às vezes, eu me odiava por ser tão inteligente em alguns momentos e em outros parecer ser tão estúpida.- Descansou bem? - Ouvi uma voz baixa vindo da porta do pequeno quarto em q
- Nunca pensei que uma mulher em roupas masculinas fosse ser algo tão atraente. - Ouvi uma voz atrás de mim.Olhei para trás e um homem alto e pálido de cabelos negros me encarava sorridente.Ele, de certa forma, me lembrava Raymond e eu estava me odiando por lembrar dele no momento mais confuso da minha vida.Embora, houvesse uma parte boa na forma como tudo havia acontecido. Raymond estava com Ângela acreditando que ela é a herdeira de Eulalia. Existe um castigo maior do que se deixar levar pelos seus interesses e acabar traindo exatamente a pessoa que você tanto procurou? Ele preferiu salvar Ângela e agora pagará por isso.- Não diga esse tipo de coisa, Rowan. - Vanessa apontou para ele a concha que estava usando para mexer o caldo de legumes. - Imagine se sua esposa escuta lhe escuta falando esse tipo de idiotice.- Enora sabe que é a únic