Amar é consequência de uma atração espiritual acima de qualquer mera paixão humana.
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Mariana
Acordei ainda em seus braços. Não me lembro de ter apagado. Olhei ao redor e estava em pé, perto da janela em meu quarto. Ele me segurava para não cair. Minhas pernas estão fracas. Ainda sem acreditar que estou vendo o homem dos meus sonhos aqui em minha frente, me sentei na cama com sua ajuda. Ele se afastou e se aproximou da janela.
- Voce vai embora?
- Se você quiser, eu vou - Falou parando de andar. O Encarei confusa.
Aqueles olhos azuis e marcantes, que pareciam me dizer para negar. Seu cabelo loiro e cacheado se mexeram devido ao vento forte que entrou no quarto. Ele não parece real. Tanto que me perdei nos traços do seu rosto por alguns segundos. Seu maxilar é extremamente marcado, e seus lábios são... perfeitos. Meu corpo começou a ficar inquieto.
- O que você é? - Perguntei, e logo me arrependi. Não preciso de mais perguntas e surpresas, tudo que aconteceu hoje já me basta. - Quem é você?
- Acho que não é uma boa hora para responder perguntas que lhe trarão mais dúvidas. - Ele disse e cruzou os braços. - Mas sou alguém em quem pode confiar.
- Você é parecido com... ele? - não me segurei. Ele ficou pensativo, mas acabou concordando.
- Mais ou menos... Digamos que eu seja do bem. E quero o seu bem.
Ele pareceu preocupado sobre como eu reagiria.
- Então acho que tenho sorte. - Assumi, sem fazer mais alguma pergunta e me lembrei do colar que achei em cima do meu armário em forma de asas de anjo. Peguei ele na mão e fiquei observando a cor dourada que brilhava ao ser refletido na luz do abajur. - Foi você quem me deu?
- Sim, fui eu - Ele disso sorrindo e despertando minha atenção com um simples ato. - Esse é mais um meio de te proteger... - Olhei-o curiosa e ele reparou. - Amanhã eu explico tudo direito, eu prometo. Hoje foi um dia cheio para você, eu preciso que confie em mim.
- Me diga pelo menos o seu nome! - Perguntei ansiosa, olhando-o atentamente.
Ele encostou o ombro na parede e deitou um pouco a cabeça para o lado. Em um sorriso pequeno, disse.
- Meu nome é Gabriel, - disse finalmente. - Sempre quis poder te falar quem sou, - Suspirou - ... e á essa altura, com os A.C te procurando, eu não posso me esconder agora. Por causa disso tenho que ir resolver com meus superiores. - Ele disse sério, andando da porta até a janela do meu quarto, observando a lua.
- Então... Já está indo? - Concluí, olhando para o banheiro e logo um calafrio subiu pelo meu corpo. Se aquele homem aparecer outra vez? O que eu faço?
- Não precisa se preocupar com ele agora, chamei alguns amigos para vigiar a casa enquanto estou fora.
- Amigos? - Perguntei confusa. Ele me olhou procurando uma forma de falar, mas eu advinhei. - Anjos?
Ele concordou estalando os dedos.
Olhei para o chão, ainda sem aceitar.- Se você quiser, eu posso facilitar. - Falou caminhando até mim.
- Como assim? - Perguntei sem entender Ele se sentou ao meu lado na cama, deixando meus batimentos mais rápidos. Aquele homem realmente existe.
Pegou minha mão e encaixou nas suas. Logo senti uma sensação percorrer meu corpo a partir de seu toque, como uma corrente de eletricidade.
- Posso fazer você dormir tranquila. Teve um dia longo, Mariana. Faço você sonhar com o que quiser.
Olhei pra ele que mantinha olhar fixo nos meus, e concordei sem hesitação e sem medo. Ele me trás conforto e confiança, algo que não consigo indentificar em curto tempo nas pessoas. Ele é puro. Sua pele é limpa, sem nenhuma marca. Seus olhos transmitem o bem e um pouco de ingênuidade, sem vestígios de mal algum. Eu sinto que temos algo semelhante, algo que encaixe. Não sei explicar o que significa isso.
- Feche os olhou. - Ordenou com a voz doce e obedeci.
Senti em minha mão um leve formigamento, que irradiou pelo meu corpo interio, trazendo paz e conforto, junto com um relaxamento interno que me fez sorrir e quase adormecer de tanto êxtase.
- Durma bem, - o escutei dizer - e sonhe comigo.
Apaguei.
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Gabriel.
Peguei-a nos braços antes de cair no chão ao apagar e a coloquei deitada na cama, cobrindo seu corpo leve com o edredom.
Fiquei imóvel observando e ouvindo o ar entrar e sair de seus pulmões lentamente. Ela dormiu com um pequeno sorriso quase imperceptível, o que me fez sorrir também.
Sem perder mais tempo, abri a janela e vi meu amigo Miguel em cima do telhado da casa vizinha, e mais dois amigos que ele chamou para fazer isso por mim. Ajudar uns aos outros é o que mais prezamos, quando um precisa de ajuda, o outro faz de tudo para ajudar. Um exemplo foi o Miguel hoje. Sem ele eu não teria encontrado Mariana.
- Vou indo, tenho que ser rapido. - Falei pra ele, que acenou com a cabeça, literalmente dizendo boa sorte. O pior é que vou mesmo precisar de muita sorte para lidar com os arcanjos, principalmente com o Rafael.
Ele é o líder. Ninguém faz nada sem antes consulta-lo e consultar o conselho.
Nunca me canso de sentir a sensação fria que tem a noite na cidade. O vento bate em meu rosto e em minhas asas, deixando sempre prazeroso e nunca enjoativo os meus vôos. As estrelas hoje parecem bem mais brilhantes, junto com meu coração, que está alegre por motivos inconcretos. Apesar de todo o mal, estar com ela, toca-la e saber que ela não teve medo de mim foi o que sempre desejei.
Sei que me mostrar fisicamente pra ela foi algo errado, mas era preciso. O conselho há de entender.
Bem além das nuvens, há um lugar onde só nós anjos sabemos onde fica e como se encontra, chamamos de refúgio.
O conselho fica nesse templo para nos atender em qualquer dúvida ou conselho que temos, e agora sou eu que vou dar explicações.
Depois de andar um pouco pelo longo corredor composto por grandes e brancos pilares, que levam a várias salas, e tambem à sala de Rafael ao centro. Ajeitei minha roupa e cabelo antes de entrar. Bati duas vezes e escutei um pode entrar em seguida.
- Anjo Gabriel! - Rafael falou surpreso ao me ver. Ele estava sentado atrás da extensa mesa com seu traje exageradamente branco, junto com alguns outros membros do conselho, que não pararam o que estavam fazendo para me olharem. - Vejo que suas artimanhas com a humana foram excelentes.
Coloquei as mãos pra trás do corpo sem entender. Achei que iria se punido ao pisar os pés nessa sala.
- Bom, eu vim explicar o que aconteceu hoje e-
- Não precisa, eu sei de tudo Gabriel. Sei até que você conseguiu rastrea-la, o que eu não fiquei muito surpreso já que você é exemplar.
- Mas... E os Anjos Caídos? Você sabe o que eles queriam com ela?
- Nenhum de nós sabe, querido Gabriel - ele disse olhando para os Arcanjos de um lado a outro. - Eles convivem conosco há muito tempo, nunca foram bons anfitriões desde que foram expulsos do céu e passaram a viver entre os humanos.
- E o que vão fazer a respeito? Até que eu descubra o que querem com ela, tem que ficar protegida del...
- Você a protege muito bem. Quero que continue o que está fazendo, mas só peço-lhe que não se aprofunde muito nisso. Caso não esteja gostando de protege-la, posso te mudar se quiser. Há alguns anjos sobrando na...
- Não será necessário. - Falei firme. Me trocar de humana? Isso não aconteceria em nenhuma das hipóteses. Ele nunca foi um anjo protetor, por isso não sabe o que é proteger e cuidar de algum humano por toda a vida, ainda mais Mariana, que é diferente de todos que já passaram por mim. Deixa-la faz meu corpo inteiro doer. - Vou seguir com tudo o que estou fazendo, até mesmo me mostrando pra ela?
- Por enquanto sim. Isso é um desviar leve das regras, mas eu posso deixar isso passar para que você possa deixar os A.C longe dela. Só não se esqueça das outras regras, Gabriel.
- Não esquecerei Rafael - Falei e acenei com a cabeça - Obrigado pelos conselhos esclarecedores.
- Apesar de ser sua primeira vez aqui dentro, se tiver qualquer outra coisa a nos falar, estaremos só de ouvidos para qualquer queixa ou para dar conselhos a qualquer hora do dia. Não acho que seja tão serio, eles podem estar brincando com a gente, nos colocando medo e infelizmente Mariana foi vítima. Ou... como te falei antes... tem algo negro em volta dela. Seja o que for, iremos descobrir.
Ele falou mantendo seu sorriso. Agradeci com outro sorriso e saí da sala, voando de volta para a casa de Mariana. Não vou deixa-la sozinha.
Foi até um pouco fácil do que pensei Mas sei que se alguém desobedecer as ondens que ele passar, a punição virá.
- Psiu.
Parei de voar ao ouvir isso, e ao me virar, fui atingido no rosto com um soco e caí em cima de uma casa qualquer. Alguns segundos depois me levantei quando a dor havia passado, e vi Samyaza parado em minha frente. Sem pensar duas vezes, voei pra cima dele e deixei outro soco em seu rosto, e logo seu corpo voou pra bem longe.
A raiva que senti ao ver seu rosto foi tão grande e não consegui me segurar, só de pensar no que ele fez Mariana passar essa noite. Mais uma vez meu sangue ferveu.
- Vejo que seu soco ainda tem a mesma intensidade... - Ele falou voltando até o telhado que estou - Mas eu vim deixar uma mensagem, ou melhor, aviso pra você.
- Aviso de quem? - Perguntei mantendo minha postura ereta.
- Logo logo você irá conhecer quem mandou. - Ele deu uma risada - Fique longe de Mariana e não se meta nos meus assuntos. Quem sabe eu não pouparia seus amigos Anjos? - Ele disse olhando fixamente em meu rosto, dispertando outra vez minha raiva. - Esse é o aviso. Vocês estão perdidos.
- O que vocês querem com ela? - Perguntei e dei dois passos em sua frente com rapidez, mas ele levantou vôo.
- Pergunte a Noé. - Ironizou e gargalhou, se contorcendo - Noé da sua conta. Entendeu? - Ele riu ainda mais. - A unica coisa que não me faz ficar intediado na superfície sãos essas piadas horriveis dos humanos.
- Me diga! - Ordenei e ele fingiu medo.
- O anjinho de ouro se exaltou, que medo! - ele afeminou a voz, zombando com a minha cara. - Só posso dizer que ela é uma peça extremamtente importante do nosso jogo. Cuide bem de nossa jóia preciosa, pelo menos até ele voltar.
Piscou um dos olhos e vôou para longe. Infelizmente não fui rápido o suficiente para alcança-lo e tirar mais informações de sua boca.
Jóia Preciosa.
Porque ela é uma Jóia Preciosa? Pra que eles precisam dela? Eu preciso de ajuda para encontrar respostas, mas não vai ser aqui nessa cidade que vou conseguir alguma coisa.
Voltei a casa de Mariana e vi Miguel sentado no telhado da casa vizinha, do mesmo jeito que o deixei quando saí. Parei em sua frente de repente, dando-lhe um susto.
- Você não cansa? - Ele reclamou - E então, o que aconteceu lá?
- Miguel, - Disse pegando em seu ombro, sem acreditar que essa idéia passou por minha cabeça como uma única opção, mas é a única forma de sair sem ser visto ou rastreado. - Preciso de sua ajuda.
Uma vez a mentira, para sempre a desconfiança♤- Eu já disse. Saí com um cara ontem a noite - Repeti pela milésima vez enquanto terminava de mastigar minha torrada. - Porque você ainda insiste nisso?- Porque você não sai com caras que conhece em uma noite, Mari - Olivia falou lavando a louça e virou o rosto com os olhos fincados. - Me conta logo onde estava.- Me erra Livia! - Revirei os olhos. Ela vai tirar o dia pra me atormentar. - Eu saí com uma pessoa sim, que mau conhecia. Não confia em mim? Pois bem. Vou te apresentar ele.Ela me olhou de canto com um sorriso, como se tivesse conseguido o que queria. Mas porque foi que eu falei isso? Não vai acontecer.- Quando? - Perguntou curiosa, tirando o avental e o jogando em cima da mesa.- Não sei - Respondi. Realmente eu não sei nem o porque de ter dito aquilo.- No sábado.
O maior erro que você pode cometer, é o de ficar o tempo todo com medo de cometer algum.♤- E o que faremos em Boston? - Perguntei me aconchegando mais no banco do trem.- Vamos visitar um amigo que nos dará algumas respostas. - Respondeu, colocando óculos escuros e um chapéu - De trem é mais fácil de despistar os arcanjos.- Acho que está na hora de me explicar algumas coisinhas... - Olhei-o de canto e ele sorriu.- Também acho que sim - Ele concordou e cruzou os dedos - Como quer que eu comece?- O que sãoArcanjos?- Bom, existe um ditado entre nós... - Ele começou a rir sozinho - "Arcanjos no céu, anjos na terra". O mesmo ditado dos humanos só que modificado.- Não entendi...Ele tirou os óculos e pude mais uma vez encarar seus olhos azuis marinhos.- Os arcanjos
Anjos voam na velocidade da luz, porque eles são servos da luz.♤MarianaNão entendo como ele consegue andar tão rápido se até 20 minutos atrás, estava caído no chão todo machucado e desacordado. Ele acordou e ficou um tempo sentado, descansando, e depois de poucos minutos, parecia que nada tinha acontecido.Nós saimos do trem às pressas, quer dizer, ele saiu apressado e eu apenas o segui. Pegou a mala que eu carregava da minha mão para facilitar que eu andasse mais rápido. Mas porque tanta pressa? Medo de que os A.C apareçam outra vez?Então se ele que é um anjo, tem medo dos A.C, eu tenho que sentir pavor.Saímos da estação de trem e tivemos que andar um pouco e subir a escada que leva até o centro da cidade, que por sinal, estava cheia. Quase me deixei
Não desista. Geralmente é a última chave no chaveiro que abre a porta.(...)POV narrador- Miguel! - Anjo Rafael abriu os braços e um sorriso enorme de satisfação ao vê-lo entrando pela porta do templo - Quanto tempo que não vem aqui.
Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.(...)- Você tem que ir! - Ela me falou - Não se preocupe comigo. Eu... Posso ir pra casa de um vizinho e posso me cuidar sozinha também. Vá saber de seu amigo. A coragem conduz às estrelas, e o medo à morte.(...)- Você pode prestar atenção? - Gabriel falou mais uma vez. Tirei meus olhos das flores amareladas e roxas e olhei pra ele.- Posso - Falei e fParte 12
Me sinto tão confuso quando o teu olhar vem diante de mim(...)Acho que quanto mais nós queremos alguma coisa, mais essa coisa se torna algo impossível de conseguir. Pelo menos é o que eu acho por experiência própria. Seja refém de algo que te liberte(...)- Você vai ficar quieta ou não? - Samyaza me perguntou, abrindo suas asas e caí no chão ao ser solta.- Ele vai me achar - Falei limpando minha lágrima - Como a outra vez. Ele vai me encontrar.- Os humanos são tão positivos. Até demais na verdade. - Ele riu debochado. Segurou forte em meu braço e me levantou do chão com um puxão arrogante e brusco.Olhei ao redor enquanto andávamos. É uma sala de estar muito grande e sem nenhum móvel, apenas corredores enormes e colunas em todo lugar segurando o teto. Não vejo ninguém, mas escuto murmúrios em todos os lados.- Onde está me levando? - Perguntei sem esperar nenhuma resposta.- Não se lembra? Já esteve aqui antes. Até um membro de sua família esteve aqui antes - Ele falou com um soParte 14