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Já dentro do navio, Kali observa Amrita ficando pequena. Ela reflete um pouco sobre como sua vida deu um giro e se vê saudosa dos momentos que passou na infância.

Antes da sua mãe ser rejeitada em praça pública e ser banida de Amrita, todos eles eram uma bela família. Mesmo não podendo mostrar o rosto por culpa do véu, as trigêmeas não encontravam nisso um empecilho para brincar livremente no jardim do Palácio.

Shanti era a mais arteira, sempre arrumava um jeito de fazer Anala cair e colocar a culpa em Kali. Mas elas nunca eram de brigar. Sempre se apoiavam e sonhavam com seu povoado conhecendo seus rostos e respeitando-as como líderes. Mas tal sonho nem passou perto de acontecer.

Foram tiradas de seus sonhos e agora são mulheres casadas e à mercê de maridos desconhecidos. Kali sentiu a face molhada ao se dar conta de que não via mais Amrita.

–Ora, não vai me dizer que nunca pensou em sair desse vilarejo atrasado...–O príncipe sussurra bem perto do ouvido da sua esposa.

–Você fala como se não fosse patriota, como se não amasse sua terra ou seu povo.–Ela enxuga seu rosto.–Você é um príncipe ou o quê?

William ficou parado absorvendo o que disse enquanto Kali se retirou de sua presença. O enorme navio só tinha um quarto destinado a realeza e era lá que Kali dormiria. Estava enjoada pelo leve balançar, então deitou-se e adormeceu.

William ficou observando as ondas enquanto pensava na sua terra. Nunca foi realmente patriota, nunca precisou se importar com isso. Seu irmão, Charles, seria o novo rei de Tatália. Para quê se preocupar então?

As suas preocupações eram sair bem cedo para aproveitar a vida e chegar bem tarde para não ouvir sermões enquanto ainda estavam acordados. William era só um homem comum, poucos na cidade o reverenciavam. Ele não tinha o amor de seu povo e sempre fez questão de dizer que nunca precisou disso.

–Seus pais não vão gostar nada da sua esposa... escurinha, senhor.–Guliver acende um charuto ao lado do seu amigo.

–Eles pediram para eu escolher uma, não mandaram manual nenhum de como queriam que ela fosse.–Dá de ombros fingindo inocência.–Meus pais gostam de interferir demais na minha vida, Guliver. Eles já têm o Charles, não sei porque cismam tanto comigo.

–Você também é filho, William.

–As vezes eu me questiono se sou mesmo.

William dá dois tapinhas no ombro do amigo e se retira. Precisava descansar pois a viagem seria longa. No mínimo dois dias pela frente.

Ao entrar no quarto, se depara com Kali deitada de forma tentadora na cama. Ela vestia um vestido que tinha duas fendas, uma em cada perna e as alças dele eram caídas. Seu colo estava esmagado por conta de sua posição lateralizada e isso fez com que o jovem príncipe salivasse.

–Até dormindo é irritantemente sensual...–Sussurrou alisando sua bochecha gelada.

Ele retira suas roupas ficando apenas com um calção fino e deita ao lado de sua esposa. O príncipe não tinha intenção alguma em tocar em Kali, até porque ele nunca tinha se deitado com alguém de pele mais escura que a dele, mas também não a deixaria com frio.

Cobriu-a com o lençol fino que estava disponível e depois a abraçou. Kali mexe-se, mas se aconchega e continua a dormir.

William imaginou que se ele chegasse a contar aos amigos que casou com Kali eles não acreditariam. Muito menos se contasse da cena que estava acontecendo. Estranhamente William sentiu pena de Kali, pois onde iria morar agora o povo será bem preconceituoso.

...

Anala foi acordada bem cedo, o sol ainda estava nascendo. Colocaram as suas malas na carruagem e juntamente com seu marido partiram de Amrita.

Anala não deu uma palavra, estava pensativa. Não tinha se quer coragem de olhar nos olhos do seu marido.

–Em Ganilla eu vou contratar uma professora de modos e trejeitos para você.–O rei resolve falar quebrando assim o clima estranho.

–Você me acha mal educada ou desajeitada, senhor?

–Anala, sou seu marido agora. Pode me chamar de Joseph.–Bufa olhando para o caminho pela janela.–Você não tem personalidade forte e é facilmente levada pelas emoções. Tem noção de que agora é casada com um rei?

–Mas eu não pedi pra ser casada com um rei.–A resposta causa espanto no homem.–E eu aceito a professora se isso o deixar calado pelo resto da viagem.

Joseph assentiu e assim o fez. Anala, ao olhar dele, é um coelhinho assustado que só come se der na boca. Ela parece tão frágil e dependente emocionalmente que chegava a dar raiva nele.

Anala praguejou sua confissão em dizer que era a única das irmãs que talvez tinha tido sorte com o pretendente. Ela estava começando a descobrir quem era seu marido e isso estava assustando-a. Talvez ela não tenha essa sorte toda...

...

Quando Shanti se levantou e saiu do seu quarto, Denzel e Falzer já a esperava. Ela solta alguns palavrões ao ver seu marido observando-a.

–Estava esperando você, cabelo de fogo. Precisamos partir. Faça uma mochila e vamos embora.

–Não consigo carregar tudo em uma mochila!–Berra já começando a se estressar.–Pelo menos duas, ok?

Ele assente e a garota arruma o que pode em duas grandes mochilas. Uma ficou com Falzer e a outra iria nas costas de Denzel.

–Vamos viajar de cavalo?–Questiona ao ver o marido alisando o animal. Denzel sorri e afirma.–Eu vou pagar todos os meus pecados casada com você.

–Não é tão longe. Vamos fazer só uma parada à noite e no outro dia de tarde chegaremos.–Ele sobe e estende a mão para Shanti.–Vem logo.

Receosa, Shanti sobe e se acomoda na frente do seu marido. As grandes mãos de Denzel seguram as rédeas e seus braços praticamente abraçam Shanti. Ela suspira em tédio com tanta proximidade. Logo estavam saindo de Amrita.

–Você é cheirosa, Shanti.

–Obrigada.–Ela deu de ombros.–Pensei que você só sabia falar merda, mas vi que sabe elogiar.

–Sei bem mais coisas do que você pode imaginar. Vou te mostrando aos pouquinhos...

A garota arrepiou-se, mas tratou de disfarçar resmungando. Jamais mostraria fraqueza para Denzel fácil assim. Mas Denzel tinha visto e tinha sorrido desgraçadamente. Iria ser interessante ao ver dele.

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