–Mas você se apaixonou justamente pelo jeito espirituoso dela. Por que não serviu depois que você começou a sofrer isso tudo?
–Porque ela não sabia como me ajudar e eu não ajudava também. Eu só conseguia gritar e culpá-la e... Ela foi vítima da monstruosidade que havia em mim.
Assim que minha mãe faleceu, eu me tranquei dentro de mim mesmo. Ela tentava entrar, mas eu só repelia. Mesmo amando-a muito. E doía. Meu pai também causou bastante alvoroço na minha vida, por isso tive que ser um monstro e fazer o que era certo pra mim.
–Você o matou?
–Não quero entrar nesse assunto agora.–Desconversa.–Pauline ainda aguentou muita coisa antes de desistir de mim. Ela era admirável. Eu entendi por que ela tinha feito aquilo, mas eu não soube perdoar. E acabei esquecendo que era humano e perseguindo tudo de bom que ela conquistou. Ela não aguentou tudo que fiz e suicidou-se. Acabou com a dor que eu causei.
Aborrecido, William segue diretamente para o escritório do seu pai. Ele sabia que o interesse repentino de Charles em Kali não podia ser coisa boa. Ou era coisa dos dois ou apenas de Charles. Ele precisava saber.–O que você quer, William? Estou bem ocupado pra você.–Sempre esteve. Mas não vim bater papo de pai e filho. Quero saber o que vocês querem com Kali? Charles não iria ser tão bonzinho a ponto de ficar defendendo-a e levando comida na bandeja até ela. Quero saber, qual é o plano?–Você só pode ter enlouquecido.–Philip ria.–Eu quero apenas que sua esposa se comporte e não me dê nenhum trabalho. De resto, não faço questão nem que fale comigo. E por que o Charles se interessaria por ela se é casado? Que benefícios essa escurinha nos traria? Deixe de bobagem, William. Vai procurar um afazer da coroa para se ocupar, garoto. Suma daqui!William sai da presença do pai ainda mais incomodado com tudo. Restava
Era nítido que Charles queria algo, só que William não sabia o que era. Pensou em ir confrontar o irmão, mas isso seria o que seu gênio afobado faria. Decidiu pensar melhor. Agora, queria ver e acompanhar todos os passos do seu irmão mais velho.Kali dormiu a manhã inteira e metade da tarde. Despertou confusa e muito sonolenta. Espreguiçou-se e segundos depois reparou na bandeja que estava em cima da mesinha. Sorriu e, faminta, deliciou-se. Alguém bate duas vezes na porta e abre. Era a moça que tinha conversado com Kali. A mesma que ajudou-a a ir para o quarto que agora está.–Lia, não é?–A mulher assente.–Você tem sido uma boa amiga pra mim.–Eu? Amiga? Não, não, senhora. Eu apenas tenho que lhe servir.–Diz Lia, totalmente envergonhada.–Venha aqui, Lia.–Kali bate na cama incentivando-a a sentar perto dela, mas a mulher só se aproxima e fica de pé.–Vamos, sente-se aqui. É um pedido de amiga porque não quero t
Alguns dias se passaram e era chegado o dia do casamento de Anala e Joseph. Tudo iria acontecer de forma simples, a pedido da futura rainha.Anala estava em seu quarto acompanhada por Rita. A garota rejeitou a presença de Simione. Para ela não tinha serventia estar na presença de alguém que não a suporta.–Faltam algumas horas para o casamento, Lady Anala. O que deseja fazer?–Não estou tão bem, mas gostaria de relaxar um pouco. Que tal um tratamento com óleo corporal e uma máscara facial à base de pepino? Acho que vou ficar melhor.Rita ajudou Anala a fazer tudo que pediu. As duas se divertiam rindo e comentando sobre futilidades. Simione entra sem bater com um ar de deboche.–Onde devo mandar colocar o bolo, senhora? No ambiente externo ou na grande sala da recepção?–Prefiro junto à recepção, Simione. E não entre no meu quarto sem bater, por favor. Pode ir.Si
Kali estava pronta e se olhava no espelho sentindo um aperto estranho no peito. Não estava nem um pouco espirituosa para esse coquetel.Lia entrou no quarto e parou por alguns segundos para admirar a beleza de Kali. A morena vestia dourado, uma das cores que mais exaltam a pele negra. Um leve decote e um lindo colar adornavam o colo de Kali. O vestido moldava bem seu corpo e possuia uma pequena fenda na perna direita.Abismou-se quando viu que ele era um pouco ousado para o gosto da rainha. Mas não fez perguntas. Sabia que para abrandar os comentários sobre sua cor, a rainha apelaria para sua beleza. Sorriu ao se dar conta que a rainha faz jogadas inteligentes. Mas ela também tinha suas jogadas preparadas. Usaria de pouco em pouco.–A senhora parece uma divindade.–Lia elogia.–Sou filha de um Deus, Lia. Pode me chamar de Deusa Kali.Ao dizer isso, os olhos âmbar de Kali brilharam de forma sobrenatural. Lia curvou levemente o corpo como se realmente esti
Shanti caminhava em direção ao centro do povoado, distraidamente. Pensava nos primeiros passos que teria que dar para começar a fazer mudanças por ali.Ela sabia que não seria algo fácil ou rápido; teria que se esforçar muito para pelo menos plantar uma semente entre eles.Ao longe já dava para ver as mulheres sentadas; umas bordando, outras, conversando. Algumas pareciam sonolentas e outras apresentavam expressões de tédio. Era uma mistura bem interessante.Shanti se aproxima e rapidamente é notada. Narí logo leva Shanti até o meio das mulheres.–Nossa líder Shanti agora fará parte do nosso grupo, meninas.As mulheres, aos poucos, aproximavam-se e iam cumprimentando a ruiva. Algumas simpáticas, outras eram mais tímidas. Malia, que estava encostada em uma árvore próxima, observa a recepção de Shanti. Resolveu ser a última a ir cumprimentá-la.–Seja bem-vinda, líder Shanti.–Diz M
Anala ouvia tudo muito atentamente. Não queria parecer distraída aos olhos de quem a observava. Já Joseph estava totalmente alheio. Parecia que sua mente estava visitando um outro universo.–Agora, durante a troca de alianças, ouviremos o juramento do rei e após da nossa futura rainha.Joseph tira a caixinha do bolso e tira a aliança que vai no dedo de Anala. Ele olha para a mulher divinamente arrumada e cheirosa e dá um meio sorriso. Anala permanece séria. Joseph parece nervoso.–É difícil estar aqui, perante todos vocês, casando mais uma vez. Não era esse meu plano quando mais jovem. Mas... Era necessário dar esse passo novamente. Peço desculpas à memória de Pauline que deve ser ainda muito viva entre alguns vocês.–Ele coloca a aliança no dedo de Anala.–Receba essa aliança como prova do... Como prova do meu...Rapidamente Anala pega a aliança e coloca no dedo de Joseph. Eles viram para o celebrante e ela ped
William volta para junto de Kali e então voltam a conversar com os convidados. Um tempo depois começam a servir a entrada. Kali estava desconfortável, mas em nada demonstrava isso. A garota era só risos e simpatia.–A sua nora é belíssima, rainha Margareth.–A mulher do comprador e vendedor mais famoso de escravos, Calixta, comenta.–Pensei apenas que ela seria mais...alva.–Entendo. Mas ela foi quem ganhou o coração do meu William. E apesar de tudo, ela é muito obediente. Deve ser uma característica da cor né? Ainda bem.As duas riram e mudaram de assunto. Charles, ao canto e bebendo seu whisky, observava Kali passeando entre os convidados. Em dado momento, quando boa parte dos convidados se concentravam em serem servidos, ele se aproxima de Kali.–Como você está?–Um pouco desconfortável, mas já percebi que ela foi embora. Você deve ter visto.–Charles assente.–Seu irmão é inacreditável. Ainda a
Shanti tinha conseguido fazer seu marido se abrir totalmente. Descobriu que Denzel é extremamente incomodado com o fardo que carrega. Não pelas responsabilidades do título, mas pela responsabilidade de manter as tradições antiquadas do seu povo.Denzel afirmou que se enxerga como um bom líder, mas que sabe que poderia ser bem melhor sem tantas amarras. Queria mudanças, mas era medroso para começar. Tinha medo de deixar de ser temido, respeitado, ou até mesmo deixar de ser líder pelo querer do povo. Demonstrou ser um homem cheio de inseguranças.–Minha vez. Bom, se sua vida não tivesse tomado esse rumo, que outro tomaria? Quais planos você tinha para sua vida?Shanti tinha gostado da pergunta. Sorriu de imediato. A pergunta lhe fez refletir sobre toda sua adolescência. Todos os sonhos que fez questão de sonhar para si. Era incrível mergulhar nessas lembranças outra vez.–Obviamente eu teria me especializado em algo útil para meu povo. Eu amo ler, sabe? Amo con