Capítulo 4 – Calor

Sofia

O meu corpo todo arde, sinto o frio me percorrer enquanto tudo parece pegar fogo. Minha respiração esta desconfigurada, passo minhas mãos pelo lençol e a outra coloco em minha barriga.

Eu desejo tanto isso, preciso tanto disso... Abro os olhos quando não sinto o Humberto na cama, levanto e começo a procurá-lo necessito dele, não me lembro de quando foi à última vez em que nos tocamos, mas eu sinto tanta necessidade dele que o meu corpo parece implorar por isso.

Vou para a sala e o vejo deitado no sofá assistindo televisão, estranho o fato de ser pouco mais de 4 horas da manhã, não o questiono apenas deito ao seu lado e começo a acariciá-lo. Ele não expressa nenhuma reação e isso me entristece novamente.

Abraço-o e beijo seu pescoço, seu queixo e quando finalmente vou chegar aos lábios sou interrompida por mãos fortes. Encaro-o sem compreender e percebo que ele não esta me encarando, continua assistindo.

— Por que me segurou? – Indago confusa.

— Estou assistindo Sofia. – Responde ainda sem olhar para mim.

— São quatro horas da manhã, não pode parar de assistir e vir ficar comigo? – Questiono magoada.

— Não estou a fim Sofia, se quiser aguarde o filme acabar. – Fala ríspido.

Levanto-me frustrada e decepcionada comigo mesma por insistir nisso de novo, mas sem conseguir controlar-me viro-me para ele.

— Você nunca sente vontade? Qual o problema comigo, não sou boa o suficiente? – Pergunto e ele me encara finalmente.

— Não é isso, eu só não estou com vontade agora. – Justifica envergonhado.

— Mas você nunca em vontade, lembra-se da última vez que fizemos algo? – Indago.

— Eu não me lembro. – Assume.

— Pois é, eu também não. Para você tudo é mais importante, mas para mim o sexo é importante. – Explico, derrotada.

— Tudo bem, vamos fazer algo. – Diz e pega o controle para desligar a televisão.

— Não precisa. Você quer apenas me fazer parar de reclamar e eu preciso me sentir desejada, se realmente não tem vontade de fazer isso não irei forçá-lo. – Digo livrando-o de se relacionar comigo por obrigação.

Vou para o quarto deixando-o sozinho, ele não me segue. Não espero que venha atrás de mim, pois não quero nada com ele agora. Olho-me no espelho sinto-me ridícula com essa camisola sensual vermelha. Nada faz ele me desejar.

Tiro-a e coloco uma camiseta e pego uma tesoura, resolvo me desfazer das coisas que um dia pensei que iriam fazer com que eu me sentisse uma mulher de novo. Abro o guarda-roupa e pego minhas lingeries coloco todas em cima da cama e começo a cortá-las.

Tudo o que tenho de sensual que comprei para agradá-lo esta indo para o lixo junto com a minha vontade de algum dia ainda ter algo com ele. Sei que parte de mim também se vai, mas não vou me apegar nisso agora, talvez eu só não seja alguém digno de ser desejado.

Acho que não sou o suficiente de qualquer forma. Quando termino de cortar tudo jogo as coisas no chão e tento dormir, lembro-me do final de semana que esta sendo finalizado.

Penso em tudo o que deixei de fazer para estar com o Humberto e agora me sentir rejeitada de novo. Uma lágrima insistente escapa, mas eu não deixo que outras saiam não vou me abater mais, pelo menos não agora.

Acordo as seis e vejo que ele esta na cama, quando levanto percebo que limpou a bagunça que fiz. Pego minha roupa e vou para o banheiro. Encaro-me percebendo como estou patética, começo a escovar os dentes e quando termino uso o enxaguante bucal e lavo o rosto.

Após passar o hidratante prendo o cabelo e começo a me trocar. Coloco um short preto, um top e uma regata transparente na cor preta. Saio do banheiro e calço meu tênis, alimento-me com uma banana e saio para andar de bicicleta.

Vou para o parque que adoro, conforme pedalo sinto-me livre como se as impurezas do meu corpo e mente estivessem esvaindo-se, sinto a calmaria tomar conta do meu coração e acredito que isso é mais do que mereço.

O parque me encanta, suas árvores, as flores tudo melhora o meu espirito e depois dessa noite eu realmente preciso de algo assim.

Fico alternando entre andar rápido e devagar. Algumas pessoas correm ou andam ao meu lado, mas eu mantenho o meu foco e continuo andando calmamente.

Em questão de segundos, vejo um vulto entrar em minha frente tento frear, mas perco o equilíbrio e vou direto para o chão. Levanto com raiva e vejo um cara observando-me preocupado.

— Qual o seu problema? – Indago com raiva.

— Uma criança se jogou em sua frente, eu fui segurá-la para não ser atropela e você caiu. – Explica e eu vejo uma mulher segurando um menininho de uns três anos. Ela se desculpa e vai embora.

— Ótimo, eu precisava disso mesmo para melhorar o meu dia. – Reclamo e quando tento andar não consigo firmar o meu pé, sento-me no chão emburrada.

— É só uma torção, posso ajudar com isso. – Afirma agachando ao meu lado.

— Não precisa, eu mesma resolvo. – Falo firme encarando-o.

— Você é sempre orgulhosa assim? – Questiona.

Seus olhos parecem me interrogar, fico um tempo olhando para ele, pois o achei muito bonito. Seus cabelos são grandes e estão presos em um coque, sua barba também aparenta não ser feita há muitos dias.

Sua boca parece me convidar para saboreá-la e eu me perco desejando-a. Olho novamente para os seus lábios e vejo que sorri e dessa forma fica ainda mais lindo, droga não acredito que me entreguei assim com tanta facilidade.

— Não preciso da sua ajuda. – Digo levantando e segurando a bicicleta.

Sinto a dificuldade que será ir para casa e tento disfarçar a dor a todo o momento.

— Para de ser tão marrenta, posso fazer a dor passar você só precisa permitir. – Oferece novamente, eu o encaro e percebo que não é tão seguro estar ao seu lado. Não quero que ele me toque.

— Eu agradeço, mas dispenso. – Falo e afasto-me mais rápido ignorando a dor.

Ele para de me seguir e eu não olho para trás, mantenho os meus olhos e minha decisão firme. Quando me sinto mais segura começo a ir mais devagar e respiro fundo para aguentar a dor.

— Droga universo. – Reclamo. — Eu estou carente e você manda mesmo este boy para me ajudar? Sou forte viu, não preciso dele. – Informo e continuo andando.

A dor no meu pé aumenta gradativamente e quando me aproximo de uma farmácia sou obrigada a parar. Entro com dificuldade e peço um remédio para dor, mas quando veem meu pé inchado mandam-me para o médico.

Tento ligar para o Humberto, se ele vir me buscar não vou precisar ir na ambulância, mas quando não atende pela quinta vez aceito o que o farmacêutico propôs e deixo que chamem uma ambulância.

Minha bicicleta fica na farmácia e eu vou para o hospital, fico me amaldiçoando o tempo inteiro não acreditando no que esta acontecendo, eu realmente deveria ter ficado na cama.

O atendimento no médico não é um dos melhores e após algumas horas saio de lá com o pé enfaixado e um atestado, segundo o médico eu não tive uma simples torção. Penso que se tivesse deixado aquele homem mexer eu estaria bem agora.

Só de pensar nele sinto o meu corpo se arrepiar eu ainda o desejo por mais estranho que isso seja. Acho que é apenas a minha carência querendo qualquer pessoa, mas eu vou me concentrar em algo e não vou deixar esse sentimento me controlar.

Chamo um uber e vou para casa, fico feliz quando não encontro o meu marido. Faço algo para comer apesar da dificuldade e deito-me no sofá a fim de relaxar um pouco.

Não sei por quanto tempo estou deitada, mas sei que essa sensação é tão inesperada... Não sei qual foi à última vez que consegui me concentrar em algo a não ser os problemas. Meu telefone toca tirando-me dos meus pensamentos sombrios.

— Sofi? – Indaga meu colega.

— Oi Eric, tudo bem? – Questiono.

— Sim, fiquei sabendo que teve um acidente, o que houve? – Pergunta interessado.

— Não é nada, só torci o pé quando caí da bicicleta. – Assumo e ouço sua respiração ficar mais forte.

— Como você caiu, o que realmente aconteceu? – Indaga e eu lhe conto toda a minha história.

— Compreendeu, foi apenas um acidente. – Finalizo.

— Por que não deixou que o rapaz a ajudasse? – Questiona curioso.

— Eu não me sinto segura Eric. – Confesso sentindo-me nervosa.

— Não entendi. – Diz e eu suspiro.

— Eu estou carente, muito carente. Preciso me manter longe dos homens. – Confidencio e percebo que ele sorri.

— Sofi, é só isso mesmo? Podemos resolver. – Fala rindo.

— Sempre podemos não é? Diga-me o que acha que devo fazer. – Provoco-o já sabendo a resposta.

— Você deveria sair com alguém Sofia. – Fala de forma clara.

— Eu não vou trair o meu marido. – Afirmo.

— Então termina com ele, o problema não é você. Já pensou se ele tem outra pessoa? – Indaga e sinto novamente as lágrimas em meus olhos.

Eu já pensei nisso... Pensei em tantas coisas, já tentei descobrir como me concertar para ser boa o suficiente, mas nada parece me ajudar. Não sei o que fazer ou no que acreditar, mas eu sempre penso que existe outra mulher.

— Não acho que ele tem outra. – Minto e ele respira fundo.

— Talvez ele tenha. – Murmura.

— Ou talvez o problema seja realmente eu. – Sussurro, mas ele me escuta.

— Já disse que o problema não é você. Sofia, você tem apenas 27 anos, vá ser feliz não se prenda nisso. – Aconselha-me.

Eu me emociono quando vejo que ele se preocupada comigo, o problema é que já estou presa e não sei como sair.

— Eu não sei se penso como você. – Digo sentindo-me esgotada.

— Sei disso Sofi, você ainda não reconheceu a mulher maravilhosa que é, mas quando descobrir isso ninguém irá lhe tratar dessa forma de novo. – Afirma e eu sorrio.

— Muito obrigada Eric.  – Falo sentindo-me alegre.

— Não me agradeça, eu gosto muito de você e juro que ainda vou quebrar a cara do seu marido. – Exclama e nós rimos.

Despedimo-nos, pois ele vai trabalhar e eu fico com algo a mais para pensar. Não sei como acreditar no que ele falou, eu realmente queria acreditar nisso, mas a minha mente não quer cooperar comigo, talvez seja ela quem me controla.

Nasce

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