PRÓLOGO
ÊXODO
Êxodo: Saída de um povo ou de multidão de um país ou de uma região (ex.: êxodo rural).
Eu ainda era um menino, mas ouvia muita conversa sobre a migração nordestina ou êxodo nordestino, na seca, via algumas famílias e alguns amigos partirem para o sul, descobri nos livros que se refere a um processo migratório de populações oriundas da região nordeste do Brasil para outras partes do país, ouvia em especial, o nome São Paulo, Rio de Janeiro, era na direção do centro-sul que todos seguiam. De vez em quando via a partida de famílias inteiras para o sul do país em paus-de-arara saindo de minha região.
Ouvia os mais velhos falando em situação econômica, em trabalho, emprego, essas coisas, também, que as secas se repetiam e durava mais que outras do passado, então isso eram fatores determinantes para a fuga dos nordestinos. Li nos livros que muito tempo atrás, no início do primeiro ciclo da borracha, por volta de 1879, muitas pessoas de minha terra migraram para a região da Amazônia, muitos morreram por causa das doenças tropicais e outros ficaram por lá, também encontrei que depois isso se repete com o segundo ciclo da borracha" durante a segunda guerra mundial. E então, próximo a minha saída, nesse auge da industrialização do Brasil, minha família enfrentando dificuldade, segue a rotina de muitas outras e adere a migração nordestina para a região Sudeste, muitos seguiam para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, mas, também tinha Brasília, a nova capital, que estava em grande processo de construção. Tornando essas capitais grandes polos de atração para essas populações.
Quem voltava do Sul, depois de muito tempo, falava muito ainda das fazendas de café, muitos nordestinos eram chamados para trabalhar nessas grandes fazendas, a exploração da mão de obra era muito grande, não havia direitos do trabalho, as histórias eram muitos tristes, muitos chegavam a trabalhar apenas pelo o alimento, roupas de trabalho e nada mais, ouvia eles disseram, que saiam da seca para serem escravos nas fazendas dos ricos no sul.
Em direção diferente, explicava um senhor que tinha trabalhado nas fazendas de café e nas obras urbanas em São Paulo, a região do Nordeste, ainda tinha o jeito antigo de lidar com a terra. Muitos que voltavam falavam com excesso de nossa agricultura atrasada, sem muita opção de plantio, que os grandes fazendeiros, eram donos da maioria das terras, produziam poucas culturas, contribuindo para a pobreza dos sertanejos, essa produtividade baixa aliado das secas empobrecia cada vez mais nossa região.
Meu pai ouvido e conversando com muitos, que se aventuraram nessas viagens, coloca na cabeça uma ideia de também partir para o sul, nossa região passa por muitos problemas, a seca é uma ameaça constante, as nossas necessidades já estão em situação difícil, nosso pequeno sítio já está espremido entre uma fazenda e outra, as ofertas começam a aparecer, a pressão dos fazendeiros é quase uma ameaça.
Um amigo do meu pai também fala de uma carta recebida de seu irmão, que está no Sul, ele descreve que a oportunidade de trabalho no sertão é muito pequena, a qualidade de vida é muito ruim, isso acaba atingindo os jovens e que no Sul isso pode ser diferente, os filhos dos que migraram para essa região podem ter melhores condições no futuro. Isso despertou um sorriso nos que estavam presentes, fiquei observando que meu pai ficou muito animando com as conversas.
Li nos livros que a migração nordestina para o estado de São Paulo foi dividida, começou ainda quando Lampião ainda era vivo até na época que saímos. Ao mesmo tempo, o governo assumiu um tom nacionalista e iniciou-se uma transferência de pessoas do Nordeste, onde havia crise econômica, excedente populacional e escassez de recursos, para o centro-sul, onde a situação era inversa, então isso acho que vai demorar para acabar.
Sei que depois que meu pai andou por algumas rodas de conversas, ele ficou muito animado, chegava em casa e conversava muito com minha mãe, sempre exaltava e falava das coisas do Sul, que tinha que planejar para ir, segundo ele um amigo falou de Brasília, nesse começo da construção da capital do país tinha muito emprego, mas não descartava ir para São Paulo ou Rio de Janeiro, sempre ficava por perto, sempre fui curioso, minha mãe e meu pai as vezes arengava comigo, mas parecia não surtir efeito, sempre estava ouvindo as conversas. Noutro dia numa conversa bem animada notei que as coisas estava indo bem mais rápido, meu pai falou que as economias já dava para ele e meus dois irmãos mais velhos irem para o sul, ficava para trás os mais novos e minha mãe, isso seria temporário, logo que ele se estabelecesse, todos iriam para sul, fiquei animado nesse dia, mas também preocupado, pois seria um tempo difícil para ele que ia para uma terra estranha e também para nós que ia ficar, pois numa região com problemas econômicos e com situações de seca e fome, uma mãe ficar sozinha com os filhos pequenos seria muito difícil, mas minha mãe não ficou com medo e falou para meu pai:
- Você pode partir com tranquilidade, vou aguardar sua carta, vamos ficar bem, o que tem no sitio e o pequeno salário que tenho vai dar para sustentar todos até você encontrar um lugar para nós, ficamos bem, quando receber suas instruções vendo o sítio e partiremos para encontrar vocês.
Vi no semblante do meu pai um pouco de temor, essa preocupação de quem tem responsabilidade, mas tem que tomar uma decisão difícil, deixar para trás uma parte de sua família e partir em busca de uma nova vida, um lugar novo para cuidar e cria sua família.
Nessa noite não queria pegar no sono, minha rede parecia ter percevejo, ficava pensando e sonhando nessas cidades, como seria, quantas pessoas tinha lá, quantos amigos ia arrumar, como seria a escola, minha imaginação era tamanha, que o sono não chegava.
Ainda sem sono, abro a porta, observo que Jupy está lá no terreiro, parece estar dormindo, mas basta eu tossir que ele levanta a cabeça e espera meu assobio. Deixo a porta um pouco aberta, o calor no sertão está forte até de noite, escuto um canto de uma coruja, percebo que ela atravessa o terreiro em seu voo suave, sei que seu canto não é presságio, então fico em paz, assobio, Jupy chega próximo a minha rede, escolhe um lugar perto de mim, dar algumas voltas em si, deita-se e permanece tranquilo, enquanto isso começo a pegar no sono, a história segue, a vida segue, não como, mas tudo segue seu curso...
O tempo, a região, a terra seca, a fome, a necessidade, a ingratidão: era um tempo que não se oferecia oportunidade, a região começava a perder seus habitantes, o êxodo rural se tornava realidade, quem podia buscava a sobrevivência em uma fuga improvável para o sul e sudeste do país.
Era uma fuga arriscada para buscar melhores condições de vida, muitas vezes muitos não chegavam aos seus objetivos, a morte os pegavam pelo o caminho, as condições sub-humanas exauriam a força dos nordestinos.
Um vaqueiro que já tinha enfrentado muitas secas, muita dificuldade, agora enfrentava uma situação difícil e vendo as condições de sua família, os reúnem e depois decide buscar melhores condições de vida para todos e com seus dois filhos mais velhos parte para o sul.
O tempo passa, as cartas vindas do Sul, quase não chegam, são demoradas a aparecer, mas a última carta trouxe esperança e Dona Maria reúne seus filhos e os preparam para uma viajem longa e improvável.
O sonho de Ninho, de se transformar em um grande vaqueiro, assim como tinha sido seu avô, seu pai e tios, acabaria logo após ouvi aquela conversa que sua mãe teve, naquele momento, agora era pensar em outra coisa, pois para aonde iria não saberia se existia essa profissão.
Em sua mente foi criando um mundo diferente, então o tempo ficou curto para se despedir do sertão, de seus amigos, do cão Jupy, de suas aratacas e arapucas, do jumento velho, do galo de campina, do xofreu, do sabiá e dos canários cantadores em suas gaiolas, de tudo que havia em seu pequeno mundo no sertão.
À sombra de um juá, um velho sertanejo, conhecedor de muitas histórias de viajantes fugidos da seca do sertão, conta para algumas crianças, histórias, muitas delas tiradas de pessoas que passaram por ali, mas uma história, ele talvez ainda não tivesse conhecimento, pois ela iria começar exatamente ali.
Ninho, um garoto que se perdeu da família, um maluco metido a cantor, de nome Sibito, que vive perambulando, pelas estradas, cidades e na caatinga, agora precisam conviver com os perigos do misterioso sertão, juntamente com Malu, uma menina que é criada com um grupo de ciganos e recebe os cuidados da cigana Carmencita, mas compreende que não é cigana, sabe que foi deixada por sua mãe, quando essa ia para o sul e ainda nessa fuga tem um encontro com Vaqueiro, um misterioso nordestino vestido no estilo do verdadeiro vaqueiro do sertão e que vaga em seu cavalo alazão, todo arriado com arreios de couro, pela a caatinga, escondendo seus mistérios.
FUGA IMPROVÁVELCAPÍTULO IA PARTIDAO latido constante do velho cão Jupy, denunciava que algo ou alguém estava por perto, apesar do horário, tão cedo da manhã. O sol ainda estava escondido por detrás da grande montanha, os poucos raios da luz do sol ainda não dominavam o lado escuro da noite.Na pequena, mas, fechada e espinhenta capoeira, que fica pouco distante da casa do sítio acontecia alguma coisa, pois, Jupy não parava de latir em sua direção. Os raios do sol agora já começavam a dominar a escuridão do sertão e pouco a pouco ia clareando o lugar, a copeira ainda parecia bem escura e o que acontecia lá ainda parecia um mistério. 
CAPÍTULO IIPERDIDO PELO CAMINHO A tarde chegava ao fim, e o grande pé de juazeiro cada vez mais recebia gente em volta de seu tronco, àquele verde chamava atenção, pois quem olhasse em volta só ia encontrar seca, a vegetação parecia não existir mais, poucas árvores, e as que tinham estavam secas. A poeira levantava todas às vezes que os caminhões do exército passavam, ou quando aparecia uma ligeira brisa e fazia com que elevasse um pouco de pó da terra seca esturricada do sertão. O pé de juazeiro se preservava verde, se tornando uma referência na travessia de balsa daquele rio imenso, incrível, mas como que poderia existir um rio tão grande e haver tanta seca bem pe
CAPÍTULO III UM AMIGO INCOMUM Seguindo em direção a estrada, sigo caminhando lentamente e olhando para trás, para ver se ainda podia enxergar meu breve amigo Vaqueiro. Sem poder vê-lo mais, começo a andar sem pressa, naquele momento me aparecia um pouco de desânimo, meu corpo parecia cansado ou algum pensamento, tirava-me de meu verdadeiro rumo. Por alguns minutos caminhei despercebido na caatinga, parecia se entregar ao destino, por alguma razão minha fé tinha tirado certo momento de descanso ou Deus tinha esquecido de mim. Uma voz ecoou, mas estava tão desacreditado que achei que era invenção de minha mente, n&ati
CAPÍTULO IVPRIMEIRA FUGA O horizonte já mostrava com suas cores amarelada e cinza que o sol se preparava para se esconder, as poucas nuvens que enfeitavam o céu procuravam esconder o astro rei, mas não conseguiam, eram pequenas e dispersas. Após vários minutos caminhando eu paro em cima de um pequeno monte, respiro ofegante e começo a olhar por todos os lados, procurando algum sinal de esperança, nada me chama atenção, a não ser uma ponte bem adiante e que logo me fez pensar, como vamos passar ali, isso o Vaqueiro não me falou, agora tenho que resolver isso sozinho. Depois de olhar mais intensamente na direção da ponte, observo que um pequeno filete
CAPÍTULO VO CAMINHONEIRO E O MISTÉRIOSO VAQUEIRO Nossa caminhada a margem da estrada nos dar uma visão do que acontece nela e na caatinga, logo a frente se observa um caminhão, parece com problemas, mas temos que ser cautelosos, não sabemos o que aconteceu, e quem é o caminhoneiro. Logo temos que tomar muito cuidado, deixo Malu e Sibito a margem da estrada e tento se aproximar ao mais próximo possível, percebo que um velho senhor caminhoneiro junta suas ferramentas, pelo jeito passou a noite tentando consertar o caminhão de algum defeito, vejo que não parece uma pessoa ruim e tento me aproximar. - Bom dia senhor, precisa de ajuda, tem algum problema – Pergunto tentando puxar conversa.&n
CAPÍTULO VIA FUGA DE BRASÍLIA A luz do sol na manhã já escaldante mostrava um céu de Brasília, era um céu diferente, não sei se era pela fumaça das máquinas que construíam a cidade, a poeira que os carros faziam indo e vindo, de um canto para outro, ou se realmente, era um céu diferente de todos que vimos, durante nossa fuga do sertão até aqui. O caminhão foi entrando e passando pelas as ruas, ainda empoeiradas, até chagar a Vila Amaury, o caminhoneiro nos deixou na Vila e avisou que iria deixar sua carga em algum lugar e depois voltava para saber como estávamos. Começamos a percorrer as poucas ruas da Vila Amaury, na ten
Capítulo VIINA ESTRADA Deixamos Brasília para trás, uma nova direção devemos seguir, uma estrada desconhecida, uma nova aventura pelas estradas de Goiás e Minas Gerais...Leitura A leitura torna, mas amplo o mundo do leitor. Também desperta a imaginação e o leitor ganha propriedade de aprender e desenvolver o senso crítico, cultural e social. Quanto mais se ler, mais aumenta o prazer de conhecer o mundo em sua volta e suas manifestações. Procure uma Biblioteca, lá você encontrará um mundo imaginário e sua vida ganhará dimensões nunca antes vistas.
“Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações terá sido mera coincidência”.FUGA IMPROVÁVEL1ª EDIÇÃOTítulo originalFuga ImprovávelCapaLéo PajeúDiagramaçãoLéo PajeúRevisãoLéo PajeúImagem da capa e ilustraçõesImagem GoogleFoto do autorEmanuelle BonifácioPajeú, Léo, 1961 Fuga Improvável – /Léo Pajeú – 1.ª Ed. Brasília-DF, 2018.000p.1 – Fuga Improv&