Quando se estava ocupado, o tempo sempre parecia voar. Como Camila costumava dizer: "Só quem não tem nada para fazer sente o tempo passar devagar."Num piscar de olhos, Mariana já estava fora do país havia mais de três meses. No instituto de pesquisa, todos eram gênios dedicados à ciência. Não havia espaço para intrigas ou bajulações.Mariana adorava o ambiente dali. Na área médica, ela sempre teve um talento excepcional. E, como é comum entre os gênios, muitos são arrogantes em relação ao seu próprio conhecimento. Quando ela chegou, poucos lhe davam o devido valor. Mas, após quase cem dias de convivência, Mariana já havia se tornado uma peça central do instituto.No passado, na universidade ou no hospital, por mais que Mariana demonstrasse sua competência, sempre havia quem atribuísse suas conquistas à sua aparência. Mas ali, ninguém se importava com o que ela tinha ou não de bonita.Primeiro porque, na maior parte do tempo, todos usavam máscaras devido às exigências do trabalho. Segu
Paulo conhecia melhor do que ninguém o quanto Mariana já havia amado Lucas. Por mais decidida que ela tivesse se mostrado no passado, ele nunca baixou totalmente a guarda.Era por isso que, com Mariana vivendo sozinha no exterior, Paulo ficava tão preocupado. Mas agora, vendo-a pessoalmente, transformada, quase como se tivesse renascido, ele sentia uma alegria genuína por ela.De tão preocupado, Paulo organizou todo o seu trabalho, tirou férias prolongadas e viajou até lá apenas para vê-la.Quando soube que ele ficaria ali por quinze dias, Mariana não conseguiu esconder sua surpresa:— Esse lugar nem é um paraíso de compras ou um destino cheio de paisagens deslumbrantes. Por que perder tempo aqui?Além disso, aquela cidade, como tantas outras pelo mundo, não era exatamente segura. A capital onde estavam até que era mais organizada e movimentada em comparação às áreas ao redor, mas ainda assim, não era o tipo de lugar ideal para longas estadias.Mariana, por sua vez, quase nunca saía do
Na visão de Lucas, ele já tinha cedido diversas vezes, mas Mariana simplesmente se recusava a dar espaço para reconciliação. Para ele, isso era o cúmulo da "falta de consideração".Lucas nunca achou que o amor deveria ocupar um lugar central na sua vida. Para ele, um homem de verdade precisava ser ambicioso, conquistar o mercado e expandir seus negócios. Homens que se perdiam em paixões eram, na sua opinião, fracos e indignos de respeito.Quando Mariana começou a trabalhar no hospital, Lucas já tinha suas críticas. Afinal, ele ganhava o suficiente para sustentar os dois com luxo. Por que ela não podia simplesmente ser uma dona de casa, como ele achava que deveria ser? Joana era o exemplo perfeito: passava o dia fazendo compras e garantindo que ele tivesse "valor emocional". Isso sim parecia normal para ele.Mas Mariana? Ela insistia em se dedicar à carreira, como se fosse um homem. Passava dias no hospital, entre cirurgias e reuniões, e Lucas até tentou ignorar isso. Mas o que realment
Por um breve momento, Lucas se perdeu em seus pensamentos. "E se Mariana fosse assim? Se ela fosse tão gentil, carinhosa, preocupada comigo... como seria?"— Lucas?A voz de Lúcia o trouxe de volta. Ele balançou a cabeça e perguntou:— O Pedro falou com você?— Não. Ele está bem ocupado. — Respondeu Lúcia enquanto despejava a canja na tigela e entregava para ele. — Disse que tem muitas coisas para resolver.— Expandir para o exterior não é tão simples quanto parece. — Comentou Lucas, tomando um gole. — Está muito boa. Obrigado. Mas eu tenho trabalho para terminar. Pode ir.— Tudo bem. — Lúcia sorriu, sem se abalar. — Mas olha, você parece exausto. Se quiser comer algo especial, me avisa que eu faço para você. Meu primo está fora do país, e você é como um irmão para mim, Lucas. Não precisa ter cerimônia, tá?— Tá bom.Depois que Lúcia saiu, Lucas não tocou mais na canja. Ele tinha um compromisso naquela noite, e só voltou para casa perto da meia-noite. Ainda dividia a velha casa com Gus
O sorriso no rosto de Felipe congelou por um instante, mas ele logo ajustou a expressão e entregou o celular para Mariana:— Era o Lucas.Mariana franziu o cenho:— Impossível! Eu bloqueei ele.— Ele usou um número desconhecido. — Explicou Felipe. — Eu ia levar o celular até você, mas sem querer atendi. Quando percebi que era ele, achei que você não gostaria de falar com ele.— Então você decidiu atender por mim? — A expressão de Mariana ficou ainda mais fechada. — Mesmo que tenha atendido sem querer, você não devia ter falado com ele.Felipe se levantou, encarando-a com seriedade:— Me desculpa. Eu realmente não queria falar com ele, mas assim que atendi, ele começou a falar de um jeito muito hostil. Eu fiquei nervoso e...Felipe sabia muito bem que, para contar uma mentira convincente, era preciso misturar a verdade com pequenas distorções. O fato é que Lucas havia usado um número desconhecido, e ele realmente atendeu sem querer. E sim, Lucas tinha sido rude. Até aí, tudo era verdade
Pedro disse:— Pais Maranje.E perguntou:— Por que está me ligando tão tarde?Lucas respondeu:— Tenho alguns projetos que quero lançar no exterior. Essa cidade onde você está agora... não fica perto de Mariana?Pedro disse:— Deixa eu ver... é, fica sim. E, por coincidência, daqui a uns dias tenho um projeto lá na região. Vou precisar ir até lá. Se você precisa falar algo com ela, eu posso aproveitar e encontrá-la.— Não precisa. — Lucas respondeu imediatamente. — Por que você iria encontrá-la?Pedro deu de ombros:— Eu? Eu não faço questão de vê-la. Só estou perguntando porque achei que você ainda tivesse alguma coisa pendente com ela. Afinal, Mariana é bem calculista. Não é qualquer homem que consegue entender o que ela realmente pensa.Lucas ficou sério:— Que besteira é essa? Eu não tenho nada com ela. Quem gosta de mulher cheia de segundas intenções? Não tem mais nada, vou desligar.Pedro desligou o telefone e sorriu. Ele vinha se preparando há meses, e agora, finalmente, tinha
Paulo e Lucas tinham uma relação péssima, e com Pedro a situação não era muito melhor. Ao ver o semblante irritante de Pedro, o rosto de Paulo ficou ainda mais sério:— O que você está fazendo aqui?— Esperando alguém. — Pedro levantou o pulso, olhando para o relógio. — Mas e você? O que veio fazer nesse fim de mundo?— Não me diga que está esperando a Mariana. — Paulo soltou uma risada debochada. — Continua o mesmo, sempre procurando motivo pra apanhar?Na época da escola, a relação entre os dois grupos ainda não era tão ruim. Pedro, de fato, costumava esperar Mariana na porta de casa para irem juntos à escola. Mas desde pequeno, ele tinha uma língua afiada, e a maioria das vezes acabava levando uma bronca de Mariana antes de sair de fininho.Naquela época, Mariana morava com os avós, e os dois velhinhos sempre trataram Pedro muito bem. Por causa deles, Mariana e Pedro chegaram a ter períodos de trégua.Isso mudou quando Pedro declarou que gostava de uma amiga dela e, depois, por caus
— Eu nem vou atrapalhar o seu trabalho. Assim que você terminar, a gente sai pra comer alguma coisa. — Disse Paulo, com um sorriso descontraído.— Você deveria passar uns dez dias em uma cidade mais tranquila. — Mariana respondeu, franzindo levemente a testa. — Essa capital não tem nada de especial. O que você quer ficar fazendo aqui? Não se preocupe comigo, eu vou me alimentar direitinho.— Eu sei. — Paulo riu. — Não é por isso. É que, pra falar a verdade, esse lugar pode não ser famoso, mas o ritmo é mais calmo, e eu só queria descansar. Tá perfeito pra mim.Mariana bufou, impaciente:— Você nunca escuta, né?— Tá bom, tá bom. — Paulo serviu um copo d’água para ela e o colocou sobre a mesa. — Faz o que você tem que fazer. Não precisa se preocupar comigo.Mariana hesitou por um momento, como se lutasse contra algo dentro de si, mas acabou confessando:— Talvez… eu precise viajar a trabalho.Paulo congelou por um segundo.:— Pra onde?O instituto de pesquisa onde Mariana trabalhava era